Cípsela escrita por Taticastrom


Capítulo 15
Kando




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Kando: em japonês, sensação de profunda emoção e satisfação provocada ao experimentar algo positivamente indescritível.


Beijar Lucca foi uma totalmente nova, mas não menos intensa e deliciosa. Eu havia deixado a minha racionalidade de lado quando o meu anjo da guarda me puxou pela cintura, e me vi correspondendo o beijo. O toque de Hortz me despertava uma mistura de emoções e sentimentos, eu me sentia mais viva do que nunca. Sentia protegida.

Apesar da urgência que havia tomado o ritmo de nosso beijo, havia uma ternura em todos os movimentos do loiro. Eu me sentia em universo particular com Lucca, longe de qualquer problema e parecia que ele sentia o mesmo.

Eu sentia como se necessitasse de cada segundo daquele momento com ele. Queria saborear cada toque, cada sentimento. Queria desfrutar de cada descoberta.

Mas querer não é poder.

Eu fui puxada daquele mundo maravilhoso por um toque estridente, o do meu celular.

Me afastei de Lucca, quebrando o encanto daquele momento. Peguei o celular da minha bolsa, que não sei como estava jogada no chão de minha varanda.


– Oi. - Falei enquanto recuperava o fôlego, mas continuava com meus olhos fixos nos de Lucca, que sussurrou o complemento "quem me incomoda?" e tinha voltado a colocar suas mãos em minha cintura.

– Kaká? Já chegou em casa? - Tinha um barulho infernal no fundo, mas mesmo assim reconheci a voz de Nicolle. - A fila do supermercado está enorme. Devemos demorar ainda.

Eu não fazia a ideia de quanto tempo eu e Hortz ficamos em nosso mundo particular, mas, provavelmente, tempo suficiente para minha amiga achar que estaria preocupada com a ausência dela.

– Ah, sem problemas. - Falei e depois nos despedimos. Lucca começou a me puxar para próximo dele, mas, infelizmente, a minha razão tinha voltado.

E eu e ele não era algo racional, nem em um milhão de anos. Estávamos perigosamente próximos e a sensação de proteção começou a se tornar angústia. Eu não sabia o que fazer a seguir.

– Deixa ver se adivinho o que você vai falar. - Lucca falou enquanto colocava uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. - "Lucca, eu preciso de um tempo para absorver tudo que aconteceu agora" ou algo desse tipo.

– É oficial, você sabe ler mentes. - Eu falei enquanto me afastava um pouco de Hortz.

– Eu te entendo, Karly, e por isso vou respeitar seu pedido. - Ele falou me aproximando dele. - Mas eu não vou sem um beijo de despedida.

Naquele momento ele me lascou um beijo ardente, mas rápido. Fazendo meu corpo suplicar por mais. No entanto, ele já tinha se afastado, com um sorriso torto no rosto.

– A gente se esbarra, Tharde. - Ele falou enquanto abria a porta do carro e piscou para mim.

Eu me apoiei na parede enquanto via o carro de meu anjo se afastar, tentando me recuperar da deliciosa sensação de ficar sem ar e sem chão por meu querido anjo.Belisquei meu braço, mas aquilo tudo tinha sido real, nada de cinza ou visões de minha mente psicótica. Eu realmente fui beijada e beijei Lucca Hortz.

Entrei em minha casa ainda sentindo os lábios de Lucca nos meus. Joguei-me no sofá e fiquei esperando minhas amigas voltarem, os filmes teriam que esperar. Eu precisava que alguém me ajudasse a entender o que estava acontecendo com a minha vida. Pois o garoto mais popular da sala havia me beijado, não uma, mas duas vezes.

As meninas realmente demoraram mais de meia hora. Quando chegaram eu já estava vendo televisão trocando o canal em busca de qualquer coisa que me distraísse.

–Karly, chegamos - Nicolle falou, enquanto abria a porta e encaminhava para cozinha para guardar as compras. - Desculpa a demora, espero que você e Lucca tenham ficado bem.

A garota tinha entrado sem olhar para os lados pela montanha de sacolas que segurava, fazendo-a desaparecer entre elas. Fui andando atrás dela, acompanhada por Nana.

– Tenho quase certeza que eu o espantei. - Falei mordendo o lábio e fazendo as duas repararem que o garoto não estava comigo.

– Karly Tharde, o que diabos você fez? - A ruiva falou colocando suas mãos na cintura, depois de ter colocado todas as sacolas no chão.

– Eu correspondi ao beijo dele. – Falei e depois cobri meu rosto com as mãos, morrendo de vergonha e um pouco temerosa da reação das duas. Provavelmente elas iam achar que eu estava delirando.

Sabe aqueles momentos de silêncio constrangedor quando as pessoas ainda estão digerindo um assunto muito completo, e no meu caso, beirava ao absurdo.

– Calma, volta a fita. - Nana falou enquanto se ajeitava para escorar na bancada. - Lucca Hortz te beijou?

– Acho que foi o que eu disse. Afinal seria meio difícil retribuir algo se eu tivesse começado.- Retruquei rudemente, me sentindo mal depois.

Nicolle chegou perto de mim, me segurou pelo braço e falou:

– Quem é você e o que fez com a minha amiga? - Ela começou a me chacoalhar. - Você beijou? Estou chocada. - Ela deu um sorriso e falou para Nana. - Menina, ache o chocolate, essa vai ser uma tarde histórica.

– Menos, Fortini. Bem menos! - Falei rindo.- Mas aceito o chocolate, preciso de um pouco de açúcar para tentar entender o que diabos aconteceu hoje.

Assim que começou nossa tarde, contei para Nana a cena que Nicolle havia presenciado e expliquei o que tinha acontecido, ou pelo menos o que tinha entendido. Contei sobre as juras sem sentido de Hortz e o beijo, que eu não tive tempo de retribuir.

– Nicolle sempre atrapalhando bons casais. – Annabelle falou rindo na hora que falei que não tive tempo para reagir porque a ruiva tinha entrado naquela hora.

. Depois falei o que aconteceu hoje. Explicando o que havia sentido quando ele havia me ajudado com Luna, a segurando da mesma maneira que teve que fazer comigo. E de como me senti protegida e acolhida com o gesto dele.

– E ele foi embora, dizendo que a gente se esbarrava. - Eu falei enquanto comia pipoca que Annabelle tinha feito enquanto eu falava sem parar. - O que eu faço, gente?

– A gente não pode te dizer o que fazer, amiga. - Nana falou. - Mas eu acho que ele parece sincero e você merece ser muito feliz. Ele realmente pode fazer isso.

– Concordo com a Morelli... - Nicolle falou. - O Lucca parece se importar com você, Kaká.

– Certo, meninas, verei o que farei sobre esse assunto depois. - Falei mordendo o lábio - Vamos ver os filmes? Preciso me distrair um pouco.

O resto da tarde passou tranquila, com filmes de terror que poderiam ser caracterizados como comédia. O sangue jorrava como suco de morango. As cenas eram hilárias e acabamos rindo muito mais do que assustando.

Já estava anoitecendo quando meu celular tocou de novo. Meu coração gelou, eu esperava alguma mensagem de Lucca, mas era meu pai. Ele falou que teria que viajar no fim de semana a trabalho e me pediu para fazer a mala dele. Assim ele poderia viajar ainda na sexta e ficar tranquilo para o trabalho amanhã. Assim, deixei as meninas vendo o filme e arrumei as malas como já havia feito várias vezes.

Em menos de vinte minutos, Gabe passou. Pegou a mala, me deixou algum dinheiro e me deu um beijo de despedida. Ele parecia realmente aborrecido de ter que passar o fim de semana longe. Provavelmente preocupado comigo, mas um pouco tranquilo pelo fato das meninas estarem comigo.

– Não preocupa, Gabe. - Falei quando ele já estava no carro. - No domingo eu vou dormir na casa de Nicolle. Se acontecer algo eu te ligo.

– Fica bem, filha. – Ele me deu um beijo na testa e se despediu das meninas, que aguardavam na varanda

A sexta-feira não tinha sido tão horrível quanto a Annabelle previu. Apesar de estar ainda bem preocupada com minha nova amiga. Não tinha contado para pai que iria à casa de Luna e Cristally, pois teria que explicar como as conheci. Achei melhor não preocupa-lo ainda mais.

Quando a noite chegou, a morena começou a ficar um pouco agitada. Ela tentava não parecer ansiosa para saber como seria reunião de seus pais.

– Nana, pode escolher o filme. A gente aceita seus filmes cult ou estilo documentário. - Falei para garota que já não aguentava os filmes de terror e parecia estar se machucando apertando a pulseira de amuletos.

– Acho melhor só dormir, Kaká. - Ela falou levantando para tomar banho e se deitar.

Acabamos desligando a televisão e indo dormir. As meninas ficariam até a noite da noite seguinte, Nana fugindo do que poderia acontecer no encontro, provavelmente não amistoso, entre seus pais. Nicolle também estava fugindo, mas de visitas incômodas em sua casa. Alguns familiares que eram contra o seu estilo de escrita e seu sonho de ser escritora. Sendo assim, Nana acabou dormindo cedo, no quarto de hóspedes. Fortini escolheu dormir no chão de meu quarto, por isso ficamos conversando por mais tempo.

Ela realmente parecia feliz com eu ter correspondido a Hortz:

– Kaká, eu sei que sou muito romântica e você é realista. Mas estou com um bom pressentimento sobre isso. – Ela falava quase saltitante. Como escritora de romances, Nicolle amava uma boa história de casais. E o fato de ter correspondido à Hortz deve ter criado uma trama inteira em sua cabeça.

De fato, eu não podia culpa-la. Também me sentia muito excitada com essa súbita mudança em minha vida. Eu era uma menina anormal, apenas uma ninguém. Uma garota problemática, que as pessoas tinham muito medo. E naquele momento, havia um garoto, mentira, Lucca Hortz não era um garoto. Não poderia ser tratado como qualquer. Ele era o garoto mais bonito, charmoso e sedutor da sala. Um homem. E ele estava, não sei porque, interessado em mim.

Podia ser uma piada, uma aposta, uma grande gozação com a minha cara. Mas eu estava disposta a me arriscar. Estava disposta a descobrir o que Lucca queria de mim e, o principal, o que eu queria dele. O que poderia sentir e aprender ao lado dele.

Eu me sentia renascida. Normal e feliz. Minha amiga parecia ver isso em meu rosto. No sorriso bobo que carregava, No olhar perdido, ainda pensando nele.

– Eu não sei o que penso sobre isso ainda, Nic. - Falei olhando para o nada. - Mas não vou mais evita-lo. Talvez o assunto.


A Fortini entendeu o recado e rapidamente começou a falar sobre a festa. Que seria na semana seguinte.
Eu não tinha acabado de montar a fantasia. Então Nicolle combinou de sairmos no dia seguinte de tarde, pois Nana também precisava de algumas coisas.

No sábado, acabamos dormindo a manhã inteira. Annabelle estava mais agitada ainda, mas continuava a tentar transparecer calma.

Resolvemos almoçar fora e assim poderíamos fazer as compras com mais tempo. Nicolle nos levou em um restaurante japonês bacana e isso acalmou um pouco a Morelli, que amava tudo da cultura oriental.

Antes de sairmos de casa Fortini me obrigou a prometer que não iria sair de perto dela. Então ela ficava de olho em mim como se fosse criança. Ela ainda estava preocupada com a minha frágil saúde e com a minha loucura de sair para salvar uma desconhecida de ser agredida por um homem possivelmente mais forte do que eu.

Naquela tarde andamos só em brechós. E rimos muito vestindo lookd antigos, como nos filmes. Encontramos alguns acessórios que iam ajudar a compor nossas fantasias. Nic parecia muito entusiasmada para terminar de customizar sua roupa. E ficou combinado que nos três iriamos nos arrumar na casa dela, assim teríamos carona para ida e volta.

Nana havia pedido para passarmos em lojas de pano, ao que parece vários acessórios para a fantasia dela teriam que ser feitos do zero. Não que fosse um problema para ela, que amava desenha, customizar e costurar. Havia descoberto que várias roupas que a Morelli usava eram feitas por ela mesma e um de seus sonhos era fazer um curso voltado para moda. Mas seu rigoroso pai tremia só de pensar, para ele ela tinha que ser uma medica, advogada ou engenheira, nenhuma outra opção era válida. Já Jana era muito mais compreensiva com a filha, tendo dado para minha amiga vários livros sobre moda escondidos .

Quando a tarde já estava acabando resolvemos dar outra parada para comer, antes de voltarmos para nossas respectivas casas e encarar a realidade. Nicolle não queria me deixar sozinha em casa, me convidou mais de uma vez para dormir na casa dela. Mas eu queria ficar em casa, organizar minha cabeça. Falei com ela para me deixar na casa de Mattew, assim visitaria ele e minha tia antes de voltar para casa. Tendo um tempo sozinha, mas não muito.

No entanto, a vida resolveu bater de cara comigo antes mesmo de me acobertar na solidão.

Passando na frente de um pequeno café italiano eu vi Gabe, confortavelmente vestido e ao lado da vagabunda ruiva. Eu não conhecia a blusa que ele usava, tinha certeza que não era uma que havia colocado na mala, na verdade não era nenhuma blusa de seu guarda roupa. Pelo tom, um lilás, eu percebi que ele nunca teria comprado. Devia ser um presente da vagabunda, que passava a mão em seus braços.

A cena embrulhou meu estômago e a raiva fazia meu corpo tremer. Eu sabia que estava perdendo o controle, pois minha visão começava a descolorir. Eu me sentia traída, pois percebi que a preocupação de meu pai era, na verdade, culpa. Ele não havia me deixado pelo trabalho, ele havia me trocado pela mulher que eu mais odiava na fase da Terra.

Nicolle reparou a cena e percebeu que não estava bem. Meus olhos estavam fixos nos dois, meu corpo tremia. E o calor começava a me consumir. A minha visão já tinha perdido quase totalmente a cor, o que estava eram os cabelos de fogo mal tingidos e o vestido rosa cheguei.

– Karly, respira! – Nicolle começou a falar, mas eu mal a ouvia. Ao lado da víbora estava a amaldiçoada sombra cinza.

O fantasma de minha mãe me olhava com uma clara mensagem no rosto, eu também não tinha cumprido a minha promessa. Alexandra Leskova ainda fazia parte da vida de meu pai.

Mas de uma coisa eu estava determinada, não seria por muito tempo. Agora a guerra estava proclamada e ela sabia. Pois enquanto olhava fixamente para os dois ela olhou de volta para mim, por uma fração de segundos, mas com um sorriso vitorioso no rosto. Um sorriso que eu tiraria, para sempre.


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Notas finais do capítulo

Oi querida e queridos leitores. Como estão?
Eu vejo que várias pessoas acessam a história, mas poucas comentam. Se puderem pelo menos deixar um oi ou dizer o que estão achando, eu ficaria muito feliz.
Nada mais gratificante para uma autora do que receber recados de seus leitores.
Obrigada, meus queridos, e continuem comigo nesse estranho mundo de Cípsela



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