Atena escrita por bia_scabbia


Capítulo 26
26 – Shiver


Notas iniciais do capítulo

"Shiver", do Coldplay ouçam!



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         “E então... é assim que tudo termina?”, perguntou Mônica, olhando fixo para um ponto no infinito.

Estavam de tempo vago no pátio do colégio, em plena segunda feira, sentados no chão e observando a chuva que caía. Não era sempre que eles podiam desfrutar do pátio daquele jeito: silencioso e vazio. Era melhor aproveitar.

         “E por que deveria terminar?”, perguntou Guilherme, lançando um olhar sugestivo para Atena, que devolveu um outro, irônico, como sempre. “Acho que esse foi só o começo de um ano cheio de aventuras...”

         Mônica soltou uma gargalhada. “Nossa, Gui, você tá parecendo até narrador de historinha de criança! E, aliás, nós já estamos praticamente no meio do ano. Como poderia ser o começo?”

Ele deu de ombros. “Tanto faz... o que importa é a nossa amizade!”, disse, com ar de palhaço. Dessa vez, os três riram. Mônica também deu uma de engraçadinha. “Boa, essa foi boa, Gui! Vai ser nosso lema daqui em diante!”

         Atena respirou fundo. Havia algumas marcas roxas em seus braços, e sua cabeça ainda doía quando tocava nela, mas estava totalmente recuperada. Ela decidiu não contar para mais ninguém o que acontecera na sexta-feira passada. Não queria ter mais problemas ainda.

“Mas eu concordo”, disse. “Por que tem que terminar por aqui? Cada fim é um novo começo.”

         Os dois olharam para Atena, surpresos. “Calma, Mônica. Ela ainda não deve ter se recuperado totalmente!”, brincou Guilherme. Mônica apenas deu um risinho, e a outra continuava calada.

         “É isso aí, Atena. E, tipo... eu acho que tudo isso pelo que você passou não foi em vão. Quer dizer, você aprendeu um bando de coisas, leu a mente de várias pessoas, e mesmo depois de se ferrar, deu a volta por cima! Cara, não é qualquer um que tem uma chance dessas na vida.”, disse Mônica, se sentindo uma oradora de formatura.

“Você pode tá certa. Alguma lição disso tudo eu tirei, pelo menos.”

“Como nunca mais abrir um livro estranho numa página qualquer e ler uma palavra mágica que você não sabe qual vai ser o efeito?”, interrompeu Guilherme, com um sarcasmo bem humorado. Conseguiu arrancar, de novo, uma risada de Atena.

“Hum... isso também.”, respondeu ela.

         Ficaram algum tempo em silêncio. Mônica não agüentava mais aquela situação de estar quase segurando vela. Se levantou e pegou sua mochila.

“Vocês sabem, a turma do Edu também foi liberada, eu quero ver se ele ainda não foi embora pra pegar os meus desenhos que ficaram com ele... então eu vou indo.” A razão não era apenas essa. Olhou de um para o outro, tentando dizer por quê realmente estava indo embora, sem usar palavras.

“Ah, sei, o Eduardo...”, disse Atena, com uma mão no queixo, já entendendo o que ela queria. Mônica lhes deu um sorriso amarelo e se mandou, feliz da vida por ter matado dois coelhos com um tiro só.

         “Ela não foi embora por nossa causa, foi?”, perguntou Guilherme, que já sabia a resposta. Ela assentiu com a cabeça, corando. “É, ela foi.”, ele concluiu, rindo.

Pausa.

“Você já sabe, não é? Você sempre soube.”, disse ele, quebrando o silêncio.

“Não... bem, só quando você pensou nisso na minha frente com todas as letras, se é que isso é possível.”

Ele deu um sorrisinho.

“Isso é injusto. Você sabia tudo o que eu pensava a seu respeito, e eu não sabia nada!”

Ela fez o mesmo.

“Pode perguntar o que quiser... estamos no mesmo barco agora.”

Ele chegou mais perto.

“Eu preciso mesmo?”

“Não...”

         Silêncio de novo. Bem, havia mais alguma coisa a se dizer? Se houvesse, teria que ser dito depois.

...

Agora, sim.

         Guilherme riu com vontade. Atena apenas o olhou, sem entender o que era tão engraçado. Ele se explicou:

“Você não acha isso um tanto clichê?”

“O que?”

“Ah, você sabe, aquelas pessoas que parecem se odiar, mas acabam ficando juntas.”

“Ah, é mesmo... que vergonha, não?”

“É, fazer o que. Espera, eu tive uma idéia.”

“Fala”

Ele tinha um brilho com algo de maquiavélico nos olhos.

“A gente vai lá na biblioteca, eu pego um livro na seção restrita e...”

“Não! Chega!!! Você é maluco?”, interrompeu Atena, assustada, mas divertida. Guilherme continuava com aquela expressão de criança arteira e um meio sorriso cerrado nos lábios.

“Tá bem, tá bem... esquece.”

 

 

 

Epílogo

 

 

 

         Após os acontecimentos narrados, o estranho livro escarlate foi guardado, em segurança, na biblioteca pessoal de Abraham Berlitz Owen. Tendo dúvidas sobre a procedência e veracidade daquele volume, ele acabou deixando-o num canto esquecido de uma das prateleiras mais baixas. O autor nunca foi revelado.

         Um certo ser misterioso, já referido como Eduardo, passou de desculpa para não segurar vela a melhor amigo de Mônica. Atena e Guilherme continuaram brigando como cão e gato. A diferença agora era que eles gostavam tanto de discutir um com o outro quanto de fazer as pazes.

E não, eles NÃO se casaram.

Os familiares de Atena ficaram maravilhados – e confusos – com sua recuperação tão rápida do coma, porém não mais estupefatos do que os médicos. Nenhum dos vários exames feitos posteriormente acusava hipertensão, diabetes, doenças cardíacas ou alguma propensão a ter AVC ou morte súbita. Ela tentou contar aos pais toda a verdade, mas eles interpretaram aquela história inacreditável como sendo fruto de uma perturbação por ela ter passado pelo estado de coma. Por isso, Atena foi obrigada a ter sessões semanais com um psicólogo. Algum tempo depois, decidiu escrever um livro de ficção, que na verdade era totalmente baseado na sua própria história. Ele não chegou a ser publicado.

Não caberá mais a esta escritora decidir o rumo da vida de seus personagens depois do ponto final (ao contrário do leitor, é claro).


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Notas finais do capítulo

Preciso dizer... FIM? xD Espero que tenham gostado!