Fuga N2 escrita por Jonathan Bemol


Capítulo 1
One Shot


Notas iniciais do capítulo

Capítulo único



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                Eu ligava muito pra aquilo. Para os problemas da minha menina. Ela contava tristemente pelo celular tudo o que sofria todos os dias. Falava do bullying no colégio, onde era chamada de burra, rodada, idiota, e muitos e muitos outros apelidos de mau gosto. Falava das amigas falsas, que se fingiam de amigas mas, na verdade, falavam mal dela pelas costas, e até pela frente quando tinham oportunidade. Falava dos xingões que levava da mãe sem razão, das ordens que recebia e da reclamação da mãe, que dizia que nada nunca estava bom. Falava das contas que tinha pra pagar, mas não tinha dinheiro o suficiente, e tinha de trabalhar como revendedora para juntar o dinheiro suficiente.

                É, a vida não é um mar de rosas. Talvez seja, mas rosas têm espinhos.

                Ela, minha garotinha, se dizia fraca. Fraca por não conseguir segurar o choro quando alguém a pressionava ou insultava, fraca por não saber lidar com os problemas direito. Mas não. Pra mim, ela era e é a mulher mais forte do mundo, por conseguir suportar todos os problemas e mágoas, por vencê-los dia-a-dia com força e garra. E ainda com tudo isso, arrumar tempo para dar atenção para mim, o mero namorado dela, que não conseguia ajudá-la em nada.

                - Eu não aguento mais meu amor... – ela falava no telefone, chorando.

                - Dias melhores virão, eu prometo querida...

                Sim, era de partir o coração escutar ela desesperada assim, e eu não poder fazer absolutamente nada. Até que eu tive uma ideia.

                - Amor... Se fosse pra gente fugir pra algum lugar, o que você levaria?

                - Hum... Um monte de coisas, acho – ela deu um risinho – por quê?

                - Arruma essas coisas, ta bem?

                - Por quê? Qual a sua ideia?

                - É... Só quero saber o que você vai levar. Mas arruma as coisas. Tenho de desligar agora, até amanhã!

                Obvio que eu não só queria ver as coisas. Não tinha outra desculpa mesmo.

                Naquela madrugada, fui até a janela do quarto dela. Bati levemente, com medo de que mais alguém escutasse além dela. A menina abriu a janela, e eu vi aquele rosto que eu tanto amava, mesmo que tivesse com sono.

                - A-a-amor?! –ela falou, e logo começou a sussurrar – o que você ta fazendo aqui?

                - Vim te buscar! Vamos fugir minha querida!

                Sim, eu queria fugir com ela. Pra onde iríamos? Para qualquer lugar, pra praia, pro sol pro mar. Só queria livrá-la de todo aquele tormento.

                - Amor, eu não posso... Eu... – ela estava confusa, mas eu não mudaria de ideia.

                - Vamos amor... Por favor...

                Ela olhou pra mim, e enfim, ficou com uma cara de confiança.

                - Espera eu trocar de roupa então? – ela perguntou.

                - Eu vou te esperar.

                Esperei por uns bons 12 minutos. Logo, ela apareceu na janela, e eu a ajudei a pular.

                - Preparada?

                - Com toda certeza – ela disse, me deu um beijo e me abraçou.

                Peguei ela no colo e a levei até a frente da casa. Finalmente, iríamos fugir. “Pra onde vamos?” ela perguntou, e eu realmente, não tinha o que responder.

                Andamos pelo bairro, conversando sobre a vida o universo e tudo mais. Não tínhamos pressa, muito pelo contrário. Queríamos aproveitar o momento, de estarmos um com o outro. O momento de estar com o amor da minha vida, fisicamente e espiritualmente do melhor jeito possível. Logo, quando estávamos deitados juntos na grama de um parque, ela perguntou: “Pra onde vamos?” Pensei na resposta, e disse:

                “Pra onde eu vou, venha também”.


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