Sicária escrita por Probleminhas


Capítulo 2
O preço da ganância




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O sol irradiava calor e luz. O dia estava agradável e o ambiente quase uterino; Tudo parecia alheio ao meu estado de humor.

Ah, pouco me importa. Dia de conseguir dinheiro! Finalmente recuperei controle sob MEU corpo, que não é o da idiota da outra. Achei até mesmo uma ficha de áudio sob meu travesseiro. Provavelmente, é estúpida para achar que eu não veria aquele objeto explícito, incomodando sob meu travesseiro de plumas.

Gargalhei, recordando-me das palavras que a tal Laurel Hill usara. Tratara-me como uma maldita, uma ladra de corpo; Falava como um espírito estivesse a possuindo. Mal sabe ela que a proprietária desse corpo não é nenhuma de nós duas: Somos apenas ramificações de uma mesma personalidade.

O cérebro que aqui reside é doente. Ambas partes. Ainda risonha, me perguntei o que fazer. Roubar, prostituir-me, matar ou simplesmente trabalhar de garçonete naquele boteco que caia aos pedaços.

Como o outro aspecto dessa personalidade roubou o nome original deste corpo, Laurel, eu uso um pseudônimo, não estando meu nome registrado no cartório: Sou Reevee Aya. Em meu banco de dados, sou uma mestiça norte-americana, filha de uma prostituta caucasiana e um afrodescendente que era um “cliente” daquele local que caia aos pedaços.

Isso é a única coisa sobre mim na qual não tive coragem de mentir. Aquela velha porca tentou me abortar três vezes; O estúpido homem renegou totalmente minha mãe grávida. Nenhum dos dois argumentos foi aceito completamente no tribunal: Ela era uma prostituta, ele era negro. Para qual dos dois a justiça intercederia a favor? Nenhum, claro. Quem ajudaria uma puta e um preto? Esse mundo ainda é muito fechado em seus conceitos.

Fui abortada, mas não morri. Apenas faleci psicologicamente. Apenas faleceu aquilo que eu deveria chamar de sanidade. Eu sou louca; A outra é ainda mais, apesar de dizer que sou a única. Como aquela pilha de nervos chorona, hiperativa e fingida poderia ser normal? A única diferença é que eu era... não, eu sou mais astuta e bem-humorada.

Ah, chega de devaneios. Isso vai fazer minha cabeça explodir, o que definitivamente não seria uma cena muito bonita, já que um corpo belíssimo como o meu deixaria de viver. Trancei meus cabelos escuros com falsas e ásperas violetas de pano, idênticas às originais, apesar de vagamente miniaturizadas.

Afastei uma das tábuas de madeira ocre do chão. Arg, aquilo rangia. Era um ambiente inadequado para alguém como eu. Em breve, no entanto, eu compraria uma casa mais confortável e permitiria até que ela desfrutasse de um lar confortável por alguns dias, quando retornasse a esse corpo.

Ela foi estúpida demais até para ir até a delegacia e mandarem prenderem-na. Ao invés disso, gravou uma fita, fácil de quebrar e de perder. Era muito emocional, enquanto eu sou mais racional. Por que, então, parece que eu sou a vilã? Apenas tento manter um bom humor e ganhar dinheiro. Isso me faz um demônio?

Vilões, heróis. Bem e mal. Isso é algo abstrato demais para ser definido por qualquer mente humana. O mal está imerso no bem e vice-versa.

Se eu juntar dinheiro suficiente, meus luxos não se resumirão a um travesseiro de plumas e poderei até mesmo doar para instituições carentes. Realmente, sou muito boazinha.

Achava eu que conseguiria.

Puxei meu revólver do fino espaço abaixo da madeira. Não tinha certeza da “marca”, mas tinha roubado um bom calibre: .38 Special. Guardei a arma dentro do sutiã. Ok, não dava para ver. Agora tinha que escolher roupa decente e maquiagens. Enfiei uma minisaia preta e uma bata sem alças lilás, para combinar com as falsas flores em meu cabelo. Preguiçosamente, decidi que apenas esfregar pó compacto no rosto bastaria.

E assim sai de casa, alegremente até. O clima alegre da manhã me contagiara; Agora, eu também estava imersa naquela felicidade pegajosa e infantil.

Um tal de Lucca me pagara trezentos dólares apenas para matar uma dona de casa aparentemente inocente. Era o desgraçado de um ex-marido rancoroso, provavelmente. Nunca entenderei o que se passa pela cabeça dos homens. Alguns traem e esperam que tudo fique normal, mas quando são traídos tornam-se extremamente violentos e até mesmo matam suas esposas, diretamente ou não.

As mulheres também são assim. Ambos os sexos são problemáticos; Ou minha mente é hermafrodita ou ela é assexuada.

Mal saquei a arma e dois policiais gigantescos voaram em minha direção. Ergui o revólver, mirando na testa de um primeiro, e atirei. O homem caiu ao chão, berrando. Um daqueles momentos em que você não sabe se ri ou chora, sabe?

Do outro lado da esquina, vieram mais cinco. Estavam todos armados e um atirou. A bala passou de raspão pela minha barriga, proporcionando um corte leve e quase indolor e rasgando parte do tecido de minha blusa.

Merda. Aquilo tinha custado quinze dólares!

A rua estava infestada de carros, mas eu teria que arriscar. Saltei sobre o teto de um, amassando-o; Por pouco o metal não quebrou. Saltei no asfalto, os pés doloridos devido ao calor do sol e ao atrito com a estrada. Jogara minhas finas chinelas lilases na calçada de piçarra.

Cinco dólares jogados fora.

Pulei do outro lado, respirando aliviada. Os motoristas me xingavam, mas aquilo não mais me importava. Para mim, aqueles porcos agora pareciam apenas um bando de pombinhas inócuas. Rodopiei, caminhando tranquilamente (os policiais precisariam parar o trânsito para passar, afinal).

Mal atravessei o primeiro quarteirão e uma mulher de uniforme ergueu um enorme porrete e lançou-o na minha cabeça.

Laurel Hill me delatara, afinal.



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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo para o fim - E para a verdade sobre Laurel. E Reevee.



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