Por Que Sentir? escrita por Hana


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Sentir



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/283211/chapter/1

Ela estava ali, na minha frente. Seus olhos encaravam-me de uma forma questionadora como se tentassem decifrar o enigma que meu olhar trazia. Aizem ao partir para o mundo humano para enfrentar os shinigamis de alta patente, deixou bem claro. “Ela não tem mais serventia”. Isso era uma tradução simplória para mim de; Mate-a.

Você está muito calma para alguém que vê a morte a sua frente.

Fala como se eu temesse a morte.

E não a teme?

Nem um pouco.

Talvez esteja pensando que morrer no Hueco mundo, mesmo para uma humana como você, signifique que vai para a Soul Socity. Mas, está enganada. Com a distinção de mundos, sendo um oposto ao outro, suas partículas espirituais jamais conseguirão sair daqui, e você provavelmente se tornara um Hollow.

É uma boa teoria.

Mesmo assim, não teme a morte agora?

Não.

Por quê? – perguntei com um misto de curiosidade.

Por que... Eu sei que em algum lugar tem pessoas lutando com o desejo de me salvar. Sentimos quando uma amizade é verdadeira, e ela nunca acaba por qualquer razão. Mesmo que eu saia morta, e que eles não consigam me salvar... Sempre seremos amigos.

Sentir hãn? Acho que se esquece que minha natureza Hollow impede-me de sentir algo. – uma leve entonação de ironia se acentuou no começo frase.

Todos podemos sentir, não importando de que natureza pertença. É algo que só depende interiormente de cada um querer, ou não.

Então está dizendo que morreria por eles? E que não teme a morte por sentir eles com você durante todos os momentos?

Sim.

Patético.

Retirei minha Katana da bainha, segurando-a fortemente em minhas mãos. Aproximei-me dela lentamente, observando cautelosamente suas feições esperando encontrar alguma mudança repentina. Algo que indicasse algum resquício de dúvida, mas seu olhar se mantinha seguro comprovando suas palavras. Quando já estava perto dela, encarei seus olhos por um último instante, antes de mover meu braço em sua direção.

A Katana rasgou a parte do tecido que teve contato, soltando fio por fio, e o desprendendo. Depois alcançou a pele dela a perfurando-a violentamente. Não era difícil concluir que eu tinha acertado seu pulmão esquerdo junto com várias artérias e vasos sanguíneos. Seu sangue escorreu pela lamina afiada e pontiaguda da espada que empunhava, e ao tirá-la, mesmo que lentamente o chão foi se sujando com gotas vermelhas múltiplas.

Ela desviou seu olhar de mim por um estante, abaixando sua cabeça. Alguns segundos depois pude entender para onde ela olhava. Para o buraco vazio que se encontrava na região de meu coração. Talvez isso significasse que eu não tinha um, que nunca poderia entender sobre sentimentos, pois não podia senti-los. Seus joelhos falharam por um estante a levando pra frente. Aquilo resultaria numa bela queda, que foi interrompida por mim.

Eu não sabia ao certo por que. O que me motivou a me por na frente dela, amparando aquele pequeno corpo feminino, frágil e delicado e o envolvendo com meu braço esquerdo, o oposto com o qual eu empunhava minha espada, sua fina cintura. Ela era leve, quase não representava peso algum para mim. Com a aproximação, sua cabeça ficou apoiada contra meu ombro, e aquilo pode ser descrito como um abraço.

Eu estava confuso, não entendi o porquê daquilo. Não conseguia cogitar em uma idéia boa o suficiente para explicar o que eu estava fazendo. Eu estava... Importando-me. Ouvi sua respiração ficar descompassada e falhada, e de seus lábios rosados escorrer uma grande quantidade de sangue. Ela conteve um gemido abafado de dor, mas que não passou despercebido por mim.

Passaram-se alguns segundos, onde eu achei que ela já se encontrava morta. Mas, diferente disso. Senti algo quente e suave tocar o lugar que era pra ter um coração, o buraco em meu peito. Foi então que ao olhar, vi uma de suas mãos sobre o lugar. Com uma voz rouca e falhada, porém mesmo assim doce disse tão baixo quanto um sussurro;

Talvez você não entenda mesmo. Não teve a oportunidade de sentir a coisa mais maravilhosa que existe. O carinho por outra pessoa.

Dito isso sua respiração cessou. Ela não estava mais conseguindo respirar. Agora eu entendia, entendia que eu entendia o que ela queria dizer com sentir. Sentia como se estivesse perdendo algo extremamente valioso para mim, no exato momento em que seus olhos perderam o brilho, e suas pupilas se dilataram momentaneamente.

Ela ainda não estava morta, pois sentia, mesmo que de leve, seu coração bater. Guardei minha katana na bainha, e envolvi seus tornozelos a deitando em meu colo e suspendendo-a no ar. Tomei impulso e subi rapidamente até os céus onde pude sair da abóbada do Las Noches. Onde tudo se tornava possível no Hueco mundo, onde meus poderes eram ilimitavelmente poderosos.

Deitei-a sobre o chão, e pressionei uma de minhas mãos contra seu ferimento. Não demorou para que ele fosse se curando lentamente. Eu ainda mentalmente questionava-me sobre o estava fazendo. Ajudando-a? Importando-me? Ou apenas sentindo algo que minha própria existência vazia não fora feito para sentir?

Quando terminei olhei para o céu negro do Hueco Mundo. Em volta de uma aura negra, estava lá; o brilho mesmo que ofuscado de uma lua quarto crescente. Indicando que a esperança não deveria ser exorcizada completamente. Assim um circulo verde se formou ao entorno de meus pés, com vários ângulos desenhados e no centro, um circulo maior com o número três.

Eu sabia que isso iria acontecer. Minha própria existência estava sendo banida do Hueco Mundo por vontade própria. Eu não fui criado para me importar, minha natureza era acabar com todos os fracos, e todos que fossem inferiores a mim. E subjugar-me ao mais forte, que me superasse. Estava indo contra minha natureza, e o último pingo de consciência Arrankar estava fazendo me encarar em parte a única parte que restará do meu orgulho.

Olhei de canto de olho uma última vez para ela, que ainda estava inconsciente e deitada sobre a abóbada do Las Noches. Sua respiração se recompôs, e seu ferimento se curou. Estava como antes, intocável. Meu reishi começou a se contrair, e minhas partículas espirituais se dissolverem. Mas antes, tirei o colar que possuía a insígnia do meu terceiro posto em volta de um circulo rachado significando a natureza Arrakar, e o joguei no chão. Agora aquilo não tinha mais significado pra mim, e pudesse ser lembrado por alguém como parte do que um dia foi eu. Tinha mais sentido com ela agora. Inoue Orihime... Ao pensar nela, entendia que talvez minha existência não tenha sido tão sem propósito quando eu imaginei que seria. Talvez sentir alguma coisa, mesmo que remota e sem sentido por alguém tenha... Valido a pena.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Deixem reviews pessoal.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Por Que Sentir?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.