A Besta Que Devorava Homens Egoístas escrita por ThiagoWesley


Capítulo 2
Conto: O Demônio da Cozinha




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                Janaina acordou atordoada, o calor do verão e sonhos turbulentos dos quais não conseguia lembrar fizeram-na levantar da cama plena três da madrugada para ir até a cozinha procurar algo para tomar. Era costume, da garota, andar pela casa grande e vazia durante as madrugadas. Nunca tivera um sono tranqüilo e seus pais já haviam acostumado com a inquietude da menina e não se importavam mais com barulhos vindos da cozinha durante  a noite. Não havia com o que se preocuparem, a região era muito segura, nunca se ouvira falar de ladrões por ali.

        Janaina caminhava sonolenta pelo corredor que dava acesso a cozinha, com os olhos quase cerrados, arrastando as pesadas pantufas, mal levantava os pés. Quão grande não foi a surpresa –mesmo que demorada para Janaina se dar conta- de repente viu-se totalmente acordada ao avistar alguém abrindo a geladeira. Esperava que fosse sua mãe, apesar de não conhecer aquela camisola azul da cor do céu, parou de se aproximar e esperou aquela pessoa fechar a geladeira, quando a tal fechou a geladeira, olhou diretamente nos olhos de Janaina, como se já soubesse que a outra estava ali, era uma pessoa exatamente igual a ela. Um clone de Janaina, mas tinha uma expressão faminta, sanguinária, quase diabólica. A verdadeira Janaina então gritou com toda a força de seus pulmões e desmaiou. A criatura desapareceu derrubando a jarra de suco de laranja que tinha nas mãos.

        A menina acordou sendo chamada por seu nome, estava em sua cama e tinha seus pais sentados ao lado, sua mãe passava-lhe a mão em seu cabelo vermelho.

- O que aconteceu? – perguntou Janaina.

- Nós que queremos saber, filha. O que aconteceu?

- Eu não sei, eu fui a cozinha e tinha alguém lá. Ai minha cabeça.

- É impossível Janaina, todas as portas e janelas estão devidamente trancadas, exatamente como deixamos antes de dormir e não há nenhum outro sinal que outra pessoa estivesse aqui.

- Você devia estar sonhando acordada, filha. Nós a encontramos, desmaiada no chão da cozinha, ficamos desesperados pensando que algo tinha acontecido, mas acho que foi só um susto mesmo.

Janaina se sentia fraca, e preferiu não insistir na história de ter visto alguém. Talvez tivesse sonhado mesmo. Sua dúvida desapareceu quando, ao sentir o pulso esquerdo dolorido, constatou que existiam dois pequenos furos roxos. Algo realmente havia acontecido.

        Três dias e três noites se passaram desde o acontecido, Janaina não Tinha mais se levantado da cama na madrugada, tinha medo. Realmente nção tinha pistas, sinais, ou dicas que pudessem dizer-lhe o que havia se passado naquela madrugada de quinta-feira. Mas com o tempo, o medo vai diminuindo e novamente perturbada pelo calor, viu-se obrigada a sair da cama em busca de algo gelado para beber. Um pouco mais prevenida, fez-se ter certeza de que estava bem desperta para sair da cama, pegou um guarda-chuva laranja que guardava pendurado em um cabide, para usar como arma caso fosse necessário se defender de algo ou de alguém. Caminhou a passos rápidos pelo corredor, passando pela porta do quarto de seus pais, quando finalmente chegou a cozinha, viu que estava sozinha, foi um sonho, se afirmou novamente relembrando do ocorrido. Deixou o guarda-chuva sobre a mesa e foi até a geladeira, pegou uma jarra de suco e quando a fechou deparou-se com a menina que tinha sua face no lugar onde ela estava da última vez, as posições havia apenas se invertido. A outra parecia ainda mais assustadora, ainda mais faminta e diabólica. Janaina não gritou por medo de desmaiar novamente se assim fizesse. Pensou em pegar o guarda-chuva, mas a outra o tomou mais rápido. Então jogou o suco da jarra na cara da criatura, que apesar disso, não esboçou nenhum sinal, como se simplesmente não houvesse sentido o liquido gelado em seu rosto. Trêmula de medo, Janaina correu em direção ao corredor, mas quando pisou no suco que havia derramado, escorregou e caiu de cabeça no chão, novamente desmaiara. Acordou uns 7 minutos depois, ainda no chão frio, porém muito mais fraca, muito mais tonta, totalmente exposta e em seu pulso o que antes eram dois pequenos furos, agora se faziam dois buracos, algo profundo, amedrontada, levantou-se, mesmo com dificuldades e correu para o quarto, onde se enfiou debaixo de suas cobertas e dormiu tranquilamente devido à exaustão que sentia.

        Na manhã seguinte, ao se levantar, procurou seus pais, mas os mesmo já haviam saído para o trabalho, por ser férias, não tinha muito que fazer, passou o dia todo trancada no quarto, a noite quando sua mãe chegou foi lhe perguntar o que novamente havia acontecido, pois tinha encontrado a cozinha bagunçada, Janaina contou que novamente havia visto alguém dentro de casa, sua mãe pensou em acreditar na possibilidade, mas quando a menina disse que esse alguém era exatamente como ela e que parecia ser um fantasma, sua mãe constatou que se tratava de outro pesadelo, a menina não mostrou para sua mãe a prova do acontecido que tinha estampada no pulso pois tinha medo de que quisessem levá-la ao médico e a coisa que mais temia era médico.

        A noite chegou, Janaina se deitou cedo, estava com muito medo de aquela criatura surgir novamente e tinha certeza agora que por mais que sentisse vontade de tomar algo, não iria até a cozinha novamente durante a madrugada. A mãe disse ao seu pai o que Janaina havia lhe contado, sobre um fantasma na cozinha, este, preocupado, decidiu então que quando a menina pegasse no sono trancariam a porta do quarto e para que não sentisse sede na madrugada, deixariam uma jarra com água bem gelada sobre a escrivaninha da filha. “Mas não vamos avisá-la que vamos trancá-la?” “Acho melhor não, ela pode pensar que estamos achando que ela é louca, amanhã mesmo a levaremos em um especialista”. Assim fizeram, trancaram a menina logo que a mesma começou a roncar.

        A noite foi passando e o calor da madrugada que tanto incomodava Janaina fez com que ela despertasse. Lentamente abriu os olhos, quando viu que agarrada ao seu braço esquerdo estava a criatura assustadora sugando-lhe o sangue. Ficou imóvel, olhando por alguns instantes a criatura tomar de suas veias seu precioso sangue. Não ficou parada por muito tempo e ao perceber que a menina despertara a outra, que estranhamente tinha a mesma aparência que ela, largou seu pulso e caminhou de costas até o canto da parede. Seus olhos estavam acesos num alaranjado fogo intenso que quase iluminava o quarto que era iluminado só pelo abajur. Janaina correu em direção à porta, mas viu que a mesma estava trancada. Desesperou-se e começou a gritar por seus pais.

        A criatura maligna, com ar tranqüilo e calmo começou então a falar:

-Não adianta chamar por seus pais, eles já estão mortos, já esgotei cada gota do sangue deles.

-Mentira! Quem é você?

-Me chamam de o demônio da cozinha.

-Cozinha? Mas aqui não é a cozinha! Vá embora, por favor.

-A cozinha está aqui. Não irei enquanto não terminar o que comecei. Seu sangue, eu preciso do seu sangue- disse o demônio caminhando lentamente em direção à Janaina que ainda mais aterrorizada gritava por socorro e corria em círculos pelo quarto sendo perseguida pela criatura que parecia não ter pressa. Janaina atirou-lhe tudo o quanto via, travesseiros, porta-jóias, seu ursinho de pelúcia, mas nada fazia aquele monstro cada vez mais feio e cheio de raiva parar de querer terminar seu serviço. Quando chegou na escrivaninha, Janaina então atirou os livros, que estavam em cima da mesa, até que pegou a jarra de água que seus pais haviam deixado. Quando assim o fez, já pronta para atirar na cabeça do demônio, o mesmo parou. Ficou parado, como se esperasse que a menina não jogasse aquele utensílio de vidro contra ele, mas foi questão de segundos para a jarra voar contra a perede e se despedaçar em um milhão de pedaços. O demônio desapareceu.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam curtindo meus textos.



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