Aquele pequeno mar, um mar negro sem vida. Devia de ser o único mar que não tinha qualquer tipo de peixe, de animal, de planta, não havia qualquer tipo de ser vivo.

Ao pé desse mar estava uma pequena menina. Deveria de ter sete anos, estava descalça, tinha cabelo frisado e as suas vestes aparentavam ser cortinados. A menina olhou para o Mar da Solidão e não viu o seu reflexo, achou estranho, porque qualquer rio, mar ou lago mostrava a imagem da pessoa que queria ver.

“Este mar é bastante triste”, pensou. Mas será que era o mar ou a menina?

Este mar negro, imundo onde ninguém gostava de estar era o local preferido desta garota. Transmitia a mesma energia que ela.

   -Eu gosto deste mar, é bonito. – Disse para o vácuo.

Quando ela disse aquilo uma áspera voz perguntou-lhe:

   -Porque não entras dentro de mim?

   -Tenho medo. – Respondeu-lhe.

   -Se me achas bonito, porque tens medo?

   -Não sei, tenho medo que, quando entrar, nunca mais saia.

   -Só saberás se entrares.

De repente a menina começou a chorar. Estas pequenas lágrimas estavam carregadas de solidão e tristeza e nesse momento perguntou:

   -Porque é que és tão negro e porque tens esse nome?

   -Simplesmente porque nunca ninguém veio até mim.

   -A mim também me chamam a Menina Fantasma ou então A Menina da Solidão. As pessoas odeiam-me por ser como sou. Quando corro para me esconder começo a chorar.

   -És triste como eu, mais uma razão para estares comigo.

   -E para onde vou?

   -Para um lugar junto de mim.

Assim que ouviu isto a menina elevou a sua perna enrugada e sentiu

a fresca e negra água deste Mar tão solitário como ela. Andou, e andou até desaparecer.

Calma e serena a única coisa que disse foi “Obrigada por me teres feito tua”.

Assim que o Mar da Solidão ouviu isto encheu-se de paixão por este ser raro. E o mar que foi negro era agora o mar mais puro de toda esta vila. O mar que necessitou de uma vida para não estar solitário.