Eu estava brincando no quintal de casa quando ouvi minha mãe me chamar:

- Kirino! Pode vir aqui?

- Já estou indo mamãe.

- Tenho um enorme favor para pedir a você, sua avozinha está muito doente e eu preciso que você leve esta cestinha de doces e frutas até a casa dela.

- Está bem mamãe.

- Mas lembre-se, vá pelo outro caminho não pelo caminho da floresta, você sabe muito bem que lá mora o Shindou mau.

- Não se preocupe mamãe, irei pelo caminho certo.

Disse isso e após pegar a cestinha fui indo até a casa da vovó. Pelo caminho eu fui brincando com as borboletas, eram tão lindas.

Enquanto brincava com elas percebi que as mesmas estavam entrando na floresta.

- Puxa vida! E agora? Será que terei que ir o caminho inteiro sozinho? Pensando bem, a floresta não parece ser tão assustadora assim, e pela hora esse tal de Shindou mau nem mesmo deve estar acordado.

Eu entrei floresta adentro. Não sei por que minha mãe não gostava que eu fosse por ali, era tão lindo e maravilhoso. Havia tantas cores, flores e também muitas borboletas.

Admirando-me com elas e seguindo o caminho comecei a cantar:

- Pela estrada a fora eu vou tão contente, levar estes doces pra vovó doente. Ela mora longe e o caminho é deserto, mas o Shindou mau mora aqui por perto.

E continuei cantarolando.

Não muito longe dali:

- Ah, como é bom ficar deitado o dia inteiro. Tenho a floresta só para mim, e como sou mau as pessoas nem sequer ousam chegar perto. Como isso é bom.

Falava Shindou mau, atrás de um arbusto, até que escutou algo se aproximando:

- Que barulho será esse? Será que alguém resolveu entrar na minha floresta? Se for isso darei um jeito agora mesmo.

Ele se levantou e ficou olhando pelas folhas do arbusto para ver o que estava acontecendo.

- Mas o que? É um garotinho que está passando! O que será que ele quer aqui? Seja o que for não deixarei que vá muito adiante.

Disse isso e foi um pouco mais a frente para surpreender o garoto. Saiu de trás de uma árvore e começou:

- Olá garotinho.

- Olá senhor.

- Posso saber a onde você vai?

- Eu estou indo levar esta cestinha de doces para minha vovozinha.

- Doces é? E que tipos de doces?

- Dos mais variados.

- E qual é o seu nome?

- Eu sou Kirino vermelho, muito prazer.

- E por acaso você sabe quem eu sou?

- Não senhor, eu não sei.

- Eu sou o Shindou mau!

O garoto apenas observava.

- O que foi? O que está olhando?

- Nada não, é que eu pensei que você fosse um pouquinho maior e mais assustador também.

- Está dizendo que eu não sou assustador?

- Não tanto assim.

- Saiba que eu sou o dono dessa floresta, então se não quiser se machucar deixe a cestinha ai e vá embora.

- Sinto muito, mas minha vovozinha está esperando isso e eu não posso me atrasar. Se me dá licença tenho que ir.

O garoto saiu dali e seguiu seu caminho, deixando Shindou falando sozinho.

- O que esse garoto tem? Se fosse qualquer outro teria fugido assim que me visse. De qualquer modo ele não parecia ser como qualquer outro. Preciso encontrá-lo outra vez, mas como vou fazer isso? Já sei! Ele não disse que estava indo pra casa da vovó? Então eu vou pra lá também.

Shindou mau sabia que se fosse pelo mesmo caminho que Kirino vermelho não chegaria a tempo, decidiu pegar um atalho.

Chegou muito antes de Kirino vermelho. Encontrou a casa da vovozinha e bateu na porta:

Toc, toc, toc!

- Quem é?- Perguntou a vovozinha.

- Sou eu vovozinha Kirino vermelho. – Respondeu Shindou mau.

- Pode entrar meu querido.

Ele entrou passou pela porta e deu um grande susto na vovozinha. Ela só ficou parada ali.

- Não vá me dizer que também não me acha assustador?

- Não é isso.

- Então o que é?

- Por acaso você sabe quem eu sou?

- A vovozinha?

- Não sou apenas a vovozinha. Eu sou a vovó Hitomiko.

- Então... Será que a senhora poderia fazer o favor de me deixar usar sua cama pra uma boa causa?

- E que causa seria essa?

- Sabe, não é nada de mais não. Por que a senhora não vai chamar o lenhador?

- E por que eu o chamaria?

- Pra seguir a história?

- Não farei isso só por que você está dizendo. Vou de minha própria vontade.

A vovozinha saiu de casa e foi procurar o lenhador. Enquanto isso, Shindou mau vestia um pijama da vovó e se deitava na cama. Enrolado no cobertor esperava Kirino vermelho.

Não precisou esperar muito, logo ouviu batidas na porta:

Toc, toc, toc!

- Quem é?- Perguntou Shindou mau.

- Sou eu vovozinha, Kirino vermelho.

- Pode entrar querido.

Kirino vermelho entra e vai até o quarto. Lá encontra sua vovozinha toda coberta.

- Puxa vovozinha, você está mesmo mau não é?

- É apenas uma um pequeno cansaço, logo melhoro.

- Que bom. Ah, eu trouxe para a senhora uma cestinha com frutas e doces.

- Muito obrigado meu netinho. - Disse Shindou mau com os olhinhos brilhando.

- Nossa vovó! Que olhos grandes você tem.

- É pra te ver melhor.

- E que orelhas grandes você tem.

- É pra te escutar melhor.

- E que boca grande você tem.

- É pra... Pra... Ah, fala sério, eu não vou falar isso. O negócio aqui é o seguinte: você entrou na minha floresta, disse que eu não sou tão assustador assim e não teve nem um pouquinho de medo, e isso me impressionou muito. Qual é a sua?

- Bom... Enquanto eu vinha no caminho fiquei pensando que você é mau apenas por não ter amigos, se tivesse não seria mau assim.

- Você acha isso mesmo?

- Sim, sim.

- Então... Quer ser...

Shindou mau não pode terminar de falar, alguém tinha entrado no quarto:

- Não precisam mais se preocupar, ‘’eu’’ cheguei!

- E quem é você?- Perguntou Kirino vermelho.

- Eu sou Kariya, o lenhador. E você, Shindou mau, saia daqui se não quiser que eu te acerte com meu machado.

- Mas o que? – Perguntou confuso.

- Não precisa se preocupar, ele não é tão mau assim.

- Não se intrometa Kirino-senpai, essa é uma conversa entre homens.

- Kariya, seu peste! – Fala Kirino vermelho com raiva.

Ouve-se uma voz lá de fora:

- Kariya! Venha logo! Temos arvores para cortarmos!

- E quem é esse? – Perguntou Shindou mau.

- É meu amigo Hikaru, ele também é lenhador. – Responde Kariya.

- Amigo né. – Provoca Kirino vermelho.

- Não começa!

- A propósito, onde está a vovozinha? – Pergunta Kirino.

- Ela está lá com os outros lenhadores. Do nada ela mandou todos irem treinar, sabe levantamento de peso, ela mandou todos fazerem levantamento de machado, e não são tão pequenos assim. – Responde Kariya. – E se me dão licença, eu vou indo. Não façam nada de errado, se é que me entendem.

- Ora se eu te pego seu peste! – Fala Kirino, mas Kariya já havia saído.

Voltando a conversa de Shindou mau e Kirino vermelho:

- Shindou mau, o que você estava falando antes do Kariya interromper?

- Bom... Como você disse que eu sou assim talvez por não ter amigos, eu pensei. Quer ser meu amigo?

- Mas é claro que eu quero.

- Ótimo! Hã... Será que podemos comer os doces?

- É claro que sim. Vamos lá pra fora.

Os dois sentaram-se na grama e ficaram conversando e comendo doces.

É, parece que uma grande amizade estava nascendo ali.

Não muito longe dali:

- Hikaru! Por que nós voltamos?

- Tínhamos que voltar, precisávamos trazer a lenha.

- Sem conversa! Continuem correndo! – Dizia a vovó Hitomiko.