Desperto com os raios do sol invadindo a janela do meu quarto, ainda de olhos fechados a consciência da dor volta como sempre desde da semana passada...

Aos poucos vou criando forças para me erguer, sento na cama e pensamentos obscuros aparecem me assombrando...

Será que estou enlouquecendo de vez?

Ou será que minha doença está me enfraquecendo aos poucos ao ponto de me fazer entregar tudo que sou para o pó?

Com um pouco de raiva e revolta me levanto num sobressalto e vou para o banheiro começar minha rotina.

Após me vestir saio pela porta.

Já nas rua sinto a brisa querer me levar sem rumo mas me mantenho firme e sigo meu caminho.

Novamente pensamentos obscuros me assombram mas dessa vez me distraio com o vai e vem de carros e com uma breve caminhada chego ao meu destino.

Meu trabalho é o que eu sempre quis, administração de empresas.

Escritório, reuniões, stress, cobrança, correria, barulho e mais cobrança cobrança...

Correria correria...

Reuniões reuniões...

Esbarro em alguém na entrada da minha sala, não vejo quem é e também não vou dar desculpas desnecessárias.

Fecho a porta atrás de mim e vou até minha mesa, jogo a bolsa com pastas e notebook e vou sentar e procuro respirar para ver se consigo amenizar a dor que queima minhas veias e entorpece meus sentidos.

Fechos os olhos e cantarolo trecho de uma musica.

“...you don't know what laughing is vou don't know what living is if you want, you can defeat the pain and the emptiness inside your soul beneath the shame of memories you can rise and break the pain...”

“...você não sabe o que é rir você não sabe o que é viver se você quiser, você pode derrotar a dor e o vazio dentro de sua alma sob a vergonha de memórias você pode subir e quebrar a dor...”

Abro os olhos e vejo a foto que descansa ao lado da pilha de papeis para assinar.

A linda loura dos olhos claros está sorrindo para mim.

Sei que para a maioria na minha idade estão eufóricos com a ideia do “Céu é o infinito” mas no meu caso é diferente...

Aos dezesseis descobri que tenho Cardiomegalia e que posso morrer a qualquer momento, de acordo com o laudo medico de seis meses atrás.

Mas ultimamente venho sentido que essa luta estou perdendo...

Sinto que meu fim chega aos vinte sete, se bem que meu aniversário é hoje.

Olho os lembretes no calendário e faço uma careta.

Me entrego ao trabalho e afasto novamente pensamentos indesejados.

Depois de um tempo, quando percebo que estou vendo a tela do computador embaçar paro de fazer qualquer coisa e volto a me escorar na cadeira e fechar os olhos.

Minhas veias queimam, minha cabeça lateja, sinto que meu motor está pifando enquanto meu celular toca e deixo o som do piano encher meus sentidos e a voz rouca me embalar...

“...now i think i understand how this world can overcome a man...”

“...agora eu acho que entendo como este mundo pode superar um homem...”

Uma batida na porta e uma voz distante me chama, mas tudo que consigo fazer é ouvir, pois não encontro forças para me mexer ou responder a quem quer que seja.

Gritos e mais gritos e uma escuridão me banha e todo o fogo que me queima se apaga, desaparece e me deixa descansar em paz.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Estou literalmente impaciente, ele era para ter chegado ou pelo menos atendido o celular.

Chuto ma pedra e saio bufando de raiva.

Será que ele chegou ao ponto de esquecer o próprio aniversário?

Não duvido.

Ultimamente ele anda estranho, se distanciando de tudo e de todos, exclusivamente de mim.

DE MIM, ah porque ele não me atendeu?

Grunho e chuto o chão.

Sinto meu celular vibrar no meu bolso e paro de andar.

Será que é ele?

Me alegro e atendo o celular o mais rápido que posso.

– Sam? É você? – pergunto agoniada.

– Não é ele Sofi, é Kendra a secretária. Desculpa falar mas o Dr. Sammuel Giacomelli está sendo levado agora para o Center Heath's.... – desliguei o celular e corri para pegar meu carro na outra rua.

Eu sabia, no fundo sabia que algo estava de errado com ele, mas porque não me procurou?

Limitei-me apenas a dirigir o mais rápido que podia sem chamar atenção de algum policial.

Quando procurei por ele na recepção já senti um frio perto de mim e uma sensação ruim de vazio.

Conheço Sam desde do nove anos, quando estudávamos no mesmo colégio, eu era a menininha pequena indefesa e ele o menininho corajoso que cuidava de mim e dai para diante nós tornamos inseparáveis, pelo menos até uns seis meses atrás quando ele pediu um tempo.

Nos casamos quando terminamos o High School, mas desde que ele descobriu da doença ele se tornou um pouco mais agressivo, mas nada preocupante pelo menos até agora...

Há uns seis meses ele foi ao médico fazer exames de rotina, não sei qual foi o resultado pois ele o guarda consigo desde que recebeu...

Sim isso me preocupou mas o que eu poderia fazer?

Estressá-lo por isso?

Exigir que ele me fale o resultado?

Pressionar mais e mais...

Não... Fui covarde o suficiente para deixar ele tomar uma atitude que na qual nos separava...

Sacudi a cabeça e vejo o médico dele se aproximar com aquele olhar que tanto conheço...

Não precisou o Dr. Johnnsonn falar nada...

Apenas confirmei com um aceno de cabeça e perguntei onde ele tava.

Sai correndo para o quarto e lá estava ele deitado...

Seu rosto estava mais pálido que de costume...

Beijei seus lábios e chorei.

Tentei abraçá-lo e senti que sua mão tinha um papel amassado.

Peguei e abri para ler.

“ Meu amor, meu único amor... Desculpa não ter deixado você por perto esses ultimo tempo, é que não queria que lembrasse do como me tornei, fraco e sem esperanças de que milagres possam acontecer. Então se você ler isso quer dizer que fui teimoso o suficiente para me deixar morrer... Amor, minha doce Sofi, não desejo que você sofra por mim, sei que a vida continua, por favor faça nossos sonhos se tornar realidade. Fique feliz pois agora não sofro com dores e agora posso te proteger de todo mal. Te amo sempre irei te amar, de seu Sam.”

Lagrimas e mais lagrimas desciam dos meus olhos.

Um pequeno sorriso brotou, ele pensou em tudo.

Ou pelo menos tentou, só que por enquanto vou me entregar a pequena dor da perda e depois vou lutar contra esse sentimento vazio e torturante.

Sim eu conheci o meu melhor amigo, meu verdadeiro amor, minha alma gêmea, mas só que nada que é bom dura.

Tudo passou tão rápido e eu sinceramente não sei o que fazer.

Deito ao lado do meu Sam e choro silenciosamente.

Olho para o lado esquerdo onde tem vários aparelhos e instrumentos estranhos de médico, mas apenas um me chama atenção um objeto pequeno e brilhante.

Pego e continuo a encarrar e a ter uma ideia louca mas confortante para todas as hipoteses.

Faço um corte profundo no pulso esquerdo e com muito esforço depois no direito, agora sinto arder nas veias e a ver o quarto escurecer mais do que já estava...

Uma sensação de familiaridade e conforto e vejo uma luz...

Sam chega com os seus braços abertos e agora será só nós por toda a eternidade.

“...i hope it's worth it...”