Jogos Vorazes - Cato escrita por Anny Fernandes


Capítulo 18
18


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! HAHA



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Tento me afastar de Clove, mas não consigo parar de segurar sua mão, agora fria. Acho que os idealizadores estão gostando de me ver sofrer, deve estar dando muita audiência. Afinal, ate agora nenhum aerodeslizador apareceu e já estou aqui há bastante tempo.

Desgrudo a mão de Clove delicadamente da minha e a beijo na testa.

– Vai ficar tudo bem... – sussurro em seu ouvido. Mesmo que nada vá ficar bem, ela não pode me ouvir.

Ergo meu corpo e escuto todas as ligações e músculos agradecerem ao mesmo tempo que estalam aliviados pela nova posição. Meus olhos estão grudentos devido ao choro e sinto um gosto salgado na boca.

Não tenho coragem de fazer mais do que isso. Não consigo parar de encarar o corpo de Clove. No fundo de minha mente eu sei que Clove esta apenas dormindo. Aquela expressão de alivio ainda esta no seu rosto. Eu sei que tudo isso é só uma forma de eu me sentir melhor, mais confortável, porem eu sinto que é a melhor forma de agir.

Num último momento me lembro do cordão ainda preso ao pescoço de Clove. Ela sempre o usou. Ganhou muito antes de nos conhecermos e nunca mais o largou.

Inclino o corpo e puxo ele delicadamente. Penso em levar comigo, mas ela amava tanto que coloco no bolso de sua jaqueta. Não pego as facas que estão também na jaqueta, elas pertencem a Clove e somente a ela.

Beijo novamente sua testa e em seguida sua boca.

Essa não é minha Clove. Esta fria e distante... Uma nova onda de lagrimas atinge meus olhos e eu não posso resistir.

Caminho lentamente ate o lago olhando para trás a cada 5 segundos. Só mesmo para ter certeza absoluta que ela esta realmente morta.

Quando enfim chego no lago olho novamente para traz e vejo um aerodeslizador descer e levantar seu corpo. Fico observando ate que ele some.

Varias promessas voltam a minha cabeça. Aquele dia que eu prometi a ela que iria a proteger de todos. Depois quando discutimos sobre quem sobreviveria. A felicidade de pensar que ambos podíamos ir para casa. A dança mais cedo, pouco antes de sua... Morte.

– Clove volta! – eu digo ainda olhando para o céu onde o aerodeslizador sumiu.

Eu quero ela para mim. Nunca vou conseguir esquecer o modo como seus cabelos ficavam depois do banho. Como seu corpo reagia bem aos meus beijos. Como ela era pequena e talentosa. Como me provocava... E como me amava. Ela foi a única na minha vida, a única que realmente amei.

Aquele sorriso, aquele cabelo perfeito, os olhos que brilhavam cada vez que via uma faca... Isso vai fazer falta.

Tiro toda a roupa e entro no lago. A água é gelada, mas como faz calor eu não hesito. Preciso muito tirar todas as impurezas do meu corpo. Preciso de um banho.

Assim que a água escorre do meu corpo fica suja com cor de fuligem e poeira, mas é isso. Preciso me limpar, tirar todos os resíduos do sofrimento.

Obviamente nunca vou parar de sofre, mas posso passar por mais forte do que estou sendo.

Olho ao redor e vejo que o sol já esta indo embora junto com a minha esperança de conseguir algum tipo de felicidade.

Quando termino de me lavar saio do lago e coloco as minhas roupas. Elas ficam molhadas, mas eu não me importo.

Pego minha espada e a coloco novamente em seu lugar, no meu cinto.

Caminho ate a cornucópia e me sento dentro dela. A minha mochila e a de Clove estão no mesmo lugar de antes. Escondidas atrás de um pano preto.

Pego elas e abro ambas. Na minha ainda tem todas as garrafas de água, um pacote de carne enlatada, duas lanternas, meio pacote de frutas secas e o kit de primeiros socorros.

– Droga – murmuro quando percebo que só tenho duas coisas comestíveis na minha mochila

Abro a de Clove e encontro: uma lanterna, um pacote inteiro de frutas secas, o resto do coelho e o esquilo enrolados em um plástico transparente, as 5 garrafas de água, dois iodos (um era meu), um pacote de carne seca, três laranjas, um saco de dormir, os óculos noturnos e só isso.

Coloco tudo em uma única mochila e em seguida a ponho nas costas.

Não vou ficar aqui, no local onde Clove morreu. Vou andar procurar Tresh e matá-lo. Não tenho certeza, mas algo me diz que foi ele quem matou Clove.

Volto para o lago e lavo minhas facas. Não tem nada sujo nelas, mas eu lavo mesmo assim.

Sento um pouco e decido ficar ate a noite. Comer algo, me certificar que estou forte o suficiente.

Lembro de um dia quando eu estava no Distrito 2. Clove e eu tínhamos acabado de sair do centro de treinamento e eu ia levar ela em casa, mas ela me levou a um lugar especial.

Um morro inclinado. Foi difícil subir e quando estávamos lá em cima já era noite. De lá conseguíamos ver toda a cidade e ate mesmo os bairros mais pobres. As luzes da cidade brilhavam e piscavam. O natal estava se aproximando e por isso todos tinham pequenas árvores em suas portas. Minha professora de história sempre dizia que o natal veio de muitos anos antes de os dias escuros. Era de nossos antepassados, antes de o suposto “Fim do Mundo”. Era para comemorar o nascimento de um menino chamado Jesus que fazia milagres. Só alguns distritos que mantiveram isso, inclusive no meu.

Enfim lá de cima víamos tudo. Todas as casas, mesmo as menores.

– Isso é lindo... – sussurrei boquiaberto

– É mesmo – Clove disse rindo – Eu costumava vir aqui com o meu pai!

– Obrigado! – eu disse rindo e abraçando ela

– O que você esta agradecendo? – ele perguntou sorridente

– Por me fazer feliz... – eu respondi constrangido – Você é a única que consegue.

Ela sorriu como nunca e eu me lembro de ter me sentido muito feliz. Mais feliz do que eu jamais pude conseguir ser.

Volto a realidade que não é nada boa. Estou cansado e meu corpo esta recebendo isso não muito bem.

Volto para a cornucópia e pego o esquilo. Acendo a fogueira e o esquento. Faço um suco fraco de laranja e o coloco junto a minha mochila.

Quando o esquilo esta pronto volto a pegar o suco e como os dois juntos. Uniformemente.

Pego as pernas e como devagar enquanto penso em Clove para variar.

Penso no dia de seu último aniversário.

Era dia 1 de dezembro, uma tarde ensolarada. Todos trabalhavam ou treinavam. Mas eu e Clove faltamos tudo e ficamos juntos em casa deitados. Ela puxou meu corpo para mais perto e me beijou.

Tudo foi perfeito. Nossa primeira vez. No distrito 2 é muito comum os jovens terem sua primeira vez antes dos 18 anos. Afinal, depois disso podem correr o risco de ir para os Jogos e nunca mais voltar.

Foi a primeira vez de ambos e foi muito boa.

Depois de tudo nos deitamos na cama olhando um para o outro. Estávamos realmente apaixonados.

– Tudo bem – ela disse - Gostei muito

– Muito ou demais? – eu perguntei rindo

– Mais do que eu posso entender...

Eu amei muito Clove. E sempre vou amar. Agora eu percebo que nunca falarei adeus para ela.

Meu esquilo ainda não acabou quando escuto um barulho estranhamente familiar. Chuva. Esta chovendo.



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Notas finais do capítulo

E aquele papo sobre a primeira vez deles, eu não coloquei muitos detalhes por que a tia Suzie não faz isso nos livros dela!



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