Nem Todo Mundo Odeia O Chris - 2ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 8
Todo Mundo Odeia o Feriado


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, mas o tamanho do capítulo compensa, né?
O maior de TODOS!!!!
Aproveitem!!!!!!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/281014/chapter/8

POV. CHRIS (Brooklin – 1984)

                O feriado de Ações de Graças era o meu preferido porque eu não fazia NADA. Explicitamente NADA. Quem organizava tudo era minha mãe e o resto de nós só fazia comer e dormir. Mas pra acabar com a nossa alegria, minha mãe queria que cada um fizesse alguma coisa nesse feriado. Meu pai ficou com o peru, o Drew com o pão, a Tonya com o molho – o que significa que ela só ia abrir a lata e despejar na travessa – e eu...

                “Chris, quero que faça o macarrão com queijo.” O QUÊ??? Por que eu??? Eu gosto de viver!

                “Mãe, eu não sei fazer e não quero estragar tudo. O tio Louis vem pra cá.”

                “É só você seguir a receita e tudo vai dar certo.” Tive uma leve impressão que por causa disso ia dar tudo errado.

                Na escola, o Greg e a Lizzy já tinham planos pro feriado.

                “Meu pai vai me levar pra passar o feriado com a minha avó.” Pela cara azeda dele, não devia ser nada legal.

                “O que tem de mais nisso?” Ele me olhou e fez uma careta.

                “Nada, a não ser música de escoteiro e aulas de dar nó em cordas o final de semana inteiro.” Olhei pra ele com cara de ‘meus pêsames’.

                “Boa sorte. E você, Lizzy?”

                “Meu feriado tá meio indefinido ainda. Não sei se meus pais vão querer ir pra casa da minha irmã ou se ela vem pra cá com o David.”

                “Ah tá. Mas nenhum de vocês tá mais ferrado do que eu.”

                “Por quê?” Lizzy.

                “Vou ter que fazer macarrão com queijo pro jantar.” Foi a vez do Greg me fazer cara de ‘meus pêsames’.

                “Cara, se você errar a receita, você tá ferrado.”

                “Eu sei, mas eu não posso fazer nada. Minha mãe praticamente me intimou a fazer. Ela não quer trabalhar sozinha nesse feriado.”

                “Se precisar de ajuda, eu moro ao lado.” Olhei pra ela desconfiado.

                “Sabe cozinhar?”

                “Se precisar da minha ajuda, vai descobrir.” Ela sorriu e a gente foi pra sala.

                Como se já não bastasse eu estar bem ferrado por causa da receita, a Srta. Morello resolveu nos dar algo de presente.

                “Turma, eu resolvi que vocês terão uma tarefa no feriado.”

                “Mas é feriado.” Lizzy.

                “Por isso mesmo.” Ouvi ela bufar atrás de mim. “Nesse feriado você vão ter que fazer uma redação sobre a essência da Ação de Graças.”

                “Como assim?” Eu.

                “É simples.” Não, não é não. “Eu quero que vocês conversem com seus parentes e amigos e descubram pelo quê eles são gratos nessa Ação de Graças. Depois escrevam a redação, concluindo com pelo quê vocês são gratos nesse feriado.” Senti a Lizzy se inclinar pra frente e sussurrar no meu ouvido.

                “Eu seria grata por não ter dever de casa.” Eu ri. “Essa mulher é louca.” Assenti e mesmo sem ver seu rosto, soube que ela sorria.

                Eu já sabia que o dia seguinte seria estranho, mas não tão estranho quanto realmente foi. Acordei com o barulho de um apito e meu pai gritando pela casa, mandando a gente acordar. Eram cinco da manhã. CINCO DA MANHÃ! Pelo menos minha mãe traduziu em palavras o que a gente não falava com medo de levar uma bifa.

                “Que loucura é essa, Jullius?”

                “É pra organizar o jantar. Está tudo cronometrado e eu preciso da ajuda de vocês.”

                “São cinco da manhã!”

                “Eu sei. Mas é o horário certo.” Rolei os olhos e bocejei. Quando meu pai tava obcecado com alguma coisa daquele jeito, nada fazia ele parar. Então era melhor obedecer e pensar em um horário pra dormir depois.

                Meu pai queria impressionar o tio Louis. Ele tinha essa mania de querer ser melhor que ele em tudo. Todo mundo sabia, mas a gente fingia que não ligava e deixava ele à vontade. Mas esse ‘à vontade’ pra ele era completamente desconfortável pra gente. Ele parecia técnico de seleção em época de Copa do Mundo. Chegava até a ser meio psicótico, mas eu deixei pra lá.

                Depois de cozinhar cinco horas seguidas eu dei uma paradinha. A recompensa era boa. Meu macarrão com queijo tava tão bom que dava vontade de comer cru. Coloquei no forno e me deitei pra descansar, afinal, tava todo mundo fazendo isso. Minha intenção não era dormir, mas eu tava morrendo de sono por ter acordado muito cedo que acabei cochilando. Na boa? Esqueci total do macarrão com queijo, mas uma coisa me acordou. O cheiro de queimado. MALDIÇÃO!

                Quando eu tirei do forno, ele tava mais preto do que eu. Sacanagem! Eu fiz tudo direito e acontece isso! Deixei o queimado em cima da pia e subi pro quarto. Minha rara sorte é que ninguém tinha acordado com o cheiro. Me joguei na cama e resmunguei. Mas minha salvação tava de plantão e eu nem sabia.

                “Chris?” A voz dela veio do buraco.

                “Oi, Lizzy.” Falei desanimado.

                “O que foi?”

                “Eu sabia que ia dar errado.”

                “O quê?”

                “O macarrão com queijo queimou.” Ela fez uma pausa.

                “Você deixou tempo demais no forno?” Fiquei sem graça de admitir.

                “Eu dormi.” Ela riu levemente.

                “E eu sei por quê.”

                “Como?”

                “Também fui acordada por um barulho de apito.” Depois de alguns segundos eu entendi.

                “Ah. Desculpa por isso.”

                “Não precisa. Mas o que você vai fazer agora?”

                “Não sei. Ação de Graças sem macarrão com queijo não é Ação de Graças; e não tem como eu conseguir mais assim, em cima da hora. São...” olhei o relógio “... 13:45h. Sem chance.” Ela não respondeu. “Lizzy? Tá ai?”

                “To. Tava pensando. Eu tenho os ingredientes.”

                “Sério?” Ela era a luz da minha esperança.

                “Sério. Eu vou aí e te ajudo a fazer.” Quando eu pensei que ia dar certo, encontrei outro problema...

                “Ah, droga!”

                “O quê?”

                “O forno aqui vai ficar ocupado com o peru. E vai demorar pelo menos cinco horas.” Ela não pareceu se preocupar.

                “Ok. Vem pra cá, então.” Me assustei.

                “Como é? Ir aí? Mas e os seus pais?”

                “Eles estão dormindo faz tempo. Eu tava cochilando aqui quando te ouvir resmungar.”

                “Então sua irmã vem?”

                “É. Mas é só mais tarde. Vem logo.” Sorri.

                “Tá. To indo.”

                Não acordei ninguém nem disse pra ninguém aonde eu tinha ido. Eles iam descobrir logo ou adivinhar, talvez. Saí rápido de casa e entrei no 604. Subi as escadas e ela me esperava na sala.

                “Só não pode falar alto nem fazer barulho.” Fiz um gesto de silêncio e segui ela pra cozinha.

                “Droga. Esqueci a receita.” Ela rolou os olhos e sorriu.

                “Eu sei de cor. Agora você vai me ajudar. Abre a geladeira e pega o queijo.”

POV. LIZZY

                Ele ajudou em tudo direitinho. Fiquei chocada. Ele sabia cozinhar bem. Tive a sorte de meus pais não acordarem enquanto a gente fazia a receita. Depois colocamos no forno e subimos pro meu quarto. Ele escutou pelo buraco na parede e ouviu alguns barulhos, mas nada que indicasse que tavam procurando ele.

                “Eles podem ficar preocupados, Chris.”

                “Ficam não. Eles vão pensar que eu saí pra comprar mais. E se pensarem que eu sumi, o primeiro lugar pra onde vão ligar é pra cá.” Pensei um pouco e ele tinha razão. Sentei na cama e ele sentou perto de mim.  “Você já começou a redação?” Neguei.

                “Que nada. Vou esperar a Cibele chegar pra ela me ajudar. Ela sempre tem ideias ótimas.”

                “Deve ser de família.” Corei com o elogio e acabei notando que isso tava ficando frequente. “Eu ainda não perguntei pra ninguém também. Vou esperar até estar todo mundo reunido, assim pergunto de uma vez só. Mas eu já sei pelo o quê eu sou grato.”

                “Pelo quê?” Ele negou com a cabeça.

                “Não vou contar. É surpresa.” Olhei pra ele, sem acreditar.

                “Vai esconder alguma coisa de mim?”

                “Não é esconder, é adiar a revelação. É diferente.” Eu ri.

                “Até parece, cara de pau.” Nós rimos.

                “Ei... ah, não dá.”

                “O quê?” Ele fez uma careta de desgosto.

                “Ia te chamar pra jantar lá em casa, mas sua irmã vem.” Baixei os olhos, concordando, mas logo olhei pra ele.

                “Posso passar lá mais tarde, só pra falar com todo mundo.”

                “Vai ter gente que você não conhece.” Fiquei curiosa.

                “Quem?”

                “Meu tio Louis. Se você fosse jantar lá em casa, ia ver como é hilário.”

                “Por quê?”

                “Lembra daqueles acessos de inveja que eu tinha do Drew?”

                “Sei.”

                “Imagina aquilo é um grau extremo.”

                “Uau!”

                “É o meu pai com o meu tio. Ele é quiroprático e agrada todo mundo. Meu pai sempre quis ser como ele ou melhor que ele, eu não sei. A gente deixa ele com as crises dele, mas é hilário de assistir.”

                “Imagino.”

                A gente ficou conversando até a receita ficar pronta. As coisas que ele contava que o pai dele já tinha feito por causa dessa competição com o irmão eram muito sem noção. Conversamos até eu ouvir o som do temporizador do forno. Descemos e fomos olhar como tinha ficado a receita. Quando abri o forno, o cheiro que saiu de lá quase me fez desmaiar; e pela cara que o Chris fez, ele comeria a travessa inteira sozinho.

                “Droga! Eu tenho mesmo que levar pra lá? A gente podia comer aqui!” Dei uma gargalhada.

                “Cara de pau! É claro que tem que levar, bobo. Mas que tá dando vontade de comer, tá.”

                “E como tá.” Levei a travessa pra sala de jantar e coloquei na mesa.

                “Tem que esfriar um pouco pra você poder levar. O que me lembra que eu tenho que fazer a sobremesa.” Ele me olhou, curioso.

                “O que vai fazer?”

                “Mousse de chocolate.” Ele soltou um gemido de frustração.

                “Isso! Faz inveja!”

                “Vai me ajudar?”

                “Claro. Assim eu tenho chance de comer um pouco.” Rimos. “Do que precisa?”

                “Que você vá lá no Doc’s pra mim.”

                “Pra comprar...?” E uma ideia se formou em minha mente...

                “Duas barras de chocolate e duas latas de leite condensado. O resto eu tenho aqui.”

                “Ok. Volto já.”

                “Espera! Eu tenho que te dar o...”

                “Lizzy, é por minha conta. É o mínimo que eu posso fazer.” Tentei reclamar. Ele não me deve nada; eu fiz porque eu quis ajudá-lo.

                “Mas...”

                “Sem ‘mas’, por favor?” Assenti e ele sorriu.

                “Volto já.” Ela saiu e eu escutei ele descer as escadas e ouvi a porta de baixo bater. Balancei a cabeça e suspirei. Esse garoto...

                Ia começar a separar as coisas da receita quando escuto a voz do meu pai.

                “Lizzy...” Subi as escadas e encontrei ele na porta do quarto.

                “O que foi, pai?”

                “Escutei vozes e ouvi a porta bater. Quem era?” Pensei em mentir, mas... Qual é?! Era o meu pai, e não minha mãe. E ele gosta do Chris.

                “Era o Chris. Eu pedi um favor pra ele.”

                “O quê?”

                “Ir no Doc’s comprar as coisas pra sobremesa.”

                “Ah tá. Mas alguma coisa?” Ele me olhava com aquela cara que nenhum filho quer ver no pai: eu sei que você tá me escondendo alguma coisa. Suspirei de frustração e acabei contando o episódio do macarrão com queijo.

               “Mas não conta pra mãe.” Ele fez cara de calúnia fingida.

                   “E quando eu contei?” Eu ri.

                “Tudo bem.” Ouvimos a porta de baixo abrir e fechar. “Ei, pra todos os efeitos você ainda tá dormindo.” Ele fingiu espanto, correu pra dentro do quarto e fechou a porta. Meu pai é uma comédia. Às vezes parece que quem tem 15 anos é ele.

                Desci as escadas e encontrei o Chris na cozinha.

                “Já ia te procurar. Tá aqui; trouxe o que você pediu.”

          “Valeu, mas seu serviço ainda não acabou. Me ajuda aqui.”

                Foi rápido; a sobremesa nem era difícil de fazer. Depois que terminamos, foi só colocar em uma travessa e pôr no congelador. Mas nessa da gente dar uma de mestre cuca o Chris perdeu a hora. Só foi notar o quanto tava tarde quando percebeu que tava ficando escuro pela janela da sala.

                “Que horas são?”

                “Quase seis.” Ele levantou do sofá e eu também.

                “Tenho que ir pra casa. A mãe já deve tá ficando louca.”

                “É mesmo, mas se a gente não ouviu o grito dela até agora, deve estar limpeza.” Ele riu.

                “Mas isso nem sempre é um bom sinal.” Ele chegou mais perto e segurou minha mão. “Valeu. Me salvou de novo.” Olhei pro chão, com vergonha. Ainda não tinha me acostumado com as coisas que ele fazia, e algo me dizia que nunca ia me acostumar.

                “Que nada. Fez a mesma coisa por mim.”

                “Era o mínimo...” Levantei os olhos, um pouco irritada.

                “Chris, para de falar isso. Não é como se você me devesse alguma coisa. Eu faço por que você é meu melhor amigo.” Ele me deu o sorriso de lado que ultimamente me fazia suspirar.

                “Mesmo assim. Obrigado.” Ele chegou mais perto e beijou meu rosto. Fechei os olhos e senti uma vontade enorme de abraçá-lo, mas me controlei. Ele se afastou e sorriu. “Não esquece de passar lá em casa depois.”

                “Ok. Não esquece a travessa.”

                “Tá bom.”

POV. CHRIS

                Melhor tarde que eu tive em séculos; principalmente depois de acordar cinco da manhã e queimar o prato mais importante do jantar. Mas voltando a realidade; quando cheguei em casa, a sala tava lotada. Minha mãe tinha chamado muita gente pro jantar, tomando a vantagem de que era meu pai quem tava cozinhando. Entrei e falei com todo mundo; o Doc, o tio Michael (vulgo: vagabundo), o tio Louis, a Wanessa, o Sr. Omar e a... bem, eu não sei o que ela é dele, só sei que é viúva. Com o Sr. Omar essa é a única certeza que a gente pode ter. Minha mãe deve ter ouvido minha voz porque ela apareceu na porta lateral com um olhar de ‘vem cá agora ou eu te mato’. Fui lá esperando levar uns bons gritos, mas minha mãe não gostava de dar escândalo na frente dos outros então...

                “Você tava na Lizzy?” Assenti. Dava pra ver a força que ela tava fazendo pra não me dar uns tapas. “Fiquei preocupada. Seu pai viu que você queimou o macarrão com queijo.”

                “Fui atrás de mais.” E mostrei a travessa pra ela. A cara de surpresa dela foi ótima.

                “Onde conseguiu isso no dia de Ação de Graças?”

                “Lizzy.” Ela não conseguiu evitar um sorriso.

                “Ok. Leva isso pro seu pai na cozinha. E nunca mais faça isso, ou eu arranco seu nariz e vendo no mercado negro.” Assenti e levei a travessa pra cozinha, mas meu pai não tava lá. Acabei tendo uma ideia muito legal e pus ela em prática antes que ele voltasse.

                O jantar foi legal. As comédias do meu tio Louis, as histórias do Sr. Omar e as besteiras do tio Michael. Mas o mais legal foi que, por eu ter emprego, sentei na mesa dos adultos. Me senti quase maior de idade na hora. Depois do jantar, todos foram pra sala e eu resolvi pedir a ajuda de todo mundo pro meu trabalho.

                “Pessoal, eu tenho um dever de feriado pra fazer. Minha professora quer que eu pergunte pelo quê vocês são gratos no dia de Ação de Graças.” O primeiro foi o Doc.

                “Sou grato por não ter que trabalhar pra ninguém. Tenho meu próprio negócio.” Depois o tio Louis. Por algum motivo ele e o meu pai tinha ficado bem um com o outro de uma hora pra outra. Vai entender.

                “Eu sou grato por ter o irmão mais velho mais legal do mundo.” Ah, agora eu entendi... Depois a mãe...

                “Eu sou grata por não precisar de trabalho porque meu marido tem DOIS empregos.” Eu acho que podia adivinhar essa. Depois meu pai...

                “Eu sou grato por meu filho ter emprego.” O quê?!! Pensei que ele ia dizer que era grato pelo preço da gasolina ter baixado dez centavos. Tio Michael...

                “Sou grato por...”

                “Você eu já sei, tio Michael. É grato por não ter que trabalhar.” Todo mundo riu.

                “Então, meu filho, conseguiu o que precisava.”

                “Consegui. Agora tenho que fazer a redação. Fui.” Subi pro meu quarto.

                Passei mais ou menos duas horas escrevendo, mas acho que ficou legal. A parte que achei que ia ser a mais difícil – pelo quê eu era grato – acabou sendo a mais fácil. Quando terminei, fiquei relendo só aquela parte...

                “Da minha parte, sou grato pela minha família, e por tudo o que eu consegui até hoje. Mas eu sou mais grato apenas por uma pessoa. Essa pessoa que fica sempre comigo; que me enche o saco, mas também me ajuda; que um sorriso dela vale o meu dia inteiro. Ela que é sempre responsável e me obriga a ser também. Sem ela, eu seria o ser humano mais azarado do planeta. Eu não sei se ela é grata por mim, mas eu devo muito a ela. Eu sei que ela odeia que eu fale isso, mas sempre vai ser assim. Porque a minha gratidão é a menor das coisas que eu sinto por ela.”

                Eu sabia que eu ia ter que ler isso pra sala inteira na segunda feira, mas eu não me importei. Eu ia ler pra ela, e era só isso o que importava. Mas pensar nela me fez lembrar que ela não tinha aparecido. Escutei pelo buraco da parede e tava tudo em silêncio. Só então olhei pro relógio e vi que eram 22:50h. Estranhei o Drew não ter vindo dormir, mas percebi que tava silêncio lá em casa também. Levantei e andei pela casa. Meus pais já estavam dormindo, a Tonya dormia no quarto dela e desci pra ver o Drew dormindo no sofá com a TV ligada. Percebi a oportunidade perfeita. Eu não ia deixar passar.

                Fui na cozinha, abri o forno e peguei uma coisa que eu tinha guardado lá. Saí lá de casa rezando pra porta do 604 estar aberta. Por sorte – não sei de quem; minha é que não foi – tava aberta. Subi bem devagar e fui na direção do quarto dela. Eu senti um frio na barriga muito grande. Se alguém além dela me visse, eu tava muito ferrado. Passei pelo quarto dos pais dela e ouvi o Sr. Jackson ressonar. Respirei fundo de alívio. Cheguei na porta do quarto dela e, devagar, girei a maçaneta. Pra minha surpresa a luz tava acesa e ela tava sentada na cama, lendo. A cara de susto dela foi hilária.

                “Chris?” Mas logo depois o sorriso apareceu. “Maluco! O que tá fazendo aqui?” Ela falava baixo e eu imitei.

                “Você não foi lá em casa, então eu vim aqui.”

                “A essa hora?” Será que eu to incomodando?

                “Se quiser eu vou embora.”

                “Não! Só fiquei surpresa.” Ela levantou e veio na minha direção; então eu notei COMO ela tava vestida. O frio na minha barriga foi substituído por um calor que subiu pelo meu corpo quando eu vi o short curto preto e a blusa de alças branca. Ela não pareceu notar como eu tava olhando pra ela, mas eu fiquei com vergonha e desviei o olhar. Ela notou o que eu trazia nas mãos.

                “O que é isso?” Tentei me acalmar pra poder dar uma resposta decente.

                “Ah... como você não foi, eu guardei pra você.” Ela pegou a travessa pequena das minhas mãos e abriu.

                “Você guardou macarrão com queijo pra mim?”

                “Seria injusto. Você fez e nem comeu.” Ela se aproximou e me abraçou, me beijando no rosto.

            “Obrigada. Eu também guardei uma coisa pra você. Vem comigo.” Ela me puxou pela mão e desceu as escadas, me levando pra cozinha. “Eu ia te entregar amanhã, mas como você veio agora...” Ela abriu a geladeira e tirou uma travessa pequena azul. “Abre.” Abri e... 

“Você guardou mousse pra mim? Pensei que ia dormir desejando comer isso.” Ela riu. 

“Eu fiz mais do que o necessário, assim ficava pra você. Pega uma colher e um garfo.” Peguei e segui ela pra mesa da sala. Sentei junto com ela e vi que ela me observava. 

“O que foi?” 

“Quero ver sua cara na primeira colherada.” Dei de ombros. 

“Ok.” O primeiro gosto que senti foi o doce do chocolate. Tava muito bom. Derreteu na minha boca e desceu gelando até meu estômago. “Uhmmm. Caramba. Tá muito bom. Já pensou em ser cozinheira? Todo mundo lá em casa elogiou seu macarrão com queijo.” 

“Você contou que fui eu?”

“Claro. Eu não ia levar crédito por uma coisa que você fez.” Ela balançou a cabeça e comeu um pouco. 

“Uhm. Ficou bom mesmo.”

                “Eu disse.”

                A gente ficou comendo e conversando até tarde. Era a coisa mais louca que a gente já tinha feito. O risco dos pais dela acordarem ou o perigo da minha mãe acordar e descobrir que eu sumi eram grandes, mas valia a pena o risco pra ficar ali com ela.

                “Tá com sono?” Eu tava um pouco. Tinha comido demais.

                “Um pouco. Que horas?” Ela foi na cozinha levar as travessas e olhou.

                “Meia noite e quinze.”

                “Uau. Eu tenho que ir pra casa.”

                “E eu tenho que ir dormir. Te acompanho até lá em baixo.”

                A gente desceu e ela me levou até a porta. Lá eu virei pra olhar pra ela.

                “Valeu. Nunca tinha feito uma coisa assim.” Ela sorriu e eu me senti bem.

                “É pra isso que servem os amigos.”

                “Pra quê? Pra invadir nossa casa no meio da noite trazendo um pouco do jantar pra um lanche da meia noite?” Ela riu.

                “É. Pra isso mesmo.”

                Como se fosse combinado, minha mão se ergueu e acariciou seu rosto no mesmo instante que a dela fazia a mesma coisa. Não resisti ao sorriso que ela me deu e a puxei pra mais perto, abraçando ela. Ela me apertou e o calor que eu tinha sentido mais cedo voltou, mais forte que antes. Sem saber bem o que eu tava fazendo, beijei seu pescoço e fui subindo pela lateral do seu rosto. Ela suspirou e aquilo me trouxe de volta à realidade. O que eu to fazendo? Eu não vou estragar tudo por... Sei lá. Respira. Foco, Chris! Ela é sua melhor amiga. Não traia a confiança dela! Com um grande esforço, me afastei e ela me olhou meio desorientada.

                “Boa noite, ruivinha.” Ela sorriu.

                “Boa noite, neguinho.” Sorri e apertei de leve sua mão.

                Vi ela fechar a porta e entrei em casa. Deus, o que foi aquilo? Eu quase... Não! Esquece! Foi... errado? Rejeitei esse pensamento. Uma vozinha apareceu na minha cabeça: Errado? Por que foi errado? Foi bom, não foi? Um sorriso de felicidade apareceu no meu rosto enquanto eu me deitava na minha cama. Foi muito bom.

***


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews! Reviews! Reviews!
Por favor! Eu preciso saber o que vocês estão achando!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Nem Todo Mundo Odeia O Chris - 2ª Temporada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.