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2:Beijo na bochecha: Indica adoração, amizade.

“Você é importante para mim.”

Pela terceira vez naquele mesmo dia, May se perguntou exatamente por que estava ali.

Quer dizer, era realmente interessante participar do Festival como torcedora, principalmente para prestar mais atenção no estilo de cada participante. Mas, além de sempre ter aquela vontade de subir ao palco...

Fica meio difícil torcer para alguém quando se tem milhares de fangirls dele no mesmo lugar em que você.

– Por Arceus, elas não podem ficar quietas por um minuto? - Murmurou, revirando os olhos quando as garotas deram outro gritinho ao ver Drew entrando no palco. Sinceramente, o que elas viam nele?

Bom... Para falar a verdade, ele não é tão ruim assim.– Corrigiu-se em sua mente, logo depois corando e se consertando. Mas em personalidade, é a pior pessoa possível!

As memórias de um mês atrás, de sua derrota e de como ele tinha sido com ela retornaram à sua cabeça. O antes vermelho de suas bochechas tornou-se escarlate, e ela xingou-se mentalmente por lembrar dessas coisas na hora errada.

– Que seja. - A garota bufou, voltando sua atenção para o estádio. - Não é como se elas o conhecessem mesmo.

Ela disse isso, mas... Será que May em si o conhecia direito?

Vamos ver... Ela estendeu a mão direita à frente do rosto, levantando um dedo. Sei que ele é de La Rousse.

O Pokémon inicial dele foi a Roselia... Outro dedo. Ele e a Solidad se conhecem já há algum tempo, ele aparentemente consegue as suas rosas com a Roselia, e... Com quatro dedos levantados, ela completou uma mão. Perdeu na sua primeira chance de ir para o Festival.

– Realmente, eu não o conheço muito. - A coordenadora suspirou, observando sua mão. - Bom, mas isso é normal, não é? Sou só a rival dele. Não é como se precisasse saber tudo...

Então por que eu sinto essa vontade de saber mais? A garota olhou para frente, só para perceber que a batalha sendo travada tinha acabado.

Como esperado, era Drew que tinha vencido, e avançaria para a próxima fase das batalhas. Ele jogou o cabelo para o lado e acenou para o público - e as fãs gritaram, como sempre - antes de sair por uma das portas.

Talvez eu devesse perguntar para a Solidad sobre ele.– Ela raciocinou, balançando os pés na cadeira, quer dizer, eu sou a rival dele, não sou? Preciso saber algumas coisas básicas! Como...

– E por hoje encerram-se as batalhas do Grande Festival de Johto! Os participantes que passaram para a próxima fase serão sorteados agora! - A apresentadora, Julie, anunciou, tirando a atenção da jovem de seus pensamentos.

O grande televisor do palco mostrou uma série de rostos, e começou a embaralhá-los em pares. Quando o sorteio acabou, May abriu um sorriso ao ver quem Harley iria enfrentar na próxima fase - parece que o seu rival iria poder vingá-la, no final das contas.

Bom, é melhor ir e ver se consigo encontrar com alguém no hall. Ela se levantou, espreguiçando-se e saindo junto com um grande número de pessoas pelas arquibancadas.

Era um sentimento diferente - normalmente, ela só assistia a competições que o Ash travava, mas não podia afirmar que era ruim.

Só... Parecia errado, ficar assistindo e não poder fazer nada.

Ela chegou ao hall sem problemas, e olhou para os lados. Quando pensou ver um rastro de verde, foi atropelada por fãs dos coordenadores que procuravam por seus ídolos. May tentou encontrar um meio de sair daquele amontoado de gente, e felizmente conseguiu ao ser puxada por alguém para outra sala.

– Pensei que eu ia morrer... - A jovem choramingou, apoiando-se na parede para manter o equilíbrio. Ela virou-se para trás, reconhecendo quem tinha sido seu “salvador da pátria”.

Quer dizer, salvadora da pátria.

– Obrigada, Solidad. - A coordenadora ruiva sorriu, reclinando-se também com as costas contra a parede fria.

– De nada. Você devia tomar mais cuidado May, tinha quase certeza de que você acabaria pisoteada por alguém.

– Nem me fale. - Suspirou, após isso lançando um olhar contente para a outra. - E parabéns pela batalha de hoje! Não sabia que tinha um Ampharos.

– Capturei por aqui quando ainda era um Flaafy. - Ela deu de ombros. - Soube que tem novos pokémons, também. Da última vez que eu vi, seu Eevee tinha evoluído, não?

– Sim! Para um Glaceon. - May abriu um sorriso meigo, lembrando-se do sacrifício que tivera para evoluí-lo no Mt. Coronet. - Mas valeu à pena. Também capturei um Ledian agora, e...

Ela suspirou.

– É uma pena que não esteja participando... Eu tinha planejado tantas estratégias de batalha, também...

– Hmm. - Solidad fitou alguns coordenadores que passaram. - Você odeia o Harley por não ter te deixado entrar?

– Odiar é uma palavra forte. - May comentou. - Seria mais... Ter uma raiva imensa e absoluta dele. Não sei, aquele garoto faz as coisas mais estranhas para tentar me atingir.

– Ele sempre foi assim, mesmo. - A mais velha riu, suas feições tornando-se nostálgicas. - Me irritando das maneiras mais improváveis... Já falei de quando ele se vestiu igual a mim para um torneio?

– Ele fez isso com você também?!

– É! - Ambas soltaram uma risada. - Mas, mesmo assim, ele se tornou um bom rival para mim. E, por mais que pareça, não é uma má pessoa. Até comentou que o Festival sem você para irritar era sem graça.

May observou a garota ao seu lado, e notou um brilho estranho nos seus olhos. Aquilo seria...?

Nah, muito improvável.

– Ei, Solidad. - A coordenadora de olhos azuis começou, receosa. Não sabia direito como começar aquela conversa, então que fosse pelo jeito simples.

– Hm?

– Você já quis saber mais coisas sobre o Harley? - Ela fez uma pausa. - Quer dizer, por que vocês dois são rivais e tudo mais.

– Bom, claro. - A jovem respondeu, um sorriso de lado surgindo em seus lábios. - É normal, para tentar alcançar o nível de alguém com quem competimos, querermos saber mais sobre essa pessoa. Por que a pergunta?

– Bom, eu... - Ela coçou a cabeça, sem graça. - Meio que descobri que eu não sei quase nada sobre o Drew, e...

– Você quer saber mais sobre ele?

– É...

Silêncio. Solidad aumentou o sorriso, entretida com a situação.

– Sabe, May... - A mais velha começou, - Eu poderia contar a você sem problemas, mas... Não seria mais fácil perguntar a ele?

– E aumentar ainda mais o ego daquele idiota? Nunca!– A garota reclamou, chegando até a ruborizar um pouco. Ao seu lado, Solidad riu, ajeitando uma mecha do cabelo.

– Hmm, talvez o resultado seja um pouco diferente? - Ela chegou mais perto. - Talvez, assim como você quer saber mais sobre ele, ele queira saber mais sobre você também...?

A coordenadora de olhos azuis corou escarlate, afastando-se com um pulo. Mesmo assim, olhou de soslaio para a mais velha e murmurou uma pergunta.

– Você... Acha mesmo?

A ruiva deu de ombros, divertida. Apontou para uma porta no canto do hall agora vazio. - Drew foi treinar os pokémons do lado de fora, por ali. Por que não vai lá?

May considerou isso por alguns segundos, e suspirou - não é que ela tinha outra escolha, afinal de contas.

– Bom, estou indo então. Até amanhã, Solidad! - Com um aceno breve, a morena desapareceu pela porta. Solidad observou-a com o mesmo brilho estranho nos olhos, e foi em direção ao lado de fora pela outra saída.

E pensar que eu já fui assim um dia, refletiu.

O sorriso tomando conta de seus lábios, ela sibilou um pequeno “boa sorte”, sua silhueta atravessando lentamente o corredor vazio.

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Não demorou muito para a garota encontrá-lo, treinando alguns ataques com seus Pokémons numa parte mais reservada da clareira atrás do prédio. Como Drew parecia um pouco concentrado demais no que estava fazendo, ela teve uma ideia.

Com um sorriso maquiavélico no rosto, a garota se aproximou lentamente de seu alvo sem que ele percebesse.

Quando estava perto o suficiente, ela se esticou para frente e respirou fundo...

– BOOOOOOOO!

Antes de gritar com todas as forças perto do ouvido do garoto. Ele exclamou algo incompreensível com o susto, tombando para frente e caindo com as mãos no chão.

May não gastou nenhum minuto - começou a gargalhar, tendo que colocar a mão na boca para tentar controlar o riso. Enquanto isso, o coordenador que tinha se assustado virou-se, mandando-a um olhar mortal enquanto seus pokémons olhavam a cena com curiosidade.

– Muito engraçado. - Ele disse, irônico. Levantou-se da grama, limpando a sujeira das calças com as mãos, e encarou-a com o rosto irritado.

Ela sorriu, feliz por poder conseguir virar o jogo e aborrecê-lo ao invés de vice-versa. - Você parecia temeroso de te acharem. Fugindo das fãs?

O garoto bufou, revirando os olhos. - Se não se lembra, eu tenho uma batalha amanhã. Tenho que treinar.

– Eu sei disso. - Ela respondeu, dando a língua. Ele não podia parar de ser chato?

– Bom, o que você quer? - Drew suspirou, a encarando dessa vez sem traços de raiva. A garota instantaneamente ficou sem graça, coçando a cabeça.

– Uh... Sabe como é, né...

Rápido, May! Como falar que você quer saber mais sobre um idiota metido sem que aumente o ego dele e torne-o um idiota metido ainda maior?! Ela se perguntou mentalmente.

Mas, sem resposta, optou por falar a verdade logo de uma vez.

– Eu percebi uma coisa.

Ele arqueou uma sobrancelha, e deixou que ela continuasse.

– Hoje, quando eu estava na plateia torcendo... Me senti estranha. - Ela fitou o chão por uns segundos. - Claro, parte disso foi por que eu preferiria estar no palco também, mas...

A garota parou, olhando para ele. Tinha os braços cruzados, uma expressão neutra no rosto e parecia esperar para que ela falasse. Com um pouco mais de coragem, May admitiu:

– E, olhando para todas aquelas suas fãs e outras pessoas torcendo, eu percebi que eu não era diferente delas... - Ela piscou, desviando o olhar. - Quer dizer, eu não conheço quase nada sobre você! E somos rivais, eu tinha que saber de algumas coisas, não é...?

Ah, aquilo tinha soado horrível. Ele devia vir com o sorriso sarcástico e um comentário que a deixaria brava em qualquer minuto! Vamos lá, cinco, quatro, três...

– Você... Quer saber mais sobre mim? - Estranho. Aquilo não era o que ela esperava. May arriscou fitá-lo mais uma vez, só para encontrar seu rival com as mãos nos bolsos, constrangido.

...Constrangido. Depois dela finalmente admitir que queria saber mais sobre ele.

Uh, alguma coisa está errada aqui. Será que ele comeu algo estragado hoje? Ela arqueou uma sobrancelha, se aproximando.

– Bom, sim... - A coordenadora deu de ombros.. - É estranho, sermos rivais por tanto tempo e eu não saber quase nada um do outro. Você não acha?

Ele permaneceu em silêncio, a encarando. Foi a vez dela de ficar nervosa, antes de ouvi-lo falar outra vez.

–...Tudo bem então. - Drew caminhou até a parede perto da clareira onde treinava, depois de recolher seus pokémons. Fez um sinal para May fazer o mesmo, e ela o seguiu. - O que quer saber?

– Eh... - Ela começou, indecisa. Decidiu começar pelo básico. - Qual a sua cor favorita?

–Preto. - Ele disse, depois de alguns segundos. -... Também gosto de azul.

– Azul...? - May piscou. Estranho, ela nunca tinha o visto usando alguma coisa dessa cor. Bom, que seja. - Eu gosto de vermelho... E laranja.

– Quando você decidiu ser coordenador? - Perguntou em seguida.

– Minha mãe me levava em torneios quando eu era mais novo, ela já foi coordenadora.

– O que ela faz agora?

– Ela tem uma floricultura perto de casa. - Drew respondeu, sorrindo. Ela o observou com o canto do olho - Parecia ter boas lembranças.

– Você é filho único?

– É. Você só tem o Max de irmão, né?

– Felizmente.

– Você o odeia tanto assim? - Ele riu.

– Não, mas na maioria das vezes eu chego bem perto.

Continuaram a perguntar coisas aleatórias, nem percebendo o tempo passar. Só se deram conta de que tinham ficado tempo demais ali quando o sol começou a desaparecer pelo horizonte, dando ao céu uma coloração de laranja, vermelho e azul.

– Ah, é melhor que eu vá agora. - Ela observou o céu. - Está ficando tarde.

– Também vou voltar. - O coordenador desencostou da parede, cruzando os braços.

May sorriu, aproveitando o clima tranquilo e não característico - era ótimo ter conversas assim com Drew de vez em quando, sem que estivessem brigando no minuto seguinte. Seu rival podia ser uma boa pessoa, se quisesse.

Se quisesse. O que era raro, mas pelo menos possível.

E, sinceramente, ela estava alegre o suficiente com o “possível”.

– Acha que já sabe de mim o suficiente, agora? Drew perguntou, com um sorriso convencido. Ela revirou os olhos - bela maneira de quebrar o clima.

– É, talvez. - Deu de ombros. - Mas ainda não estou satisfeita com uma coisa.

– O que?

– Sabe, todas aquelas fãs suas e outras pessoas já vão torcer por você amanhã, e isso já e bom para elas, mas, - A garota começou - não acha que eu mereço alguma coisa por ir?

– E por que você mereceria isso? - Ele arqueou uma sobrancelha, o sorriso sarcástico ainda no rosto.

Argh! Ela estreitou os olhos para o garoto, bufando. - Porque somos rivais! Normalmente eu não torceria por você! E também... Bom...

Eu sou mais importante que eles para você, ela queria ter falado. Ênfase no queria, já que sua vergonha extrema a impediu de prosseguir.

–... Tudo bem, então. - Seu sorriso diminuiu para algo mais sincero, e ele revirou os olhos.

Pela segunda vez no mesmo dia, May se perguntou se ele tinha comido algo estragado.

– Ok! É melhor você decidir em algo até amanhã! - A garota sorriu, satisfeita.

E, após se despedir, saiu andando tranquilamente em direção ao centro Pokémon, a conversa que tivera ainda fresca na sua mente.

Estava feliz, por um motivo estranho. Feliz, e com um calor agradável a esquentando por dentro.

Atribuindo isso ao fato dela não ter comido nada, May se apressou ainda mais, pensando em qual item do menu ela pediria hoje. Numa última recordação, ela lembrou-se que não tinha desejado boa sorte à Drew pela luta de amanhã.

Ah, não tem problema, ela sorriu com convicção, ele vai ganhar, sei disso.

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E, como esperado, ele o fez.

May bateu palmas assim como o resto da plateia, vendo o placar de vitória estampado no telão. Tinha sido uma luta acirrada, com diversas reviravoltas, mas tudo tinha dado certo no final.

Alegre, ela levantou-se de sua cadeira, esperando encontrá-lo no hall e dar os parabéns - além de seu prêmio, que ela esperava que não fosse algo idiota.

– Ele podia me pagar algo para comer outra vez. - Ela murmurou, pensativa. - Eu ouvi falar que tem uma sorveteria ótima aqui perto...

Entretida com seus pensamentos, ela só percebeu ter chegado quando viu algumas garotas em um amontoado no hall, reconhecendo de imediato ser parte do fã clube de seu rival.

Ela ficou com uma gota. Será que eu espero elas irem embora...?

A conversa que ambos tiveram ontem voltou à sua mente num instante. Por que ela estava fugindo? Observou o garoto começar a andar para dentro para a ala dos competidores mais uma vez, seguido das garotas.

Ela era diferente delas, sua mente a lembrou.

Então, com isso em mente, a jovem respirou fundo, antes de chamá-lo.

– Ei, Drew, espera aí! - E ele se virou, enquanto a garota abria caminho por entre as pessoas. Alcançou-o rapidamente, abrindo um sorriso. - Bom trabalho! Sabia que você venceria.

– Heh, eu não perderia para o Harley. - Ele sorriu de volta, jogando o cabelo para o lado.

– Tá, tá, que seja. - Ela revirou os olhos, mantendo a mesma expressão. - Vai voltar para dentro?

– É, a Solidad batalha daqui a pouco.

– Então eu vou também. - Concluiu, assentindo. Já estava se virando para ir embora, quando Drew a chamou de novo.

– Hm? Que foi?

E aquela sensação quente voltou, dessa vez em sua bochecha esquerda.

A garota sentiu as infames borboletas vibrarem no seu estômago e corou escarlate, formando um ‘o’ com a boca. Aquilo não era o que ela esperava.

Definitivamente não.

– Espero que isso sirva de recompensa por hoje. - Ele sorriu outra vez, virando-se de costas. - Até depois, May.

E saiu andando, aos sons de comentários de pessoas que tinham observado à cena.

A coordenadora de olhos azuis claros nada pôde fazer além de ficar parada lá, o coração palpitando fortemente e as maçãs do rosto num leve tom de escarlate.

Aquele gesto fora tão ingênuo, mas mesmo assim... Doce.

– O que está acontecendo comigo...? - Resmungou.

Aquilo tinha a deixado desequilibrada e, além disso, com a leve curiosidade do que ela teria como recompensa torcesse para ele no dia seguinte.

Mas, principalmente, deixou-a com uma certeza:

De que, sem dúvida alguma, tinha algo um pouco além de simples rivalidade entre eles dois.