O salão estava cheio, os alunos conversavam alegremente enquanto o jantar de boas vindas não começava, eu olhava tudo particularmente desinteressado. Clarisse reclamava algo sobre malditos sangues ruins terem feito qualquer coisa, ela sabia que eu não estava ouvindo e eu não tentava ao menos fingir, mas minha prima já estava acostumada.

E então, o silencio foi se instalando quando o diretor se levantava, ele capitou então a atenção de todos enquanto anunciava os alunos do primeiro ano a serem selecionados naquele ano. Logo, a professora de transfiguração entrou com os novos alunos, todos com aquele ingênuo olhar de admiração para toda a grandeza do salão.

Como de costume, nome por nome foi chamado para a seleção, eu podia sentir do meu lugar na grande mesa de minha casa o nervosismo de todos ali, meninos e meninas agitados e animados com a escolha de suas casas, nenhum rosto desapontado. Tirei uma poeira que não existia da manga de meu roupão preto, com o meu tédio já atingindo níveis alarmantes, até mesmo para mim, só olhava e aplaudia quando alguns iam para a minha casa.

E então, quando todos já foram selecionados para suas casas, recebidos pelos possíveis amigos ou familiares, todos se calaram mais uma vez, esperando o diretor fazer os habituais anúncios e boas vindas e então começar o jantar. Aquilo não aconteceu. Assumindo uma expressão calma, como sempre, o diretor começou:

– Bem, antes dos anúncios, temos mais uma seleção para fazer, uma aluna acaba de ser transferida da França para estudar aqui em Londres. Recebam então, a senhorita Suzanna Casillas.

E então, ela entrou.

Pela primeira vez da noite, o tédio saiu por completo, estava um silencio mórbido enquanto as pesadas portas de madeira se abriram. Com um andar que parecia flutuar pelo piso do salão, ela entrou com toda altivez possível. Sua pele era branca, assustadoramente translucida; que contrastava com seus cabelos vermelhos. Era como assistir chamas dançando a cada movimento do seu andar. Ela usava a roupa do primeiro ano, mas parecia que se encaixava perfeitamente, diferente de todos nós, que parecíamos mendigos usando aquilo.

Rapidamente, ela sentou no banquinho e o chapéu seletor foi posto em sua cabeça, de frente, eu podia ver melhor seu rosto. Tinha o formato nobre e traços delicados, olhos grandes e graciosos, que ostentavam o mais cristalino azul. Eu achava que estava babando, como todos os outros caras, mas era quase impossível evitar. Todos prenderam a respiração, a tensão era quase papável.

Internamente, eu desejei com todas as minhas forças para que ela caísse na minha casa. O chapéu demorou muito, se balançava de um lado ao outro, como em uma dança maluca na cabeça dela, podia ver a sua vermelha boca se movendo, conversando com ele. E então, a sentença foi dita.

– Sonserina!