Nem Todo Mundo Odeia O Chris - 2ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 19
Todo Mundo Odeia Apostar


Notas iniciais do capítulo

Nem demorei tanto considerando que escrevi o cap inteiro à mão pra depois digitar..
#escrevendonoônibus
^^



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POV. CHRIS (Brooklyn – 1985)

Apostar sempre foi palavra proibida lá em casa. Minha mãe detestava e, como era ela quem mandava na casa, todo mundo abaixava a cabeça. Até o meu pai, mas ele tinha as apostas clandestinas dele. Como daquela vez que ele ganhou mil dólares na loteria por uma aposta em cima de um sonho que eu tive. Minha mãe até esqueceu que era dinheiro de aposta. É bem a cara dela... Sem comentários...

Como eu era azarado pra caramba, essas coisas de sorte nunca me atraíram muito. Claro que eu me perguntava se tinha chance de ganhar, mas sempre preferia gastar meu dinheiro em outras coisas.

No meu bairro todo mundo apostava e era praticamente por qualquer coisa. As apostas mais comuns eram nos jogos em geral, mas quando eu digo que apostavam por qualquer coisa era realmente qualquer coisa. Uma vez eu vi a Wanessa apostar dez dólares com a Pam em qual seria a cor do cabelo da próxima cliente que ia entrar no salão. E a mãe já tinha pego o Drew e a Tonya apostando o que ela faria para o jantar. Eles levaram uma surra tão grande que até hoje sentem a dor só com a lembrança.

As apostas do meu pai se resumiam na loteria, quando tinha uma palpite importante, e em esportes, quando a maré tava boa. Embora não fosse só ele que fizesse isso, o Doc costumava organizar as apostas lá do bairro e foi assim que me meteram na história.

Estávamos no final de abril, o que era sinônimo de final da temporada regular da NBA. Em maio começavam os playoffs, então os últimos jogos da regular eram tensos porque os times que não estavam indo tão bem iam pra cima, tentando a classificação pra fase seguinte. Tradução: mais dinheiro nas apostas.

Por esse motivo o Doc apareceu na loja pulando de felicidade naquela terça-feira. Nem precisei perguntar para ele me contar os que era.

“Chris, meu rapaz, estou com um bom pressentimento hoje. Pressentimento de que vou ganhar uma graninha extra.”

“Como assim?”

“Sabe o jogo Bulls x Bucks de hoje à noite?” Assenti. “As apostas no Bulls estão correndo soltas e eu vou apostar também.” Franzi as sobrancelhas.

Mesmo sem saber jogar nem ter talento para esporte nenhum eu acompanhava os jogos e sabia reconhecer uma aposta furada quando via uma. Meu pai tinha me dado muita experiência nisso.

“No Bulls, Doc? Eles não têm a menor chance de ganhar do Bucks. Claro, eles têm o Jordan mas Don Nelson é um técnico muito melhor que o Kevin Loughery. Ele vai saber explorar o ponto fraco do Bulls. Se eu fosse você apostava no Bucks.” Ele me encarou, analisando se uns tabefes em mim valeriam a grana se ele perdesse.

“Tem certeza, Chris?” Dei de ombros.

“To falando pela lógica. Você que sabe.” Virei as costas e voltei a trabalhar.

Na minha cabeça eu tinha tentado impedir que o Doc perdesse uma grana, mas afinal eu não sabia em quem ele realmente tinha apostado.

Como eu sabia que seria, os Bucks venceram por pura estratégia e planejamento, mas eu não imaginei que aquilo faria a menor diferença pra mim. Eu não tinha apostado nada com o Doc, mas acabou valendo a pena quando eu fui trabalhar no dia seguinte.

“Olha se não é o pequeno apostador. Toma, é pra você.” E me deu 30 dólares.

“De que é isso?”

“Você acertou o resultado do jogo, não foi? Como eu ia perder 50 e ganhei 300, é pra você.” Ergui uma sobrancelha, as depois dei de ombros.

“Beleza, mas eu não tava apostando.”

“Mas eu, sim. Entenda como uma gratificação por um trabalho extra. Se continuar me dando as dicas, eu vou continuar pagando. Não sabia que entendia tanto de basquete.”

“Eu só assisto os jogos e estudo as estratégias. É legal já que eu não sei jogar. A Lizzy assiste comigo de vez em quando.”

“Então diz aí. O que acha do Utah Jazz x Houston Rockets?” Eu to só ajudando, não to apostando... só isso...

“Todo mundo acha que o Houston vi ganhar por causa das 'Torres Gêmeas', mas isso é só pros rebotes e botar de volta na cesta. O Jazz sabe correr.”

“Beleza, maninho.”

“Ei, Doc... eu te ajudo com os jogos, mas não pode contar pra ninguém que sou eu, ok?”

“Pode ficar tranquilo. Não vou contar.” Espero...

Quando voltei para casa encontrei a Lizzy sentada na calçada.

“Desocupada?” Ela sorriu e assentiu.

“Preguiça, na verdade. Ei, é sério que o Doc ganhou 300 dólares apostando em basquete?”

“Foi. Eu dei a dica, ele aceitou e ganhou. Acabei ganhando 30 dólares.” Ela me encarou, surpresa.

“Tá apostando? Sua mãe vai te matar se souber.” Sentei ao lado dela.

“Ela só vai saber se você contar.” Ela revirou os olhos e riu.

“Claro que eu não vou contar, idiota. Não quero que você vire empanado de Chris. Mas ela já sabe sobre o Doc. A Wanessa entrou na sua casa tem uns 15 minutos e seu pai logo depois.” Quem disse que é só notícia ruim que corre rápido? Fofoca corre também.

“Droga. Vai sobrar pra mim. Quando meu pai souber, vai me mandar apostar pra ele.”

“Meu pai ficou sabendo e acho que vai apostar também. E você, mocinho,” ela falou, cutucando meu braço, “é melhor parar com isso de apostar.”

“Mas eu não to apostando. O Doc só me dá uma grana quando ele ganha por causa das dicas. Ele vai apostar no Jazz do jogo de hoje e e tenho certeza que vai ganhar. E além disso, meu nome não tá metido nisso. Ninguém conhece que trabalha nos bastidores.” Ela suspirou e pegou minha mão.

“Tudo bem, mas toma cuidado.” Sorri e beijei seu rosto.

“Tá bom.”

“Vou ter que entrar agora.” Ela levantou e eu também.

“Eu também. Te vejo amanhã.” Apertei de leve a sua mão e ela sorriu, virando as costas para entrar.

Subindo as escadas lá de casa eu vi a Wanessa descendo, resmungando que meu pai era um incompreensivo. Dei de ombros e ignorei. Mulheres...

Depois do jogo – Sim, eu acertei de novo. O Jazz ganhou. – fui dormir feliz, sabendo que ia ganhar mais uma graninha no dia seguinte.

Depois de alguns dias acertando os vencedores pro Doc eu não tinha mais onde colocar tanto dinheiro. Ele até tinha me dado um apelido: Chrissy Tiro-Certo. Pelo menos era esse nome que rolava na boca do povo e não o meu. A Lizzy reconheceu que não era sorte e disse que eu tinha um talento legal. A única pessoa que ainda tava com um pé atrás era o Greg.

“Cara, você tem que parar com isso. É dinheiro de jogo.” Ele olhava horrorizado para o tênis novo que eu tinha comprado com o dinheiro extra.

A Lizzy suspirou, revirando os olhos.

“Greg, a gente sabe sobre a sua mãe e que ela foi embora depois de ganhar uma aposta. Com certeza é um trauma, mas você não pode deixar isso dominar sua vida.”

Ele fechou os olhos e respirou fundo algumas vezes.

“Tem razão, gente. Eu tenho que deixar isso pra trás.” Eu e a Lizzy assentimos em apoio.

Dava pra notar a discussão no Doc's há cinco casas de distância e eu não precisava apostar para ter certeza do que estavam discutindo: o jogo da noite. Dallas Mavericks x Portland Blazers. Claro que eu já tinha meu palpite e era óbvio que o Doc também sabia.

“Eu estou lhe dizendo, minha senhora o Dallas vai levar a melhor sobre o Portland.”

“O quê? Vai apostar no Dallas ao invés do Portland? Você devia ser internado!”

“Minha informação é de fonte muito confiável.”

“E porque eu ouviria você?”

“Pois não ouça e perca seu dinheiro.”

Balancei a cabeça levemente, rindo, e passei por eles para entrar na loja.

“Oi, Doc.” Quando ele me viu, abriu um sorriso enorme.

“Meu rapaz! Entra aí que eu quero trocar uma ideia com você.” Entrei na loja e ele entrou logo depois.

“O que foi?”

“Tem certeza do seu palpite pro jogo?” Estranhei.

“Porque tá perguntando isso agora? Se tá duvidando é melhor não apostar.”

“Não é isso, é que...”

“Eu já disse tudo o que eu achava do jogo. Quem diz que o Portland vai ganhar só está olhando pro últimos jogos que eles ganharam. Estão esquecendo de ver que a defesa do Blazers é fraca na transição pra segurar o Aguirre e o Blackman, e o Mavericks ainda não jogou tudo o que sabe. O Dallas vai levar essa, com certeza.”

“É. Tem razão, Chris. O Dallas vai ganhar.”

Novamente o jogo saiu como eu imaginei: vitória do Dallas Mavericks. Eu só não imaginei que o meu dia seguinte fosse ser tão complicado como foi.

Assim que cheguei no Doc's ele foi logo se desculpando por ter duvidado da minha dica e me deu a porcentagem que me dava sempre que ganhava. Até aí normal. Ficou complicado depois que o Perigo entrou na loja seguido de um cara estranho. O cara ficou olhando uns óculos de sol, mas eu logo esqueci dele quando vi o Perigo ir falar com o Doc com uma cara azeda.

“Tá aqui o dinheiro.” E tirou umas notas do bolso e entregou pro Doc; depois olhou pra mim. “Valeu, Chris.” Claramente percebi o tom de deboche e franzi o cenho.

“Pelo quê?”

“Apostei no Portland ao invés do Dallas: aposta furada. Se eu soubesse que dava dicas pro Doc apostava com ele e não contra, Chrissy Tiro-Certo.”

Meus olhos se arregalaram e eu fiquei sem reação, não acreditando no que eu tinha acabado de ouvir. Olhei pro Doc e ele estava com a maior cara de 'me ferrei'.

“Doc, você contou pra ele?” O silêncio dele era toda a resposta que eu precisava. “Eu te pedi pra não contar pra ninguém!” Sentindo a tensão, o Perigo se meteu.

“Calma, maninho. Sou eu; você me conhece.” Me virei para ele, indignado.

“Claro que eu te conheço! É por isso que sei que o bairro todo vai saber disso até o final do dia!” Olhe pro Doc mais uma vez. “Doc, eu concordei em te ajudar com os jogos desde que você não contasse pra ninguém que era eu quem dava as dicas. Você prometeu!” Ele me olhou, mas não disse nada. Minha cabeça latejou de raiva. “Quer saber? Pra mim já chega! Não me peça mais ajuda em jogo nenhum!”

Nesse momento eles se juntaram e tentaram me convencer de todas as formas possíveis a não abandonar as apostas, mas e me mantive firme.

“Não! Já disse que não! Se minha mãe sequer sonhar que eu to apostando, eu to morto! Eu to fora só porque vocês dois não conseguem manter suas bocas fechadas!”

Mas de nada adiantaram os meus argumentos, eles continuaram insistindo. Pediram 'pelo amor de Deus', que tudo bem se aquela era a última vez, mas que eu tinha que ajudar eles naquele jogo. Conhecendo os dois e sabendo a quantidade de dinheiro que seria apostada no Grande Jogo daquela noite, eu resolvi ceder ou eles não me deixariam em paz tão cedo.

Encarei os dois, sério.

“Tá bom. Mas esse é o último jogo. Depois disso não me peçam mais nada. To fora dos playoffs, ok?” Eles assentiram, concordando. Vou fazer logo isso antes que eu mude de ideia.De quem é o jogo mesmo?

“Então, meu rapaz, o que acha do Grande Jogo de hoje: Phoenix Suns x Los Angeles Lakers?” Respirei fundo.

Quatro horas depois eu estava subindo a rua na direção de casa, com as mãos nos bolsos da calça, tentando entender o que eu tinha feito. Meu palpite pro Doc foi Lakers, baseado nos últimos jogos e em todos as possibilidades que eu tinha pensado. Mas a verdade era que eu não tinha certeza se os Lakers iriam mesmo ganhar.

Nos outros jogos eu tinha certeza do ganhador e da lógica que eu usava para tentar adivinhar. Mas mesmo com toda lógica do meu lado eu não conseguia confiar no meu palpite sobre o jogo. Que saco...

O assunto girava na minha cabeça e só no último segundo eu percebi uma limousine preta parar ao meu lado. Estanquei um pouco assustado. O vidro abaixou lentamente e eu vi um cara vestido de terno preto, muito parecido com o cara que tinha entrado no Doc's junto com o Perigo. Por um momento me senti parte da máfia do Don Corleone.

“Você é o Chrissy Tiro-Certo?” Eu podia ate não aparentar, mas eu tava morrendo de medo. Mais um que sabe esse nome...

“Quem é você?”

“Check, o Agenciador. Meus amigos me chama de Check, o Agenciador. É você quem tem acertado os vencedores dos jogos não é? Você tem talento.”

“Eu só dou sorte.”

“Conheço donos de cassino com esse tipo de sorte. O seu amigo Doc, ele-”

“Oi, Chris.”

POV. LIZZY

Eram mais ou menos 17:30h e eu estava no meu quarto, deitada no meu sofazinho e sem ter absolutamente nada para fazer. Eu já tinha feito tudo o que precisava. Tinha estudado, arrumado meu quarto, ajudado minha mãe com o jantar. Tudo estava feito e eu estava morrendo de tédio.

Resolvi levantar e ir esperar meu pai chegar lá fora. O sol já estava se pondo e as luzes da rua estavam começando a acender. Olhei na direção do final da rua e vi quando uma figura de camisa verde, jeans azul escuro e tênis branco começou a subir a rua. Sorri internamente. Reconheceria esse andar até no fim do mundo.

Desci as escadas e comecei a descer a rua em sua direção. Ele andava devagar e com a cabeça levemente abaixada, os olhos no chão. Franzi o cenho. Eu conhecia muito bem aquela expressão. Ele está preocupado com algua coisa. Nos aproximamos mais e então eu pude ver distintamente as sobrancelhas levemente arqueadas que confirmavam minha suposição.

Não lembro quando apareceu, mas de repente uma limousine preta parou ao lado dele e ele estancou, confuso. Eu estava a alguns metros de distância e também tinha parado ao notar o carro. Vi o vidro de trás do lado do passageiro ser abaixado e o rosto de um homem aparecer. A expressão séria e o terno preto me fizeram pensar em uma única coisa: máfia.

Eles conversaram por alguns segundos e eu vi o rosto do Chris ficar mais tenso. Não consegui me parar e fui falar com ele, como se não tivesse percebido nada.

“Oi, Chris.” Ele virou para mim, meio assustado.

“Oi.” Aproveitei a oportunidade para olhar o homem mais de perto e decididamente não gostei.

“Quem é esse?”

“Ahn, Check, o Agenciador. Acabei de conhecer.” Seu olhar me dizia que a conversa não estava indo bem.

“Você me parece familiar, garota.” Olhei para o homem, assustada, para vê-lo analisando meu rosto. “Seus olhos... é como se eu já tivesse visto antes. Qual é o seu nome?”

Antes que eu pudesse responder, o Chris deu um passo a frente, se colocando entre mim e o homem. A voz bem mais grave do que antes.

“Pra quê precisa saber o nome dela?” O homem o encarou, estranhando a mudança de atitude repentina, ma de repente ficou lívido.

Seus olhos voltaram para mim e então foram para o Chris novamente e vieram de novo para mim.

“Você...” E eu pude jurar que ouvi ele murmurar: “E a história se repete... irônico... muito irônico...

Mas rapidamente ele voltou ao normal e apontou o dedo para nós dois.

“Você dois. EU não estive aqui, eu não falei com vocês e vocês nunca me viram, capisce?”

Assentimos lentamente. O vidro da janela deslizou pra cima e o carro subiu o resto da rua, desaparecendo ao dobrar à esquerda. Eu e o Chris nos olhamos com a mesma pergunta em mente: O que foi isso?

“Você entendeu?” Neguei.

“E você?”

“Também não. E acho que vou fazer o que ele disse e esquecer.” Concordei e ouvi ele resmungar, “Já tenho coisa demais na minha cabeça...”

“O que tá te incomodando?” Ele suspirou e segurou minha mão, me fazendo subir a rua com ele.

“Não tenho certeza do resultado do jogo Eu disse Lakers pro Doc, ms to em dúvida. A pior parte é que não sei o porquê.”

“Bem, Lakers parece a escolha mais lógica. Não tem como o Suns ganhar com uma temporada tão ruim.” Ele torceu o nariz, ainda em dúvida.

“Se todo mundo perder, a culpa vai ser minha. E logo agor que eu disse que não ia mais dar as dicas.”

“Por quê?”

“Doc contou pro Perigo que eu dava as dicas. Resolvi parar antes que minha mãe me mate.” Ele me olhou, conformado. “Tudo bem, pode jogar na minha cara. Diz que me avisou.” Sorri e afaguei sua mão.

“Vai ficar tudo bem.” Ele sorriu e beijou minha mão em agradecimento. “Mas se você errar agora, depois de ter dito que era a última vez, eles não vão pensar que você fez de propósito?”

“Eu disse pro Doc que eu não tinha certeza desse, mas ele confiou. Se pensarem isso eu não posso fazer nada.”

“É. Aposta é sorte, Chris. Ninguém ganha o tempo todo. Seria como tentar estar dos dois lados ao mesmo tempo.”

Fiquei surpresa quando ele estancou de repente, me forçando a parar também. Ele me olhava fixamente como se estivesse me vendo pela primeira vez.

“Dos dois lados ao mesmo tempo?”

“É. O que foi?” Ele me deu aquele sorriso de quem ia aprontar.

“Acabei de ter uma ideia, mas preciso da sua ajuda. E você vai ter que chamar o seu pai pra assistir o jogo na minha casa.” Sorri, curiosa.

“Tudo bem. Qual é a ideia?”

“Sobrou quanto da sua mesada esse mês?”

POV. CHRIS

“Então fica combinado: você traz seu pai pra assistir o jogo na minha casa.”

“Não vai ser difícil. Ele apostou e segundo ele o seu pai também.” Dei de ombros.

“Eu sabia que ele não ia deixar essa passar. Só espero que a mãe não descubra. Mas o papel tá com você, não é?” Ela tirou um papelzinho do bolso e me mostrou. “Ótimo. Até às oito?”

“Até às oito.” Nos separamos e entramos em casa.

Qual surpresa não foi a minha quando entrei na sala e vi todo mundo sentado à mesa, olhando pra mim. Minha mãe simplesmente apontou a cadeira que eu normalmente ocupava e vagarosamente eu fui me sentar lá. Estava um clima de tensão. Minha mãe parecia pronta pra matar alguém e eu só pude pensar uma coisa: ela descobriu. Senti meu sangue gelar lentamente com a possibilidade e engoli em seco.

“Agora que todos já estão aqui eu gostaria de fazer uma pergunta. Uma perguntinha só. Porque todos nessa casa sabem o quanto eu odeio apostas e todos resolveram apostar? Podem me dizer? Drew? Tonya?” Franzi o cenho. O que eles tem a ver com isso? Mas a Tonya esclareceu minha dúvida.

“O Drew ficava me zoando porque eu sempre perdia pra ele nas damas. Aí eu apostei três dólares que eu podia ganhar dele.”

“E onde consegui o dinheiro?” Ela não queria falar, mas minha mãe era melhor que investigador da CIA pra arrancar informação dos outros.

“Com o papai.”

“Jullius...” Meu pai conhecia aquele tom tanto quanto eu; significava que ele estava ferrado. “Por quê?” Ele estava constrangido que a voz saiu baixa.

“Foi pra ela ganhar confiança.”

“Ela ganhar confiança transformando o irmão dela num otário?” Ué, mas não era isso que o Drew tava fazendo com a Tonya? Qual é a diferença? O dinheiro da aposta? “Muito bem, Jullius. Muito bem.” Mas então ela virou pra mim. “E você? Chrissy Tiro-Certo!” Ah, droga! “Você fica adivinhando os vencedores dos jogos como se estivesse em Las Vegas! Qual é a sua explicação?” Falei a primeira desculpa que me veio na cabeça.

“Não tava apostando.”

“Ah, não?! E do que você chama isso?”

“Hora extra?” Ela estreitou os olhos.

“Pois é melhor parar com isso logo antes que eu faça hora extra te dando uma surra!”

“Mas eu já parei. Eu disse pro Doc que não ia mais ajudar ele nos jogos.” E nesse momento meu pai inventou de se meter.

“Deixou de ajudar o Doc?” Eu não vou contar que eu tava em dúvida no resultado.

“E o que você tem a ver com isso, Julius?” De repente o chão ficou tão interessante, não é, pai?

“Eu apostei no jogo de hoje.” Minha mãe fechou os olhos e respirou fundo, tentando se acalmar.

“Quanto?” Ele fez uma careta.

“50 dólares.” Oh coragem, meu velho!

“50 U$?! E o dinheiro era só pra pagar as contas?!”

“Mas eu ia te contar.”

“Quando?” Ele fez outra careta, constrangido.

“Agora.” Ela respirou fundo mais uma vez.

“Vocês... Quem isso não se repita ou eu vou ficar viúva de marido e filhos.” Todos assentimos sem nenhuma hesitação. “Ótimo. Chris, Drew e Tonya, vão por a mesa pro jantar.”

O jantar, assim como o clima, foi tenso. Silêncio absoluto com muitos olhares desconfiados da minha mãe e caras envergonhadas de todos nós Quando já estávamos tirando a mesa eu resolvi perguntar algo.

“Pai?”

“Hum.”

“Eu chamei a Lizzy e o sr. Jackson para assistirem o jogo aqui. Tem algum problema?” Todos me olharam e eu senti o clima melhorar um pouco.

“Problema nenhum, filho.”

Como que por profecia, a campainha tocou e minha mãe foi atender.

“Oi, Arthur. Tudo bem?”

“Tudo ótimo.”

“Oi, dona Rochelle.”

“Oi, fofa. Podem entrar.” Novo filme... Rochelle: O retorno do bom humor.

Eles passaram pela porta e entraram na sala. O sr. Jackson foi conversar com o meu pai e a Lizzy veio na minha direção. Ela falou como todo mundo e me deu um beijo no rosto. Nossos pais se sentaram no sofá pra conversar enquanto o jogo não começava e eu me isolei na cozinha com a Lizzy. Dispensei o Drew e a Tonya pra poder ficar em paz com ela.

“Minha mãe descobriu sobre as apostas.” Ela arregalou os olhos.

“Sério? E o que ela fez?”

“Reagiu melhor do que eu esperava, considerando que até o Drew e a Tonya estavam apostando em damas.”

“Até eles? Nossa.”

“Mas ela esquece logo. Lembra daquela vez da loteria que o meu pai ganhou?”

“Sei. Mas e se ele perder?”

“Não quero nem imaginar o que ela vai fazer.”

Quando o jogo começou, eu a a Lizzy fomos pra sala assistir também. O jogo tava tão equilibrado que quando o terceiro período começou meu pai já tinha roído todas as unhas. Eu tinha um plano e estava seguro dele, mas ninguém além da Lizzy sabia o que era.

Faltavam 20 segundos para o final do jogo e os Lakers estavam ganhando com 5 potos de vantagem, quando o armador deles fez falta no ala do Suns. O árbitro deu dois lances livres de 3 pontos e meu sangue gelou. Senti a Lizzy entrelaçar os dedos nos meus e apertei a mãe dela. Tem que ser agora...

Primeiro lance livre... Convertido! 3 pontos!

Segundo lance livre... Droga! A bola bateu na tabe- Entrou! Mais 3 pontos!

Troquei um olhar de esperança com a Lizzy. Nós dois sabíamos que 20 segundos num jogo de basquete significava muita coisa. Principalmente em um jogo decisivo. O nervosismo começou a aparecer e eu senti meu corpo formigar. O Phoenix Suns tava ganhando por um único ponto! Uma cesta simples e os Lakers ganhavam. Pra piorar tudo, o meu cérebro escolheu aquele momento pra me lembrar que os Lakers tinha o melhor contra ataque da temporada. Valeu, cérebro! Muito reconfortante!

O árbitro apitou o recomeço do jogo e os 20 segundos começaram a correr. Lutei contra a vontade de fechar os olhos e ganhei minha recompensa. O Phoenix se fechou como se a vida dependesse disso. Os Lakers tentaram de todas as formas passar pelos alas do adversário, mas não deu. No desespero, o armador deles tentou uma cesta de três pontos. A bola foi... foi... e... bateu no aro... e... o pivô do Suns colocou pra fora na hora que o cronômetro zerou.

Placar Final: Phoenix Suns 114 x 113 Los Angeles Lakers

Meu pai e o sr. Jackson gemeram de frustração e começaram a lamentar.

“Droga! Eu não acredito! O jogo tava ganho!”

Minha mãe aproveitou a oportunidade pra dizer que ela sempre teve razão em odiar apostas.

Naquele momento alguém tocou a campainha e a mãe foi atender. Só consegui ouvir a voz;

“Boa noite, senhora. Estou procurando Chris e Lizzy. Eles estão aqui?” Já? Rápido, hein...

Imediatamente nossos pais pararam de lamentar e todos nos encararam. Depois de alguns segundos, minha mãe chamou.

“Chris? Lizzy?” Nos levantamos e fomos até lá.

“Chris e Lizzy?” Assentimos e o cara retirou um envelope grosso de uma maleta e nos entregou. “Estão com o comprovante?” A Lizzy tirou o papelzinho do bolso do short e entregou pra ele. O cara examinou o papel e assentiu. “Tudo certo. Parabéns por terem ganhado. Boa noite.” E deu as costas, indo embora.

Entramos e a mãe foi a primeira a querer saber.

“Podem explicar o que foi isso? Que envelope é esse?”

Com todos os olhos em nós, achei melhor falar.

“Nós apostamos no jogo de hoje e ganhamos.”

“O QUÊ?” Foi hilário a cara de todo mundo e a Lizzy resolveu explicar.

“O Chris tava em dúvida sobre o ganhador do jogo, então eu acabei falando uma coisa que deu a ideia pra ele. Então a gente resolveu apostar no Phoenix dando assim mais uma chance de ganhar, já que a gente sabia que o meu pai e o sr. Jullius tinham apostado nos Lakers. Foi isso.” Eles olhavam pra gente, chocados.

Meu pai deu um passo a frente e perguntou.

“Quanto apostaram?”

“U$ 100 dólares. 50 meu e 50 da Lizzy.”

“U$ 100????” Dessa vez minha mãe deu um passo a frente.

“E quanto tem no envelope?” A Lizzy olhou a etiqueta e deu uma risadinha.

“U$ 1500.”

“O QUÊ???” Finalmente o sr. Jackson conseguiu falar alguma coisa.

“Espera um pouco. Então esse dinheiro todo é...” Ele gesticulou pra mim e pra Lizzy.

Nós nos olhamos e sorrimos, falando ao mesmo tempo.

“Sim, é nosso.”

“E o que vão fazer com tudo isso?” Demos de ombros.

“Não sei. A gente não pensou no assunto porque não sabíamos se íamos ganhar. O que acha, Chris?”

“A minha parte eu vou guardar, até porque é dinheiro demais. Mas não antes de fazer uma coisa.” Ela ergueu uma sobrancelha pra mim, curiosa.

“O quê?” Dei meu típico sorriso sacana.

“É que essa ansiedade do jogo me deixou com uma fome...” Ela sorriu, entendendo onde eu queria chegar.

“Concordo. Naquele lugar?” Assenti.

“Naquele lugar.” Virei pra encarar todo mundo. “Quem tiver bolsa pra pegar, pegue e sapato pra calçar, calce.” Minha mãe me encarou me desafiando a sair sem dizer nada, mas eu sabia que ela tava feliz.

“E a gente vai pra onde, sr. Chrissy Tiro-Certo?” Olhei pra ela fazendo minha melhor cara de ultraje.

“Jantar fora, é claro. A gente ganha U$ 1500 dólares e não tem nenhuma comemoração? Isso é um absurdo!” Todos riram e foram se preparar pra sair. O sr. Jackson passou por mim e pela Lizzy na direção da escada, falando alguma coisa sobre a chave do carro e falar com a sra. Jackson.

Eu e a Lizzy descemos primeiro pra esperá-los lá em baixo, mas ainda pudemos ouvir o grito da minha mãe no andar de cima.

“Aahh, eu vou usar meu vestido novo!”

***


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Notas finais do capítulo

^^
Já estou escrevendo o próximo...
Bjs...
#reviews



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