Anne quebrou nosso contato visual entrando novamente no quarto, e sem pensar duas vezes eu fui atrás.
Entrei no quarto e ela estava sentada em sua cama que ficava a direita da porta, eu andei até devagar para não assustá-la, percebi que Anne encarava o chão e sentei ao lado dela.
– Ei, tudo bem com você? – Ela permaneceu na mesma posição. – Eu me chamo Isabella, mas me chame de Bella, sim? – Ela olhou nos meus olhos e um leve sorriso angelical escapou dos seus lábios.
– Gosto do seu apelido, é igual o da minha princesa favorita. – Ela disse e eu não pude deixar de sorrir.
– Não quer me contar sobre você? Eu vou adorar ouvir. – Eu disse, me sentindo completamente envolvida por aquela garotinha.
– Eu não tenho muita coisa para contar.
– E seus amigos, você tem amigos? – Incentivei.
– Não tenho não. De onde eu vim não tinha muitos amiguinhos e na escola alguns riam de mim por não ter meus pais. – Ela disse tristemente. Um nó se formou em minha garganta e eu senti uma enorme vontade de abraça-la. Mas e o medo que senti dela recuar de tal ato?
– Posso te dar um abraço? Vai ficar tudo bem.
Ela levantou aquele rostinho perfeito me encarando por alguns segundos e passou os braços por minha cintura em um aperto forte. Senti meu coração acelerar e vir na boca. SENHOR, o que estava acontecendo? A abracei mais forte e peguei seu corpo pequeno colocando em meu colo, ela ficou ali em silêncio parecendo pensar.
– Isso é bom. – Ela sussurrou.
– O abraço? – Eu disse divertida.
– É sim Bella, não me lembro de quando senti um assim, você vai ser minha amiguinha, não vai? – OK, agora eu estava quase chorando porque isso quebrou meu coração. Lembrei dos meus pais que eu não via a quase um ano, eu estava em LA e eles em algum lugar sem graça de Washington
– Claro que vou Anne, é claro que vou. Vamos ser grandes amigas.
Não falamos mais nada e senti ela dormir em meus braços, eu não queria sair dali.
Depois de um tempo que não sei dizer quanto foi, a porta foi aberta brutamente e quando olhei pra trás dei de cara com Irina, ela parou por um momento e depois disse:
– Estão precisando de você para ajudar no dever de casa das crianças, deixe essa menina aí e vá agora. – OK, eu queria voar naquela cara de botox dela.
Deixei Anne na cama e a cobri com um lençol fino por conta do calor, então fui ao dever que me esperava mesmo querendo ficar.

Já era uma hora da tarde quando Irina veio de contra gosto e me dispensou, pensei em voltar para ver Anne, mas se fizesse isso poderia ficar e perder a hora da faculdade, “Alice vai me matar”, pensei comigo mesma.
Peguei meu conversível – Alice havia me dado de aniversário, até tentei recusar, mas ela começou a chorar compulsivamente e acabei aceitando – E indo direto para faculdade.
Cheguei adiantada por sinal, recebendo uma SMS de Alice para encontrar com ela e todos os meus amigos no refeitório.
– Oi coisa pequena. – Sorri olhando para Alice sentada em uma das mesas.
– AH BELLA, VOCÊ NEM SABE O QUE ACONTECEU, QUEM VAI CHEGAR AQUI, QUEM VEM MORAR EM LOS ANGELES SÓ PORQUE NÃO AGUENTA FICAR LONGE DA IRMÃZINHA, EU AINDA NÃO ACREDITO EST...
– ALICE, SE ACALMA! – Eu disse rindo e isso a irritou.
– Você não vai me irritar hoje. – Ela disse respirando fundo e voltando a se sentar.
– Agora fala.
– EDWARD CHEGA DAQUI A DOIS DIAS, ELE CHEGA NA PARTE DA MANHÃ, PEGOU DOIS CASOS EM LOS ANGELES E ENTÃO VAI FICAR POR AQUI, MAS EU VOU FAZER ELE FICAR PRA SEMPRE, ELE NÃO VAI VOLTAR, QUANDO ELE ME AVISOU EU JÁ CORRI PARA O APARTAMENTO AO LADO DO NOSSO E ALUGUEI, NÃO É DEMAIS? EU MAL POSSO ACREDITAR. ACHO QUE VOU SURTAR, BELLA! – Alice disse colocando a mão no coração.
– Sério? Acha que vai surtar? Eu achava que você já estava surtando, gritando desse jeito igual uma hiena.
– PÁRA BELLA! Que eu saiba hienas riem, e não gritam. – Dessa vez eu ri mais ainda – Mas então, diz, o que você achou?
– Eu achei ótimo Alice, é aquele bonitão das fotos, né? – Alice me olhou maliciosamente e eu senti meu rosto corar.
– NOSSA BELLA, OUVI BEM? VOCÊ ARRUMOU ALGUÉM PRA DESINTOPIR A BOCA COM A LINGUA? – Claro, era Emmett com nossos amigos. Todos gargalharam e eu abaixei a cabeça totalmente constrangida.
– Preciso ir, minha aula começa daqui a pouco. – Eu disse me levantando e indo para minha primeira aula.
– ESPERA BELLA, NÃO VAI ME CONTAR QUEM É? – Emmett gritou e eu o amaldiçoei mentalmente. Foi hora de Alice dar um grito fino novamente e começar a contar a história de seu irmão que estava chegando.

Cheguei em casa totalmente cansada. Alice, Emmett, Rosalie, Jasper, Jacob e Jane entraram comigo no apartamento.
– Bella, como você é uma cabeça dura e não quer sair com a gente, vamos fazer uma sessão cinema aqui e agora, o que acha? – Rosalie perguntou.
– Por mim tudo bem, desde que eu não presencie uma cena de sexo na minha frente. – Jacob gargalhou, a risada dele era muito gostosa.
Todos tomaram banho no apartamento, aqui tinha 5 quartos e três deles eram suítes. Aprontamo-nos e Jane disse:
– OK, meninos vão pegar os cobertores, travesseiros e tudo mais, eu e as meninas vamos levar os doces pra sala e pedir pizza, esperamos vocês lá.
Eles de imediato assentiram, Jacob reclamou de alguma coisa que não dei importância.
Alice foi pedir pizzas já que ela não queria estourar pipocas e pegar refrigerantes e copos, dissera que isso estragaria suas unhas. Sim, Alice às vezes era fresca, mas ela muito legal. Fiquei pensando em tudo o que aconteceu hoje no orfanato, a lembrança daquela menininha de cabelos e olhos claros me invadiam a cabeça sem permissão. Eu já estava sentindo falta dela.
– Posso saber por que tá pensativa desse jeito, mocinha? – Jane disse, ela era uma ótima amiga, me conhecia muito bem.
– Tão na cara assim?
– Você tá viajando legal, me conta o que aconteceu.
Suspirei e contei tudo o que aconteceu para ela enquanto preparávamos o lanche. Disse como eu sentia um afeto tão grande por Anne apenas por olhar para ela, como ela me parecia frágil e descolada do mundo, esperando que alguém a desse uma vida feliz e o quanto vi que ela precisava ser amada. Como havia uma parte dela que eu não soube decifrar, o abraço que ela me deu que eu segurei as lágrimas, o quando ela doce e adorável, e crianças falando mal e invejando a cor de seus olhos vedes.
Jane me olhou pensativa e sorriu.
– É amiga, eu nunca te vi assim, acho que você está em uma enrascada... Não bem uma enrascada, é que nunca vi você dizer assim de uma criança com um brilho nos olhos. Você nunca chegou a se dar totalmente bem com elas.
– Mas é tão diferente agora, tão diferente. – Respondi.
– Agora eu vi angustia nos seus olhos, não quero te ver assim. – Eu assenti, ela me abraçou – Vai dar tudo certo.
– Algum problema se eu disser que ouvi tudo? – Alice apareceu na cozinha.
– Claro que não coisa minúscula. – Sorri timidamente.
– Bella, você está sim numa enrascada porque meu sexto sentido não me engana, e eu sinto que você ainda tem uma longa história com essa Anne, você sabe que eu não erro, não é? – Ela sorriu vitoriosa. Concordei com o olhar. – Eu te apoio Bella, vou adorar ver você de cabelos em pé com os futuros namorados da sua “filha”. – Ela deu um sorriso de hiena, OK o sorriso de Alice não poderia ser mais perfeito, mas sabe, eu amo irritar ela. (NA: O sorriso de hiena é hilário, link no final para vocês verem, só pra simbolizar o quão grande foi o sorriso, haha).
– ALICE! Eu não vou ser mãe! – Disse olhando diretamente para ela. – Caralho, como pode pensar uma coisa dessas?
– UAU Bella, eu não disse nada demais. – Alice sorriu cinicamente, eu iria cometer um homicídio hoje. Jane riu atrás de mim, ela sabia tanto quanto eu que Alice não errava, e isso me apavorou por alguns segundos.
– Aposto em Alice. – Jane sorriu, olhei ameaçadoramente para ela que levantou as mãos como “não quero brigar”, e fala sério, Jane era tão fofa e menininha que eu tinha vontade de esmagar suas bochechas.
– ANDA TRÊS MARIAS! O FILME VAI COMEÇAR! – Jasper gritou da sala.
Chegamos na sala e os meninos tinham forrado um enorme edredom por cima do carpete, que nem precisaria ter forrado, ele era muito fofo e confortável. Por cima vários cobertores estendidos e inúmeros travesseiros jogados por todos os lados. Toda a comida e bebida estava lá.
– Cadê o Emmett? – Jacob perguntou.
Olhamos em volta e nem ele e Rosalie se encontravam.
– Eu disse que não queria presenciar senas de sexo. – Todos riram com meu comentário.
Quando Rosalie e Emmet apareceram todos nós nos jogamos em cima dos cobertores e comemos, comemos e comemos, o filme me ajudou a distrair minha cabeça sobre Anne.



Acordei com o corpo dolorido e percebi que tinha dormido na sala, aliás, todos tinhamos dormido na sala. Olhei no relógio e por incrível que pareça não acordei atrasada. 6h30.
Levantei, tomei um banho acordando todo mundo, aliás eles tinham que trabalhar, não tinham? Por meu momento de pichadora eu não tinha tempo para um emprego, então obrigava Emmett a pagar minha faculdade já que a ideia foi dele.
Liguei para meus pais mas ninguém atendeu, então deixei um recado dizendo que estava com saudades e para virem me visitar, meu pai tiraria férias no próximo mês.
Coloquei uma blusa de mangas cumpridas listrada, uma calça jeans e calcei meu belo par de all star, engoli alguma coisa pega cozinha e saí porta a fora desejando bom dia para quem ficava.
Alice me olhou estranho quando sai, mas não me preocupei, cheguei dez minutos mais cedo que o normal e assinei minha entrada, guardei minha bolsa e fui arrumar os quartos.
Para minha felicidade Anne estava lá. Entrei com um grande sorriso no rosto e ela sorriu timidamente.
– Oi linda, tudo bem?
– Tudo Bella, senti sua falta, você foi tão legal comigo. – AH MEU DEUS, ELA SENTIU MINHA FALTA.
– Eu também senti a sua, princesa. – Quando vi as palavras já tinham saído e eu estava a abraçando, ela retribuía o abraço. Ela era tão carente.
MAS PERAÍ, O QUE EU ESTAVA FAZENDO? Eu percebi abraçada ainda a ela que realmente senti sua falta, Alice estaria certa? Eu não podia fazer isso, eu tinha uma vida, isso pode até soar egoísta, mas quem teria tempo para cuidar de uma garotinha 6 anos sendo que nem trabalha e só tem tempo para a faculdade?
Pensamentos idiotas, eu estava sendo egoísta, idiota, idiota e idiota.
– Princesa? Igual você, Bella? – Fui pega de surpresa.
– Você me acha uma princesa? – Perguntei. Ela assentiu e sorriu um pouco. – Você acha ruim?
– Claro que não, você também é minha princesa. – Sorri e beijei seus cabelos, ela era linda.
Cedo demais tive que fazer meu trabalho e ajudar algumas crianças com os deveres de casa, transferência de Anne já estava quase no fim para uma escola mais perto.
Meu horário chegou e fui atrás dela, que estava no refeitório.
– Ei Anne, eu preciso ir agora. – Disse com um aperto repentino e um nó na garganta.
– Tudo bem, mas você volta não é? Sempre vai voltar?– Vi uma confusão por causa do meu silêncio e senti nos meus também.
– Eu... é... q...que eu...
Ela me olhava com um ponto de interrogação em seus olhos.
– Eu vou voltar.
– Promete Bella?- E AGORA?
– Sim, eu prometo Anne. – O QUE EU DISSE?
Ela me abraçou e senti lágrimas queimando nos meus olhos, pela milésima vez, O QUE ESTÁ ACONTECENCO COMIGO?
Fui para a faculdade tenho um dia comum, cheguei em casa e estava apenas Alice, tentando fazer alguma coisa na cozinha sem sucesso.
– Boa noite Bella.
– Boa noite. – Sorri forçado.
– Preciso fazer alguma coisa pro Edward comer, ele disse que chega hoje à noite, não mais de manhã.
– O QUÊ?
–Saudades de mim – Ela sorriu divertida. – Afinal, me ajuda porque eu não sei nem o que estou fazendo aqui.
Preparei uma lasanha com Alice, que estava muito quieta. Quando estava indo fazer meu trabalho da faculdade, um artigo de opinião, Alice me puxou meu braço.
– Agora senta aqui, vamos conversar.
– Eu sabia que não iria fugir de você por muito tempo. – Sorri sem graça.
– Bella, você não mentiu. Você acha que mentiu mas não mentiu, OK? – Alice disse tentando me reconfortar.
– ALICE, COMO VOCÊ SABE DESSAS COISAS, ME DIZ, POR FAVOR! – Eu disse me levantando bruscamente. – EU NÃO POSSO FICAR COM ELA, EU TENHO 20 ANOS, 20 ANOS, NEM COMECEI MINHA VIDA DIREITO, EU ACHO QUE A AMO, SÉRIO ALICE, MAS EU NÃO POSSO FAZER NADA, ELA É TÃO DOCE E TÃO FRÁGIL E TÃO AMAVEL, E EU TENHO VONTADE DE CUIDAR DELA, MAS EU NÃO POSSO, EU DISSE QUE VOLTARIA MAS A PARTIR DA SEMANA QUE VEM NÃO VOU VOLTAR E...
– Você vai. – Alice afirmou com uma segurança absurda.
Eu a encarei perplexa, e foi aí que o interfone tocou.
– AAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH – Fiquei olhando o pequeno surto de Alice, sim, pequeno surto sem entender, e me lembrei do tal Edward Cullen, lindo pelas fotos mas deve ser um metido, imaginei.
– Pode mandar subir, MANDA MANDA MANDA! – Alice dava piruetas perfeitas falando ao interfone, como ela não caia?
Morávamos no décimo oitavo andar, então demorou pouco mais de 5 minutos até o som do bater na porta.
Eu ainda estava com a roupa de hoje cedo, nem um banho tinha tomado demais quando cheguei. “Eca” pensei comigo mesma. E então a porta se abriu e vi Alice pendurava no pescoço de um rapaz alto. Ele estava de costas, observei rindo a loucura de Alice; acho que agiria assim se ficasse muito tempo longe de Emmett. Edward tinha cabelos cor de bronze despenteados, mesmo assim charmosos, lembrava a cor dos cabelo de sua mãe Esme, que morava a alguns minutos do meu apartamento e com certeza iria estar como Alice com sua chegada. Sua camisa polo preta definia seu corpo junto com sua caça jeans e um par de tênis que não identifiquei, então ele se virou e olhou pra mim.

DEUS, O QUE ERA AQUILO? EU SIMPLESMENTE CONGELEI.