Sobre Vampiros

09:57 PM

Tentava se concentrar no livro que tinha em mãos, mas isso era praticamente impossível quando se tinha um par de grandes e convincentes olhos azuis o encarando fixamente, esperando uma resposta.

Naruto não tirava os olhos de Sasuke, ansioso, desviando-os apenas para checar o relógio de tempos em tempos, temeroso de que fossem se atrasar para o cinema caso Sasuke não deixasse aquela enciclopédia que ele chamava de “livro para distração” de lado. O loiro era impaciente e hiperativo, então não conseguia ficar parado no mesmo lugar por muito tempo, o que o levava a andar em círculos pelo quarto enquanto resmungava para que Sasuke lhe desse atenção — e isso, por sua vez, apenas desconcentrava ainda mais o Uchiha.

Desistindo de reler o mesmo parágrafo várias vezes para tentar entender a leitura, Sasuke suspirou e fechou abruptamente o livro, o que fez com que o outro garoto abrisse um daqueles grandes sorrisos que lhe era tão característico, animado.

— Não. — Foi a única coisa que respondeu, mas nem por isso o loiro se deixou abalar, muito menos desistir. Ele não nascera para ser derrotado, muito menos por Uchiha Sasuke. Aquele era só mais um desafio e ele saberia ser persistente.

— Teme, você prometeu! Até onde eu me lembro, um Uchiha sempre cumpre com sua palavra. — Apontou o um dedo acusadoramente na direção do amigo, logo em seguida andando até a cama e jogando-se ao seu lado, recostando-se nos confortáveis travesseiros espalhados ali, bagunçando o impecável lençol do moreno.

— Não me lembro de ter prometido, Naruto. — Desconversou, ainda evitando encontrar aqueles olhos azuis. Naruto era o único que sempre conseguia convencê-lo a fazer algo não queria, aquele loiro maldito. — E você está desarrumando a minha cama.

— Prometeu, sim. Sasuke, nós temos que ir ver esse filme! — Seus lábios torceram-se num pequeno e proposital biquinho, sabendo que o moreno não resistiria (mesmo que ele sempre tentasse negar esse fato). — É, tipo, o filme mais esperado do ano. É tão, tão, tão bom!

Enquanto relatava o quão bom o filme era, Naruto gesticulava freneticamente com as mãos. O sorriso dele ficou ainda maior ao constata a Sasuke as das probabilidades do longa-metragem ser indicado ao Oscar, segundo as notícias que tinha ouvido de uma fangirl qualquer na internet.

— Indicado ao Oscar? — Perguntou sarcástico. — É um filme para adolescentes iludidas que sonham em encontrar um homem perfeito, dobe. Lá nem tem vampiros de verdade. Por que você acha que os ingressos venderam tão rápido? Por um grande azar você ainda conseguiu comprá-los antes de esgotar...

— Você não pode dizer quando nem sabe qual filme é! — Cruzou os braços em frente ao corpo, franzindo as sobrancelhas. — É sim sobre vampiros de verdade, e vampiros são criaturas... criaturas fodas.

— Óbvio que eu sei qual é. Internet é uma coisa desconhecida para você? — Um pequeno sorriso tomou conta de seus lábios ao ouvir o outro resmungar coisas que soaram como "teme", "eu te odeio" e alguma coisa a mais. — Se gosta de vampiros, leia algum livro bom. E eu não acho que os bons brilhem no sol.

Ficaram em silêncio por alguns segundos. Entretanto, antes que Sasuke pudesse agradecer aos céus pelo milagre de Naruto ter se calado — mesmo que momentaneamente —, ele foi surpreendido pelo grito do outro:

— Sasuuuuuuukeeeeee! — Sem pensar duas vezes, Naruto pulou sobre o corpo do amigo, fazendo-o cair de costas no colchão macio, ficando por baixo de seu corpo. Parecia que só naquele momento Naruto ouvira o que o amigo falara, pois seu sorriso espontâneo e feliz que conseguiria contagiar qualquer um estava de volta no rosto. — Então você pesquisou sobre a saga, é isso? Eu sabia!

Ao ouvir o tom provocativo na voz, Sasuke teve ganas de agarrar aqueles cabelos loiros e desgrenhados apenas para poder arrancá-los com as próprias mãos. Contudo, tudo o que fez foi acalmar-se, voltando à serenidade que beirava a indiferença tão típica dos Uchiha — ou, como Naruto gostava de chamar, a cara de "oi, eu não tenho expressões".

— É claro que sim. Não seria prudente confiar em você, não é mesmo? — Com sua grande flexibilidade, girou o corpo habilmente, ficando por cima do corpo do Uzumaki, dessa vez.

— Teme, não tente me enrolar. Eu quero ver o filme. Não sou um antissocial como você, que prefere ficar o dia todo trancado em casa enriquecendo seu vocabulário. — Apoiando-se nos cotovelos, levantou o rosto, deixando-o próximo ao do moreno. — Eu 'tô esperando por isso há meses, gastei meu precioso dinheiro nos ingressos e agora quero minha cena vampiresca.

Arqueando uma das sobrancelhas, Sasuke olhou atentamente para o garoto embaixo de si e, como se um clique se estalasse em sua mente, encarou seus olhos azuis e observou-o curiosamente.

Sabendo que o Uchiha havia tido uma de suas ideias insanas — coisa de família, ele suspeitava —, Naruto tentou afastar-se, temendo que fosse sobrar para si, depois de tanto importunar o "melhor-rival" (ou persuadir, como gostava de pensar), porém foi impedido pelos longos dedos pálidos que o seguraram firmemente no mesmo lugar.

— Então é isso? Tudo que eu tenho que fazer é te dar uma cena vampiresca digna de um Oscar e você ficará quieto? — A voz de Sasuke não saíra mais alta do que um murmúrio, mas foi o suficiente para que ele fosse ouvido, já que, agora, a proximidade de ambos os rosto era apenas de centímetros.

Centímetros os separavam daquilo que ambos desejavam e tentavam negar desde quando haviam se conhecido.

Tocando as bochechas de Naruto com seus lábios finos, Sasuke as beijou sutilmente, parando por alguns instantes para admirar as peculiares três marquinhas que cada uma delas possuía; traçando uma linha imaginária até o pescoço bronzeado, permitiu-se sorrir antes de, provocativamente, sugar a pele exposta, arrancando um pequeno gemido do rapaz.

— Então, eu vou marcá-lo como meu, penetrá-lo e, claro, chupá-lo... com as minhas presas, já que você deseja tanto um vampiro.

Segundos depois, Sasuke teve seus cabelos negros puxados ferozmente por um Naruto que, sem pensar duas vezes, tomou seus lábios, iniciando assim um beijo fervoroso e cheio de paixão.

X

09:24 AM – Dia seguinte.

Mikoto esperava pacientemente em frente à porta do quarto do filho mais novo. Podia ouvir a voz de Sasuke ordenando para que Naruto levantasse e fosse ver quem estava chamando. Esse, por sua vez, reclamava algo sobre estar com sono.

Esperou até que, alguns minutos depois, uma fresta da porta foi aberta e um Uzumaki Naruto apareceu sonolento, tentando conter um bocejo.

— Querido, pode chamar Sasuke, por favor? — Pediu gentilmente a mulher, já acostumada a encontrar o garoto na sua casa devido a sua amizade com Sasuke.

Abrindo a porta o suficiente para sair, Naruto parou em sua frente, parecendo esquecer-se de que estava nu, tendo apenas um lençol enrolado na cintura — detalhe que não passou despercebido pela senhora Uchiha.

Parecendo um pouco constrangido pelo pedido, Uzumaki passou as mãos pela nunca — um gesto tão seu —, ficando levemente corado.

— Er, na verdade, não acho que seja possível, Tia Mikoto. — Vendo o rosto confuso da mulher, decidiu explicar-se melhor: — Ele está meio cansado, sabe? Nós estamos.

— Então a sessão de cinema de ontem terminou meio tarde, não é mesmo? Como foi o filme? — Perguntou interessada, pois, na noite anterior, havia saído com o marido, Fugaku, e com o filho mais velho, Itachi, para um jantar de negócios.

Outro detalhe que também não passou despercebido pela matriarca foi o modo como Naruto ficou ainda mais constrangido, começando a se enrolar nas próprias palavras e não saber o que fazer com as próprias mãos; e, enquanto observava-o dos pés a cabeça, foi que ela percebeu.

Algumas marcas avermelhadas eram visíveis por todo o corpo do garoto, mas, a que mais se destacava, certamente era um roxo — nem um pouco discreto — no pescoço. Não demorou muito para que deduzisse o que acontecera.

— Sim, você sabe como a última sessão é tarde... — Falava crente de que estava convencendo, ficando mais confiante e menos nervoso quando Mikoto balançou a cabeça em concordância, fingindo acreditar em cada palavra do garoto.

— E que marcas são essas no seu pescoço? — Decidiu perguntar, afinal, era mais do que óbvio que mais cedo ou mais tarde algo acabaria acontecendo entre os dois rapazes. Era quase um acontecimento natural, por isso, também nada mais normal do que querer ser amiga do "genro".

Arregalando levemente os olhos, Naruto começou a tossir incessantemente ao engasgar-se própria saliva, levando breves segundos para se recompor. E, ao conseguir fazê-lo, a única coisa inteligente que pensou para dizer foi:

— O filme era de vampiros... mas em 3D.

Fim