Ele III: Com Ele escrita por MayLiam


Capítulo 16
Papai... Mamãe...


Notas iniciais do capítulo

Jady, MariaEduardinha e Gabryella, adorei as recomendações, obrigada! :D
Vou postar dois hoje e responder os comentários depois kkkkkkk
tá pesado isso, to me enrolando cada vez mais kkkkkk
Espero que gostem, boa leitura!



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Damon ligou o som baixo, Love metal, eu não podia imaginar. Sorri ao perceber.

-Que foi? – ele me perguntou curioso.

-Nada. - estou sem jeito...

Estávamos em silêncio, eu estava ficando com sono quando Damon parou em um posto.

-Vou abastecer e pegar café. Quer alguma coisa? – nossa, eu nunca vou me acostumar com este jeito dele, me deixa corada toda vez.

-Não obrigada!  - ele sorri e sai do carro, fico o olhando ao longe.

Pelo o horário não há muitas pessoas no posto. Apenas dois homens e os funcionários dentro da lanchonete. Damon termina de abastecer e entra na lanchonete. Tudo tranquilo, a música baixa no carro, já estou engofando em um sono tentador quando salto com sons de motocicletas, são várias delas. Um ruído ensurdecedor.

Damon se demora um pouco, os motoqueiros estacionam ao redor do Camaro e descem das motos, especulando e olhando pra mim. Estou ficando incomodada, eles tem uma aparência horrenda, com barbas enormes, roupas desgrenhadas, lenços na cabeça. Eles começam a cercar o carro e acho que estou prestes a surtar. Acho melhor sair logo daqui. Abro a porta e vou na direção da lanchonete, não vejo Damon ao longe, eu passo por eles de cabeça baixa.

-Hum... O que faz essa gata a estas horas dentro de um carrão destes sozinha? Não quer companhia princesa? – um deles diz e aperto o passo, até que outro se põe diante de mim,estou tremendo.

-Por favor, me deixe passar. – eu peço quase sem voz.

-Ela quer passar... – ele ironiza e todos riem.

-E acho melhor você deixar. – eu conheço a voz, meu coração paralisa e volta a bater muito rápido. Damon.

O homem a minha frente se volta pra direção da voz e ao sair da minha frente, me vejo diante de um Damon bem familiar. Um olhar intimidador. Ele segura o café e mais uma sacola, seu olhar adquiri um tom sombrio demais.

-Volta pro carro Elena! – ele rosna e estou me movendo de volta pro carro. Ninguém me impede. Damon fala com o homem algo que não pude ouvir. Segundos depois ele desliza no banco do motorista e coloca o café no suporte, joga a sacola pro banco de traz. Seus olhos faiscando, olhando ao redor pros homens, o motor rosna enfurecido e Damon acelera, estou paralisada, ele está correndo demais. – Você é maluca? – ele praticamente grita comigo. O que eu fiz? Estou olhando confusa e ele me olha por uns segundos e desvia pra estrada. – Por que saiu do carro? – eu engulo.

-Eu fiquei assustada. Não quis ficar sozinha, eu estava indo te encontrar. – eu quase suspiro, ele está voando na pista. – Damon... – minha voz treme. Ele me olha e seu olhar está mais suave, franze o cenho e o carro diminui.

-Desculpa! – hein? – Eu fiquei nervoso. – ele suspira. Eu aceno a cabeça positiva e ele toma seu primeiro gole de café, depois o coloca o copo de volta no suporte. – Vou precisar disso. – diz sorrindo, um riso forçado, ele está tentando suavizar o clima.

-Quando estiver cansado... – ele me olha sorrindo.

-Pode dormir Elena. Você me parece que vai desmaiar a qualquer momento. – eu sorrio e não sei quanto tempo demoro pra adormecer.

Acordo com a voz de Damon.

-Elena! – eu abro os olhos devagar e estamos estacionados, parece uma pousada.

-Damon? – estou perdida.

-Não sei quanto a você, mas estou com fome. Eu corri bastante a madrugada inteira para que pudéssemos parar em algum lugar e comer sem nos atrasar. Vamos? – ele diz e salta do carro. Eu salto com uma lembrança. Eu dormi em um carro com meu chefe durante toda a madrugada. Eu devo estar horrenda, toda amassada. Ajusto o espelho retrovisor para me ver. Realmente estou com cara amassada. Horrível, meu Deus! Tento dar um jeito como posso e logo sigo Damon que me espera na entrada.

-Podemos ir. – digo sem jeito.

Damon aponta pra que eu vá na frente. Fomos direto pro restaurante da pousada. Eu procuro o banheiro no local, preciso escovar meus dentes, e outras coisas também, me sinto um tanto cansada, dormir no caro não é muito confortável e fico imaginando Damon a noite inteira acordado.

-Preciso ir ao banheiro. – falo pra Damon enquanto ele senta em uma das mesas do local. Ele me olha especulativo.

-Vou pedir nosso café, pra adiantar. Omelete e suco com algumas panquecas e bacon? – eu aceno positiva. Ele sorri e me afasto.

Encontro o banheiro e faço tudo o que preciso fazer. Me livro de meu casaco, o dia está um pouco quente. Fico apenas com minha camiseta, de alças finas. Volto a mesa e Damon está tomando um suco enquanto espera o nosso café. Há outro copo a minha espera. Eu sento diante dele.

-Você dirigiu a madrugada inteira. Poderia ter me acordado. – ele me olha e suspira.

-Você está ansiosa pra dirigir meu carro, ou sou apenas um mal motorista? – ele está risonho. Nunca me acostumarei com isso!

-Na verdade estava só preocupada com você. – eu falo de vez e nem percebo, pois as palavras saíram naturalmente. Damon perde o riso e me encara sério, eu desvio o olhar sem jeito.

-Eu te aviso quando cansar. – ele volta a tomar o suco.

Tomamos o nosso café. Depois foi a vez de Damon ir ao banheiro, eu fui pro carro e o esperei lá. Ele logo voltou e assumiu o volante. Ele dirigiu o resto da manhã e depois que paramos para o almoço, ao terminar e refeição e voltar para o carro, Damon assumiu o banco do carona e me deixou paralisada, depois de um tempo eu entendi e dei a volta e assumi o volante. Damon me olha.

-Acho que estou cansado agora. – ri fraco. Claro que está dirigiu muito. – Posso dormir? – eu sorrio.

-Claro. - Passo o cinto ao meu redor e ele repete o gesto. Giro a chave e quando eu o ouço motor, meu corpo treme.

-Tudo bem? – ele pergunta e quando o olho ele está sorrindo, de mim. Eu bufo.

-Claro que posso. – eu desdenho e acelero, o carro dá um pulo e desliga. Damon começa a gargalhar.

-Tem certeza? – ele está realmente se divertindo. Eu reviro os olhos e o ignoro e volto a ligar o carro. Desta vez eu saio sem problemas. Uau! É muito bom dirigir este carro. É ótimo! Um sorriso bobo me escapa e Damon relaxa no banco ao meu lado.

-Bem, eu posso dormir agora. – fala em tom baixo e silencia. Quando eu desvio o olhar da estrada pra ele já está dormindo. Eu deixo assim.

Dirijo o resto da tarde. Quando estamos perto das setes da noite Damon acorda. Meio atordoado, cabelo bagunçado. Ele olha ao redor e se volta pro seu relógio.

-Eu apaguei. – fala se ajustando no banco.

-Você estava cansado. – eu falo sorrindo.

-Estamos perto? – ele pergunta.

-Sim. Eu parei num posto e comprei café e algum bolinhos, já que não paramos pra jantar. - Apontei pro banco de traz ele se virou e voltou com a caixa de bolinhos nas mãos e pegou seu café que estava ao lado do meu no suporte.

Ele está calado, fica assim um bom tempo, mesmo depois de terminar de comer. Resolvo ligar o rádio, mas não passa nada interessante. Damon se inclina e faz alguns comandos no som, eu o observo, ele está olhando alguns arquivos. Seu som é de última geração é claro.

-Eu desenvolvi este projeto, tem muitos arquivos aqui. A maioria salvos pela Sofia, o som está diretamente ligado a uma rede e você pode pesquisar o que quer ouvir aqui. - Ele me mostra e tento prestar atenção revezando olhares entre a tela que surgiu diante de nós e a estrada. Ele dá mais alguns comandos e então pergunta – O que quer ouvir?

-Florence and The Machine. – ele prontamente digita o nome e uma lista de reprodução surge diante de nós.

-Alguma específica?

-Não. – ele assenti e tecla na primeira da lista. – Addicted to Love.

Damon solta uma expressão curiosa ao ouvir a música e logo se encosta no banco.

-É um recurso muito prático. Mas estou surpresa por haver rede ainda. – ele me olha.

-Todos os meus aparelhos tem uma rede wifi ligada diretamente ao satélite da Salvatore. O mesmo com meu celular e notebook. – claro que é... Ele não sobreviveria sem eles.

-Entendo.

Voltamos ao silêncio e ficamos assim um longo tempo. Não sei como ele conseguiu dirigir por tanto tempo. Meu ombro inteiro queima, mas já estamos chegando. São pouco mais de nove da noite.

-Você poderia me dizer pelo menos o nome dos seus pais. – ele diz do nada e eu olho, seu olhar na estrada.

-Grayson e Miranda.

-Certo. – diz calmo.

Voltamos ao silêncio total. Mais alguns quilômetros e tudo começa a ficar familiar. É bom estar de volta. Senti saudades deste clima. Estamos cruzando a pequena cidade, a fazenda de meus pais fica na saída, depois da pequena ponte Marshall. Eu avisto os portões ao longe.

-Chegamos. – Damon se endireita no banco.

-Nossa! Ainda estou vivo. – eu o olho. Estamos sorrindo um para o outro. Eu buzino no portão e depois de um tempo meu pai aparece pra abrir.

-Meu pai. – falo pra Damon. Aceno pra ele que me aponta o caminho pra que siga com o carro. Damon está o olhando. Chegamos diante da casa e está do mesmo jeito que me lembro. Nada mudou nestes quase três anos. – Vamos? – falo pra Damon enquanto desligo o motor, já vejo minha mãe na varanda. Damon se livra de seu cinto e eu também. Eu desço primeiro enquanto ele se volta para o banco de traz. Vou direto pra minha mãe, que estava parada na varanda. Estou com saudades. – Mamãe... – a abraço forte.

-Oi minha linda! – ao soltá-la me viro de volta pra Damon, ele saiu do carro e está na traseira tirando as malas. – É ele? – minha mãe parece surpresa.

-Você sabe que é. Já te enviei fotos dele na revista mãe.

-Mas sei lá. Eu ainda não acreditava que pudesse existir alguém tão... – ela para e eu a olho. Estou a repreendendo.

-Mamãe... – ela sorri.

-Ele é muito bonito. – reviro os olhos. E vejo meu pai se aproximar do carro. Oh meu Deus!

-Falou com ele? – suspiro pra minha mãe. Damon está fechando a mala do carro.

-Falei. – ela diz com os braços ao meu redor.

-E...? – ela respira fundo e eu entendo tudo. Vai ser um fim de semana longo.

-Grayson Gilbert. – ele fala em tom imponente estendendo a mão pra meu chefe. Damon se alinha e segura a mão de meu pai, estou de longe com minha mãe, ambas tensas com a cena.

-Damon. – ele diz simplesmente.

-Precisa de ajuda aí? – meu pai oferece.

-Claro. – eles dividem as malas e se aproximam da varanda. Quando nos alcançam eu falo.

-Damon, esta é minha mãe. – ele se livra das malas que carrega, mochila nas costas.

-Muito prazer senhora Gilbert.

-Me chame de Miranda. – meu pai pigarreia e Damon e eu estamos sorrindo.

-Vamos entrar? - meu pai fala emburrado. – Está tarde.

Ele se apressa e entra, levando com ele algumas malas, Damon acena pra que minha mãe e eu o sigamos e em seguida nos segue. Estamos na sala, Damon se livra das malas.

-Vocês estão com fome? – minha mãe pergunta enquanto meu pai me olha. Mal humor visível nele, eu percebo que ainda nem o abracei.

-Estamos bem mãe. Só precisamos de um banho e cama. Foi uma viagem longa. – eu falo e ela sorri. Vou até meu pai e o braço.

-O que você está fazendo? – ele sussurra só pra mim ao pé do ouvido, e eu me afasto o olhando.

-Conversamos depois. – eu peço e ele dá de ombros, ainda irritado.

-Eu preparei o seu quarto querida. – minha mãe fala. - Devemos levar as malas de Damon agora? – Damon me olha.

-Vou dormir no seu quarto? – eu o olho e meu pai está me olhando, minha mãe também.

-Só há dois quartos na casa, o meu e o do meus pais. – Damon acena em negativa.

-É um sofá cama aqui, - ele aponta pro sofá ao meu lado. – posso ficar na sala. – eu reprovo.

-É nosso convidado Damon. – minha mãe acode. Meu pai bufa e sai da sala. Damon percebe é claro.

-Elena, não vou tirar você de seu quarto. Eu posso ficar na sala. Está tudo bem. – eu quero relutar, mas ele se agita. – Não vou dormir no seu quarto. – eu suspiro, porque sei que perdi esta.

-Tudo bem. – minha mãe me olha feio. – Não vamos fazer ele mudar de ideia. – falo pra ela.

-Não mesmo. – Damon diz convencido.

-Tudo bem, vou trazer tudo do que precisa pra dormir aqui. Já havia separado as coisas pra Elena. – minha mãe diz e se afasta.

Damon me olha.

-Se você estava considerando dormir no sofá, porque eu não posso fazer o mesmo?

-Como minha mãe falou, você é nosso convidado. É nosso costume. – ele revira os olhos. Depois suspira.

-Seu pai não gosta de mim por algum motivo específico? – Oh Droga!

-Ele é sempre assim. – eu falo sem jeito. – Caipira emburrado. Personalidade forte. – Damon torce os lábios e começa a olhar ao redor.

-É uma bela casa. – diz nostálgico.

-Acredito que nem chega aos pés da sua. – meu pai surge em tom amargo. Damon franze o cenho. –Aceita? – ele pergunta oferecendo ao meu chefe uma de suas cachaças, eu sei exatamente o que ele quer fazer e o olho em reprovação.

-Claro. – Damon diz risonho e meu pai lhe serve uma pequena dose.

-É muito bom pra esquentar. Aqui costuma ser frio a noite. – ele fala e passa o copo pra meu chefe. Damon o pega e eu o observo, meu pai também, ele acena pra que Damon tome e é exatamente o que ele faz virando o copo de vez. Oh droga! Damon solta uma tossida assim que pode. Eu arregalo os olhos e olho pro meu pai e seu riso triunfante.

-Forte demais? – ele provoca. Oh, ele não vai querer jogar com Damon Salvatore.

-Quente demais, mas você avisou. – meu chefe devolve a piada e meu pai sorri sem vontade e lhe aponta o sofá para que sente.

-Eu tenho que subir e ajudar a mamãe. – digo e Damon assenti, assim como meu pai. Que medo destes dois. – Com licença.

-Toda. – eles respondem juntos e eu arregalo os olhos, eles estão se encarando. Subo como um raio pra parte de cima da casa e encontro minha mãe em seu quarto pegando alguns lençois.

-Papai está em uma competição com meu chefe? – mamãe me olha risonha.

-Você sabe que sim. Ele vai infernizar seu chefe. – eu suspiro.

-Mãe, eu pensei que tinha falado com ele. – ela respira.

-E falei, mas você conhece seu pai. Pelo menos ele me prometeu pegar leve. – eu arregalo os olhos.

-Pegar leve? Ele acabou de oferecer cachaça ao Damon. – minha mãe gargalha. – Não tem graça. Ele está passando por um momento ruim e não acho que ele vá achar graça nas ironias do papai. Damon é... Difícil.

-Seu pai também. Teremos um fim de semana agitado. – eu suspiro.

-Como foi a viagem? Que carro é aquele?

-Foi tranquila. Eu também me alarmei quando vi o carro, mas Damon é...

-Rico. – ela completa.

-Isso.

-Você que dirigia...

-É, ele dirigiu a madrugada e dia inteiros, eu tinha que o deixar descansar. – ela sorri. E termina o que veio fazer.

-Vamos descer e levar isto pro seu chefe antes que seu pai o mate. – sorrimos, eu a ajudo pegando alguns travesseiros.

-É um negócio trabalhoso, mas eu não tenho medo do trabalho. O trabalho de verdade, sabe? Braçal? – é meu pai falando. Oh ele vai ter que parar com isso.

-Acredito que quanto mais trabalhoso é o trabalho mais gratificante são seus resultados positivos.

-Sim. Mas você não precisa se preocupar com o trabalho duro certo? Está cercado de pessoas que fazem tudo por você. – opa, sinal vermelho.

-Aqui está os lençois Damon, - eu acudo assim que posso, meu pai me olha vitorioso, meu chefe está de cabeça baixa. – Você quer tomar banho agora? – Damon se ergue.

-Claro, se não for incomodo. – ele olha pra meu pai que dá de ombros.

- A vontade. – ele diz esnobe.

-Eu te ajudo, tem um banheiro no meu quarto, vamos subir com as malas. Você pode tomar banho lá. – eu falo e minha mãe assenti. Logo Damon pega suas malas e as minhas.

-Senhor Gilbert. – ele pede cortês e meu pai acena sem vontade, eu reviro os olhos. – Miranda... – Damon fala sorrindo e minha mãe devolve sem jeito, meu pai é uma peça difícil.

Logo estamos subindo pro meu quarto. Damon está calado, isso é mal.

-Você quer me dizer alguma coisa sobre seu pai? Porque ele me detesta. – ele pede e estamos diante de meu quarto, eu abro a porta.

-Vem. – ignoro sua pergunta. Ele me segue e entramos, ele põe as malas no chão. – Pode colocar as roupas ali se quiser, - aponto o meu antigo guarda-roupas - há bastante espaço e pode se trocar no meu quarto também, o banheiro é aquela porta, não é muito grande, mas deve servir.

-Tenho certeza que sim. – diz duro. – Responda a pergunta. – ele está irritado, joga a mochila na cama.

-Eu já falei Damon, é o jeito dele. Não é muito bom anfitrião, muito menos com meus amigos homens. – eu falo e ele pisca.

-É só isso? Por que a hostilidade dele remete a raiva. Como se eu tivesse feito algo a ele, o que é estranho, pois nunca o vi na vida. – eu estou inquieta. Bem, Damon, meu pai te odeia porque eu fiz sua caveira pra ele, antes de te conhecer de verdade.

-É o jeito dele. – insisto e Damon está me especulando.

-Certo. – eu me inquieto e levo as mãos aos bolsos.

-Eu vou te deixar a vontade. Tem tudo o que você precisa.

-Tudo bem. – eu saio logo depois, para que ele possa tomar banho.

Desço pra sala e minha mãe está falando com meu pai. Eu vou direto pra ele.

-Pai, você tem que parar com isso. – eu peço cruzando os braços diante dele.

-Parar com o que? - Minha mãe e eu o olhamos irritadas.

-Pai, o Damon está passando por alguns problemas e ele precisa se distrair um pouco. Ele é doente e não quero correr o risco de ver meu chefe enfartando por aborrecimentos providos de suas provocações. Alivie. – ele bufa.

-Ele me parece ser bem grandinho e sabe se cuidar.

-Papai...

-Relaxa Elena. Eu não estou fazendo nada. – eu paro de discutir, pois o conheço o suficiente pra saber que não vou conseguir muito, mas já dei meu recado. – Bem, eu vou me recolher. Amanhã acordo cedo. – ele levanta deixando largada a sua garrafa de cachaça. – Seja bem vinda querida, - me beija na testa, - é muito bom ter você em casa outra vez, mesmo com carga extra. – eu sorrio. Ai pai! – Você vai demorar? – ele pergunta para mamãe.

-Só vou terminar de acomodá-los e já subo. – diz risonha.

-Certo. Boa noite então.

-Boa noite! – respondemos juntas. E ele se vai.

-O que acha que chocolate quente? – minha mãe oferece e meus olhos brilham, é o melhor chocolate quente do mundo. Sorrio e vamos direto pra cozinha.

-Vou preparar um café pro Damon, tenho certeza que ele vai trabalhar durante toda a noite no notebook dele. – falo distraída e quando me viro, minha mãe está me olhando. – O que foi? – ela sorri.

-É estranho, mas você fala como se fosse namorada dele, uma esposa definiria melhor. – sorrio sem graça. Às vezes parece mesmo.

-Quando comecei a trabalhar pra ele tive que aprender todos os seus gostos e desgostos. Ele sempre foi muito exigente. – explico.

-Entendo. – eu conheço este tom.

-Que foi mãe? – eu paro com o café e ela segue fazendo o chocolate enquanto fala.

-Acho que você não está acostumada com este tipo de relação com um chefe. Vocês sorriem juntos e bem, você o convidou pra um fim de semana e ele aceitou, você me falou que estão mais próximos, que querem ser amigos, mas tenho medo que você se confunda em algum momento e saia machucada. – eu considero isso por um tempo. Não vou deixar acontecer.

-Olha mãe, sei que está preocupada, eu estranho sim toda esta mudança, meses atrás eu tinha pavor dele, mas tive tempo pra mudar de ideia. Damon é um homem respeitador e não acho que ele é do tipo que mistura as coisas e eu fico bem com isso. Não há o que confundir. Eu realmente quero cultivar esta amizade, ele é um homem singular, inteligente, correto, tenho muito o que aprender com ele, já aprendi tanto, eu o admiro e... – estou tagarelando e ela me olhando risonha. – Tá entendi, mas é só isso. Respeito.

-Se você diz... – ela volta pro chocolate e eu foco no café, estamos atarefadas quando minha mãe suspira. – Oh. Meu. Deus! – eu a olho e sigo seu olhar. Damon está terminando de descer as escadas e temos acesso a esta visão, ele nos avista na cozinha e vem em nossa direção. Cabelo molhado, calça de moletom preta, regata cinza e segura o casaco nas mãos.

-Onde está seu pai? – ele me pergunta.

-Já se retirou, ele madruga então... – ele assenti. – Eu estou fazendo café pra você. – ele sorri.

-A menos que prefira chocolate quente. – minha mãe oferece.

-Nada de açúcar a noite. – dizemos juntos e nos encaramos, minha mãe sorri e nos dá as costas. Damon fica me olhando e abafa um riso.

-Tudo bem... – minha mãe fala com voz divertida.

-Sabe muito sobre mim senhorita Gilbert. – Damon fala enquanto encontra um lugar pra sentar. Está divertido.

-Tive tempo pra aprender senhor Salvatore. – ele sorri. E a cafeteira apita. Vou até ela e pego o café fresco e o ponho na mesa, em seguida vou até o armário e pego uma xícara pra ele. – Leite?- eu ofereço, ele nega. Sirvo o café e passo pra ele, minha mãe vem até nós e se senta na mesa com o chocolate pronto. Eu pego mais duas xícaras, um pouco maiores.

-Tem certeza que não quer Damon? Elena diz que é o melhor chocolate quente do mundo. – fala convencida e me deixa sem jeito. Olho pra Damon que me olha divertido.

-Talvez amanhã, eu realmente não gosto de açúcar a noite. Tomo muita cafeína e não dá certo. – ele explica.

-Elena me falou sobre sua arritmia. –oh droga mamãe. Não! – Não faz mal tanta cafeína? – Damon está parado, eu estou pegando fogo.

-Meu médico mencionou isto algumas vezes, mas digamos que não consigo parar com o café. – minha mãe bufa.

-Bem, se te faz mal deveria. – Damon franze o cenho. Merda!

-Tem certeza que vai ficar bem no sofá? – eu mudo o assunto. Ele me olha.

-Sim. – diz sério.

-É um pouco frio, mas a lareira deve ajudar. – minha mãe diz.

-Não se preocupem, não é primeira vez que durmo em uma fazenda. – estamos sorrindo.

Damon termina seu café e vai até a sala, eu e minha mãe ficamos limpando a cozinha e ela não comenta mais nada. O que é um alívio. Estou cansada, mas antes de subir com minha mãe a deixo na cozinha e vou até a sala, Damon está sentado no sofá mexendo no computador e celular.

-Precisa de mais alguma coisa? Mais café? – ele nega, está quieto outra vez. Ele é mesmo mutante.

-Eu vou subir com minha mãe. – ele acena com a cabeça. O que tem? – Certo, boa noite! – ele me olha.

-Boa noite! – em seguida me retiro da sala totalmente sem jeito. Ele volta a focar no que faz.

Logo depois minha mãe e eu subimos, ela vai pro seu quarto e eu vou me preparar pra um banho quente antes de dormir. A viagem foi cansativa.

Depois do banho eu me jogo na cama, senti saudades do meu quarto. Deste ambiente familiar, quero relaxar, mas a ideia de meu chefe na sala de estar, deitado no sofá, me deixa rolando sobre a cama por um longo tempo, mas pelo cansaço eu adormeço.

...

Na manhã seguinte eu acho que levanto antes de todos na casa, quero me certificar sobre o café da manhã de Damon, eu desço e vou direto pra cozinha, encontro minha mãe lá.

-Caiu da cama? – pergunta divertida, são pouco mais de cinco horas.

-Onde está o papai?

-Foi pegar o leite. – ela explica, ele fazia isto todas as manhãs, dá uma vota pela fazenda também e só volta pra hora do café as sete. Eu me vejo olhando pra direção da sala.

-Ele está apagado, muito divertido de se ver. – eu franzo o cenho com a observação de minha mãe e ela encoraja. – Vá dar uma olhada. Acho que nunca deve ter visto isso.

Eu sorrio curiosa e vou a passos calmos até a sala. Quando eu chego lá tenho ganas de sorrir. Damon está todo espalhado no sofá, sem cobertores, a cabeça afundada no travesseiro, mas a mão esquerda está em cima do notebook ainda aberto. Sua boca entre aberta e respiração calma. Estou sorrindo como boba. Devagar eu me aproximo e tiro sua mão de cima do computador, depois o fecho e o coloco na mesa de centro, eu puxo o cobertor e coloco sobre ele, está tão vulnerável, ele está frio e quero o aquecer. Quando termino fico o admirando, ele parece tão a vontade. Eu salto quando ouço minha mãe coçar a garganta atrás de mim.

-Você vai acabar acordando ele se continuar com isso. Deixa ele quieto. – ela sorri.

-Ele estava descoberto. Tá frio.

-Sim, o tempo mudou. Parece que vai ser um fim de semana chuvoso. Vem, preciso de ajuda na cozinha. – ela acena e eu a sigo.

Quando estamos na cozinha ela está me olhando, eu estou ficando vermelha e ela gargalha.

-Desde quando você tem disso comigo filha? – eu pisco.

-Disso o que? – ela me olha inquisitiva.

-Ficar sem jeito. Sou sua mãe.

-Não estou. – ela bufa.

-Você precisava se ver enquanto cobria ele. Eu realmente acho que minha conversa com você ontem faz sentido. Elena, cuidado.

-Não faz sentido mãe. Eu já disse, sei separar as coisas. – ela ergue as mãos se rendendo.

Eu começo a ajudá-la no café.

Logo depois que terminamos e arrumamos a mesa, eu vou até o quarto e escovo os dentes, Tomo um banho rápido e coloco calça jeans e uma camiseta de manga, está frio mesmo, coloco botas longas. E desço.

Minha mãe não está na cozinha e eu dou uma olhada rápida na sala, Damon ainda apagado, olho no relógio, seis e meia da manhã. Minha mãe surge na cozinha com algumas frutas em uma cesta, deve ter ido pegar no pomar. O bom é que tudo que comemos na fazenda é produzido aqui mesmo. De repente saltamos juntas, um som estridente vem da direção da sala, mamãe me olha...

-Eu não acredito que ele fez isto. – eu a olho confusa e ela vai pra sala e eu a sigo.

Chegamos na sala e estamos diante de um Damon atordoado, ele olha ao redor e o som ainda está lá. Oh que droga! Ele estava dormindo. Minha mãe se aproxima do sofá e para o despertador escandaloso ao lado de eu chefe. Papai não tem jeito.

Damon leva as mãos a cabeça quando o barulho acaba e em seguida meu pai cruza a sala divertido.

-Vocês caíram da cama? – fala irônico e eu o fuzilo com o olhar. Ele sorri satisfeito e vai pra cozinha, minha mãe o segue. Me volto pra meu chefe ainda com as mãos na cabeça.

-Desculpe por isso. – ele esfrega as têmporas.

-Tudo bem. - Sua voz está baixa. - Vou tomar um banho e terminar de acordar. Posso? – ele me olha finalmente, olhos vermelhos.

-Claro, fique a vontade Damon. – ele se ergue devagar do sofá, se espreguiça. Depois bagunça o cabelo e esfrega o rosto.

Ele começa a recolher os lençois. – Eu faço isso. – falo o parando, toco brevemente sua mão e ele tira a mão da minha rapidamente.

-Certo. – diz frio e vai na direção do quarto. Estou parada. Ele parece bravo.

Depois de terminar de arrumar a sala eu vou pra cozinha, meu pai está com minha mãe enquanto ele termina de preparar um suco.

-Você colocou o despertador perto do Damon de propósito pai?

-Bem, no campo todos madrugam, ele tem que entrar no clima. – eu suspiro.

-Pai ele passou a noite trabalhando, dormiu praticamente em cima do computador.

-Eu sei – falou convencido – eu o vi todo largado quando desci com o despertador.

-Você não tem mesmo jeito Grayson. – minha mãe atalha.

-Foi só uma brincadeira. De boas vindas... – reviramos os olhos pra ele que sorri malandro.

Ficamos conversando, meu pai me contando as novidades por aqui, que não eram muitas, de repente Damon surge na cozinha.

-Bom dia! – ele fala e respondemos juntas, minha mãe e eu. Meu pai um pouco depois. – Sente Damon, estávamos esperando você pra tomar café. – ele sorri fraco e se senta na outra ponta da mesa, de frente pra meu pai. Coloca o celular no seu lado direito na mesa.

-Pedi pra minha mãe fazer uma vitamina pra você. Abacate. – falo pra ele que me olha e depois pra minha mãe.

-Obrigada Miranda. – minha mãe sorri.

-Sem problemas.

Meu pai está quieto demais, um alívio e uma suspeita, ele não é do tipo que dá trégua.

Damon se serve de queijo e um pedaço de melão, pega uma torrada e passa geleia, antes que possa comer qualquer coisa seu celular toca.

-Com licença... – ele pede e atende. – Damon... Posso Stefan, algum problema?... Não... Não... Peça para o Gomez fazer isto... Não... Compre quando elas baixarem... Não... Vai dormir... Certo... Vou esperar. – desliga.

Mais alguns minutos e outra chamada, eu o olho, ele revira os olhos e eles se arregalam quando olha pra tela.

-Eu vou ter que... – ele se ergue da mesa, quem será? – com licença...

Damon se afasta, mas antes de sair da cozinha eu o ouço falar.

-Oi minha filha... – isso explica.

Ele se afasta e não posso ouvir, meus pais estão me olhando, especulativos, me volto pro meu café e tento me concentrar, mas estou com a cabeça em Damon falando com Sofia e novamente encaro a direção por onde ele se foi.

-Come Elena. – meu pai rosna e minha mãe sorri. Engulo em seco e tomo um gole de meu suco.

Depois de mais alguns segundos Damon volta a mesa e posso dizer que a conversa foi péssima.

-Tudo bem? – pergunto e ele acena positivo, mas sei que não é assim. Respeito seu silêncio. Ele não come quase nada. Depois meu pai se levanta da mesa.

-Tenho que cuidar da vida. – ele se ergue. – Tenham um bom dia. – sai da cozinha.

Minha mãe me olha, e eu estou temerosa, a cara de Damon está péssima e ele está quieto. Ele termina seu café e se levanta.

-Obrigada Miranda, estava delicioso. – diz cortês.

-Vai precisar de mim? – eu pergunto, ele já estava saindo da cozinha.

-Não. – fala sério e se vai. Eu suspiro.

-O que houve com ele? – minha mãe pergunta.

-Eu não sei. – falo olhando pra direção da sala.

Ajudo minha mãe a organizar a cozinha depois do café. Depois ela me olha.

-Leve ele para dar uma volta pela fazenda. Está um dia frio, mas ainda há muito o que se ver. – sugere sorridente. Eu suspiro e vou pra sala.

Damon está concentrado no computador e ao me aproximar dele noto que tem os olhos vermelhos, sono ou chorou outra vez?

-Quer dar uma volta pela fazenda? – eu sugiro. Ele me olha.

-Estou ocupado Elena, talvez mais tarde.

Eu não insisti, ele quer ficar sozinho e eu não quero o aborrecer. Dou de ombros e saio desanimada e vou andar pela fazenda a procura de meu pai. Precisamos conversar.

O encontro nos estábulos.

-Oi pai. – ele me olha sorrindo.

-Olá! – coloco a mão no bolso.

-Pai, você realmente tem que para com isso. Eu sei que eu falei muito mal do Damon, mas... – eu paro e ele me olha.

-Ele é seu chefe eu sei, mas é um poço de antipatia, ele tem muito topete.

-Não pai, ele apenas está passando por uns problemas...

-O que? Não consegue confirmar a compra do carro do ano? – eu o olho fuzilante. – Ele é muito esnobe.

-Não pai, não é...

-Querida fique tranquila, eu não vou fazer nada com ele. Acho que o fato de estar num fim de mundo deste já deve ser bem torturante. – eu sorrio. O animal perto de meu pai dá um salto e eu grito. – Nunca vai deixar desse medo bobo com cavalos?

-São enormes e assustadores.

-Se você aprendeu a lidar com o cavalo na minha sala este deve ser fichinha. – eu gargalho, ele não tem jeito.

Fico um bom tempo falando com meu pai, falo sobre a minha promoção, ele não esconde o orgulho e a desconfiança, é um cargo importante e eu o consegui em pouco tempo. Falamos também sobre as coisas na fazenda, ele me fala que está sendo difícil manter algumas plantações e que vai ter que desistir de algumas.

-Tempos difíceis. – fala sem jeito.

-Assim que eu puder eu prometo que vou ajudar vocês pai. Já me deram tanto... – ele me olha como se eu falasse asneira. – Nem comece senhor Gilbert. – eu rosno. – Eu quero e em breve vou poder. – estou envaidecida.

Quando voltamos pra casa é quase hora do almoço. Damon ainda está na sala, entre o notebook e o celular, passamos por ele quietos, eu fui pra cozinha ajudar minha mãe e meu pai subiu pra um banho.

Era o nosso primeiro dia aqui e hoje teríamos nossa janta de ação de graças, Damon já estava com problemas e meu pai disposto a piorá-los, eu suspiro. Um fim de semana longo com certeza.


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Notas finais do capítulo

Beijos!
eu continuo... >>>>>