Após um chuvoso fim de semana no solo sagrado, onde até mesmo os espevitados aspirantes a cavaleiros optaram por refugiarem-se no templo de seus mestres, os fracos raios solares, por fim, surgiam, timidamente aquecendo aquela fresca manhã de verão.

No templo do grande mestre, encontrava-se o pequeno lemuriano de cabelos lilás, este que de forma alguma conseguia concentrar-se em suas tarefas, vendo constantemente seus pensamentos serem tomados pela insistente preocupação com certo loiro que se encontrava doente na sexta casa. Mu queria vê-lo, entretanto primeiro teria de terminar o castigo designado por seu mestre.

— O que lhe aflige criança? – perguntou o senhor de idade ao garoto que tamborilava de forma nervosa os dedos pela superfície da madeira maciça, enquanto limpava os livros empoeirados daquela estante.

— Estou preocupado com o Shaka mestre Shion, acho que ele ficou doente, depois de ontem sinto o cosmo dele muito fraco – explicou-se o pequeno tibetano fazendo um adorável biquinho com os lábios.

— Então por que não vai vê-lo Mu? – Indagou Shion sorrindo por trás da máscara de grande mestre, achando adorável a expressão emburrada da criança.

O rosto do ariano iluminou-se em um belo sorriso, e em um piscar de olhos, já se encontrava de forma apressada descendo a grande escadaria em direção a casa de Virgem. Deu graças aos Deuses pela maior parte dos santos dourados encontrarem-se fora de seus templos, assim não tomaria muito de seu tempo a tarefa de pedir autorização para passar pelos cavaleiros que permaneciam nas doze casas.

O tibetano seguiu o cosmo do indiano casa de virgem a dentro, por fim chegando até o quarto do mesmo. Pensava em dar uma severa bronca em Shaka, por não tê-lo escutado no dia anterior, tendo ido treinar na chuva mesmo após de forma insistente tê-lo prevenido de uma possível doença. Como bônus ainda fora castigo por seu mestre, por ter encoberto o loiro.

Mas o pequeno ariano sentiu toda a sua determinação esvair-se ao encontrar o loirinho adormecido sobre o leito, com os preguiçosos raios solares matutinos banhando lhe a tez leitosa, como numa carícia. Seus fios dourados que tanto o encantavam, jaziam caídos sobre sua face corada devido a febre, dando-lhe ele um ar angelical. A visão era a de um quadro pintado por anjos.

Mu aproximou-se, colocando suas pequenas mãozinhas sobre a testa de Shaka, assim comprovando suas suspeitas de que o mesmo estava queimando em febre. Preocupado olhou em volta a procura de algo que pudesse baixar a febre do menor, logo viu uma bacia em cima do criado-mudo, esta que devia ter sido colocada por uma das servas. Com delicadeza molhou a pequena toalha, colocando-a na testa do indiano.

Não resistindo a tentação, de forma cuidadosa começou a fazer carinho no rosto alvo, observando de forma atenta os longos cílios claros, seu pequeno nariz bem moldado e seus delicados traços bem acentuados, que só o deixavam ainda mais belo. Como em um impulso, sua atenção foi desviada instintivamente para os lábios rosados e carnudos de Shaka, estes que pareciam ser donos de uma incrível maciez, despertando em si uma enorme vontade de prová-los. Quando deu por si estava debruçado sobre o virginiano, e seus lábios encontravam-se pressionados contra os dele.

“O que você está fazendo, e se ele acordar o que pensará disso?” – recriminou-se mentalmente, já começando a se afastar, entretanto nem ao menos teve tempo de se recompor, foi impedido por pequenos bracinhos que moldaram-se ao seu pescoço o puxando contra si, estes pressionavam seus lábios de volta, o correspondendo, assim dando início a um casto e desajeitado beijo, por ser o primeiro de ambos, onde lábios se encontravam de forma acanhada e curiosa, e as línguas exploravam tímidas a boca alheia fazendo pequenas brincadeiras entre si.

Os dois separaram-se ofegantes quando o ar faltou, ambos extremamente corados. O de cabelos lilás encarando as belas orbes azuis, sentindo o coração pular como louco dentro de seu peito, um sentimento novo outrora desconhecido se apossava de si, mas este ele só saberia o significado alguns anos depois.

[....]

O agora já adulto cavaleiro de Áries foi tirado de suas lembranças por já conhecidos braços fortes que rodeavam sua cintura, a voz grossa de forma familiar ressoando perto de sua orelha, causando-lhe arrepios.

— O que tanto pensa anjo? – perguntou o loiro com sua característica voz calma, em uma entonação quase imperceptível de curiosidade, enquanto acariciava a cintura delgada do amante.

— Estava somente me lembrando do momento em que descobri que você é meu primeiro e único amor – respondeu Mu virando-se a fim de ficar de frente para Shaka, sorrindo ao constatar que os olhos azuis que tanto amava brilhavam, o fitando amorosamente. O loiro sem dizer nenhuma palavra, se apossou de sua boca em um beijo outrora casto, que parecia querer demonstrar todo amor que o mesmo sentia por si, mas que logo se transformou em um beijo sensual, envolvendo-os em uma aura de paixão e luxuria, onde as línguas duelavam por espaço e mãos afoitas acariciavam tudo que estava ao seu alcance. “Essa noite vai ser longa” pensou o tibetano sorrindo em meio ao beijo enquanto era levado para o quarto de um certo loiro metido.

Eles viviam uma vida perigosa e cheia de conflitos, onde a qualquer momento poderiam ter que entregar-se por uma causa muito maior. Entretanto eles sabiam que mesmo que através dos milênios, em muitas outras vidas, nem mesmo a ira de um deus poderia separá-los.