Cípsela escrita por Taticastrom


Capítulo 12
Ichariba chode




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Ichariba chode: em japonês quando você encontra alguém, mesmo que por acaso, e tornam-se amigos para vida toda

Achar uma vaga não foi muito difícil, já que o carinho de Nic literalmente cabe em qualquer lugar. Tínhamos ido à um bairro de Cípsela que era o centro de moda da cidade, com vários tipos de loja, para atender todos os gostos e bolsos.

Nicolle estacionou perto da primeira loja de fantasia que iriamos, uma que nenhuma das duas tinha condições de bancar uma só peça, mas que poderia nos dar várias ideias de fantasias e de como customiza-las.

Once Upon a Time não era apenas uma loja de fantasia, era um castelo mágico cheio da maior diversidade de itens sobre conto de fadas e coisas do tipo. O prédio tinha mesmo a aparência de um modesto castelo, mas por dentro era aconchegante, moderno e claro.

Eu amava aquela loja, mesmo nunca comprando muito ali. Uma criança merece sonhar, certo? E sonhos se tornavam realidades em Once Upon a Time, pelo menos esse era o lema da loja. Assim que entramos deparamos com as vitrines que contavam os contos de fadas através de manequins e muita criatividade.

A atmosfera dali fazia todos os problemas sumirem e me lembrei que minha mãe costumava a me levar ali, dizia que eu devia sempre acreditar em conto de fadas, em coisas sobrenaturais e me falava que eu era uma princesa. Eu percebi que sentia falta dessas pequenas coisas que me foram usurpadas durante a infância. De me sentir uma princesa, de que todos meus sonhos pudessem se realizar. Infelizmente, eu tive apenas um desejo durante toda a minha infância e nunca fui atendida.

Estava imersa nesses pensamentos quando Nicolle chamou minha atenção para me mostrar a fantasia mais perfeita de cinderela que eu já vi. O vestido parecia ter sido criado por fadas mesmo, o tecido era tão macio e brilhante. Eu e Nic ficamos simplesmente perdida na imensidão de fantasias e sonhos que a loja nos disponibilizava.

Depois de quase duas horas saímos do mundo dos sonhos e começamos a procurar por fantasias que podiam entrar em nossos orçamentos. Nicolle bem que poderia comprar a fantasia mais cara da OUAT, mas ela queria customizar a roupa que usaria, para ficar mais pessoal. Além disso, eu nunca encontrei alguém tão humilde quanto ela.

Já estava anoitecendo quando nossa caçada acabou. Passamos em quase todas as lojas de fantasia do bairro, se não todas, mas por fim decidimos fazer nossas próprias fantasias usando roupas que encontramos num brechó. Nicolle tinha achado um corpete maravilhoso, que parecia quase novo. Achamos roupas de época ou de alguma peça de teatro. Com menos de cinquenta reais nós duas tínhamos comprado peças para montarmos pelo menos duas fantasias.

Eu tinha achado um vestido de noiva velho e pensava em me fantasia de noiva cadáver. Sombrio, como eu. Minha outra opção era vampira, afinal as pessoas já achavam que eu era uma espécie de assassina fria e cruel.

Quando saímos do brechó ainda não tínhamos acabado a nossa missão ali. A senhora Fortini tinha pedido a Nicolle que pegasse algumas roupas dela em uma loja chique. Eu já estava um pouco cansada, então falei com minha amiga que a esperaria perto do carro.

Tive que insistir muito para ela me deixar sozinha, mas por fim ela me deixou com as compras e a chave do carro. Guardei as sacolas no porta malas e sentei na calçada para ficar observando as pessoas passarem. As pessoas mal pareciam perceber que a rua esteva cheia, iam andando muito ocupadas em seus celulares e tablets.

Já devia ter passado alguns minutos quando ouvi um grito e um pedido de socorro. Ninguém mais parecia ouvir, mas a completa falta de atenção das pessoas não me surpreendia mais. Fui andando procurando quem havia gritado, de um modo meio irracional eu parecia estar sendo guiada até quem precisava de ajuda.

Andei pouco mais de uma quadra e vi um homem atacando um jovem em um beco. Ninguém parecia notar o que acontecia então tomei a iniciativa gritando a distância.

– Larga ela agora!

Provavelmente, sem querer brigar com mais uma pessoa o homem saiu correndo. Quando cheguei perto da menina ela desmaiou em meus braços e foi a minha vez de gritar para o socorro. Só que as pessoas continuavam a passar como se fossem surdas.

Respirei fundo e tentei pensar o que devia fazer. Sabia que no fim da rua tinha um hospital e não valia a pena chamar mais ajuda. Ajeitei a menina e carreguei-a até o hospital.

Chegando lá um jovem uniformizado veio me acudir e me ajudou a coloca-la em uma maca. Assim que conseguimos deita-la ela abriu as mãos e revelou um pequeno colar. Ela tinha segurado com tanta força que o pingente de coração tinha ferido sua pele.

Peguei o colar enquanto um médico começou a examina-la e me perguntar os dados dela e o que tinha acontecido. Expliquei o que tinha visto e o médico já mandou um funcionário que passava ligar para polícia.

– Você vai ter que ficar até a polícia chegar para fazer um boletim de ocorrência. Vamos deixar a menina em um quarto na enfermaria para tomar soro enquanto não acorda, gostaria de acompanha-la?

Assenti e segui o médico. Ele nos deixou em um quarto com mais duas camas, que estavam vazias no momento. Sentei na cadeira ao lado da cama que coloram a menina e resolvi ligar para Nicolle. Com certeza ela ia me dar um sermão enorme, mas eu não podia deixar a ruiva ainda mais preocupada.

Mandei uma mensagem resumindo a situação e falando em qual quarto estava, quando terminei de enviar ouvir uma voz baixinha falando repetidas vezes apenas uma palavra “colar”.

Olhei e vi que a menina estava abrindo os olhos, seu primeiro reflexo foi colocar a mão no pescoço. Tirei o colar do meu bolso e coloquei no pescoço dela, enquanto isso ela parecia começar a ligar os pontos e entender o que fazia em um quarto branco com uma desconhecida.

– Obrigada. – Ela falou sorrindo. Parecia já estar se recuperando e tentou sentar na cama, então fui ajuda-la.

A garota devia ser um pouco mais nova do que eu, tinha lindos e longos cabelos loiros, além de olhos azuis tão lindos quanto os de Gabe.

– Não há de quê. – Falei depois de ajeita-la entre os travesseiros. – Daqui a pouco a policia deve chegar para fazermos um boletim de ocorrência. E os médicos estavam esperando você acordar para entrar em contato com sua família.

– Droga, droga, droga! – A garota falou. – Minha mãe vai me matar, sério! Somos novas na cidade e eu resolvi que era adulta o suficiente para sair sozinha. Eu preciso mesmo ligar para ela?

– Desculpa, querida, mas sim. – Falei tentando ser compreensiva. Afinal também não queria levar a bronca de Nicolle. – Você é menor de idade, certo? E os médicos ainda precisam de informações suas de qualquer modo.

– Droga. – A garota falou olhando para o teto. Ela me falou o número e eu anotei no celular. Deixei a garota com uma enfermeira enquanto procurava o médico e passava as informações que ela havia me dado.

Seu nome era Luna Harlow, tinha 12 anos e passei o número de sua mãe. O agressor tinha tentado roubar o colar e arrancar suas roupas. Felizmente, ele não havia conseguido nenhuma das duas coisas, mas deixou a menina com várias marcas que provavelmente ficariam bem roxas e alguns arranhões no rosto e ombros.

Quando voltei ao quarto a policia já tinha a interrogado, infelizmente ela não conseguia lembrar da fisionomia do agressor, muito menos eu. Os policiais deixaram um número, caso Luna lembra-se de algum detalhe e saíram.

– Você poderia ficar até minha mãe chegar? – A menina pediu deixando transparecer o medo que sentia, não sei se da mãe ou de ficar sozinha.

– Claro, querida. – Falei sorrindo. – E meu nome é Karly.

Ficamos alguns minutos conversando sobre bobagens. Ela teria alta assim que a mãe chegasse, pelo visto foi apenas um choque pós-trauma. Descobri que ela começaria a estudar no Instituto na semana seguinte e que tinha mudado para Cípsela naquela semana, quando a mãe foi chamada para trabalhar na cidade.

Já estávamos conversando há alguns minutos quando Nicolle chegou. Ela estava muito nervosa e preocupada, depois de me ver sã e salva ela parecia só nervosa comigo, mas não falou nada. Afinal eu tinha salvado uma menina. Depois de confirmar que estava bem, ela aceitou voltar para casa para não deixar a sua mãe preocupada e me cobriria com Gabe, afinal já estava combinado que dormiria na casa dela mesmo.

– Me ligue assim que quiser ir embora, ok? – Ela falou pela milésima vez enquanto saia do quarto.

– Acho que sua amiga não gostou muito de te deixar sozinha aqui... – Luna parecia estar falando mais com ela mesmo do que comigo.

– Digamos que não tenho um bom histórico com hospitais. – Falei sorrindo. – E ai, como está se sentindo?

– Bem melhor. – Ela voltou a olhar para o teto. – Acha que já ligaram para minha mãe?

– Não sei, mas devem sim. – Sentei de novo do lado dela e segurei a sua mão carinhosamente. – Não se preocupe, ela deve chegar logo aqui.

Depois disso voltamos a falar sobre assuntos aleatórios, como livros e filmes. Tínhamos um gosto muito parecido então ficamos entretidas na nossa conversa que não percebemos que alguém tinha entrado no quarto.

– Com licença. – Virei para ver. Era uma mulher de vinte e tantos anos, não devia ter mais de trinta. Usava um vestido preto que era sexy e profissional ao mesmo tempo. Seus cabelos eram loiros como de Luna, mas eram ondulados.

– Mamãe. – Luna falou sorrindo. Assustei, pois ela não parecia ter idade para ser mãe.

– Oh minha querida, demorei muito? – Ela falou enquanto passava as mãos no rosto da filha e depois olhou para o pescoço da filha, feliz em encontrar o colar.

– A Karly ficou me fazendo companhia. – Ela falou e pareceu que pela primeira vez a mãe percebeu que havia alguém mais no quarto. – Ela afastou o cara e me carregou até aqui.

– Muito obrigada, por tudo isso. – Ela falou sorrindo, ao mesmo tempo ela parecia me analisar. – Você parece com alguém que eu conheço, qual é o seu sobrenome querida?

– Tharde. – Ela pareceu surpresa com isso por um segundo, mas logo estava sorrindo e apertando a minha mão.

– Há algo que possa fazer para agradece-la? Você salvou a minha filha e ainda ficou cuidando dela.

– Não precisa, eu não podia deixar alguém assim. – Eu falei sorrindo. – Mas se puder me dar uma carona para casa da minha amiga seria bom. Não queria incomoda-la de novo.

– Claro, deixa só eu resolver a papelada para tirar a Luna.

Ficamos eu e Luna conversando enquanto a Cristally conseguia a alta. E mesmo naquela situação maluca eu estava calma perto da menina. Em pouco tempo parecíamos velhas conhecidas, como se já tivéssemos nós conhecido em outra vida, como a Tia Julie costumava a dizer.

Depois de vários minutos a mãe de Luna voltou e pudemos sair do hospital. O que foi um grande alívio, pois eu continuava a odiar aquele ambiente e nem sabia como tinha aguentado ficar ali tanto tempo sem surtar.

Cristally tinha um Audi preto, simplesmente maravilhoso. Ela insistiu para que sentasse no banco da frente com ela. Dei-lhe o endereço da casa dos Fortini e ficamos as três conversando até chegarmos lá.

As duas eram pessoas maravilhosas, eu pude perceber naquele pouco tempo. Quando descia do carro Cristally desceu o vidro e falou:

– Eu ainda quero te agradecer, Karly Tharde. O que você fez não tem preço.

– De verdade, senhorita Harlow.

– Por favor, me chame de Cristally, melhor, de Cris. – Ela falou sorrindo. – Eu faço questão! Eu e Luna acabamos de nos mudar e seria maravilhoso termos alguma companhia no almoço. - Ela me entregou um papel com o número dela e o endereço. – No dia que for melhor para você é só me ligar.

Assenti e apertei o interfone da casa de Nicolle. Aquele tinha sido um dia incomum, para se dizer o mínimo.


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