A Sobrevivente escrita por Belle Pimenta


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Bem, como prometido, aqui está o segundo capítulo. Eu espero que vocês gostem e que comentem, mesmo que não gostem!
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Quinta que vem tem o último capítulo.
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Obrigada



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Ao passar pela porta de vidro e se ver dentro de um ambiente limpo, de paredes azuis claras, Edward se lembrou do porque detestava hospitais. Sua vida estava tão cheia de coisas feias e sombrias que ele já estava acostumado, era onde se sentia a vontade. Enquanto caminhava pelos corredores, em busca do quarto 409, sentia vontade de causar algum caos, só para perturbar aquela organização irritante. Logo que encontrou o corredor certo, ele pôde avistar, ao final, os dois policiais a postos na porta do quarto.

— Senhores. – Ele disse, enquanto lhes mostrava o distintivo.

— Oh, você é o Federal que a central disse que mandariam – Disse o oficial magrelo que parecia ter acabado de sair do Ensino Médio, admirado. Ele não sabia de ninguém mais na pequena cidade de Forks que houvesse visto um agente do FBI em pessoa.

— É, parece que eu sou! – Respondeu Edward. Os tempos em que ele era paciente e atencioso com novatos parecia ter acontecido há muitos e muitos anos atrás. — Então, qual é a situação?

— Temos duas vítimas femininas, com idades aproximadamente entre sete e vinte e oito anos. Elas foram encontradas em uma antiga armadilha para ursos... – O olhar intenso de Edward que dizia “cale a porra da boca ou morre”, fez o adolescente parar com a imitação barata de algum filme tosco que ele assistiu na televisão, em que sempre colocavam os agentes federais como idiotas soberbos de óculos escuros.

— Disso eu sei oficial, eu li o relatório. – Edward disse entre dentes, tentando controlar o impulso de socar a cara do garoto. Ele sabia que a falta de sono estava afetando em muito o seu já escasso trato social, mas naquele momento, estava pouco se fodendo para isso. Respirando fundo ele continuou: — O que quero saber é como elas estão de saúde. Se já estão em condições de colaborar com a investigação.

— A menina está bem, senhor. – Respondeu o policial mais velho e barrigudo, tomando a dianteira do colega para evitar mais confusão. — Os médicos disseram que ela já poderia estar em casa, mas, tudo indica que o único parente que ela possui é a moça que estava com ela. É claro que não podemos ter certeza, já que fomos proibidos de divulgar o assunto. Com a mulher o caso é um pouco mais complicado. Depois de quase duas semanas em coma induzido, o edema diminuiu e os médicos reduziram os medicamentos. – Edward assentia de vez em quando, para mostrar que estava acompanhando. — Ela despertou nessa madrugada e começou a fazer um escândalo. Tiveram que sedá-la novamente e prendê-la a cama para evitar que se machuque quando acordar...

— Desculpe, acho que não ouvi direito, Burt. – Disse Edward lendo o nome do policial no crachá em seu uniforme. O senhor se assustou ao ouvir o tom de voz sombrio do agente. Apesar de ser o mais velho ali, Burt estava tão assustado quanto o jovem Leo ficou ao ser encarado por aqueles olhos verdes vibrantes, que prometiam uma tempestade caso fossem contrariados. — Você disse que a possível vítima de uma tentativa de homicídio, que provavelmente foi amarrada e torturada por um doente, está agora novamente presa? – A cada palavra, os olhos e os músculos da face do agente expressavam ainda mais fúria, o que fez com que Burt e Leo se encolhessem. — Qual é o problema de vocês? São burros ou apenas incompetentes?

Antes mesmo de terminar a frase, Edward já havia empurrado os dois policiais para o lado e invadido o quarto para soltar a mulher, antes que ela acordasse e se visse novamente refém de amarras. Mas, era tarde demais. O agente encontrou a mulher deitada imóvel sobre a cama, com os cabelos compridos espalhados sobre o travesseiro e o próprio rosto, as cobertas estavam jogadas para o lado da cama deixando as pernas e a camisola desorganizada à mostra. O único sinal de que ela estava acordada eram as grossas lágrimas silenciosas que escorriam e molhavam a pele do pescoço e o tecido da fronha, além dos espasmos do corpo dela.

Edward avançou alguns passos e cobriu o corpo vulnerável maculado por hematomas com o pesado cobertor. Ele não pôde deixar de notar que a mulher se encolheu assustada com os seus movimentos. Era óbvio. Ele não sabia exatamente pelo que ela havia passado, mas, se sua investigação e intuição estivessem corretas, podia deduzir muito bem.

— Olá, meu nome é Edward Cullen e eu sou um agente do FBI. – Os policiais de Forks que, curiosos espiavam através da porta aberta, se entreolharam ao notarem o quanto a voz e a expressão daquele duro agente estava serena e gentil agora, parecia algo estranho a ele. — Lamento que você esteja presa a essa cama, se me permitir, vou soltá-la agora, mas você terá que se manter calma, caso contrário, os médicos virão sedá-la e nem eu tenho jurisdição sobre isso. Tudo bem? – A mulher nem ao menos se moveu, nem um sinal de que havia escutado, mas Edward preferiu arriscar-se. Ele precisava da sua confiança.

Aproximando-se, ele levantou a coberta na altura das pernas dela, somente o suficiente para desafivelar as amarras, evitando qualquer tipo de contato com a pele dela. Ao terminar os membros inferiores, passou para os pulsos, tomando o cuidado de ser gentil o suficiente para não assustá-la. Enquanto a libertava, ele percebeu que ela ainda tinha marcas amareladas ao invés das roxas nos pulsos e nos tornozelos quase duas semanas depois das fotos que ele recebeu terem sido tiradas. Edward sentiu novamente aquela onda de ódio pelos dois policiais crescer e fulminou-os com o olhar. Caminhando em direção à porta, os dois se afastaram achando, de verdade, que ele os mataria, entretanto, Edward apenas a bateu na cara deles.

Virando-se novamente para a mulher, ele notou que ela nem ao menos se mexera, mesmo estando livre agora. Ele buscou o rosto dela, procurando sinais de que estivesse em choque, mas os cabelos escuros molhados pelas lágrimas tampavam toda a sua visão. Apesar da vontade, ele não foi até lá para afastá-los, achava que isso seria demais para a morena.

Afastando os olhos dela, Edward, se sentiu novamente desconfortável no ambiente hospitalar. Agora que a raiva pelos oficiais havia passado, ele não sabia o que deveria fazer. Estava acostumado a lidar com a parte fácil do trabalho. Dar uns pontapés em alguns caras em busca de informações, enfrentar um bando de bandidos armados com apenas uma semiautomática e nenhum apoio. Isso era fácil! Mas, lidar com uma mulher bonita vulnerável? Isso o apavorava, mesmo que ele jamais viesse a admitir.

Colocando as mãos nos bolsos da calça jeans, Edward pensou que estava em uma situação difícil. Talvez estivesse diante da única sobrevivente de Replay, um assassino em série que o agente caçava há bons cinco anos. Para dizer bem a verdade, Edward não sabia se era o caçador ou a caça nesse caso. O assassino era chamado assim, pois gostava de recriar assassinatos ao qual Edward fora o encarregado de resolver. Após um assassinato, Replay sempre ficava uns seis meses sem aparecer, o que lhe dava uma média de duas mortes por ano, em cinco anos, dez assassinatos foram cometidos com a marca dele. Entretanto, Edward sabia que o assassino estava alcançando o seu objetivo, seja ele qual fosse, se aquela mulher e a menina estivessem envolvidas no assassinato do homem encontrado desfigurado num celeiro há 1,5 km de onde elas foram encontradas.

Se tudo estivesse realmente interligado, aquele, de todos os outros assassinatos já resolvidos por ele e repetidos pelo serial-killer, seria o que mais abalaria Edward, o que bagunçaria sua cabeça e arruinaria seu autocontrole já escasso. Um movimento na cama a sua frente, fez Edward ficar em alerta e erguer a cabeça. A mulher levantou o corpo, tirou o emaranhado de cabelos escuros do rosto e tentou enxugá-lo o melhor que pôde. Ao levantá-lo e fitar o agente com aqueles olhos profundos vermelhos e inchados, Edward se perguntou há quanto tempo ela estava chorando.

— Onde está Claire? Ela está... Viva? – Ela perguntou com voz fraca e rouca, depois de muito tempo de desuso, enquanto esfregava os pulsos doloridos. Seus olhos repletos de lágrimas não derramadas. Ela estava tentando se manter forte e Edward a admirava por isso.

— Claire é o nome da menina que estava com você? – Ela assentiu. — Sim, ela está viva. Pra dizer a verdade, ela está muito bem de saúde, só está bastante assustada, pelo que eu soube. Foi graças a ela que a polícia encontrou vocês, parece que a menina tem uma boa garganta. – Ele sorriu, tentando esconder o nervosismo e descontrair o ambiente. Ela se manteve impassível.

— Então, você não a viu? – Ela estreitou os olhos e Edward percebeu que aquele momento definiria se ele era ou não confiável.

— Não, não a vi. Cheguei de Washington D.C (1.) menos de meia-hora atrás e vim direto ao seu quarto. – Ele fez uma pausa, pesando bem as palavras. — Sei que o que vou dizer é horrível e, acredite, lamento por isso, mas você é a minha prioridade. A menina está em choque e, pelo que fui informado por telefone pela psicóloga infantil, não tem nada a revelar de relevante para a investigação. – Os olhos se estreitaram ainda mais, tornando-se duas fendas e os músculos da face dela se contraíram, Edward sabia que estava em terreno perigoso, mas decidiu que era melhor ser sincero. — Não estou dizendo que ela não seja importante, ou que não me importo com o seu bem-estar. Na verdade, justamente por me importar, é que acredito que o melhor para ela seja não ter um homem como eu lhe rondando e fazendo perguntas que ela não saberá responder.

A expressão de raiva no rosto dela caiu ao perceber a verdade contida naquelas palavras.

— Agora que já resolvemos isso, será que podemos partir para alguns outros esclarecimentos? Sei que é muita pressão em pouco tempo, afinal, você acabou de acordar, mas, não sei se já lhe informaram, faz quase duas semanas que vocês duas foram encontradas. – Os olhos arregalados dela diziam a ele que ela não sabia. — Então, qual o seu nome e a sua idade?

— Bella Swan, quer dizer, Isabella Marie Swan. – Disse ela, após alguns segundos pensando. Sua cabeça ainda estava confusa. — E tenho 26 anos.

— Certo, Bella. – Ele fez questão de usar o apelido que ela parecia gostar. — Que tal me falar um pouco de você, da Claire e das últimas coisas de que lembra antes de acordar aqui? – Ela demorou algum tempo para decidir se deveria ou não contar tudo a ele.

— Eu sou professora de literatura inglesa no ensino médio e estou terminando o mestrado, moro em Seatle. – Ela disse por fim. — Claire é minha enteada. — Continuou com voz embargada e olhos brilhantes pelas lágrimas. — O pai dela, Jacob Black, e eu éramos noivos.

— Jacob Black o psiquiatra? Aquele famoso por suas teses sobre psicopatas e transtornos pós-traumático? – Ela assentiu com a cabeça diante da admiração de Edward pelo trabalho do noivo. — Eram noivos? Como assim eram? – Ele perguntou, já imaginando a resposta.

O corpo encontrado no celeiro, apesar de desfigurado, parecia se encaixar nas características físicas do famoso psiquiatra, alto, moreno, compleição atlética. Edward conhecia o suficiente da aparência do homem, pois era grande admirador de seus estudos. Tinha todos os livros que ele publicou e tentou, mais de uma vez, conversar com o médico na esperança de que ele o ajudasse a entrar na mente doentia de Replay. Mas, tudo o que conseguiu foram e-mails atenciosos respondendo às suas perguntas, nunca um encontro.

— Jake está morto. – Ela disse, enquanto as grossas lágrimas escorriam pelas bochechas. — Quer dizer, tenho quase certeza de que ele está morto. – Soluçou.

— Senhorita Swan, porque não me conta exatamente o que aconteceu? – Ele se aproximou, se sentando na cadeira ao lado da cama hospitalar, tentando, assim, parecer menor e menos intimidador.

— Nós fomos ao cinema. – Ela começou. — Você disse que estou aqui há quase duas semanas? – Ele assentiu. Ela fitou a parede a sua frente e seus olhos se tornaram distantes — Na sexta-feira, dia seis de abril, eu, Claire e Jake fomos ver um filme no centro de Seatle. – Ela franzia a testa, se esforçando para ultrapassar as barreiras nebulosas de suas memórias. — Saímos depois de vinte e três minutos de filme – Ela deu um pequeno sorriso, como se a lembrança fosse boa. — Eles não são fãs de filmes alternativos – Edward perguntou-se quem era.

“Decidimos que jantaríamos pizza, caminhamos em direção ao carro, estacionado na esquina e... Bem, depois disso só me lembro de acordar em uma espécie de celeiro abandonado. – A expressão tornou-se sombria na medida em que as lembranças também obscureceram. — Um barulho me acordou, mas, eu ainda estava muito grogue, então fiquei na mesma posição. Depois de algum tempo, ergui a cabeça e olhei ao redor. Claire estava inconsciente perto de mim e Jake... Ele estava sendo surrado dentro de uma das baias. – Lágrimas grossas transbordaram de seus olhos. — Quando os socos pararam, eu fingi que ainda estava inconsciente. Ouvi a voz de Jake antes mesmo de sentir as mãos dele em cima de mim. Jake o ameaçou, xingou, mas ele apenas riu. — Ela tremia e chorava, e Edward sentiu uma necessidade absurda e desconcertante de abraçá-la. — Como eu não me mexi, acho que ele desistiu e saiu do celeiro. Jake estava... Oh, meu Deus, me desculpe. – Ela ergueu as pernas, abraçando-as e apoiando a cabeça nos joelhos, enquanto chorava histericamente. — Desculpe, mas não posso continuar, não quero me lembrar. – Ela se balançava, tentando consolar a si mesma.”

— Tudo bem, Bella. Acalme-se! Lamento ter que fazê-la passar por isso, mas, se esperarmos demais, o homem que fez isso com você ficará livre. – Ela ainda continuava na mesma posição. Ele resolveu apelar, mesmo sabendo que isso a destruiria, mas ele não tinha tempo a perder, na verdade, nem ela. Caso Replay descobrisse que ela ainda estava viva, voltaria para terminar o serviço, se é que ele já não sabia. — Bella, se você não me contar o que aconteceu, o homem que ameaçou a Claire e matou o seu noivo ficará impune. – Edward conseguiu uma reação antes mesmo de terminar a frase.


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Notas finais do capítulo

1. A capital dos Estados Unidos, Washington, Distrito de Columbia não deve ser confundida com o estado, onde fica localizada a cidade de Forks. Por isso, no país, Washington, o estado, é frequentemente chamado de estado de Washington, enquanto Washington, a capital nacional, é chamada de D.C. (abreviação de Distrito de Colúmbia).



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