Uma hora e meia havia se passado quando Edward parou abruptamente e nos endireitou na cama, catando nossas roupas.

- Já? – fiz biquinho, triste.

- Consigo sentir o cheiro deles há alguns minutos. Imaginei que seria… Constrangedor tentar arriscar mais. – Ele jogou meu vestido para mim e, mesmo sem pensar, eu o agarrei facilmente, vestindo-o no segundo seguinte.

- Obrigada… Eu acho. – Eu ri enquanto levantava e estendia a mão para que fôssemos juntos até a porta do chalé.

Já pode tirar o escudo, mamãe.

Tirei o escudo dela e de Jacob. Não era mais tão difícil manter o escudo sobre as pessoas que eu conhecia bem. Eu poderia fazer isso sem concentração nenhuma, agora. A última hora e meia era a prova disso.

- Entrando – Jacob falou alto, rindo. – Vistam-se e venham.

- Jacob! – Eu e Renesmee sibilamos juntas.

- Só brincando. – ele riu.

- Claro, claro. – Renesmee suspirou.

Edward sorriu levemente e finalmente encarou nossa filha.

- Como foi a caminhada?

Renesmee sorriu um sorriso lindo, que aquecia meu coração congelado toda vez que resolvia aparecer.

- Ótima. – ela declarou – Mas eu estou morrendo de fome.

- Sabe, Renesmee… Às vezes eu acho que você passa tempo demais com o Jacob. – Edward sorriu – Nunca vi alguém ter tanta fome… A não ser a alcateia.

- Você nunca viu outros híbridos comendo, papai. Aposto que Nahuel sente tanta fome quanto eu. Mas isso não importa muito. Mamãe, sobrou alguma coisa do lanche?

- Tem uma panela cheia de salsichas no fogão, e alguns pacotes de pão na dispensa. Minha filha e meu melhor amigo me acostumaram a cozinhar pra dois estômagos vazios. – Revirei os olhos.

- Sorte a nossa – Jacob sorriu, indo até a cozinha. – Agradeça a eles por mim.

Renesmee foi logo atrás dele, e Edward e eu a seguimos. Ficamos conversando até que Jacob e Renesmee estivessem satisfeitos – o que levou algum tempo – e então Jake se levantou.

- Não quer passar a noite, Jacob? – As palavras que saíram da boca de Edward me assustaram, mas ele deveria ter alguma intenção por trás daquilo. Um pensamento de nossa filha, talvez?

- Hn… Pode ser, eu acho. – Ele olhou pra mim, como se pedisse autorização. Dei de ombros. Se Edward concordava, eu não diria ‘não’.

Renesmee estava cintilante.

- Nós vamos assistir a muitos filmes de terror, e comer sorvete, e chocolate!

- Ness… Acho melhor não. – Jake sorriu – Temos aula amanhã… E ao contrário de certos vampiros, nós precisamos de algumas horas de sono.

- Ele está certo, Renesmee… Não é porque o seu castigo é brando que você vai poder fazer tudo o que quer… Coisas que você não faz nem quando não está de castigo. Além do mais, – me lembrei – eu preciso conversar um pouco com você. Estou curiosa.

Ela sorriu envergonhada.

Jake e papai estão aqui, mãe. Acho melhor não.

- Sabe, Renesmee… Eu consigo ler os seus pensamentos quando você os envia para sua mãe, esqueceu? – Edward riu. – Mas eu tenho certeza que Jacob está louco para jogar uma partida de videogame, um que faça muito barulho.

- Claro, claro – Jake revirou os olhos. – Papo de meninas, eca.

Os dois foram até o quarto e, assim que eu comecei a escutar o barulho do jogo, coloquei o escudo em cima de Renesmee também.

- Eu sei que você ouviu a conversa inteira, mãe. – Ela revirou os olhos – O que há mais para dizer?

- Renesmee – eu suspirei – eu não vou implicar com o menino sem motivos… Estou me controlando muito para não fazer isso. Mas você não acha que tem alguma coisa estranha em relação a ele?

- Não, mãe. – Ela parou de sorrir. – Ele parece perfeitamente normal para mim. E é muito educado também. Ele fez algo errado?

- Não… – eu acariciei o cabelo dela – Desculpe… É só que… Ele nem pensou coisas erradas, Renesmee. Ele é certinho demais.

- Tá bom, mãe. – ela riu, me dando um soquinho no ombro – e o senhor Edward-das-antigas não parecia perfeito demais para o vovô também?

- Você venceu – eu sorri. – Mas peça para ele diminuir a quantidade de perfume da próxima vez que vier.

- Eu gosto do perfume dele… Tem cheiro de almíscar, mas é doce ao mesmo tempo… É gelado, mas também é incrivelmente quente… Como se tivesse muito sol, mas estivesse frio.

Tive uma epifania. Partes dessa descrição eram muito familiares para mim.

- Edward, Jake. – Falei alto, para que eles me ouvissem. Em um segundo os dois já estavam na sala de novo, Edward com os braços em volta de mim.

- Mãe, você está igualzinha à Alice quando tem uma visão. O que houve?

- Almíscar, gelado. Edward, o perfume dele cheira ao Jake… E a você!

- Como? – Jacob riu – como se fosse possível um cheiro ser tão bom e tão ruim ao mesmo tempo.

- Não, – Eu quase gritei – o cheiro que vocês tinham para mim quando eu era humana! O cheira amadeirado, de almíscar, é seu, Jake. E o gelado e doce… É exatamente como eu sentia o perfume do Edward.

- Mas o que isso tem de mais, mãe? – Renesmee suspirou.

- Sua mãe está certa, Renesmee… Isso é estranho. Mas você também não está errada. Não significa nada, na verdade.

- Só que nós temos que abrir ainda mais os olhos em relação a ele.

- Como se você já não estivesse de olhos esbugalhados, Jake. – Ela choramingou. – Eu não entendo a implicância que vocês tem com ele. Mas não vou me meter no meio. Sei que não vai dar em nada mesmo. – Ela deu de ombros.

- É o que eu espero. – Suspirei. Mas no fundo não era isso que eu sentia.