Take On Me escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Aceite-me


Notas iniciais do capítulo

Take on me
Take me on
I'll be gone
In a day or two



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Se entreolhavam pela vitrine da loja. Uma do lado de fora, com sacolas e bolsas, a outra lá dentro, com um frasco de perfume na mão. A mulher alta, loira e com um sorriso branquíssimo entrou na botique, deixando as muitas sacolas no chão. A jovem menina com o frasco de perfume, admirada pelo brilho dos intensos fios dourados e o batom carmim, aproximou-se dela sorrindo timidamente, oferecendo-se para lhe ajudar.

Houve somente segundos de espera e a mulher tão bela quanto as flores que eram utilizadas para fabricar as mais deliciosas essências esticou o braço, pedindo para testar aquele perfume em mãos. Algumas borrifadas depois, e a formosa mulher aspirava o doce cheiro do jasmim. Ela então comprou uma dúzia daquele perfume deixando a jovem admirada com o consumo.

Algumas semanas depois novamente e mulher loira voltou, metida num vestido escandalosamente sensual e sapatos de grife, cabelos presos e o mesmo batom carmim nos lábios desenhados sob medida para seu rosto aristocrático.

A jovem pareceu tremer com aquela visão, ainda mais quando novamente a mulher lhe estendeu o braço, e não a mão dessa vez. Ofereceu um almoço, ofereceu um descanso. Ela aceitou, somente pela curiosidade? Pela gratidão? Ou apenas por sentir fome.

O almoço fora apetitoso, a conversa tão bem agradável, e a jovem garota se viu encantada pelos olhos insistentes que lhes falavam: Você é linda! É fantástica é uma menina que desabrocha. Tens o cheiro de jasmim, queria poder cultivar essa flor no meu jardim.

Não foi o deslumbre e nem mesmo o perfume doce de almíscar que a deixou enfeitiçada.

Quem sabe a beleza das palavras? Ou a energia dos abraços? Só se sabe que a flor de Jasmim apaixonou-se pelos lábios de Carmim.

Quem dirá que não foi por desejo um simples engano do prazer? Mas a resposta vinha nos beijos que trocavam até o amanhecer. E quem diria que toda aquela rara beleza, por debaixo não se escondia também uma jovem acuada? Uma mulher que queria viver, sonhar e apaixonar.

Qual encanto fora posto nos olhos de cada uma? Não se sabe, mas o feitiço do amor poderia ser descoberto. Medo e anseio de serem criticadas e até mesmo não compreendidas as perturbavam, perturbavam e não parava.

Em meses e meses o amor correspondido crescia, e a jovem jasmim desabrochava nas mãos delicadas da perfumada almíscar. Com carinho, zelo e desejo. O que mais poderiam querer para viver esse amor?

Havia sim ainda um pedido, um pedido simples e ao mesmo tempo sofrido. Queriam ser livres de qualquer olhar, ou palavras que lhes fizessem chorar.

O que há demais amar fortemente alguém? O que tem ser aquilo que apenas você é? Qual o problema querer viver sua vida e compartilhar seus sonhos ao lado de uma pessoa que te completa?

“Fuja comigo!” – Carmim insistia entre beijos e carícias por debaixo dos lençóis macios. As mãos embaralhadas tocando na pele quente, os gemidos sufocantes preenchendo o quarto do luxuoso hotel. A cabeça de Jasmim afundada no travesseiro, arqueando seu corpo contra o de seu amor, emaranhando os dedos nos cabelos dourados. Soltou a resposta por entre os dentes no momento em que se sentiu plena pelo amor.

“Eu vou!” – Suspirou, deixando o corpo amolecer na suntuosa cama. Beijando sem parar o rosto que tanto lhe fazia sonhar.
A banheira completa com água morna, a espuma transbordando e o champanhe borbulhando na taça de cristal.

Brindaram aconchegadas uma na outra. Uma vida nova seria o caminho certo? Partiriam sem dizer nada. Sumiriam, fugiriam para algum lugar que pudessem ser o que eram, que pudessem amar sem se preocupar. Olhar! Falar! Tocar... como eram.

Estarei vindo pra você de qualquer maneira

Precisavam antes de mais nada deixar para trás a vida que viviam, a pequena quase não tinha amigos que fosse sentir sua falta. Os pais sempre ocupados trabalhando dia e noite, irmãos nunca que falavam, o que iria deixar? Saudade? E quando fossem lembrar de sua ausência, já estaria longe e feliz.

Esperou conforme o combinado, de frente à loja em que se conheceram. Marcado para as oito da manhã, seria muito clichê fugir de noite.
Já eram dez horas e nada. A loja abriu e Jasmim se viu obrigada a entrar para trabalhar.

“Que malas são essas?” – As outras vendedoras perguntava. Ela somente fingiu um sorriso, dizendo que viajaria. Mas seu coração sabia que fora enganada. Porque?

O dia passou tão lento, tão lerdo, tão vagaroso. As lágrimas eram engolidas a cada segundo de tristeza. O coração somente batia por insistência de seu corpo frágil.

A noite chegou, e as malas eram arrastadas até o ponto de ônibus. Praguejava irritante de sua inocência, enquanto esperava a hora de voltar para casa.

Nada parecia piorar, quando a chuva começou. Molhada, sozinha, sem amor. Num lugar vazio e escuro. Sentou em cima de uma mala, sem perceber a luz que piscava do outro lado da rua. Abaixou a cabeça deixando as lágrimas enfim escorrerem pelo rosto molhado pela chuva. Ouvia distante o seu nome ser chamado, ouvia a voz dela. De alguém que lhe traíra.

“Aqui! Aqui, não me vê?” – Ergueu o olhar para o carro buzinando na rua. Deveria sorrir? Porque? Se fora deixada de lado. Nenhuma desculpa iria lhe reparar a dor sentida pelo abandono.

“Não! Eu não quero” – Foi firme, mesmo que seu coração gritasse.

“Me desculpe, me perdoe, eu não pude ir.” – Não pode! Não devia? Não queria?

As longas madeixas loiras agora molhadas também pela chuva, correndo até o ponto de ônibus escuro, segurando a pequena nos braços, parecia ter frio, ter medo ou tremia pelo contato que sempre tinham.

Abraçou-a implorando seu perdão, não deveria ter mentido. Era casada, tinha uma vida, mas deixara tudo naquela hora, vendo que não mais poderia enganar seu coração.

Aspirou jasmim com toda força, reforçando sua emoção num beijo que, mesmo sendo retribuído em total excitação, ainda sofria com medo da separação.

“Venha comigo?” – Estendeu a mão mais uma vez, sorrindo sem carmim nos lábios para enfeitiçar.

A resposta veio com a mão estendia, segurando firme, correram para dentro do carro. As malas não eram tão importantes, ficaram ali no ponto de ônibus.

Seguiram para um caminho sem volta, um caminho novo que compartilhariam juntas.

“Qual o seu nome?” – A pergunta partia da pequena flor de jasmim, secando o rosto com um lenço macio gravado um a letra C.

“Camila! E o seu pequena?” – Era engraçado usarem somente pseudônimos quando se encontravam.

“Vai ter que descobrir” – Deu um largo sorriso divertido escrevendo um L no vidro do carro. “Vai aqui uma pista.”

A estrada escura era coberta pela chuva, os faróis do carro iluminavam a estrada para a nova vida de “C” e “L”.

Jasmim e Carmim


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Notas finais do capítulo

Feliz aniversário Letícia!
Música: Take on me (A-HA)
Kori Hime