Speranza escrita por Bein


Capítulo 1
Perdona il mio peccato




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A taça de vinho dançava abraçada em meus dedos, preenchida por seu líquido escuro de sabor adocicado. Permitiria-me não abrir o sebo hoje, meu humor do dia não iluminaria o pó daqueles livros que caiam aos pedaços. Obviamente não poderia dizer que eram bem conservados - eu vendia tesouros antigos, relíquias da literatura.

Bebia cada gole com louvor, como se estivesse aproveitando meus últimos instantes vivo. A semana inteira estava me sentindo mais vazio que o normal. Estava calmo demais, como se não me importasse mais com nenhum ser, incluso a mim.

Assim, os momentos da noite anterior me vinham em mente outra vez. O quintal cheio de margaridas destroçado, a caixa de correio quebrada ao meio e, por fim, aquele monumento magistral de madeira reduzido às cinzas.

Não a raiva, mas a mágoa me corroeu quando vi a cena, tão profundamente que minha respiração ficou falha. Era quase que literalmente a visão do inferno.

Por quê? Por que logo a antiga casa de meu vô?

Eu tinha boas lembranças naquela casa, assim como todos que um dia conheceram o dono da mesma. Meu avô sempre convidava toda a vizinhança para comemorarmos qualquer coisa que fosse, de aniversários à desaniversários, era apenas uma desculpa para festejar. Aproveitar a companhia alheia com diversão e boa comida.

É claro que todos acharam um pouco confuso ele começar essa tradição movimentada logo após o falecimento de minha avó, mas nunca se deixaram aprofundar no assunto. Afinal, era boa demais a nova rotina para ousarem estragá-la. Todavia, tirar as fotos de sua esposa dos porta-retratos da casa com o discurso de que não combinariam com a decoração dos eventos era o principal que não me descia. Sabia eu que sentia falta de minha avó com tanto de seu coração que lhe doía olhar para suas lembranças.

Foi quando, vasculhando as cinzas do que sobrou do lugar, encontrei a única coisa que sobrou intacta: uma caixa de metal com a chave na tranca. Estava pedindo para ser aberta, então o fiz.

Havia apenas uma carta dentro e assim que reconheci a letra de meu avô, comecei a ler.

Logo após terminar, já estava aos prantos.

"Desculpe-me, Senhor. Não consigo esperar mais, cada minuto me fere. Tentei me distrair, aproveitar a liberdade que há muito tempo não quis mais, entretanto, não pude. Não há como.

Sinto sua falta, Beatrice. Cada dia, mesmo com risadas e sorrisos, uma faca insiste em não parar de rasgar meu peito sem você aqui comigo. Retirei seus retratos, nossas fotos, suas pinturas e até mesmo seu violão de vista, mas sua imagem está cravada em minha mente; e ainda mais profundamente em meu coração.

Minha amada, o doce da minha vida... se esvaiu. Correu por meus dedos de forma tão singela, escorrendo por eles como areia. Ver-te sendo tirada de mim no dia em que levaste aquela bala, aquela maldita bala perdida no mundo assim como estou agora.

Pergunto-me se foi justo para alguém, pois para nós não foi.

Por isso, Senhor, imploro. Peço-Te que mudes nosso futuro - se é que realmente existe o tempo em sua morada. Perdoe-me pelo pecado que cometerei e, por favor, deixe-me encontrá-la no céu.

Para sempre teu, Beatrice,

Walter."


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