Cípsela escrita por Taticastrom


Capítulo 10
Basorexia




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Basorexia: Incontrolável desejo de beijar alguém

Acordei algumas horas depois do incidente com Spyer e ao levantar percebi que não estava sozinha no quarto. Como um cão de guarda Matthew estava deitado no sofá quase babando de tão pesado que dormia. Eu me levantei devagar contendo o riso e evitando barulhos para não acorda-lo. Ao lado do meu prestativo escudeiro estava uma mala, que logo percebi, estava cheia de roupas para mim. Como possivelmente foi Matt ou Gabe que escolheu as peças não havia muita coisa útil ali dentro, apenas blusas e shorts que foram amontoados da maneira mais engraçada possível. Vasculhei o que os dois pegaram e achei um conjunto que não estava tão amarrotado e fui para o banheiro.

A água batendo em meus cabelos e tirando todas as marcas dos últimos dias só não conseguiu limpar a minha mente. Spyer pode ter dito que me absolvia, mas eu não podia tirar de mim a culpa de tudo o que aconteceu com o moreno e tudo que ele passou. Além disso, acredito com muita firmeza que se tratou de um sonho, ilusão ou qualquer tipo de peça que minha cabeça resolveu pregar em mim, mais uma vez.

Depois de limpa, cheirosa e com os pensamentos quase em ordem voltei para o quarto, aonde meu guarda-costas não muito eficiente me esperava. Continuei andando devagar e ousei, pela primeira vez, sair daquele minúsculo espaço que estava presa há mais de 24 horas. Não dei cinco passos e ouvi meu nome sendo chamado.

– Karly! – Me virei para ver quem se tratava e era apenas Gabriel, então respirei fundo. – Já se sente melhor minha filha? Parece que tomou banho, não sabia o que você queria usar e infelizmente quando fui para casa a Alexandra não estava para poder me ajudar.

– Pai, é melhor assim, já estou no hospital não queria voltar para cama por infecções causadas pelas escamas de cobra nas minhas roupas. – Falei rindo e caminhei na direção dele. – Só uma brincadeira para descontrair, pode colocar um sorriso nessa sua cara fechada, sua filha maluca está melhor.

Quando já estava perto dele, Gabe me pegou pelos seus braços fortes e novamente me deu um abraço tão apertado que cortou a minha respiração por alguns segundos. Ele havia me tirado do chão e me enchido de beijos no rosto.

– Nunca, nunca mesmo, assuste seu pai dessa forma, ok? – Ele falou me ajudando a voltar ao equilíbrio quando me colocou no chão. – Esse seu velho aqui não aguenta outra dessa não.

– Poxa vida, estava pensando em ter outra crise semana que vem, terei que remarcar. – Brinquei. – Posso saber por qual motivo eu tenho um cão de guarda dormindo em meu sofá?

– Bem, depois de descobrir que a segurança do Inês não era das coisas mais eficientes do mundo eu e seu primo estamos revezando para impedir de qualquer pessoa entre no quarto para te ver. Apenas eu, ele e seus médicos são permitidos. – Ele falou serio me analisando. – Aquele garoto não te fez nada, certo? Pois se não, eu juro que mato ele.

– Aaron não fez nada comigo pai, gostaria de lembra-lo que fui eu que quase matei o garoto e tirei seu órgão mais vital usando apenas as mãos. – Eu olhava o chão, sentindo um misto de raiva pelo modo com que tratavam o Spyer e culpa, já que eu era a causa de todos os tormentos. – Quando terei alta?

– Esperávamos você acordar para sair. – Gabriel falou sorrindo. – Janaína deve passar só para confirmar tudo e assinar alguns papeis. Entre no quarto e acorde seu primo enquanto eu vou chama-la.

Assenti e voltei para meu quarto. Matthew parecia estar tendo um sonho tão bom que fiquei com dó de acorda-lo, então me ajeitei ao lado dele no sofá e fiquei acariciando seu cabelo. Afinal, bons sonhos não eram algo que todos os Tharde tinham.

– Então senhorita Karly, como está se sentindo hoje? – Jana perguntou assim que entrou no quarto.

– Maravilhosamente bem e esperando apenas você dar a ordem de soltura para minha pessoa. – Falei rindo enquanto Gabe acordava a bela adormecida ao meu lado.

– Está tudo pronto, mas gostaria que você me ligasse se sentisse qualquer coisa e daqui uma semana você tem que voltar.

Dito essas palavras a doutora saiu para a parte burocrática da coisa enquanto eu saia do quarto. Os meus dois guarda-costas me impediram de fazer muito esforço e foram me auxiliando durante todo o trajeto, o que me fazia gargalhar.

– Queridos, eu estou bem! – Falei quando os dois começaram a disputar quem iria me carregar até a portaria, já que o elevador não quer funcionar e estávamos no terceiro ou quarto andar. - Acredito eu, e caso esteja errada confiram com a doutora Jana, meu problema foi na unha. – Fiz um gesto mostrando a mão que estava agora toda enfaixada – E não meus pés ou a minha capacidade de me locomover mais rápido que os senhores.

Depois disso eu saí correndo as escadas, deixando os dois enlouquecidos correndo atrás de mim. E de fato cheguei antes deles na portaria, um pouco morta devido ao meu sedentarismo crônico, mas havia compensado ver a cara dos dois vermelhas e preocupadas dando gargalhadas ao me verem são e salva no andar de baixo.

Papelada resolvida e depois de pai pagar uma quantia exorbitante para o hospital Inês estava agora a caminho de casa, deixando para trás pesadelos e fantasmas que esperava não reencontrar tão cedo, apesar de achar que Spyer não pensava o mesmo que eu e logo me acharia sozinha entre os corredores do Instituto e sem nenhum auxilio eu teria que enfrenta-lo de vez, mas isso podia esperar.

Passamos na casa de Matthew para deixa-lo, não por muito tempo. O garoto só ia dar uma ajeitada na casa, pegar uma trouxa de roupas e seu carro para ficar uma temporada lá em casa, eles alegaram que era porque tia Julie ainda não tinha voltado e não era bom para ele ficar tanto tempo sozinho, mas a verdade é que Matt poderia ficar mais tempo de olho em mim se estivesse lá em casa, já que Gabe trabalhava exaustivamente todos os dias até o anoitecer.

Quando estava sozinho comigo Gabriel me deu uma noticia que fez tudo que passei sumir. Alexandra estava mudando da nossa casa. Contive-me para não dar gritinhos de felicidade e até consegui fingir que ficava triste com a saída da víbora mortífera do meu lar, não que eu ache que meu pai tenha caído nessa, ele era mais esperto que isso, mas relevou já que eu estava com carta branca devido a minha psicose. Jana deixou bem claro para ele que eu não podia sobre hipótese nenhuma ficar estressada pelos próximos dias.

Chegando à minha adorada casa vi a vadia ruiva carregando pesadas caixas até seu carro. Gabe correu para ajuda-la e pediu para que eu subisse calmamente e não preocupasse em ajuda-los, que estava de folga por hoje. Como se eu realmente fosse de boa vontade um dia auxiliar aquela cobra, até que poderia ajudar, já que ela estava saindo do meu lar e eu queria logo fazer um ritual de purificação no quarto que ela estava alojada nos últimos tempos.

Enquanto meu pai estava tentando colocar todas as tralhas que a víbora tinha no carro dela e no dele eu estava arrumando a bagunça que meu pai tinha feito procurando roupas para mim. Percebi que ele havia achado a caixa que guardava as lembranças de minha mãe e as fotos dela se espalhavam pelo quarto. Juntei todas e coloquei o Carrot por cima delas e guarde-as de novo. Quando já estava tudo pronto resolvi descer para comer alguma coisa, comida de hospital dá fome. E saindo do meu quarto dei de cara com a cobra ruiva que estava voltando para o quarto pegando o resto de sua pele, digo pedaços de pano que ela acha que são roupas.

– Nossa louquinha está se sentindo melhor? – A cobra disse percebendo que Gabriel estava longe demais para ouvi-la. – Eu não consegui fazer seu pai te trancafiar em uma dessas clinicas psicológicas da cidade ou até mesmo fora delas, que seria o melhor para ele, se livrar de você. Aberração!

– Aberração? – Meu corpo voltou a queimar, mas era a mesma sensação que senti quando vi Aaron a segunda vez, não doía, era como se estivesse acessa, viva. Que pudesse fazer tudo. – Eu vou falar umas verdades para você e quero que você fique caladinha até eu terminar, entendeu vadia? – Ela parecia que ia retrucar, mas as palavras ficaram entaladas em sua boca. – Bom mesmo. Você pode achar o que quiser de mim, eu sei quem eu sou. E mesmo sendo um mostro, uma aberração, como você ousou dizer, sou melhor que você, sua cobra cascavel destruidora de lares. Você acha que é alguém? Não passa de uma prostituta de luxo, meu pai está bancando seu bem bom enquanto você o deixa feliz, mas eu estou esperando quando ele te largar, eu vou fazer uma festa e soltar foguetes.

Eu respirei fundo e continuei olhando firmemente para ele. Eu tinha andado na direção dela e agora a víbora estava literalmente na parede. Depois de ver que ela ainda não ia falar nada terminei de falar tudo que estava entalado na minha garganta há muito tempo.

– Mesmo você não vai conseguir amarrar Gabriel por muito tempo, feiticeira maldita, meu pai não é cara para relacionamentos sérios e eu não vou deixar que seus momentos com ele rendam muito mais, você pode até achar que está ganhando a batalha saindo de casa como a boa moça enquanto eu saio de vilã por ser a filha boa e preocupada com a saúde psicológica de meu pai, mas pode ter certeza, você não vai ganhar a guerra. Meu pai é meu, entendeu Leskova, ou preciso desenhar? – Ela continuou calada então conclui. – Ótimo, agora saia da minha frente e espero nunca mais te ver.

– Tal mãe, tal filha. – Leskova tomou coragem de falar e escolheu as piores palavras possíveis. – Louise de fato teria orgulho da filha, uma estupida tão grande quanto ela.

Eu já estava quase voltando para meu quarto quando aquela voz irritante me provocando. Ela não devia ter imaginado a minha reação, tão pouco eu, mas já estava ciente de que eu era um monstro inconsciente. E quando a víbora acordou o meu lado doentio eu dei um tapa na cara dela que a fez desequilibrar do salto e cair no chão. Calmamente eu me ajoelhei e fiquei olhando ela nos olhas e falei:

– Leskova, era melhor você ter ficado calada, bem melhor. Nunca, mas nunca mesmo, volte a falar na minha mãe, cachorra. Você não é melhor que ela para dizer uma palavra. – Eu estava levantando, mas voltei a olha-la e continuei. – Nem ouse contar para meu pai sobre essa nossa conversa ou farei da sua vida um inferno que você nunca imaginou e caso você ainda não saiba eu sou muito boa nisso.

A adrenalina ainda pulsava em meu corpo quando eu descia as escadas e meu pai vinha na direção contraria com uma cara de extremamente preocupado perguntando que barulho era aquele que ele tinha escutado.

– Parece que Leskova tropeçou quando voltou para pegar suas coisas, eu já estava indo te chamar, mas achei melhor não correr de novo. – Falei sorrindo e meu pai parecia não ver que aquela era uma mentira descarada. – Vou comer alguma coisa, já que não precisam de mim.

Gabriel subiu para olhar como estava a megera e eu continuava sorridente a preparar meu lanche. A mulher bufava no andar de cima, mas ela manteve a minha história. Pelo menos ela não era estupida para duvidar da minha palavra. Não que eu fosse uma pessoa que gostasse de vingança ou de bater em outras pessoas, mas Alexandra Leskova merecia aquele tapa e não era de hoje. Provavelmente, de fato minha mãe ficaria orgulhosa, afinal uma das ultimas lembranças que tenho dela era falando sobre o quão cruel era Alexandra e nas minhas memórias Louise era muito fraca para conseguir vencer a perversidade da cobra, mas eu não era. Não mais.

Depois de preparar um lanche fui para meu quarto e fiquei trancada lá até Matthew chegar e me avisar que a casa estava livre de cobras. Nós dois comemoramos loucamente, entrando no quarto aonde meu primo agora se instalaria e arruinando qualquer vestígio da víbora que restará. Rasgamos todas as roupas de cama e fizemos um trabalho maravilhoso em desinfetar o quarto de piolhos de cobra.

– Se tudo der errado vamos virar dedetizadores, certo? – Falei brincando com Matt enquanto apreciamos nossa vitória deitados na cama que já não pertencia mais a Leskova.

– Com certeza, Kaká, livrar o mundo de pessoas como Leskova é uma profissão honrosa na verdade. – O garoto disse rindo e ficamos horas assim, conversando. Até eu tocar no assunto que tanto atiçava a minha curiosidade.

– Então Matt, você pode me explicar por que diabos você deixou o olho do Spyer roxo?

– Primeiro, porque ele merecia isso já faz cinco anos e eu só não dei porque, naquela época, você amava demais aquele idiota e eu nunca quis magoa-la – Ele começou a falar. – Em segundo lugar, eu já havia avisado a Spyer para se afastar de você. Karly, ele é o culpado de tudo que aconteceu com você nos últimos cinco anos, Você nunca deveria ter se aproximado daquele marginal, como eu me odeio por não ter percebido isso antes. Mas agora é diferente, eu sei o mal que ele te faz e alertei-o para nunca mais chegar perto de você e se um dia eu visse ele falando de você ou sobre você eu o mataria. Estava apenas cumprindo minha palavra.

Eu dei um sorriso torto e abracei meu irmão preocupado, meu guarda-costas maluco, meu primo e confidente.

– Matt, nós já não tínhamos discutido que você não pode me salvar de tudo, grandão? – Falei bagunçando o cabelo dele. – Eu tenho que viver a minha vida, sem você e Gabe achando que podem me defender de todos os males. Quando eu precisar de você eu vou te procurar, mas não faça coisas estupidas como bater em Spyer. Por mim.

Ele simplesmente me deu um beijo na testa e mudou de assunto. Ficamos conversando por algum tempo esperando Gabriel voltar da casa da piranha, mas acabei adormecendo ao lado de meu primo e protegida os pesadelos não me atormentaram por mais uma noite.

Na manhã seguinte quando acordei acreditava passaria a manhã sozinha em casa. Estava deitado em minha cama, o que me fez pensar que Matt deve ter me carregado até a mesma. Tadinho, devia estar com uma dor nas costas por tamanho esforço. Levantei e fui procurar algo para comer. Coisa de gordo.

Ainda no corredor confirmei que nem Gabriel nem Matthew estavam em casa, mas havia um bilhete pregado na geladeira: Querida Kaká, nenhum de nós podia faltar mais um dia a seus compromissos. Mas eu – Matthew – voltarei direto do colégio trazendo o melhor almoço possível. Procure descansar enquanto isso. Seu pai mandou você ligar para ele se qualquer coisa, enfatizando, qualquer coisa acontecer! Com carinho, seus homens. Ps. Ligue ou mande mensagem quando acordar

Achei que as noticias podiam esperar, então resolvi pensar em comer algo primeiro. Para ter forçar para aguentar a solidão da manhã. Comi um pouco de cereal, mas nas primeiras colheradas senti um gosto ruim e desisti de comer muito mais e fui arrumar em meu quarto. Depois de tomar um banho e já estar pronta para passar meu dia deitada lendo livros e vendo filme resolvi que era hora de informar aos protetores que estava sã e salva. Com meia dúzia de palavras mandei uma mensagem para os dois e fui pegar algum livro de minha avó escondido pela casa.

Quando tinha acabado de me acomodar no meu pufe na sacada de meu quarto a campainha tocou. Internamente supliquei as entidades cípsilianas que não fosse Alexandra Leskova ou Aaron Spyer, pois não saberia como reagir em nenhuma das duas situações, mas para minha sorte, ou não, se tratava de alguém ainda mais inusitado.

– Hortz? – Falei quando fiquei na ponta dos pés na sacada para ver quem me incomodava e me deparei com cabelos loiros que podiam cegar de tão brilhantes. – O que diabos você está fazendo aqui? Não tem aula não?

O garoto ficou por alguns minutos procurando de onde vinha a voz do além, visto que não dava para me ver de onde estava, pois meu pai fez uma sacada alta com medo que eu caísse quando mais nova. Desci as escadas e dei uma olhada no espelho para ver o quão monstruosa estava. Nada assustadora, então abri a porta.

– Karly! – O garoto me deu um abraço forte, igual de Gabe, como se eu tivesse voltado dos mortos. – Você não tem noção do quanto me preocupou. Seu pai não me deixou vê-la ontem e enquanto eu esperava um garoto da nossa escola, aquele esquisitão, passou do meu lado me olhando como se eu tivesse matado a mãe dele. Minutos depois seu pai sai furioso, expulsando todo mundo que queria te ver e xingando a incompetência do hospital em manter você protegida. Aquele garoto fez algo contra você?

Minha primeira reação foi rir. Talvez o termo melhor fosse gargalhar. Se eu continuava em pé era graças aos braços do loiro ao redor de minha cintura e percebendo que a minha crise de risos não passava o garoto me ajudou a sentar no sofá e esperou que eu recompusesse, mas o riso se transformou em uma tosse e com ela veio uma dor que me contorcia por dentro. Usei todo folego que possuía e pedi ao garoto que pegasse um copo de água para mim.

Lucca parecia preocupado e nervoso remexendo em minha cozinha procurando um copo e a água em si. Ele conseguiu fazer tudo relativamente rápido, considerando que ele nunca havia entrado na minha casa e muito menos em minha cozinha. Ele trouxe o copo e esperou pare ver minha melhora. Poucos minutos depois a tosse passou e eu já conseguia respirar melhor.

– Obrigada, Lucca. – Falei convidando-o a sentar ao meu lado, já que o garoto havia esperado ajoelhado em minha frente alguma melhora segurando o copo. – Você deve mesmo ser um anjo da guarda. – Falei sorrindo – Mas você não tem com que se preocupar, além do fato de estar preocupada com uma garota psicótica, de verdade. Aaron Spyer não representa e nunca vai representar uma ameaça para mim, no entanto o contrario não é verdade. E quanto meu pai, assim como você e meu primo ele esta tentando inutilmente me proteger de males que eu mesmo me causei. Ninguém pode lutar com o destino.

Por um tempo aquele par de olhos folha seca ficaram apenas me encarando, como se analisassem se o que falava era verdade. Lucca começou a aproximar perigosamente de mim e ternamente colocou suas mãos em meu rosto, exatamente como Spyer havia feito no hospital, um gesto inesperado.

– Karly, eu não sei por que motivo, mas eu quero te proteger desde o dia que te conheci. – Ele falou olhando profundamente em meus olhos como se pudesse mostrar para mim seus sentimentos daquela forma e de fato eu sentia segurança naquele momento e ao contrario do que ocorreu com Aaron meu corpo não estava em chamas, mas era uma sensação diferente, um misto de ansiedade e calma. – Eu não consigo resistir a isso mais.

Era como se a temperatura da sala tivesse abaixado, mas mesmo sentindo que algo havia mudado eu me sentia aquecida, protegida de todos os males que rodeavam a minha vida. O tempo parou, naqueles minutos de silêncio eu conseguia ouvir nitidamente tudo que acontecia do lado de fora. Um mínimo bater de asas parecia incrivelmente alto naquele momento.

Hortz aproximou seu rosto ainda mais do meu, seus olhos pareciam clarear momentaneamente e as coisas começaram a acontecer lentamente. Eu parecia sentir a preocupação que Lucca disse, como se eu precisasse de alguma forma protege-lo, salva-lo de todos os males possíveis.

O garoto segurou a minha mão direita calmamente, já que percebia que ela foi a causa de meus problemas dos últimos dias, O toque dele fez com que a dor pequena que antes sentia sumisse, como se ele fosse um remédio para mim e só para mim. Um calmante natural e extremamente sedutor.

– Karly. – Ele parecia em algum dilema interno e provavelmente ele estava esperando alguma reação minha para continuar a falar ou a agir. Mas como com o meu outro anjo, o negro, eu não conseguia mexer. – Me desculpa por não ter conseguido salva-la antes, mas a partir de agora nada vai te machucar.

Ele sussurrou essa promessa em meu ouvido e calmamente passou as mãos ao redor de minha cintura, como se fosse uma coisa natural. Depois começou a beijar meu rosto, partindo bem perto da orelha e chegando ao canto de minha boca. Agora quem vivia o dilema era eu. Eu sabia que não deveria permitir que alguém se apaixonasse por mim, afinal eu era comprovadamente um monstro ambulante e podia machuca-lo, não apenas amorosamente.

Também tinha outra questão, Lucca Hortz não era um cara qualquer. Sua fama de conquistador já era conhecida e eu não queria ser mais uma na lista. Não queria me decepcionar com mais um garoto, Aaron Spyer já havia conseguido destruir o que antes poderia ser um coração. Porém, considerando que eu não sou uma pessoa racional eu não conseguia simplesmente afastar Lucca e seus lábios pareciam cada vez mais atraentes.

Eu não sabia ao certo como reagir, não havia ousado pensar em gostar de alguém depois de Spyer e mesmo que eu e o moreno brincássemos de namorados quando jovens nunca passamos de selinhos e eu não sabia nada sobre beijos de verdade. Nicolle constantemente me zoava por isso, mas ela sabia que eu ainda estava destruída por dentro, então não tentava me unir a outras pessoas.

Enquanto uma mistura de sentimentos e pensamentos passava em meu corpo Lucca puxou meu corpo ainda mais próximo ao dele, deixando nossos lábios a poucos centímetros do meu. Eu podia sentir sua respiração se misturando com a minha e parecia que aqueles poucos segundos que ficamos assim fossem anos. Quando Hortz enfim resolveu terminar com aquele suspense e seus lábios estavam tocando os meus a porta abre.

– Que merda é essa?


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