Planeta Astrozona escrita por Natália


Capítulo 2
Bem-vindo à Astrozona.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/282896/chapter/2

Diante daquele homem de longos cabelos loiros e com uma roupa formal, respondi:

– Meu Nome é Natália. Faz algum tempo que estou aqui. – Dei uma curta pausa e em um momento de reflexão, continuei – Nossa, você deve ser o dono dessa mansão né ? Desculpe-me por ter invadido assim.

– Não exatamente. Eu sou apenas um não raro visitante, desse lugar que um dia já foi uma grande balbúrdia. A propósito, meu nome é Shaka.

– Shaka? Que nome diferente.

– Na verdade, não é meu verdadeiro nome, é só um apelido que estou acostumado a usá-lo para não me expor. Em homenagem a um honrado personagem de anime que gosto e até tenho semelhança física.

– Entendo.

– Aliás, pretende ficar por aqui? O antigo pessoal dessa mansão, migrou tudo para a minha, que foi inaugurada a pouco tempo.

– Sua mansão? Adoraria conhecê-la.

– Ótimo, venha comigo então.

– Espere, não se preocupe, me passe o endereço que eu irei com a minha bicicleta.

– Tem certeza que quer ir sozinha?

– Tenho sim.

E assim aconteceu. Despedi do garoto que acabara de conhecer e prestes a iniciar minha jornada, encontro o início do meu azar. Minha bicicleta havia sumido sem deixar rastros, dei duas voltas inteiras pela parte externa da mansão e para minha decepção, ela havia sido mesmo roubada. Como sou tola e atrapalhada, larguei meu transporte de duas rodas em um lugar qualquer e agora tenho que arcar com as consequências. Ainda perdi meus documentos. Vontade de me atirar daquele deserto e gritar dane-se para o mundo.


E passaram-se quase uma hora de minha caminhada, estava anoitecendo e finalmente localizei o meu destino. Entrei naquela mansão com um largo sorriso no rosto e deparo-me com um sujeito que me encarava com um semblante carismático. Fui em sua direção e me apresentei:

– Boa Noite!

– Boa Noite senhorita, em que posso ajudá-la?

– Bem, é uma história longa. Encontrei uma pessoa que diz ser dono deste local e que me convidou para participar daqui.

– Ah sim, o Shaka. Muito bem, deixa-me ver seu Registro de Identidade?

– Por acaso não seria algo relacionado a documentos, né? – Perguntei tentando disfarçar o objeto perdido.

– Pois é sim, moça.

– Oh não. Eu perdi, me roubaram. Dê-me apenas uma chance, senhor ... senhor Tony, por favor! – Disse enquanto reparava seu crachá.

– Eu apenas lamento, garota.

E agora estava desesperada, minha vida perdera o sentido naquela noite, o destino havia levado a minha vida para o meio do nada. Não haviam forças para continuar, voltei em passos lentos e cabisbaixa em direção a porta, quando alguém me chamou:

– O que está fazendo? Desistiu de ficar aqui? – Perguntou Shaka.

– Não é isso. Mas não tenho os documentos certos para ficar.

– Você não precisa disso. Apenas passe seu nome completo, data e hora de nascimento e o local onde nasceu.

– Pode deixar. – Respondi em um momento onde meu otimismo havia voltado.

Com o registro de meus dados, estava oficialmente confirmada naquele hotel-mansão de nome “Entendendo Astrologia”. Logo Shaka me acompanhou até ao quarto que ficaria hospedada, o número 15.

– Aqui é seu quarto, nota-se que já tem outros dois moradores. Qualquer coisa, se precisar, ligue para o Tony, que ele irá me chamar – disse enquanto mostrava o interfone.

Enquanto me passava cuidadosamente outras informações, eu apreciava o ambiente de aspecto muito bonito.

– Agora vou deixar você sozinha. Espero que goste. Até logo.

E assim pude desfrutar daquele lugar que marcaria o recomeço da minha vida. Sentir a minha nova cama, e poder reparar em meu novo armário. Um lugar tão organizado. “Deveria ter algum chefe do signo de virgem” pensei, sem imaginar que o dono daquele estabelecimento, realmente possuía tal coisa.

Reparei em dois retratos localizados nas cabeceiras das duas camas que ali haviam. Um casal, no primeiro retrato, um rosto de uma garota loira, rosto angelical e olhos caramelos. O segundo porém, um rosto magro, porém que esbanjava elegância, ainda que por trás, houvera um olhar de malícia. Estava feliz em saber os estereótipos de meus parceiros de quarto, mas em um momento, parei para pensar: “Por que em um lugar tão organizado, uma moça e um rapaz podem dormir, no mesmo quarto e sozinhos?” Eu sei que poderia ser um relance de paranoia, mas não deixava de ser estranho. Decidi pôr um fim em minha malícia escorpiana.

Decidi ligar para o Tony, a fim de que Shaka pudesse ajudar a me encontrar, ainda naquele lugar fascinante.

– Oi, senhorita Natália. O Tony entrou em contato comigo e disse que você queria que eu lhe ajudasse a passear pela mansão – Ele disse amigavelmente quando chegou, mas não sorriu.

– Shaka! Muito obrigada mesmo. Na verdade – Comecei a dizer receosa e meio envergonhada – Estou com fome. Aqui oferecem jantar, certo?

Ele me lançou um olhar complacente. Eu poderia apostar que se criticando mentalmente por não ter me oferecido esses serviços básicos.

– Está certo. Temos sim. Vou te acompanhar. Acredito que já esteja na hora mesmo. O pessoal já deve estar lá, aproveito para te apresentar. Por mim, teríamos um horário certo para tudo, mas a desorganização impera na cabeça de alguns membros daqui. – Ele suspirou com aspecto cansativo. Cuidar dali não deveria ser fácil. Por que aquela gente se dedicava tanto?

E então ele começou a andar pelos longos corredores da mansão e eu o acompanhei. Passamos por diversos quartos. Tudo era muito simples e cheirava a mistério. Como não amar toda aquela situação a cada segundo? Eu não sabia dizer.


– Galera, atenção! – Ele sibilou as palavras com a confiança de um chefe. E eu admirei isso. – Obrigada. – Refletiu ironicamente quando todos pararam com a bagunça.
Assim que um pseudo silêncio reinou no local, olhares curiosos desceram de cima a baixo em meu corpo. De fato, eu tinha consciência do meu poder sexual, mas não era para tanto, curiosos!

– Esta aqui é a Natália, o mais novo membro da nossa mansão. Como bom virginiano, peço para que ajam com respeito e dignidade perante a nossa colega, mesmo sabendo que esse não é o forte de vocês – Disse lançando um olhar ameaçador.

Shaka me acompanhou até uma das mesas e me deu algumas informações e ofereceu ajuda, sempre que precisasse. Pude reparar que algumas pessoas me olhavam com curiosidade, outros apenas alguns comentários, mas no geral, não causei tanta repercussão, o que achei legal, pois não sou centrada nos holofotes.

Terminado o jantar, me dirigi a sala principal. De cara, pude ver meus companheiros de quarto, estava feliz por isso, tentei chegar perto, como quem não queria nada e escutei um papo sobre signos. Tentei me infiltrar na conversa de meus companheiros, mas a princípio, eles pareciam mais empolgados entre si.

Enquanto aqueles dois continuavam conversando, saí do local sorrateiramente. Localizei um espaço solitário e me sentei em um puff. Por um momento, parei para refletir sobre a vida nova ao qual teria que me adaptar e a maneira inesperada de como as coisas aconteceram. Shaka, ao passar por onde eu estava, ficou curioso com minha expressão agoniada, aproximou-se e simplesmente me perguntou:


– Não quer conversar com o pessoal?
– Por enquanto, não. – Disse eu, com um olhar frio e vago.
Em um momento de pausa – a pausa era apenas o momento – as horas passavam e minha cabeça não saia do lugar. Shaka, já ia se retirando, mas, ao chegar à porta, virou-se em minha direção e não ousou em dizer:
– Pense bem se quer mesmo ficar por aqui. Uma vez que uma pessoa toma esta decisão, ela nunca mais terá a vida que ela tinha antes. Se você gosta da sua antiga rotina, ainda há tempo para sair. Estou dizendo isso porque é o que acontece, esse lugar tem o poder de prender as pessoas.


Silêncio
Apreensão...
"

– É, eu gostava da minha antiga vida, também estive pensando nisto. Aliás, certas questões estão flagelando a minha mente. Abandonei meus pais, que devem estar desesperados achando que perderam sua filha. Abandonei todos os meus amigos e as pessoas que gostavam de mim. E minha escola, então? Deixei meu futuro se perder no meio do nada, agora eu também não sou nada. Sinto que morri para nascer de novo em uma dimensão nova e assustadora.


Enquanto eu deixava estas palavras saírem dos meus lábios, imaginava espinhos arranhando cada pedaço do meu coração. Eu sentia os rastros de sangue banharem meus órgãos internos. Se eu rendesse meus olhos ao apelo do desespero, choraria lágrimas vermelhas.
De novo um filete de compreensão atravessou os olhos frios e profundos do loiro.


– Ainda há tempo para voltar atrás. Até hoje me arrependo de ter largado minha vida por isso aqui. Pense bem, não vou ser hipócrita e achar que devo decidir por você. Apenas pense, é o melhor que pode fazer neste momento.

Eu estava cheia de pessoas ao meu redor. Era possível sentir o gosto da presença de cada uma. Era por isso que eu estava com algo entalado na garganta. Não poderia dizer se todos gostaram de mim, como arriscar-me por algo tão duvidoso? E se me expulsasse depois? Eu teria que bater minhas mãos cansadas em que portas desavisadas? Meus pais me aceitariam de volta? Eu me aceitaria de volta? Não, eu não me aceitaria de volta.

Levantei minha cabeça e disse com um sorriso desanimado:

– Eu vim parar aqui por acaso, mas aqui não é o meu lugar – continuei receosa – não rolou afinidade com as pessoas, entende? Acho que não passo de uma mera visitante. Estarei saindo hoje mesmo – disse enquanto me levantava e seguia em direção à porta. Parei no lado dele e complementei: Obrigada.


E assim, logo iria partir para onde eu nunca deveria ter saído. Dentro do mais profundo habitat do meu espírito, algo revirava e vomitava palavras confusas no meu pré-consciente. Ah, se eu conseguisse arrastar todas as angústias profundas à tona para poder decifrá-las. Mas eu não podia. Fraqueza talvez, medo provavelmente. Doía, doía. Como pode uma ferida que ainda nem foi aberta doer?


Minha voz, calma e doce como a de uma criança, queria rugir como a de um roqueiro em uma apresentação. Fantasmas passados atormentavam-me. Mas, a pergunta era, poderia existir antro mais espiritual, aterrador e confuso do que aquela casa? Não, não estou me referindo a esta de agora, mas da outra, a primeira em que coloquei meus pés. Aquela casa sim me arrastava em direção as perguntas mais escondidas dos recônditos da minha alma.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Personagens:
-
Nome: Natália
Idade: 16
Signo: Escorpião
-
Nome: Shaka
Idade: 21
Signo: Virgem
-
Nome: Tony
Signo: Escorpião



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Planeta Astrozona" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.