Ele III: Com Ele escrita por MayLiam


Capítulo 75
Com Ele: o dia de Alaric - primeira parte


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comentários meninas.
Me perguntaram se a fic está perto do fim... Bem, vou dizer "finalmente" pelo tempo que passei pra postar, mas em parte digo: sim, "já" está no fim, porque sei que vou morrer de saudades desses dois. Principalmente quando posto capítulos como este.
Coisas aconteceram no último que podem ter passado despercebibas pra algum leitor, e neste temos o Damon explicando melhor o que sente. Ou tentando, porque ele é tão confuso que me deixa confusa também.
Enfim, desfrutem!



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—Eu percebi que estava brincando com algo que levava muito a sério antes. Quer dizer... Eu fui até lá e banquei o chefe terrorista, mas, em nenhum momento eu senti como antes. Antes era como se só existisse aquele jeito e eu fosse fraco demais se não fizesse assim, mas... Eu me diverti. Foi divertido impor pânico neles e... Nunca imaginei que fosse dizer isso, mas... Eu ficaria bem se eles fracassassem. Por que isso é tão humano e eu estava calmo com a falha deles.

—Quando você me chamou no início desta semana falando sobre tudo o que ocorreu, eu estava muito frustrado com a perspectiva de ter que zerar tudo com você. Ouvindo você durante estes dias eu acho que foi uma percepção bem equivocada. Você está descobrindo coisas que antes se negava a ver. Mesmo depois de tantos anos de terapia comigo. Só agora, Damon, com essa falta de memória, você consegue se conectar com o que realmente importa.

Estou sentado na sala de meu terapeuta, tentando entender os mais recentes pensamentos que tangem minha mente nos últimos dias. Às vésperas do casamento de Alaric, com uma correria enorme pelos corredores de minha casa, eu acho que apenas no consultório de Maximus, posso tentar refletir sobre todos eles.

—Eu não posso mentir e dizer que tudo isso ainda me deixa incomodado. Mas definitivamente não é como nos primeiros dias. Antes todas as mudanças me deixavam maluco, porque elas eram sinônimos de fraqueza pra mim. Agora... – Eu paro.

—Agora? – Quando ele incentiva que eu continue, percebo ainda mais onde meu raciocínio me leva.

—Gosto do que vejo. Gosto de onde tudo isso me levou. Eu consigo me divorciar sem brigar, consigo lidar com a descoberta de minha filha sobre a mãe, assino um contrato nupcial pelo simples fato de querer estar com minha mulher. Faço tudo por minha mulher e meus filhos. Tenho família, amigos, status, dinheiro. Tenho respeito, carinho, lealdade. Nunca pensei que tivesse tanto e nunca pensei que pudesse lidar com tanto. Na verdade nunca achei que merecia tanto.

—E agora você acha que merece?

—Metade das coisas. Sim, mereço. Mas a questão não é essa.

—Qual a questão Damon?

— Ser esse cara de que não me lembro, mas que sei que existe. Elena e tudo o que ela trouxe pra mim fizeram isso, quer dizer, fizeram eu... É complicado.

Digo frustrado por não saber colocar em palavras a euforia de minha percepção.

—Eu acho que por hoje está ótimo. Talvez na próxima vez você consiga me dizer qual é a questão. Adoraria responder as implicações pra você.

—Você não devia me dizer qual é?- Ele sorri ficando de pé e estendendo a mão pra mim.

—Não, eu devo fazer apenas que você consiga me dizer qual é. – Reviro os olhos. Essas teorias malucas...

—Felicite Alaric por mim amanhã. Se não fosse pela conferência eu certamente iria. – Assinto e saio do consultório.

No caminho de volta pra casa, observo as luzes da cidade. Nos últimos dias um sentimento estranho tem tomado conta de mim. Um sentimento de plenitude que eu nunca pensei que fosse desfrutar um dia. Todos eles estão associados à lembranças com Elena. Momentos, risadas, beijos. Eu não sei qual foi o momento em que o pânico e resistência que me cobriam na França viraram esta necessidade de mais e mais de agora. Pode ter sido na noite em que ela dormiu aos prantos em meu colo, pelo susto do pesadelo. OU mesmo quando passamos a noite nos beijando até o enfado do dia nos atingir. Ou mesmo dias atrás quando a guiei até nosso quarto e passei a noite inteira a vendo dormir.

Eu não sei quando foi, mas agora que está aqui eu não quero me livrar de nada disto.

Penso nas lembranças dos últimos dias. Muita coisa está de volta ao lugar, e como as lembranças veem de maneira aleatória nem sempre dá pra entender de que época se trata cada uma, mas Alaric sempre me ajuda com isso.

Uma coisa inegável pra mim é o amor que Elena sente. Ela suportou muita coisa. Nossa relação foi uma verdadeira montanha russa até aqui. E lembro sempre do que ela disse: que agora só nossa vida é o desafio, mas que nossos sentimentos estão resolvidos pra sempre.

Quando ela afirma isso, outra e outra vez, eu quase acredito, e mesmo que muito tenha mudado, e mesmo que eu não tenha dúvida alguma sobre seu amor, minha maior dúvida segue sendo entender por que o mereço.

Quando a mãe dela me abraça. Abraça um filho. Quando Sofia me abraça, abraça um pai que admira e respeita. Quando Elena me beija, sinto com toda força que ela beija o mundo dela.

—Ai, Deus! – Suspiro alto dando de frente pra minha casa. Como não notei todo o percurso?

Inclinando a cabeça no banco, depois de estacionar na entrada, eu respiro um pouco, fechando meus olhos. Deixo meu coração se acalmar, logo imaginando que estou a poucos segundos de sentir toda a plenitude que me espera.

Com ela não cabem dúvidas. Esqueço minhas questões todas.

Salto para fora do carro e caminho lentamente até a porta. Entro com calma, recebendo calma e silêncio de volta. O silêncio acaba quando um furacão ruivo desce as escadas vindo na minha direção.

—A Elena passou mal, pai.

O meu marca passo vacilou, tenho certeza. Eu subi tão rápido as escadas que quase bati contra a porta do quarto pela surpresa de já estar diante dela.

—Você já foi importunar o Damon? – A voz baixa e débil de Elena invade meus ouvidos. O tom mais incômodo que ouvi na vida, o mesmo tom do dia que a revi na França. É um tom doente, cansado, magoado.

—Ela não me importunou. Eu a importunaria se ficasse calada. – Elena revira os olhos ao ouvir Sofia assentir comigo. – O que foi? – Ela me olha suplicante, e sei que é pra Sofia sair do quarto.

Sofia entende o recado e se vai, provando por que entre todas adolescente do mundo, ela é minha filha.

—Combinamos de não falar pra ela. – Elena explica e eu apenas a encaro, questionando-a com meu olhar. Ela suspira. – Nem sei o que houve direito. Eu estava bem, esperando o jantar, e então, do nada, me senti fraca, tonta e perdi os sentidos. Creio que seja a ansiedade pelo dia de amanhã. – Ela sorri fracamente. – E olhe que nem sou a noiva da vez.

—Os dias têm sido corridos aqui. Fiquei em dúvidas muitas vezes durante a semana sobre onde seria o casamento deles.

—Eu fiquei assustada com você nos ensaios finais da música. Você esqueceu tudo. – Dou de ombros.

—O arranjo é chato. Eu estava tentando animar, mas Hayley achou que estava bom como antes. – Digo tentando soar o mais natural possível. Tive dias apara aprender o que estava praticando havia meses.

—Ficou bom no final. – Ela diz sorrindo, mas está tão pálida que a cena fica menos bonita do que deveria.

—Algum médico veio aqui? – Ela bufa.

—Não é necessário.

—Eu acho que é sim. Você passa mal e não chama nenhum médico?

—É um mal estar comum em gravidez...

—Mas sua gravidez não é comum. – Ralho e ela fecha os olhos lentamente, ignorando meu leve alterar de voz.

—Eu estou bem melhor agora. – Aperta minha mão para passar confiança. - Apenas vou descansar o máximo que puder para amanhã e você vai fazer uma boa refeição e deitar comigo.

—Vamos pedir o jantar aqui, certo?

—Damon...

—Você disse descansar o máximo que der. Então vai comer aqui, comigo. – Ela revira os olhos e assenti. Eu interfono pra baixo e aviso que tragam o jantar.

Depois de alguns minutos Sofia sobe e, ao saber que vamos ficar no quarto marca com o namorado uma saída breve pra uma pizza. Agora quase não encrenco com o namoro dela. O rapaz é muito bom. Em tudo, na verdade, chega a irritar.

—Você ainda fica pensando neste namoro? – Elena questiona enquanto procura um filme para vermos, na lista disponível na tela da TV.

—Não muito. – Escuto seu sorriso, mas ela não vira pra mim.

—Vou tomar um banho antes que subam com o nosso jantar. – Aviso deixando a cama.

—Posso ir com você? – Ela me faz parar ao me voltar e olhá-la.

Certo, estou mais ou menos familiarizado com nossa relação sentimental, mas não estou tão seguro quanto a relação física debaixo de um chuveiro.

—Meu Deus! – Ela começa a gargalhar. – Você ficou pálido?

Balanço a cabeça negando.

—E agora está vermelho. – Ela sorri mais e eu apenas desvio de seu olhar.

—É melhor ficar quieta. – Digo enquanto praticamente corro pro banheiro.

—Tudo bem. Eu não tomaria outro banho mesmo. – Ela grita quando ouve eu bater a porta.

Eu certamente quero transar com minha mulher. Eu não estou certo se vou gostar de certas novidades que sei que agora existem em minha vida sexual.

 Um raio cai duas vezes no mesmo lugar? Por mais que a maioria das coisas com respeito a Elena estejam em desacordo com a resposta obvia a esta pergunta, acredito que essa “coisa sexual” pode ser a única que siga a regra do “não, cai não”. E não estou disposto a arriscar.

Quando eu volto pro quarto, a bandeja com comida já me espera, e também, uma Elena gulosa devorando já metade da salada.

—Você vai deixar pra mim? – Ela pula com o susto, por estar distraída com a TV.

—Ainda tem muita comida aí. Não seja mesquinho com nosso bebê. – Sorrio perplexo e pulo na cama.

—O que está vendo?

—Terror. – Ela faz uma voz bizarra.

—Tem certeza de que... – Ela ergue a mão me interrompendo.

—Sabemos que só de nós não se dá bem com este gênero. – Ergo a sobrancelha.

—Você. – Digo.

Elena sorri pra mim faceira.

—Não quando você está aqui. – Aceno descrente com o que ouço.

—A noite vai ser longa, não vai?

—Com certeza. – Ela fala ao roubar do meu prato um pedaço de manga da salada.

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—Elena! – Bato mais uma vez na porta do banheiro. – Você tem que me deixar ajudar você.

—Já disse que não. – Ela choraminga.

—Ouço você vomitar daqui, estou ficando agoniado.

—Então sai daqui!

Me afasto da porta querendo por ela abaixo. Que mulher impossível!

—Me recuso a ficar mal hoje. Hoje não. É o dia do Alaric.

—Eu estou ouvindo isso desde cedo.

—Eu comi demais ontem. Aquela salada infernal, foi isso. Só preciso colocar pra fora e vou ficar bem.

—Me deixa entrar e te ajudar, Elena. – Bato outra vez.

—Saia daqui! – Ela grita desta vez. E eu quero arrancar meus cabelos.

—Ah! Que se dane! – Falo batendo na porta outra vez, para depois correr minhas mãos até minha boca.

—Não fala palavrão perto de mim agora.  – Ela briga.

—Então não banca a teimosa. Elena, estou preocupado. – Eu estou choramingando?

Estou!

Outro daquele ruído de “estou colocando as entranhas pra fora” entra por meu ouvido.

—Não me faça derrubar a porta. – Grito.

—Não tenho como impedir, de qualquer forma. - A voz dela sai gemida.

—Ah, pelo amor de Deus! – Ignorando todo o resto, chuto com força a porta e a encontro sentada no chão, abraçada à privada. – Céus!

Ela geme.

—Você está gelada. – Toco sua testa e arrumo seu cabelo para trás, ela está branca como neve.

—Ah, não! – Choraminga outra vez antes de me empurrar pro lado e se inclinar contra a privada, outra vez.

Sinto todo o corpo arrepiar.

—Vou chamar o médico. – Antes de levantar ela me puxa.

—É enjoo matinal. Normal. – Fala a última palavra como se estivesse conversando com um menino de 5 anos. Isso me irrita de uma maneira diferente.

—Você está se desmanchando de dentro pra fora, Elena. Eu. Vou. Chamar. Seu. Médico. – Ela estreita os olhos pra mim e me solta.

Corro até o meu celular e clico no número do  médico. Poucas horas depois ela está medicada, deitada e reclamando ainda mais.

—Isso é um exagero, eu já deveria ter saído para o salão. Desse jeito eu vou estar no casamento como uma louca esfarrapada.

—Você terá sorte se conseguir que eu deixe você levantar daí hoje. Então é melhor descansar o máximo que puder.

—Você não me proibirir de ir ao casamento do Ric.

Me inclino contra ela na cama e ela está me encarando com ódio.

—Me provoque!

—Ridículo! Isso é ridículo! – Dou de ombros e vejo Sofia se aproximar da porta do quarto outra vez. Está tão impaciente quanto Elena.

—Dá pra falar pro seu pai o quanto ele é ridículo? – Elena implora.

—Geralmente eu faço isso sempre. A única exceção é quando ele está certo. – Sofia faz cara de pensativa. – Como agora. – Elena bufa. – Se você estivesse mais corada e não tivesse tido um treco na minha frente ontem eu poderia chamar ele de ridículo, mas como você teve, estou tentada a chamar você. – Elena solta uma exclamação surpresa, enquanto eu prendo o riso.

—Vocês são unha e carne mesmo. – Ela reclama.

—Mas amamos você. – Minha filha fala, antes de pular na cama e dar um beijo no rosto de minha mulher, que finge ainda estar irritada, mas que tem o canto dos lábios levemente levantados.

Nós a amamos. Não dá pra colocar de outra maneira.

—Teremos um longo dia pela frente... Eu sugiro que você descanse pra poder desfrutar dele. – explico me jogando nos travesseiros ao lado de Elena.

Quão longo será este dia...

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—Esse vestido não me deixou enorme? – Elena reclama ao olhar pela milésima vez o vestido pelo espelho.

—Não!

—Você diria qualquer coisa pra me deixar bem, Damon. Mamãe já chegou? – Nego pela terceira vez.

—Você está muito agitada. – Falo caminhando para perto dela.

—É que fico vendo você aí todo alinhado e lindo neste terno e não acho que estou a altura.

Me coloco ao seu lado diante do espelho e seguro seus ombros. Estou surpreso comigo mesmo pela iniciativa. Ela me olha através do reflexo.

—Acho mais difícil eu ficar à sua. – Digo bem perto de seu ouvido, sentido a pele embaixo de meus dedos arrepiar com o sopro de minha voz.

Institivamente minhas mãos descem de seus ombros, por seus braços, e, no fim, meus dedos estão entrelaçados aos seus. Eu beijo seu rosto e sinto seu corpo inteiro vibrar. Elena está linda. O cabelo preso em um coque elegante, e um vestido de tecido tão suave quanto a seda, com detalhes tão delicados e um bordado tão discreto que deixa tudo ainda mais harmonioso com seu rosto. Que está quase natural. Usando poucas joias, sua beleza vem apenas dela, ela embeleza tudo o que veste.

Aperto meus dedos ainda mais aos seus para depois soltá-los e agarrar sua cintura, fazendo-a virar para mim. Seus olhos estão cheios de ternura e desejo, sinto meu corpo formigar de antecipação. Eu quero muito estar com ela.

Ela olha pra minha boca e solta um suspiro sôfrego, isso é o que me basta para buscar seus lábios, então eu pressiono um pouco mais minha mão em suas costas e a puxo para mim. Seu cheio é divino, e isso juntando-se ao fato de seus lábios tornarem-se mais macios a cada beijo que trocamos me faz gemer.

—Elena... – Ela agarra minha nuca e me aperta mais contra si.

Minhas mãos começam a percorrer sua cintura, depois suas costas, eu inalo quando chego até seu traseiro e o aperto.

—Meu, Deus! – Ela ofega se afastando um pouco, mas continua com a testa grudada na minha. Suas mãos descem para meus braços e ela os aperta. – Quero tirar este terno, mas vamos nos atrasar. – Choraminga.

—É uma droga. – Mal reconheço minha voz, ela beija minha boca outra vez e depois me empurra.

—Tá, você me convenceu. Estou gostosa. – Sorrio. – Agora preciso retocar o que você amassou. Veja se faz o mesmo. – Ela diz toda séria começando a recolocar o batom.

—Vou esperar você lá embaixo. – Digo caminhando até a porta.

—É melhor. – Ela vira-se para mim ao falar e então se volta pro espelho outra vez.

—Estou indo... – Falo e hesito na porta, me divertindo ao notar que ela não continua passando o batom e está me olhando pelo espelho.

—Vai, então! – Sorrio.

—Já vou, já vou. – Ela leva o batom até os lpabios e para outra vez, revirando os olhos. Toma uma respiração forte e vira do nada, jogando algo em mim que não consigo identificar, apenas desvio.

—Deixa de ser palhaço! – Dou as costas pro quarto morrendo de tanto gargalhar.

Temos um casamento pra ir, afinal! Não vai ser bom atrapalhar uma mulher ao se arrumar, corro o risco de chegar só pra boda de ouro de Ric.


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Notas finais do capítulo

Até amanhã!



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