Ele III: Com Ele escrita por MayLiam


Capítulo 71
Com Ele: primeiro dia da nova vida


Notas iniciais do capítulo

Olá, vocês!
Boa quinta à todos!
Boa leitura!!!



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—Pai, dá pra parar de me olhar esquisito assim?

—Posso saber como nota que estou olhando pra você quando tem os olhos vidrados na tela deste celular? – Ela sorri faceira e me encara.

—Então é disso que se trata? – Ela pergunta erguendo as sobrancelhas, e acho que faço o mesmo.  – Carência. – Bufo e ela sorri. Largando o aparelho no sofá enquanto vem até a cama, sentando ao meu lado.

Não posso acreditar que estou diante de minha filha, ela mudou tanto... De um modo perturbador ela me lembra demais sua mãe. Franzo a testa, ela repete o gesto.

—O que foi, pai?

—Como você mudou. – Ela revira os olhos.

—Ai! – Bufa. – Você está estranho hoje. Acho que a pancada ainda está te afetando. – Brinca risonha.

Depois de perder o riso, ela suspira e enfia os dedos em meu cabelo, acariciando devagar.

—Nos assustou, pai. De verdade. – Sua voz está baixa e acolhedora. – Elena e eu quase morremos de preocupação e medo. – Quando ela menciona Elena, é impossível que eu contenha o desconforto. – Fiquei imaginando que, estivesse onde estivesse, você estaria pensando nela, e em como estaria se sentindo. Torcendo pra que eu, ou mesmo o tio Stefan e o Ric estivéssemos olhando por ela.

—Ela me pareceu bem abatida hoje. – Falo, tateando as palavras.

—Ela está cansada. Mas acredito que agora que te viu aqui, bem, ficará mais tranquila. – assinto em silêncio.

—Será que conseguimos encontrar alguma coisa legal pra ver nesta TV? – Ela fala já saltando da cama e indo em busca do controle remoto. – Antes que eu esqueça, Heitor me mandou dizer que lhe deseja uma recuperação rápida.

E agora? Quem será este Heitor?

—Muito embora eu pense que isso tem mais a ver com meu namorado pedindo socorro a você sobre os assuntos da empresa do que estar ansioso pra lhe ver outra vez. E digo isso sem querer ser má com ele.

Ela falou namorado? Agradeço por ela estar de frente pra TV, assim só consigo encarar suas costas, e ela não consegue enxergar seja lá qual for a cara que estou fazendo.

—Ele está trabalhando na empresa? – Ela se volta pra mim, fazendo uma expressão obvia.

—Ele praticamente vive lá. – Bufa. – Já ouvi em algum lugar que garotas tendem a casar com as cópias de seus pais, mas Heitor supera minhas expectativas.

Eu acho que estou perdendo o ar. Ela acabou de falar em casamento?

—Que foi, pai? Está me olhando estranho outra vez, só que desta está mais assustador, porque você está pálido. – Ela se aproxima da cama e toca minha testa, consigo apenas ficar parado. – Está sentindo alguma coisa?

—Você vai casar com ele? – Ela sorri.

—Calma, pai! Não enfarta por isso. Só foi uma forma de me expressar. Eu gosto muito de Heitor, mas não é hora. – Eu solto a respiração que nem notei que prendia. – Você precisa relaxar. Você está bem, Elena também. Meu irmãozinho ou irmãzinha dentro dela o mesmo, embora eu não esqueça dos problemas. – O sorrido dela é tão contagiante na hora de falar do irmão que me faz sorrir também.

—Você gosta muito da Elena, não?

—Pelo simples fato de ela ser a única mulher em anos que consegue ficar com você mesmo percebendo o desastre que você é como marido e pai.

—Ei! – Dou um tapa na sua mão, mas é a verdade. E nós dois sempre soubemos disto.

—E você a ama, pai. De verdade. Por isso eu a amo também.

—E ela me ama? – Pergunto entes que consiga pensar direito, ela me olha enigmática.

—Olha, eu não sei como ela consegue, mas sim. Ama demais. E você sabe. – Dá umas batidas em meu ombro e volta-se pra TV outra vez, passando os canais com o controle. – Tá carente mesmo, hein? – Escuto ela sorri e sorrio junto. Refletindo sobre o que me contou. Se eu preciso fazer isso, tenho que dar o meu melhor.

Quando Sofia encontra um bom programa, ficamos vendo ele até o sono me atingir, e a última coisa de que me lembro antes de dormir, é o som da risada dela. Um som maravilhoso.

......................................................

Dois dias depois, eu estava pronto para voltar pra casa. Elena não tinha ido me ver mais. Não depois do primeiro dia. Eu de certa forma agradeci. Não sei lidar com metade do que está acontecendo, e o afastamento dela me fez bem, por hora. Alaric estava com um humor terrível. Ele ficou insistindo pra eu ligar pra ela todos os dias, o que eu fiz, mas claro, as conversas eram rasas e quase vazias. Eu não fazia ideia de como proceder com ela.

Estou apavorado com a perspectiva de voltar para a minha casa, e dividir minha vida com Elena. Não vejo como as coisas entre nós podem funcionar como todos andam descrevendo pra mim nos últimos dias. Não acho que consiga lidar com as coisas que Alaric continua me contando. Muito embora ele tenha focado mais na questão da Rose. Parece que tudo de mau que me aconteceu nos últimos anos, provém da volta dela pra minha vida.

Estou de pé, vestindo meu sobretudo quando Elena entra no quarto. Posso não lembrar do que somos, ou como éramos, mas... Eu ainda consigo notar quando uma pessoa está prestes a desmaiar diante de mim. Ela parece.... doente!

—Está pronto, Damon? – Pergunta com uma voz tão baixa que eu demoro a responder, por não estar certo sobre o que ouvi. – Podemos ir? – Ela insiste um pouco mais alto e eu assinto em silêncio.

—Você está bem? – Ela abre a boca para responder, mas a fecha, soltando a respiração com um arfar.

Antes que eu consiga fazer qualquer movimento em sua direção, Alaric invade o quarto e nos olha confuso.

—Tudo bem por aqui? – Ele dirige a pergunta aos dois. Elena se volta pra ele devagar, depois olha pra mim e de novo pra ele, testa franzida. Parece confusa, mas ao mesmo tempo ela parece... com dor.

Então ela solta um suspiro longo e vacila o passo atrás, fazendo Alaric e eu saltarmos pra frente. Como ele está mais próximo dela, a alcança antes de mim.

—O que você tem, Elena? – Pergunta afoito, e eu apenas encaro a cena, paralisado. Ela não vai morrer, né? Isso seria uma droga!

—Eu acho que... – Ela tenta falar devagar, puxando a respiração com força. – Preciso me sentar.

Suas mãos estão fincadas com força nos braços de Alaric, ao seu redor.

—É uma boa ideia. – Alaric fala, e me olha, sinalizando pra eu me aproximar dela e assumir o posto dele.

Eu reluto, mas ele me fuzila, me fazendo me mover e guiar Elena até o sofá, enquanto ele sai atrás de um médico.

Eu estou muito ferrado. Estou sentando ao seu lado, segurando sua mão, enquanto ela olha na direção oposta, claramente me evitando. Mas eu só consigo pensar que estou bajulando minha assistente.

—Por que você falou aquilo? – Ela pergunta do nada, sem olhar pra mim.

—O quê? – Quis saber.

—Para eu não te chamar de meu amor. – Oh, droga!

Eu poderia acabar com tudo isso agora, poderia dizer que não lembro dela, ou de toda a nossa relação senão a profissional. Mas então ela me olha, e há lágrimas em seus olhos. Um frio atravessa a minha espinha e com ele, uma vontade louca de envolve-la em meus braços e tirar dela qualquer coisa que esteja causando essa dor.

—Eu... – Sinto-a tremer, sua mão está fria, e a face completamente pálida. – Eu estava atordoado demais. Eu nem lembro direito de nossa conversa, Elena. – Ela engole.

—Eu senti... – Ela se interrompe e percebo um frio passar por seu corpo, fazendo-a se encolher. – Eu vi no seu olhar, uma coisa que não via a tanto tempo. Algo que só existia quando você era meu chefe, e apenas meu chefe. – Paraliso.

Mas que...

—Foi terrível ver você me olhar daquele jeito de novo, Damon. Foi terrível demais! – Ela começa a ofegar, e fazer uns barulhos estranhos de quase choro.

Não comece a chorar, por Deus!

Agarro-a puxando-a pros meus braços. É um movimento desajeitado, estou todo tenso, e não sei o que fazer com as mãos. Até que, devagar, acaricio seus cabelos, tentando fazer com ela o mesmo que faço com Rebekah quando ela entra numa crise de choro.

—Elena, eu... – Ela se agarra a mim desesperadamente. Um calor cresce em meu peito, engulo tentando entender o que está acontecendo. – Me desculpe! Eu não quis... Não queria, juro.

—Não olha pra mim daquele jeito outra vez. – Ela pede, me encarando com firmeza para depois voltar a se jogar em meus braços. Afogando o rosto em meu peito, onde começo a sentir o molhado de suas lágrimas.

Mas que droga!

—Não. Não vou. – Falo e Alaric volta com um médico. Me afasto, me pondo de pé enquanto ele examina Elena, olho para meu amigo, e ele está me olhando, solto minha respiração. Não ouço nada do que o médico fala, apenas o vejo deixar a sala momentos depois.

No que estou me metendo?

A voz de Alaric me trás de volta.

— Deita na cama e espera a medicação. – Ele fala pra Elena que levanta devagar e faz o que ele diz. Eu estou parado no meio do quarto, com as mãos na cintura, sentindo meu peito apertado e minha gravata extremamente apertada.

—Damon? – A voz de Elena direcionada a mim, soa longe, muito longe.

—Ei! – Sinto ao aperto no braço, e encaro Ric, que me olha assustado. – Tudo bem.

Meu coração está palpitando, sinto a garganta seca, queimando.

—Ela me assustou. – Falo.

—Pega água pra ele. – Elena recomenda. – Senta aqui. - Ela aponta o espaço ao seu lado na cama.

Eu caminho até lá hesitante, e Alaric sai, provavelmente atrás da água.

—Somos um casal bomba relógio. – Ela brinca, parecendo bem mais calma, e forçando um riso tímido.

—Acho que sim. – Minha voz sai pateticamente trêmula. Sinto meus dedos formigarem, e estou suando frio.

Ela segura minha mão, acariciando devagar. Uma enfermeira invade o quarto, e me pede licença para aplicar nela uma injeção. Alaric vem logo depois e me passa a água, me pedindo pra sair do quarto com ele.

—Tudo bem? – O olho furioso, pela pergunta idiota. – O que aconteceu lá?

—Ela estava mal pela forma que falei com ela no outro dia.

—E como você falou com ela no outro dia. – Bufo irritado.

—Não força, Alaric! Poderia ser pior. Eu não sinto nada por ela. E tenho que me sentir péssimo quando digo pra ela não me chamar de amor? – Ela fecha ao olhos devagar.

—Damon...

—Não!  Você não sabe o quanto é difícil pra mim. Eu estou no meu limite aqui. – Rosno.

—Se acalma. Se perder a cabeça só vai piorar tudo.

—Pai, você está pronto? – Sofia surge quase saltitante pelo corredor. – Cadê Elena? Ela veio atrás de você e não voltou.

—Está lá dentro sendo medicada. – Diz Ric.

—Medicada!? – Ela fica alarmada no ato. – O que houve?

—Ela teve uma crise nervosa. O açúcar dela baixou. Mas ela está bem. – Ele explica tudo pra ela.

—Vamos ter que esperar um pouco mais. – Digo e ela assenti devagar.

—Tudo bem. O importante é que ela fique bem. – Fala com a testa franzida.

A enfermeira deixa o quarto e nos pede uma hora para que possamos ir. Assentimos. Sofia entra logo depois que ela se vai, para, depois de sair, me pedir pra ficar lá com Elena.

Deus! Eu não quero isso. De alguma forma maluca, nos fazemos mal. Não sei como posso estar com ela sem a machucar ou ficar a beira de um enfarte.

Essa será minha nova vida? Um malabarismo entre o que posso e não dizer e fazer? Sinto meu estômago embrulhar.

Não estou pronto pra isso!

.........................................................

Horas depois, encarando a tela do meu notebook, em meu escritório em casa, percebo, com total desagrado, como as coisas estão fora dos eixos na minha empresa. Há contratos novos que eu jamais faria. E... por Deus! Stefan está me enviando relatórios que nunca confiei a ele. Mesmo ele executando bem a função, não posso deixar de me inquietar com o fato de não lembrar como cheguei neste ponto.

—Hayley ligou. – A voz de Elena invade a sala. Ela está só de robe?

—Hum. – Digo apenas isto, desviando o olhar dela.

—Perguntou quando você estará pronto para o próximo ensaio. – Sua voz está ficando mais próxima, e o pânico só cresce em mim. Primeiro porque não faço ideia do que fala, e segundo, ter ela tão perto, vestida assim, me inquieta.

—Depois eu falo com ela.

—O que está fazendo? – Ela pergunta jogando os braços ao meu redor ao me abraçar por cima da cabeira. Eu salto. – Nossa, amor! Que tensão. – Me movo desconfortável e ela se afasta. – Quer uma massagem? – Nego com a cabeça.

—Preciso ver estes contratos.

—Porque está fazendo isso? Stefan não te enviou tudo pronto?

—Costumo ler todos os meus contratos, Elena. – Rosno.

—Não desde que passou esta função pro seu irmão. Você só revisa quando necessário.

—Bem, eu quero revisar agora.

—Está sem sono? – Começo a me enfurecer. Eu não preciso me justificar pro trabalho. É meu trabalho.

—Quero que você me deixe trabalhar em paz. – A encaro furioso, e ela está confusa. Ela se afasta, ficando bem ereta, antes de cruzar os braços e me encarar, com um olhar bem autoritário.

Isso só pode ser piada.

—Está bem tarde, e eu gostaria que você fosse deitar, descansar da viagem. – É inacreditável o atrevimento dela.

—E eu gostaria que você saísse daqui e me deixasse trabalhar. – Falo incisivo.

—Tudo bem. – Ela diz dando de ombros. – Faça como quiser.

Se retira irritada, e eu apenas acompanho seu caminho até de volta a porta, consternado com o que acabou de acontecer. Quem ela pensa que é pra mandar nos meus horários de trabalho? Pior! Pra dizer o que me cabe fazer ou não com respeito a minha empresa.

Piada!

Frustrado com as coisas, eu resolvo entender logo a coisa da tal Hayley, antes que isso volte a me assombrar. Ligo para Alaric.

—Quem diabos é Hayley? E o que diabos ela quer ensaiar comigo?

—Boa noite pra você também. – Reviro os olhos. – Hayley é sua mais nova e gata amiga. E vocês estão ensaiando a música da primeira dança de meu casamento.

Dou uma gargalhada.

—Estou falando sério. Você toca, ela canta. E... Elena não gosta muito dela.

—Claro que não! – Sorrio.

—Preciso marcar uma reunião com você sobre alguns contratos que estou vendo aqui...

—Você está trabalhando essa hora?

—Acho que tem algumas coisas que ainda não concordo. – Decido ignorar a pergunta dele, porque não estou afim.

—Damon!

—Mas que diabos! – Grito. – Eu sempre trabalho até tarde!

—Trabalhava. – Ele enfatiza. – Agora, você fica feliz em se certificar que Elena esteja na cama, bem cedo, e tranquila o suficiente pra dormir a noite toda. E você mais que feliz em fazer companhia a ela.

Isso estava me tirando do sério!

—Pelo amor de Deus! O que aconteceu comigo, afinal? Por que mudar tanto por uma mulher?

Alaric sorri, e eu fico desejando estar na frente dele para o estrangular.

—Acho que você precisa de uma aula sobre quem é Elena Salvatore. – A menção de meu nome me faz bufar. – Eu acho que a reunião é uma boa ideia, mas não pra falar de trabalho. Aqui em casa, amanhã, almoço. Vou tentar fazer você entender o porquê de tanta mudança por uma mulher. OU melhor, por SUA mulher.

Mal posso esperar.


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Notas finais do capítulo

Até mais!



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