43rd Edition Of The Hunger Games escrita por Bess, André Kun


Capítulo 18
Capítulo 18 - Dia Dez


Notas iniciais do capítulo

AEW TURMA! O/
Sabemos que demoramos, mas estudos em primeiro lugar u_u
Este cap só tem um POV'S e foi escrito por mim ><' Então não se preocupem, ficou uma porcaria anyways.
Bjss '3'



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POV’S. Jessup Canning – Distrito 2.

        Estou aqui na Arena há onze dias. Eu achava que no décimo primeiro dia todos já estariam praticamente mortos. Mas surpreendentemente, ainda há muitas pessoas a serem mortas. Inferno! Os Carreiristas deste ano realmente não fizeram um bom trabalho. Kayla matou um número muito maior de tributos. Droga. Eu preciso virar esse jogo. O único jeito seria matando Lucy ou Theodore, mas infelizmente isso acarretaria na minha morte, já que com o Distrito 1 fora da jogada, o caminho estaria livre para o Distrito 9. Eu apenas estaria ajudando-a. Que frustração!

        Só matarei Lucy ou Theodore quando Kayla bater as botas Fazer isto antes seria burrice. Mas eu farei isto. Lucy primeiro. Eu a odeio tanto... Cortaria sua garganta, sufocaria seus gritos, molharia seu corpo com o sangue interminável... Eu odeio odiar. É uma sensação ruim. Ela dilacera a gente. Eu odeio a Capital, por me macular com o ódio e rir disso. Eu odeio o mundo todo.

        Apenas uma pessoa me fez pensar diferente. Seu nome era Tallis. Tallis era uma menina do Distrito 2, o meu Distrito. Eu a conheci quando tínhamos dezessete anos.

        A vi pela primeira vez quando sua família se mudou para uma casa próxima à minha. Eles se mudaram porque não estavam conseguindo pagar a antiga casa. Então vieram para um lugar mais barato. Praxe. Ela estava muito discreta e a princípio, não chamou a minha atenção. Os cabelos presos num coque que despencava pela metade, castanhos. As roupas sujas. Os olhos fundos e cansados. Resquícios de minério em sua pele.

        Aos poucos, nossas mães viraram amigas e pediram-me que acompanhasse Tallis quando ela voltasse ao trabalho. Eu assenti, afinal trabalhava perto dela.

        Então foi isso. Todos os dias, eu acompanhava Tallis do trabalho até sua casa. Não pronunciávamos uma única palavra, pois ela era muito tímida, quieta, visivelmente não possuía interesse em conversar comigo e nem eu em conversar com ela.

        Mas certo dia, eu a vi conversando alegremente com suas amigas. Ela ria. Uma alegria pura e jovial. Eu fiquei desconcertado com aquela visão. Aquela menina, que eu sempre via triste, calada e com olhos cansados estava feliz? Estava alegre. E eu decidi que a faria rir. Porque eu gostava de espalhar a alegria. Naquele dia, eu decidi fazer parte da vida dela, por algum motivo inexplicável.

        No dia seguinte, caminhávamos lado a lado a caminho de casa. Lembrei-me da promessa que havia feito para mim mesmo e vi a coragem desfalecer em meu interior. Inspirei fundo. E puxei assunto.

        - Então, Tallis... Acho que nunca conversamos.

        Ela se surpreendeu. Eu havia falado.

        - Você nunca quis puxar assunto – ela se defendeu.

        - E nem você.

        - Você era sempre tão sério, achei que não quisesse nada comigo.

        - Eu tinha vergonha.

        - É, eu também – e notei, as bochechas dela estavam enrubescidas. Ela era muito tímida mesmo.

        - Então, Tallis. Conte-me da sua vida.

        - Hmm... Nada muito interessante. Tenho dezessete anos. Até que tenho dinheiro. Comida em casa seis dias por semana. Infelizmente tenho que trabalhar para ajudar na condição financeira da minha família. Um irmão mais novo, que eu tenho que cuidar. Ele tem problemas de saúde, e eu fico muito preocupada com ele a toda hora – ela deu um muxoxo de frustração. Minha mãe me contara sobre o irmão mais novo dela. Quando estava nascendo, a parteira demorou muito tempo para retirá-lo da barriga da mãe. Faltou oxigênio no cérebro dele. Desde então, ele tem problemas mentais. Em alguns momentos, se contorce no chão, loucamente. Em outros, dá risos sinistros que ecoam no espaço como um riso maçante. Tallis tinha medo do dia em que o irmão fizesse uma besteira tão grande que ela não pudesse reparar – Mas e você? Agora me conta.

        - Nada de muito interessante também. Dezessete anos. Relativamente bom com dinheiro. Também tenho que trabalhar. Tenho uma irmã recém-nascida. E... Acho que só.

        - Como assim “só”? Conte-me mais! Sonhos, ambições, paixões... – ela falou, empolgada, para logo depois interromper a si mesma, envergonhada.

        - Meu sonho é ser um Pacificador – ela desfez o sorriso – O que foi?

        - Pacificadores são maus.

        - Não são. Eles são policiais normais.

        - Eles abusam de nós e não são piedosos. Pense melhor antes de querer tornar-se um deles.

        Eu aos poucos fui conhecendo-a. Ela era fascinante. Falava com franqueza, enquanto divagava. Era tímida, não queria se exibir nem nada. Por ter tantas reponsabilidades, às vezes parecia uma adulta, guiando-se pela razão. Mas era doce, simultaneamente. Um crescimento estranho foi crescendo dentro de mim. Hoje, reconheço que ela foi minha primeira paixão verdadeira. E ela aparentava ser feliz, tinha sonhos com uma utopia. Não odiava ninguém, pelo contrário, parecia amar todo mundo. Mas era capaz de transformar o dia no Céu ou no Inferno.

        Ela é o rosto cuja figura eu não consigo esquecer. O maior resquício de prazer em minha vida, porém o meu maior arrependimento também. Ela foi a minha preciosidade, mas eu tive que pagar o preço. Ela era um reflexo de meus sonhos. Mas ela sofria muito, em segredo. Ela parecia muito feliz em minha frente, mas seus olhos orgulhosos ocultavam um sofrimento excruciante. Ninguém podia vê-los quando estavam derramando lágrimas tenebrosas. Ela podia ter sido o amor da minha vida. Vou me lembrar dela até o dia da minha morte, como restos cinzentos. As lembranças dela são os meus sustentáculos. Eu peguei todas as risadas e os momentos tristes e os tornei minhas memórias.

        Minhas memórias, quando vivas, foram difíceis de serem vividas. Pois um dia, Tallis não estava no trabalho. Eu não a levei para casa. Tallis desapareceu, para nunca mais ser vista. Não sei o que houve com ela. Mas a falta dela, essa sim, despedaça o meu coração. Mais do que o ódio.

        Acomodo-me em meio aos tecidos que constituem meu manto, vejo Theodore e Lucy repousarem tranquilamente. Não sei se sobreviverei à esta noite. Pode ser que meus colegas me matem.

        Adormeço com a certeza de que Tallis não se orgulharia do que fiz aqui. Matei pessoas. Mas eu ainda a amo, e isso me faz querer chorar. Ela desapareceu tão abruptamente, ainda não me acostumei ao vazio que ela deixou em minha alma. Eu queria poder saber o que aconteceu naquele dia, onde ela está agora. Uma voz me diz que ela está morta, enterrada e que seu corpo nunca será encontrado. Detesto admitir, mas acho que esta é a hipótese mais plausível. É por isso que tenho que acreditar que existe um Paraíso, ela não pode ter sido tão efêmera assim. Eu quero acreditar que ela está me observando, e me esperando. Mas esta inconstância, essa incerteza, é o mais torturante de tudo. Eu preferiria que me dissessem como ela morreu. Se foi algum acidente de trabalho, algum veículo descoordenado, algum Pacificador raivoso... Depois que ela se foi, a vida voltou a ser cinzenta. Tudo parecia terrível. Minhas esperanças morreram, aos poucos. Virei esta pessoa insensível, já que sequei. Meu coração dói demais. Ainda mais aqui na Arena, onde tudo é tão horrendo e as memórias são recordadas como vinganças. 


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Notas finais do capítulo

Aew povão? Quem ficou com pena do Jessup? o/