Regina bateu na porta. Ela podia ouvir vozes dentro do apartamento, ouviu passos apressados para lá e para cá, que depois de um instante se aproximaram da porta.

–Hey. – Graham parecia surpreso ao vê-la

– Oi Regina. – Kate apareceu atrás dele – só um segundo, não estou achando meu livro de inglês – ela fez um careta. Regina apenas riu e formou um “ok” com os lábios antes de Kate desaparecer dentro de seu quarto.

Graham abriu caminho para ela, seu olhar mostrava confusão, ele tinha a camisa aberta e o cabelo bagunçado.

– O que esta acontecendo? – perguntou fechando a camisa.

– Vou levar Kate para escola. Por quê? – ela levantou uma sobrancelha e bebericou o café em sua mão.

– Nada, algum motivo para isso? – ele enrugou a testa. Seu olhar era indecifrável. – Alguma coisa a ver com ontem?

– Talvez – Regina olhou sobre o ombro dele, para o quarto de Kate – devamos conversar depois. Passo na delegacia mais tarde, – ela se aproximou dele e agarrou sua camisa, ficando a centimetros de seu rosto. – ok?

– Por favor, agora? Sério? – Kate estava parada na porta do quarto com a mochila nas costas e um olhar debochado.

Regina riu sem graça e começou a se afastar, mas ele a puxou de volta e pressionou os lábios contra os dela antes de solta-la.

– Podemos...? – Regina disse a Kate indicando a porta e saiu.

***

Fazia um dia e meio que Regina voltara com Lucy.

A garota não queria vê-la, não deixou nem mesmo que a Rainha cuidasse de seus ferimentos. Estava furiosa com ela por ter deixado Graham para tras. E Regina sabia que se algo acontecesse a com ele a garota não a perdoaria.

Ela mesma não se perdoaria.

Ela ouviu batidas na porta. Seriam noticias? Ele estava ferido? Morto? O encontraram?

Mas para seu alivio e desespero quem entrou foi seu pai.

– Acho que esta na hora de conversarmos, querida.

Ele havia voltado logo depois de partirem atrás de Lucy. Não havia falado nada sobre o que acontecera na velha mansão quando a Rainha esteve lá. Sabia que a filha estava preocupada, só a importunava para falar de Lucy. Porque ele a menina deixava se aproximar.

– Aquele caçador... Graham veio ver você na noite em que a trouxe de volta. – Henry analisava a filha – Ele disse que você falou ter visto Daniel.

–Eu... achei tê-lo visto, mas... Mas como seria possível? – Ela lhe deu um sorriso triste.

–Eu não sei querida. – havia compaixão em seu olhar – Mas aquele rapaz, pareceu preocupado com você.

Regina levantou uma sobrancelha, cética.

– Ele disse que encontrou você desmaiada em frente a uma lapide... – ele falava devagar, como se para avaliar o impacto que as palavras lhe causariam - ele perguntou quem foi Daniel. – Regina, por algum motivo, se sentiu incomodada com isso.

– E o que você disse? – Sua voz estava tremula, mas ela tentava disfarçar. A verdade era que Regina podia mentir muito bem... Mas não para ele. Ele era seu pai, a conhecia melhor do que ninguém.

– Que se você não havia contado a história para ele, minha filha, quem sou eu para contar. - Ele tocou o braço dela e começou a caminhar para a porta. - Ele pareceu realmente preocupado. – disse antes de fechar a porta atrás de si.

Regina olhava para a porta perplexa, sem saber o que pensar.

Não acreditava no que havia escutado. Por que ele se importaria? Por que ela ligava se ele se importava?

Antes que pudesse fazer qualquer coisa, a Rainha ouviu a agitação do lado de fora.

Ela correu até a janela e o que viu fez com que finalmente pudesse respirar.

Graham voltara.

Ela mandou um guarda para avisar Lucy e correu para baixo. Uma rainha não deveria correr daquela forma, mas quem ligava? Ela nunca quisera ser rainha de qualquer forma.

Quando o alcançou, o caçador subia as escadas do palácio. Ele estava ferido, mas vivo. Isso era o que importava.

Ignorando os olhares perplexos a Rainha correu para os braços do caçador.

O choque fora tanto que Graham demorou a corresponder seu abraço.

Ele sussurrou palavras de conforto no ouvido da rainha, que logo ordenou que subisse e descansasse.

Ela o curou o melhor que pode, ele fora muito ferido, mas não ficou com ele mais do que o necessário.

Tinha muito em que pensar.

***

– Hey! – Regina disse ao entrar na delegacia.

– Hey... – Sua voz estava rouca.

Quando ele virou para a prefeita que imediatamente correu na direção dele.

Ele tinha o lábio inferior cortado e o olho machucado.

– O que houve? - Ela franziu o cenho, preocupada.

– Não foi nada, apenas um desentendimento.

Regina fez uma careta que o fez rir ates de ir atrás do kit de primeiros socorros.

Então, - o xerife disse quando Regina parou na sua frente novamente. – pode falar.

– Tem essa garota – a prefeita disse. – que aparentemente esta tornando a vida de Kate um inferno. Problemas tipicamente adolescentes, honey. – Ela lhe deu um meio sorriso enquanto mexia no kit. – Ela não queria que você soubesse por que você é super protetor.

A garota em questão era a mesma que infernizava Lucy quando morava no orfanato. A grande diferença era que Lucy era forte, inabalável e feliz. Sem falar no fato de que era a protegida da Rainha; Já Kate, apesar das respostas cortantes e de se manter firme na frente dos outros... Era frágil, insegura e quebradiça.

– E eu devo deixar assim!? – Ele disse antes de afastar o rosto reclamando de dor quando Regina começou a limpar o corte em sua boca.

– Ah, por favor! – Ela segurou o queixo dele, rindo. – Seja homem e pare de reclamar. – disse voltando a limpar o corte. – Não vai ficar assim porque eu já estou resolvendo. – Sua expressão voltou a ficar séria. – Amanhã lhe digo se funcionou. Se não tiver, pode assumir.

– O que você fez?

– Só tive uma pequena conversinha com a pessoa em questão. – ela sorriu. – Em teoria, ninguém mexe com a protegida da Rain... Da prefeita. – Ela lhe deu um sorriso malicioso. – Não vai me contar o que houve?

– Tive uma briga. – Ele a puxou pela cintura, fazendo-a sentar em seu colo. – Com Lucio.

– É claro! – ela disse rindo. – Quem mais!? Pronto. – Regina largou as coisas e examinou o corte. – Onde ele esta?

– Provavelmente no hospital, com um nariz quebrado. – Ele sorriu para a prefeita, mas logo se arrependeu pela dor no canto do lábio.

– Tadinha. – Ela comprimiu os lábios. – Isso dói? – Ela encostou os lábios nos dele lentamente e ignorando a dor o xerife a beijou.

***

Regina passou o resto do dia com seus afazeres de sempre, porem sua cabeça sempre voltava para as palavras do pai, para a forma como Graham a tratou nos últimos dias. E assim foi o dia inteiro.

A noite, antes de sua criada ir embora Regina mandou que chamasse Graham.

Quando ele entrou no quarto logo viu a Rainha na sacada.

Ela virou ao ouvir seus paços e o esperou.

–Daniel foi alguém que eu amei. – ela disse assim que ele parou na sua frente. – Eu... Eu o perdi. – Sua voz começou a tremer.

“Eu entendo que nunca terá amor em sua vida por causa de mim...”

–Por causa de Snow White. – Ele disse baixinho, mais para si mesmo do que para ela.

Regina concordou com a cabeça.

–O que aconteceu? – ele levantou o queixo dela, fazendo-a olhar para ele.

Ela suspirou. Estava disposta a contar toda a história para ele, mas sabia que não seria fácil.