Atena escrita por bia_scabbia


Capítulo 8
Capítulo 8




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“O que aconteceu com a sua amiga?”, perguntou Rubens. Enquanto isso, pensava: “Não sei como uma gata dessas pode ser amiga de uma CDF metidinha que nem a Mônica”. Atena ficou espantada com o que ouviu, mas preferiu ignorar aquilo. “Não é nada. Ela só foi procurar um livro na biblioteca.”, disse, quase num sussurro. Rubens sorriu para Atena, e lhe disse o mesmo que ela ouviu em seus pensamentos, enquanto se aproximava cada vez mais. “Melhor assim. Ela não ia querer ficar aqui agora...”

O recreio acabou, e a turma já estava na sala esperando a professora chegar. Atena e Rubens foram recebidos com um “Aêêê! Olha o casalzinho chegando” de vários colegas. Mas o que Atena realmente ouvia não era muito agradável. “O que ela tem que eu não tenho?” “Hum, metida, só porque fisgou o Rubens já tá se achando” “Se ela soubesse o perigo que tá correndo...” Usando o conselho de Mônica a seu favor, tentou ignorar as opiniões alheias, embora elas a incomodassem muito.

Mas uma delas Atena não conseguiu ignorar. Vinha do fundo da sala.

“Eu pensei que ela fosse uma garota estranha. Com algo que ninguém mais tem. Mas parece que ela é bem normalzinha... que pena.” As lentes dos óculos não podiam esconder aquela expressão estranha, nunca vista antes por Atena, nos olhos de Guilherme. Decepção. A mesma coisa que estava nos olhos de Mônica momentos antes. Ou quase.

         Os dois últimos tempos de quarta-feira eram de português. Mas, depois do primeiro dia de aula, nunca mais se ouviu uma única risada quando a professora entrava. Apenas um burburinho contínuo. Nem parecia que os alunos tinham percebido que a professora estava lá. Na verdade, percebiam, mas a ignoravam, pelo menos até que ela dissesse a célebre frase...

“Abram seus livros na página...”. Era assim que começava. Todas as aulas de Maíra eram sempre aquela mesma rotina maçante. Por incrível que pareça, ela não era a total culpada. Sempre que tentava fazer uma aula mais descontraída, deixando os alunos darem suas opiniões e discutirem, tudo acabava em bagunça. Com medo de que o que acontecera no ano anterior se repetisse (Maíra tinha sido praticamente expulsa da sala por uma de suas turmas), ela dava suas aulas e corrigia os testes com mão de ferro. Atena continuava tendo pena dela, pois tinha gostado muito das aulas em que ela tentara fazer algo diferente, como trazer sugestões de leitura, textos interessantes para interpretação e até um debate que, infelizmente, não deu certo no final. A única coisa que a impedia de dar uma aula excelente para a turma era sua imagem perante os alunos. Eles não a respeitavam, pois a maioria se preocupava muito com as aparências, e a aparência dela não inspirava muita... autoridade. Isso, somado ao extremo nervosismo de Maíra, transformava a aula num completo tédio, mesmo para os alunos mais interessados. E fazia dela a professora mais odiada pela classe.

Menos por Atena, que era a única que podia entendê-la, ou melhor, ouvi-la.

No caso de seu namorado, ela havia descoberto, a richa já era antiga. Ele culpava Maíra por sua reprovação, porque ela se recusou a ceder alguns décimos para arredondar sua nota. Desde que descobriu que passaria mais um ano tendo aulas com ela, decidiu que haveria uma revanche. Não era raro Atena ler em sua mente insultos ou promessas de vingança à professora. Eram passageiros, mas Atena duvidava muito que ele fizesse algo contra ela, além de implicar. Sabia que era uma boa pessoa, além de muito bonito.

Os dois não tinham muitas coisas em comum, mas se davam bem. Rubens era a única pessoa que não a julgava e que não a irritava. “Ele deve gostar mesmo de mim”, pensava Atena. “Sempre me elogia, tanto nos pensamentos quanto com palavras. Ele é sempre legal comigo.” Atena não estava certa se era aquilo mesmo que queria, mas estava bem assim. Em pouco mais de um mês de aula, era invejada por garotas que nem a conheciam, e isso podia ser irritante, mas também tinha seu lado sedutor.

Faltavam quinze minutos para terminar a aula. Os alunos copiavam a extensa matéria do quadro, quando a professora anunciou:

“Os testes da aula passada já foram corrigidos.” Os alunos olharam atentos, coisa que não acontecia normalmente. “Lamento informar que os resultados foram decepcionantes...” disse a professora, enquanto só Atena ouvia o resto da frase: “ou seja, como eu já esperava”. “Apenas alguns alunos se saíram bem, mas quem mais me surpreendeu foi a Atena.” Todos olharam para a garota. A professora continuou, olhando para Atena com um leve sorriso nos lábios. “Parece que alguém aqui está mesmo disposto a estudar. Meus parabéns. Você tirou um dez.”

     A turma inteira já tinha saído da sala. Só restava Atena, Mônica e Rubens. Enquanto Mônica estava ocupada arrumando seu material, Rubens se despediu de Atena com um beijo rápido, e disse: “Eu vou descer e te espero no pátio.” Antes que ela pudesse dizer “tchau”, ele se foi. Mônica, já pronta para ir embora, perguntou, tentando soar como se estivesse distraída: “E aí, como vai o namoro de vocês?”

“Vai bem. Ele é legal comigo, e etc.”

“Sei...”, murmurou Mônica, com um olhar pensativo. “Só acho meio estranho uma coisa. Ele não olha pra você do mesmo jeito que o...” mas deteve-se no final da frase. “Ah, esquece”. Atena ficou surpresa ao ouvir o que a amiga não disse. “Guilherme? O que ele tem a ver com isso?” Mônica desviou o olhar e saiu da sala. “Nada. Ah, e parabéns pelo 10 no teste! Agora vamos descer, eu tenho aula de coral e o Rubens tá te esperando lá em baixo.”

         Rubens estava sentado num banco conversando com alguns amigos, e quando viu Atena, veio em sua direção. Ele estava com um sorriso estranho nos lábios. “Oi, Atena! Puxa, parabéns pelo 10 no teste! Eu não sabia que você mandava tão bem em Português...”

“Ah, obrigada. Eu só me esforço, presto atenção na aula... coisa que você não faz!”, disse, um pouco irônica, mas rindo.

“Eu não sei como você consegue prestar atenção na aula daquela bruxa. Mas, assim... você bem que podia me dar uma ajudinha.”

O sorriso brincalhão no rosto de Atena se apagou. Não por causa do que Rubens disse, mas do que ele pensou. “Você vai me ajudar a passar de ano sem fazer esforço, Atena... eu não poderia ter escolhido uma garota melhor!”

“O que você quer dizer com isso?”, perguntou ela, atônita.

“Ah, você sabe... você pode me ajudar nos trabalhos, me dar uma ajudinha antes e durante as provas, me ajudar no dever de casa... e então, o que você acha, linda? Promete que vai me ajudar?” Dizendo isso, ele pegou na sua mão.

Atena não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Ficou sem palavras por alguns segundos. Teve vontade de esbofeteá-lo, mas tentou se segurar. Puxou sua mão de volta. Sua cabeça girava. Não sabia se terminava tudo ali, naquele instante, ou se deixava a raiva passar.

“Seu idiota!”, foi tudo o que conseguiu dizer, quase gritando, antes de virar as costas e ir embora, deixando Rubens plantado, sem entender nada.

         Olhou pra trás, para ver se ele a havia seguido. Ficou satisfeita quando não viu nem sinal dele por perto. Continuou andando, em direção à biblioteca. Sabia que ele nunca entraria lá. Pela porta de vidro, viu Guilherme, sozinho em uma mesa. Lembrou do que Mônica tinha dito (e pensado) ainda na sala, e se sentiu tentada a falar com ele.

“Ei? O que eu tô fazendo aqui? Eu não tenho nada pra falar com esse garoto... ah, a Mônica deve estar imaginando coisas!”, pensou, e andou o mais rápido que pôde para o portão.

         Estava sozinha na esquina da rua sem saída, que na verdade dava diretamente para o portão dos fundos do colégio, usado pelos alunos do 2° grau. Não sabia o que fazer. Ou melhor, o que ia fazer no dia seguinte. Teria coragem de terminar assim, tão cedo, com Rubens? O que significava aquele comentário de Mônica a respeito de Guilherme? Mas a pior de todas as suas dúvidas era: “Será que eu vou voltar ao normal algum dia?”

         Atena ainda não sabia. Mas o dia das respostas estava próximo.


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