Esmeralda escrita por Giuliana Murakami


Capítulo 1
O Retorno


Notas iniciais do capítulo

Essa one NÃO é uma continuação de "Embuste", embora a herdeira de Arya seja tão parecida com a descrição dada por Angela.
Essa one é em homenagem a todo o Ciclo a Herança e é provavelmente a última fic que escreverei sobre a saga. Também é uma campanha contra o final do livro que deveria ter deixado explícito que Arya e Eragon se amavam e que iriam se encontrar novamente um dia.
Mas nem tudo é o que desejamos, certo?
Obrigada a CP por seu mundo maravilhoso e personagens fascinantes.
Obrigada Eragon por sua bondade,
Obrigada Arya por seu senso de dever,
Obrigada Saphira pela sua coragem,
Obrigada Roran por sua garra,
Obrigada Angela pela sua esquisitice,
Obrigada Elva por sua abnegação,
Obrigada Nasuada pela sua bravura,
Obrigada Murtagh pela esperança,
Obrigada Galbatorix por me fazer perceber que mesmo o puro mal pode ser derrotado.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/281971/chapter/1

Uma sensação prazerosa de felicidade invadiu meu corpo. Eu havia sido criada a não expôr meus sentimentos, mas era irrefutável que demonstrar  o que eu sentia era a melhor forma de aplacar a ansiedade de todos.

Iria fazer dez anos depois da partida de Eragon e, tal qual como Angela, a herbolária, prevera, ele estaria voltando nesse dia, nesse exato momento. Eu estava de fato feliz, tão imensamente feliz que todos os meus criados me pergutaram se eu estaria bem. Apenas confirmei que sim e fingi que a causa era o lindo sol que me acompanhara na hora em que acordei. Contudo, era óbvio que o motivo de minha alegria era aquele que, de forma inesperada, havia conquistado meu coração ferida pela morte de Faölin.

Todos os elfos estavam postados em frente ao palácio. Os cavaleiros escolhidos das quatro raças de Alagaësia estavam ao meu lado, fazendo-me ser seu centro. O Urgal Nugathum com seu enorme dragão macho Dorovil com escamas mais grossas que rocha, estava entediado, batendo os chifres numa árvore. Muitos elfos não haviam aprovado sua presença, mas eu tinha que ceder por Eragon, ou melhor, pelo reinado de paz que Nasuada estabelecera. Ao lado do Urgal, estava uma anã, Civilïra com seu minúsculo dragão fêmea cor de rosa shock, que causava uma intensa dor nos olhos para quem a olhasse. Ao meu lado direito, estavam Malära, filha de Nasuada e Murtagh, que por sinal se tornara um forte aliado e líder dos Magos do Reino. A garota estava com sua trança de princesa e seu dragão macho e de cor violeta, Törrem, rugia animado, balançando o rabo.Fírnen, com um olhar severo, o fez parar de se mover. Ao lado de Malära estava nada mais nada menos que outra humana, o que intrigou todos de Alagaësia, porém eu fingi ser algo conveniente, posto que a população de humanos eram os mais... "Vulneráveis". Isso também perturbou os homens do Reino, que começaram a tratar suas mulheres com mais afeto. O nome da humana era conhecido por todos, pois era sobrinha do mais podereso Cavaleiro que havia passado por Alagaësia.

-Estou ansiosa para vê-lo - sussurrou Ismira tanto oralmente como mentalmente, para mim. Olhei para a esbelta moça de cabelos lisos e ruivos e sorri, pois compartilhava do mesmo desejo. Seu dragão, Rörun quase tão vermelho cmo Thorn, estava estirado preguiçosamente no chão, bocejando.

No meio dos elfos reunidos, estavam seus pais, Roran e Katrina. A idade já havia atingido-os, mas eles não pareciam importar-se com as rugas, pois olhavam para a filha lagrimando de emoção. Angela e Solebum estavam ao lado de Elva, que havia crescido pouco durante esses anos. A criança bruxa havia pedido-me que retardasse seu envelhecimento para aproveitar melhor a inocência da infância... Inocência hipotética, claro. Nasuada e Murtagh acenavam alegres para Malära, que ruborizou com a atenção excessiva dos genitores e fingiu não perceber.

Todos estavam presentes... Menos uma pessoa. Quando o sol começou a se tornar mais forte no céu azulado, olhei para Darla, uma jovem elfa de cabeloss brancos. Ela assentiu e caminhou para o palácio, seus cabelos esvoaçando com o vento.

Confesso: meu coração batia acelerado de forma demasiada. Primeiramente, teria que retesar Eragon em suas emoções, depois tentaria retesar minhas próprias emoções. Era difícil... Quando se você é mãe!

Quando Eragon comunicou que partiria "para sempre" de Alagaësia, senti meu mundo desmoronar e mesmo o nascimento de Fírnen não aplacou a dor de meu coração.Eu já havia sofrido com a perda do meu pai, do meu companheiro Faölin, de minha mãe Islanzadí e iria perder aquele para quem confessei meu verdadeiro nome. Confessar o verdadeiro nome é como uma declaração de amor, a entrega de si próprio para alguém que guardaria você com toda a devoção possível e cabível. Ele falou o dele e eu o meu. Foi como uma troca de carícias, aquelas em que o toque não se pode sentir porque vem do âmago de seu ser.

Naquela noite, fiquei divagando sobre meus sentimentos por aquele que estava salvaguardando minha existência. Um dilúvio de emoções atingiu-me como uma explosão e eu me vi cercada de temores, saudades, arrependimentos... Pela primeira vez em muito tempo, derramei uma lágrima. Foi algo perturbador para mim, afinal raras foram as vezes em meu século de vida em que eu havia chorado. Limpei a gota de meu rosto e olhei para aquele líquido em forma de cristal... Foi então que tomei uma decisão unânime!

Antes de partir, pedi a Eragon um favor. Um favor que, provavelmente, ele não hesitaria em ceder. Levei-o até a árvore Menoa e pedi a seu espírito que reconfortasse-nos. Sentados sob suas copas e sobre suas raízes, sussurrei o nome dele... O verdadeiro e pedi que deixasse comigo uma semente, pelo menos, uma parte minúsculo de seu ser. Bobo como era, achei que não entenderia o que eu havia dito, mas surpreendeu-me ao domar meus lábios, assim como todo o meu ser naquela única e última noite que teríamos juntos. A lua estava brilhante e era apenas isso que consegui discernir.

No dia seguinte, envergonhada, deixei-o sozinho, dormindo como um coelho inofensivo. À noite, o acompanhei até o navio Talíta e me afastei, sem mais aguentar ver aquele rosto que ficaria gravado em minha memória.

Para minha felicidade e alívio, aquela noite foi o suficiente. Sim! O suficiente para gerar dentro de mim, uma outra criatura. Uma linda menina nasceu, quase careca como era típico de minha espécie. Ela tinha o formato dos lábios parecidos com os de Eragon, as orelhas pontudas, porém levemente achatadas na parte central, o que a fazia ser ainda mais bonita. As bochechas não eram angulosas como a maioria dos elfos e sim rechonchudas como a do pai. Quando abriu os olhos, uma pontinha de tristeza dominou-me ao ver que tinha olhos tão verdes como os meus. Entretanto, o brilho deles era o mesmo cintilar que Eragon possuía, o que foi uma alegria, pois os meus eram opacos como folhas maduras de árvores, já os dela eram verdadeiras esmeraldas intermitentes. Quando me viu, um sorriso formou-se em seus lábios carnudos e meu coração foi invadido por um sentimento até então desconhecido. Descobri que não conseguia parar de amar aquela pequena criatura em meus braços, como se ela fosse minha vida. Com muita emoção, permiti-me derramar mais uma lágrima lembrando o quanto minha mãe deve ter sofrido quando revoltei-me contra ela.

A lágrima caiu do meu olho esquerdo e com uma agilidade sobrenatural, a pequena pegou-a no ar e, em vez de continuar chorando, começou a rir. E eu sorri junto, aproximando-me de seu rosto e desejando sorte na língua antiga. Passei a noite alimentando-a e lhe abençoando. Como se me ouvisse, ela ficou calada, olhando-me com aqueles olhos brilhantemente perfeitos.

Olhei para a noite repleta de estrelas e imaginei como Eragon poderia reagir naquele outro mundo. Talvez ele tivesse encontrado outra pessoa, ou se apaixonado por uma das elfas que viajaram com ele... Não importava, contanto que tivesse conhecimento da nossa menina.

-Eu... Eu vou chamá-la de... - foquei minha atenção na faith que minha mãe fizera. No retrato estávamos eu e meu pai. Eu, ainda criança com o ar madura de todo elfo naquela idade.

Minha mãe!

-Islanzadí... O que acha de receber o nome de sua avó? - indaguei à nenê, que respondeu com um sorriso banguela e com covinhas. Convinhas! - Hum... Isso me lembra seu pai...

Como se fosse engraçada, ela alargou mais o sorriso. Percebi que ela seria diferente de todas as crianças elfas, não somente por ser a mistura perfeita de seres de raças distintas, mas por ter recebido dos dois, o melhor que poderíamos dar.

Islandí, durante seus míseros dez anos, deu mais trabalho que qualquer criança no mundo. A menina era um empecilho na vida de todos os humanos e elfos. Vivia correndo atrás dos rabos dos dragões, puxava os chifres dos Urgals, cortava as barbas dos anões, pulava nas costas dos soldados, atracava-se com Fírnen quando este estava distraído em seu almoço, roubava as túnicas de Nasuada para enfeitiçá-las e torná-las sem cor, fazia laços nas tranças de Malära... Enfim, a menina fazia uma baderna.

Mas ninguém, nem mesmo o mais frio Urgal, resistia à doçura e beleza da minha filha. Ela sorria e os que estavam ao redor sorriam também. Ela falava e o mundo parava para ouvir. Islanzadí era uma tremenda tentação e eu temia que quando se tornasse mais madura, fosse cortejada em demasia. Porém, eu estava habituando-a a ser como todos os elfos devem ser... Ou, como eu sou, pelo menos.

Passos ecoaram no pátio do palácio e eu vi Darla trazendo uma criança ao seu lado. Islanzadí tinha a aparência de uma criança de cinco anos, algo um pouco acelerado para minha raça, mas ela ainda tinha o sangue humano.

Minha filha quase correu para mim, mas Darla segurou-se fortemente a mão. A pele de Islanzadí brilhava pálida ao sol, suas bochechas alargavam-se pelo sorriso de dentes limpos, brancos e cintilantes, os cachos loiros caíam com delicadeza nos ombros. E os olhos verdes como esmeralda emanavam o mais terno fulgor.

No exato momento em que ela se postou ao meu lado, seu sorriso desapareceu e ela assumiu um ar madura de criança elfa, o qual me orgulhei bastante.

Então, gritos ecoaram pelo pátio movimentado e eu ergui os olhos para o céu. Avistei um lampejo de luz azul e Fírnen rugiu, elevando-se às nuvens. Juntamente com o pontinho azul, Fírnen começou a rodopiar. Aos poucos, a imagem do enorme dragão Saphira apareceu e todos se afastaram horrorizados. Os dragões grunhiram e deram passos para trás, seus cavaleiros tentando acalmá-los.

Todos nós trocamos sintonias de pensamentos, embora Saphira estivesse demasiada concentrada em Fírnen. Dela, desceu Eragon, com uma armadura de metal comum, os cabelos loiros um pouco cheios e o mesmo sorriso docemente humano de sempre. Consegui segurar-me para não correr até ele. Islanzadí apertou minha mão e em sua mente podia ver que ela notara semelhanças físicas com o pai e que havia achado-o muito bonito.

Eragon se aproximou lentamente de mim, com uma expressão que eu julgava ser de adoração. Soltei a mão de Islanzadí vagarosamente e me postei à frente do cavaleiro.

-Arya...

-Eragon - eu disse sorrindo ao ouvir a voz dele, que agora estava um pouco rouca, devido ao voo que fizera.

Nos abraçamos, sem importar com o que estava ao nosso redor. Ele sussurrou palavras carinhosas, adoçicadas e cheias de sinceridade. Maravilhei-me com seu jeito galante, que continuava acanhado como sempre,mas mesmo assim incorruptível.

-Senti sua falta - confessei, esperando não chorar na frente de toda Ellesméra.

Passamos algum tempo juntos, até que Roran o puxou para um abraço de urso e Katrina lhe tomou a cabeça para dar-lhe um beijo na testa. Nausada e Murtagh se aproximara, trazendo Ismira e Malära para apresentar o futuro tutor.

Ficamos meia hora apresentando todos os novos cavaleiros a Eragon, enquanto Fírnen e Thorn faziam o mesmo com Saphira em relação aos dragões. Quando eu estava entretida numa conversa sobre o povo bípede e irracional que vivia no outro mundo, senti um ligeiro e tímido puxão no meu vestido. Virei-me e vi Islanzadí olhando para mim com aqueles olhos inocentes e puramente belos. À minha frente, Eragon soltou um suspiro e agachou-se.

-Nunca vi crianças mais linda em toda minha existência - ele disse com um brilho nos olhos e senti-me invadida por uma alegria contagiante - Qual é o seu nome, princesa?

Islanzadí o olhou fixamente e então fez algo que me surpreendeu. Jogou-se nos braços dele e invadiu minha mente e a de Eragon, mostrando a ele tudo o que viveu, desde o seu nascimento até o momento em que o vira.Falou da curiosidade que sentia sobre ele e sobre como desejou tê-lo ao seu lado durante aqueles longos anos. Senti uma lágrima descendo de meus olhos e não consegui surportar a tristeza que dominou meu ser ao ver minha pequena falar tão abertamente sobre sentimentos que escondera de mim por tanto tempo.

Quando acabou, Eragon a olhou espantado e tinha um rio de lágrimas no rosto. Ele apertou a filha nos braços e se pôs a chorar. Envolvi o que agora eu via como minha família em um abraço, que ligava nosso elo eterno.

Fizemos uma celebração de boas vindas. Eragon se encantou tanto com a filha que mal recebia os convidados. Ficamos os três sentados numa mesa conversando, ou melhor, Islanzadí falava e eu e Eragon ouvíamos com atenção infindável. Embaixo da mesa, ele apertou minha mão com carinho.

Islanzadí insistiu em dormir conosco e acolhemos a pequena crianças no meio entre nós na cama. Quando ela dormiu, depois que Eragon e eu cantamos músicas de ninas, nós dois ficamos comunicando-nos com o pensamento sobre tudo o que passamos quando estávamos afastados.

-Sinto que não vou suportar deixá-la de novo, principalmente agora com Islanzadí aqui! - ele sussurrou indicando a garotinha.

-Idem - sussurrei - Pensaremos num jeito amanhã!

E pensamos de fato. Chegamos à conclusão de que o poder dos Eldunarí poderia guardar os ovos e os dragões com habilidade e agora que os eldunarí escravizados conseguiram retornar à sanidade, eles poderiam ajudar os antigos acrescentando suas forças. Assim, os elfos escolhidos para morar no outro mundo também ficariam protegidos e acompanhariam o crescimento dos dragões selvagens.

Isso tudo, até que Islanzadí ficasse maior e eu pudesse abdicar o trono e entregar a outrém. Poderíamos viver juntos no outro mundo, em qualquer lugar, tanto que estejamos juntos.

-Feito - disse Eragon sorrindo, depois que debateu a proposta com todos os outros líderes das raças de Alagësia.

Islanzadí riu e se atirou no colo do pai, que a agarrou e a girou no ar. Vendo-os tão unidos, fez-me sentir uma paz interior agradável e cheguei ao júbilo da felicidade.

Agora eu estava sossegada, em todos os aspectos e viveria com o propósito de fazer minha filha de olhos esmeralda ser uma excelente cavaleira, elfa e humana, pois ela era única. Única para mim, para o pai, para todos... E me daria trabalho. Sim, essa garota daria muito trabalho, não em termos de desobediência, afinal é comum na raça humana ser indisciplinado, mas em todos os aspectos.

Porém, quer ter o conhecimento para a verdadeira felicidade? Não pense no passado indesejado ou no futuro repleto de problemas, apenas VIVA o momento presente. Se eu tivesse feito isso, teria cometido muitos erros, mas esses erros seriam um aprendizado. Deveria ter aproveitado minha vida de maneira mais intensa, mas não foi o que fiz. Ah, esqueça! Vou viver minha vida... Viva a sua, um conselho de uma Cavaleira de Dragão, Matadora de Espectros e Rainha dos Elfos.

Creio que nenhum elfo recebeu tantos títulos, então siga meu conselho com sabedoria.

Atra guliä un ilian tauthr ono un atra ono waíse sköliro fra rauthr


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada a você, leitor, pela sua companhia!^^