Two For Tragedy escrita por Witch


Capítulo 1
Beneath the candle bed


Notas iniciais do capítulo

Eu tive essa idéia hoje, um tipo de insight e tive que escrever. E eu não pude ler várias vezes como eu normalmente gosto, meu netbook está estragando e eu nunca sei quando ele vai ligar novamente... -.-



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Começou com um barulho estranho vindo do jardim. Regina, sozinha naquela imensa mansão, se questionava de onde estava vindo o barulho triste, quase como um choro, mas não era definitivamente humano.

Deixando de lado o café recém feito, a antiga Rainha foi receosa até o jardim. Com Emma e Snow perdidas em algum mundo, a cidade não estava necessariamente contente com ela ainda vivendo em Storybrooke e por mais duro que estivesse tentando, ainda não tinha uma solução para trazê-las de volta. Ela sabia que era uma questão de tempo até que a multidão enfurecida voltasse a bater em sua porta, embora agora com sua magia de volta, o risco que eles posavam era mínimo, ainda assim ela tinha uma promessa a cumprir. Por Henry.

O jardim estava vazio e silencioso, como sempre. O barulho parecia ter sumido, mas Regina não sossegou. Deu uma volta pelo gramado, passou pela macieira e ainda nenhum sinal de vida. Pensou que talvez alguém a tivesse enganado para entrar na mansão, talvez alguém disposto a roubá-la. Imediatamente o livro herdado de Cora apareceu em sua mente. Virou-se com raiva e o mais graciosamente que pôde, começou a andar de volta a casa.

Até que ouviu novamente o barulho. Era definitivamente um choro, mas não humano. Ela, no decorrer da vida, ouvira muitas vezes o choro... Ela própria já chorara demais. Parou no meio do caminho e olhou ao redor. O barulho continuou e ela decidiu segui-lo até a origem.

Uma bola de pêlos negra se encolhia debaixo da sua janela, por isso o ouvia tão claramente da cozinha.

– Mas o que... – se questionou.

Era um cachorro. Com alguns meses de vida. O pequeno estava fraco e muito doente. Se Emma tinha o super poder de detectar mentiras, então Regina podia afirmar que desde criança, ela tinha o super poder de instinto: ela sabia quando algo não estava bem, ela conseguia adivinhar quando um animal daria a luz ou morreria, somente olhando para ele.

E ela sabia que essa bolinha de pêlos não passaria daquele dia.

A visão era comovente. O cachorro se encolhia e se aninhava na grama tentando se aquecer e mesmo com o sol brilhante, ele falhava e chorava na esperança de alguém ouvi-la, da mãe ouvi-lo.

Regina olhou ao redor buscando algum sinal de outros cachorros na área, mas não havia nenhuma pista. Era um milagre o filhote ter se arrastado até o seu jardim. E olha só, até o jardim da Rainha Má, de todas as pessoas!

– Você não é muito sortudo. – afirmou mais para si mesma do que para ele.

O filhote devia ter nascido com algum defeito e por isso fora abandonado pela mãe. Os outros cachorros deviam tê-lo evitado pelo mesmo motivo. Deve ter sido triste vagar dia após dia, sozinho, com fome e com dor, simplesmente por não ter nascido da forma que era esperado.

Se havia alguém que entendia a solidão por conta de algo que não era do controle de alguém, era Regina. Ela própria não nascera como era esperado. Ela própria não era como Cora ou como ninguém desejava.

Pobre criatura, abandonada por ser diferente. Talvez se bem cuidado, ele teria uma chance. Se ele tivesse achado uma pessoa certa, alguém paciente, gentil como Daniel ou como Henry, talvez ele tivesse tido uma chance.

O pequeno continuava chorando. Talvez de frio, talvez de fome, talvez até de dor. Ela só podia imaginar o desespero de não saber o que está acontecendo com o próprio corpo. Pensava no passado, de não saber o que fazer, do desespero, da falta de controle sobre a própria vida e sentia um aperto na garganta.

Era engraçado. Ela tinha sido a responsável por outras mortes e por tantas outras misérias, mas agora, sozinha e olhando para aquela agonizante vida, Regina sentia angustia e até tristeza. Ela se via naquele pequeno ser.

Por um momento, pensou em deixá-lo lá, a morte dele era certa, ela sabia disso ou talvez, ela pudesse simplesmente terminar com a dor dele ali mesmo e poupá-lo da agonia da morte lenta. Mas quando o cachorro abriu os olhos cinza e a olhou, quando viu a pequena cauda balançando e quando ele tentou ser levantar para ir até ela, Regina soube que não seria capaz.

Ele tentava ficar em pé, mas a dor era muita e a fraqueza também. O pequeno provavelmente não comia em dias ou semanas. Entretanto, ele continuava tentando, como se quisesse provar um ponto.

“Olha, eu posso andar. Não vá embora. Eu vou conseguir. Eu sirvo para isso. Eu posso tentar. Eu estou fazendo o meu melhor.”

E ela se via no passado, tentando se mostrar para Cora.

“Olha, mãe, eu posso montar. Olha, mãe, como eu sou rápida. Olha, mãe, meu desenho. Mãe, olhe para mim.”

Mas nunca houve olhares sinceros, houve? Cora sempre a olhava desaprovação. Ela nunca era boa o suficiente. Regina tentava e tentava andar, mas sempre caía e Cora nunca a segurava, só lhe dava as costas e suspirava, desapontada.

Outro choro e o cachorro estava no chão, deitado e a olhava. Os olhos cinza não estavam tristes, cansados e famintos, mas não tristes. A cauda ainda balançava. Ele a estava esperando.

E Regina, ao conversar com Henry na escadaria, tinha renovado seu voto: Eu não serei como Cora.

Ajoelhou-se e pegou a filhote. Ele reclamou, devia sentir dores em todos os lugares, ela se desculpou e tentou pegá-lo da melhor maneira possível. Infelizmente, não havia como curá-lo, a doença estava muito avançada e ele era muito novo, o pobrezinho já morria antes mesmo de ter nascido.

Cuidadosamente voltou para casa, esquecendo-se completamente de olhar ao redor. Portanto, ela jamais percebeu a presença de Archie, que sorria sabiamente.

Regina sabia que o pequeno não poderia ser alimentado diretamente. Comer alguma coisa ou até mesmo beber água poderia matá-lo, então ela optou pela única opção que tinha no momento: magia.

O café tinha sido esquecido na cozinha, enquanto ela tinha ido para sua sala de estudos no segundo andar. Era lá onde estava ocorrendo sua busca por respostas ou por um jeito de trazer Snow e Emma de volta. Havia livros velhos espalhados com estranhas linguagens pelo pequeno escritório.

Regina pegou um travesseiro azul-escuro bem fofo, o cobriu com uma velha colcha bem grossa para manter o pequeno bem aquecido e o colocou no sofá ao seu lado. O velho escritório tinha uma mesa bem grande e uma cadeira também bem confortável, mas Regina, nos últimos dias, tinha optado pelo sofá de visitas em frente a uma pequena mesa. Era bem mais confortável.

O cachorro não se moveu, mas parou de reclamar. A colcha o deixava quente como ele provavelmente jamais sentira e o travesseiro era bem confortável. Ele deitava tranquilamente enquanto seus olhos cinza a acompanhavam cada movimento.

Regina encarou o pequeno ser coberto completamente pela colcha, e ele era tão pequeno que quase sumia na manta. Então, com um movimento fácil de uma das mãos, uma fumaça roxa envolveu o cachorro aliviando-o da dor e alimentando-o magicamente. Talvez assim ele tivesse mais forças para agüentar o dia.

– Não há muito que eu possa fazer. – ela começou. O silêncio às vezes incomodava. - você terá um pouco de paz, Argos.

Ele fechou os olhos, em paz. O movimento ritmando do seu pequeno corpo era a única indicação de que ele ainda vivia.

Satisfeita por enquanto, Regina continuou com a pesquisa pelos vários livros de magia. Ela iria achar um jeito de trazê-las de volta e assim, tentar consertar o resto de relacionamento que tinha com Henry.

A manhã passou rapidamente. Ela dividia sua atenção entre ler as palavras complicadas e informações sombrias, e olhar o pequeno ser que dormia e às vezes acordava e só a ficava olhando, com uma inocente adoração.

Na hora do almoço, Regina, ainda que não completamente com fome, decidiu descer e preparar algo para si, por mais bobo que fosse. Ela novamente envolveu Argos na nuvem roxa e ele novamente relaxou. Ela pegou o travesseiro com cuidado e desceu.

Na cozinha, Regina começou a preparar tudo para um prato simples. Talvez, uma simples macarronada fosse o suficiente para ela.

Argos estava acordado e deitado no travesseiro, que fora depositado no chão perto da entrada do cômodo, ficando assim longe da comida, mas perto o suficiente para não se sentir sozinho. Ele resmungou e ela o olhou.

– É triste, não é? – ela começou. O silêncio estava demais até para ela. – Ser abandonado por um defeito, não achar a tempo alguém disposto a nos salvar, muito inclinado a dor para sequer esperar ajuda.

Argos não respondeu, mas seus olhos nunca perdiam Regina de vista enquanto ela ia e voltava pela cozinha. Cantarolava uma triste melodia.

Cease the pain

Life`s just in vain

For us to gain

Nothing but all the same

Ele reclamava às vezes, mas então virava de barriga para cima e voltava a dormir. Nem mesmo a Rainha Má pôde evitar o sorriso. Havia muito tempo desde que alguma criatura ficava tão confortável na presença dela. Havia muito tempo desde que alguém não a tivesse temido.


Now let us lie

Sad we lived sad we die

Even in your pride

I never blamed you

A mother`s love

Is a sacrifice

Together sleeping

Keeping it all

Argos gostava da melodia e se a cauda balançando fosse alguma indicação, Regina acreditava que ele estava realmente feliz. Aquilo de fato a abalou e depois de lavar os pratos da macarronada, que por sinal mal conseguira comer, voltara com Argos para o segundo andar.

Entretanto, ao invés do silêncio, Regina pensava alto discutindo aquilo que ela lia no livro e olhava o pequenino na esperança de uma resposta, mas ele bocejava e voltava a dormir, confortável e seguro. Isso não a impedia completamente e no decorrer da tarde, o pequeno Argos teve aquilo que ele sempre desejou: calor, segurança, conforto e principalmente, alguém que se preocupasse, mesmo que só um pouco.

Argos não era tão silencioso quando Regina gostaria, mas naquele momento, naquela casa vazia, os latidos fracos e agudos não a incomodavam absolutamente. Mas ele estava fraco, então dormiu grande parte do dia.

No fim da tarde, Regina se pegou, de fato, brincando com o pequeno. Ele tentava fracamente morder um de seus dedos, mas seus dentes mal tinham se formado corretamente, a mordida era fraca, quase inútil. Entretanto, o pequeno não desistia e continuava mordendo. Ela deixou e surpresa, deixou escapar uma risada.

Argos parou e a olhou, depois continuou com a brincadeira, que não durou muito devido a seu corpo fraco e deformado. No meio de suas pesquisas, Regina tentou de fato curá-lo, mas não houve êxito. A magia de cura tinha seus limites e havia a possibilidade de restaurar o corpo da forma que ele era antes do machucado ou doença, mas como Argos já nascera com defeito, já nascera doente, não havia como revertê-lo a um estado antigo. Era necessário corrigir o corpo do pequeno por dentro, cada órgão, cada vaso sanguíneo, cada célula, além de trabalhoso, a magia era extremamente dolorosa. Se o problema dele fossem apenas as patas ou talvez, ele fosse mais velho, talvez ele sobrevivesse, mas pequeno do jeito que era, ele morreria de dor.

Até a magia tem seus limites.

A magia não cura tudo, nem traz os mortos de volta. Ela bem tentara.

Já escurecia quando Argos ficou bem mais quieto no travesseiro. Ele mal se mexia e ela soube que a hora já chegava. Novamente com a garganta apertava, a bruxa o tirou do travesseiro e com Argos envolto na manta, voltou para o jardim.

Argos tinha os olhos fechados e quase parecia normal, dormindo como fizera o dia inteiro. Ela sentia a vida frágil nos braços, ela sentia a vida se esvaindo. Como sentira com Daniel, com seu prezado Rocinante, com o pai.

Era um sentimento terrível.

Sleep Eden sleep

My fallen son

Slumber in peace

Cease the pain

Life`s just in vain

For us to gain

Nothing but all the same

No healing hand

For your disease

Drinking scorn like water

Cascading with my tears

Beneath the candle bed

Two saddened angels-in heaven, in death

Now let us lie

Sad we lived sad we die

Even in your pride

I never blamed you

A mother`s love

Is a sacrifice

Together sleeping

Keeping it all

No sympathy

No eternity

One light for each undeserved tear

Beneath the candle bed

Two souls with everything yet to be said


E como a música acabou, assim acabaram as batidas do coração de Argos.

Simples como o final de uma canção e tão triste como. Ela sentiu algumas lágrimas escapando dos olhos, enquanto exibia um triste sorriso.

Graças a essa pequena e frágil vida, ela começou a perceber o que devia ser feito, como começar a amar de novo. Era engraçado e irônico, como uma criaturinha tão fraca e doente conseguiria tocar a poderosa bruxa, a terrível Rainha e a intimidante prefeita facilmente. Como se fosse fácil quebrar as barreiras que ela havia erguido durante longos anos ao redor do próprio coração... Mas talvez, realmente fosse fácil, era só uma questão de querer.

Daniel conseguiu. Argos também. Será que outros também tentariam?

Ela o enterrara no jardim e usara de uma bonita pedra como lápide. Usou de magia para gravar somente um nome: “Argos” e depois voltou para a casa silenciosa e vazia. Mas o estrago já havia sido feito.

Dessa vez, estava mais decidida que nunca a recuperar o filho.

E quem sabe, quando tudo aquilo acabasse ou diminuísse, ela poderia adotar um cachorro. Assim, ela lembraria sempre como era se importar e se doar sem esperar retornos.



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Notas finais do capítulo

Obrigada pelo tempo gasto!