Fim do Silêncio escrita por Milla Souza


Capítulo 14
Capítulo 13 - Jéssica


Notas iniciais do capítulo

Esse é o ultimo por hoje.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/281935/chapter/14

Lian me olhava nos olhos. Um olhar tão doce, meigo e inocente que de repente minha raiva passou e outro sentimento me tomou: afeto. Ele sabia que falando suavemente, me chamando de Jessi e me olhando com seus olhos calmos azuis, conseguiria esfriar a minha raiva. Naturalmente isso me deixaria mais irritada, era como um suborno pra minha raiva, oferecer algo que me agrade para que ela fosse embora. Mas com ele não. Com ele, eu não conseguia ficar brava. Desviei disfarçadamente meu olhar do seu e algo na porta me chamou atenção: um anjo caído.

– Preciso conversar com você. – Falou para mim. Minha reação foi olhar para Lian, que encarava o homem com um olhar que não combinava com ele. Então sua face mudou, ficou me lembrando a de um felino bravo. Quando eu menos esperava Lian já estava atacando o homem com sua espada de fogo. O homem desapareceu queimando com dor.

– Jessica – Minha mãe apareceu na porta, ficando ao lado de Lian mas nem o notou. Já entendia que ele não estava em sua forma humana. – Tudo bem? Parece assustada.

– Sim esta tudo bem. – Disse com o sorrido mais convincente que consegui.

– Cadê o Lionel?

– Lionel? – Quem é Lionel? Pensei por um instante, até lembrar que agora esse era o Lian. – Ah sim.. - Parei por um momento, tentando pensar em algo.

– Diz que eu estou no banheiro. – Mandou Lian enquanto saia em direção ao banheiro.

– Ele foi ao banheiro.

– Tá, o lanche esta pronto. - Assenti. Minha mão olhou para o lado. – Fiz um lanche para você.

Achei que ela estava falando sozinha, até ver Lian chegar como se estivesse saído do banheiro. Esperto.

– Obrigado.

Ela se retirou, deixando Lian plantado na porta. Me aproximei e notei que havia algo diferente em seu olhar, mas não comentei. Seguimos em direção à cozinha. A luz forte do sol que entrava pela janela deixava tudo amarelinho. Minha mãe tinha feito hambúrguer. Me sentei de um lado da mesa e Lian do outro. Ele abriu o lanche, pegou, cheirou e olhou com uma cara esquisita.

– Isso é um hambúrguer. A aparência pode não ser das melhores mas é uma delicia.

Mordi o meu e percebi que Lian me observava atentamente, como se estivesse aprendendo. Será que ele não sabe comer?

– Lian – Ele olhou para mim. – Você já comeu alguma vez?

– Na verdade essa é a primeira vez. Não sinto fome quando estou espiritual. – Ele olhou o lanche na mão. - Qual é o sabor de pão com grãos de gergelim, carne bovina, folhas de alface, fatias de tomate, molho de tomate, molho de mostarda e queijo?

Era estranha a forma como ele falava. Era como um cientista descrevendo a formula de um experimento.

– O sabor é sen-sa-cional!!

Ele ergueu uma das sobrancelhas e mordeu. Enquanto mastigava fazia uma expressão como se estivesse captando cada essência de sabor do lanche. De repente, vomitou tudo no prato.

– O que você esta fazendo?! - Falei com nojo da cena. Mas imaginei que talvez fosse porque ele não podia comer.

– Não sei o que fazer depois de mastigar.

Apoiei meu rosto nas mãos, completamente incrédula. O fato de eu ter paciência demais era bom para lidar com Lian.

– O que se faz depois que se mastiga? – O questionei calmamente.

– Vocês engolem.

Lancei um olhar que dizia “E então?”. Como uma criança que acabou de levar uma bronca e queria se justificar ele disse:

– Mas eu não sei engolir.

Eu queria ter um guia “Como ensinar seu anjo da guarda em forma humana a comer”. Continuei a comer tentando não olhar para o prato dele enquanto pensava no que fazer.

– Eu gostei do sabor. – Disse Lian meio tristonho.

Me sentei na cadeira ao seu lado e disse:

– Tudo bem, vou tentar te ensinar. Pega o lanche – Ele pegou. – Morde um pedacinho. – Ele mordeu e me olhou esperando mais instruções. Soltei um breve riso quando pensei no que estava fazendo. – Mastiga. – Ele começou a mastigar e então, parou. – Tenta descer garganta abaixo como se estivesse engolindo saliva. – Ele me olhou estranho e fiquei com medo dele não saber fazer isso também. Mas logo ele engoliu com uma força tremenda. – Pronto. Conseguiu.

Ele não disse nada, apenas voltou a comer. Estiquei o braço e puxei meu prato do outro lado da mesa.


Depois de comer e de levar uma bronca da minha mãe por ter esquecido o suco na geladeira, resolvemos assistir filme. Escolhi um romance. Nos ajeitamos um em cada sofá. Deitei no pequeno e Lian ficou no maior com seus 1,79 de altura, o que não fez diferença pois ele ficou sentado. Em um dia sem nada para fazer, eu o medi. Durante o filme, eu esperava que ele me fizesse milhares de perguntas sobre qualquer coisinha, mas na verdade ele ficou tão quieto, que de vez em quando eu o olhava para ver se ainda estava lá.

– Por que ele deu uma rosa pra ela? – Me perguntou Lian. Já estava demorando.

– Porque a rosa vermelha é um símbolo do amor. Quando você ama alguém, se quiser, pode dar uma rosa vermelha de presente para demonstrar o que sente.

Ele não parou de olhar para a tela e ergueu as sobrancelhas. Durante um tempo o observei, os músculos do seu rosto estavam enrijecidos e ele olhava o filme como se não quisesse perder nenhuma parte. Olhei seus cabelos que me pareciam tão macios e uma vontade enorme de cravar meus dedos em seus fios me veio. De repente, ele desviou seu olhar da tela e se mexeu com certo desconforto. Notei também que seu rosto estava começando a ficar corado. Olhei para tela onde o casal estava se beijando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ter lido até o final. Se gostou, deixe um comentario!