Atena escrita por bia_scabbia


Capítulo 18
Capítulo 18




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         Linhas. Parágrafos. Letras. Atena via tudo isso nas páginas do livro escarlate-escuro. Porém, não conseguia entender quase nada do que elas diziam. Examinou-o por horas a fio naquela noite em sua cama, até cair no sono. No dia seguinte, decidiu recorrer a Mônica mais uma vez.

         Por sorte, a biblioteca do colégio (ainda) não havia sido incinerada.

“Podemos ir lá na hora da saída. Assim, a gente pode ficar pelo tempo que for preciso, nem que a gente consulte todos os dicionários de inglês que tiver lá!”, sugeria Mônica na sala de aula, entusiasmada com a “caça ao tesouro”. Mas antes que Atena pudesse fazer algum comentário, o professor de matemática chamou a atenção delas. Se limitou a um sussurro.

“Por mim tudo bem”.

         No meio dos livros, Atena se sentia confortável novamente. Sentou-se com Mônica em uma mesa, e ficou tomando conta do livro enquanto ela pegava todos os dicionários que podia carregar. Voltando à mesa, depositou os livros sobre ela, fazendo um barulho abafado que indicava que aquela carga era realmente pesada. Suspirou de alívio. Sentou-se e pegou o livro escarlate das mãos geladas de Atena, começando a folheá-lo.

         “Bom, vamos começar. Você se lembra em qual página tava aquele encantamento?”, perguntou Mônica. Atena balançou a cabeça. “Não”. “Nem faz idéia? Era mais pro começo ou pro fim do livro?”, insistiu a outra. “Bem, na verdade eu abri numa página exatamente no meio dele”, respondeu.

Mônica fechou o livro e tornou a abri-lo, medindo com os olhos o local da página central. Atena quase pulou na cadeira. “É essa!!! Eu reconheço a grafia daquela palavra que eu repeti! Olha, é essa” disse ela, apontando para uma palavra que mais parecia um trem de tão extensa.

Curiosa, Mônica tentou pronunciar aquele enorme agrupamento de letras. “Dipui...

“Não, Mônica!!!”, interrompeu Atena. “Você esqueceu do que aconteceu da última vez em que alguém pronunciou essa palavra?” Ela, então, apenas concordou silenciosamente, e começou a abrir os dicionários, procurando na letra D. Atena fez o mesmo, para agilizar o trabalho.

Depois de procurar em todos os dicionários da biblioteca, não encontraram a tal palavra. “E se for um nome próprio?”, sugeriu Mônica. Atena discordou, já perdendo as esperanças. “Muito improvável. Um nome próprio não faz com que alguém seja capaz de ouvir pensamentos, certo? Tem que ser um encantamento, ou algo do tipo.”

“Então onde vamos achar esse diacho de palavra mágica? Na Wikipédia?”

“Ah, Mônica, eu não sei... no fim do mundo, se for preciso”.

         Saíram da biblioteca, derrotadas novamente. Na porta, encontraram Guilherme. Quando viu as duas, ele sorriu. “Oi! Puxa, eu tava procurando vocês... mas só me lembrei do lugar mais óbvio agora há pouco!”, disse, como se aquilo fosse uma piada. Era seu jeito habitual de falar. Percebendo a sombra no rosto de Atena, mudou o tom.

“O que aconteceu? Vocês não estão com uma cara muito... feliz.” Ela apenas olhou para baixo, mas Mônica respondeu. “Olha, Guilherme, eu sei que talvez isso soe tão insano quanto o segredo que nós te contamos naquele dia... mas será que você pode ajudar a gente?”

Ele deu de ombros. “Se vocês me explicarem o que se passa, eu vou ver o que posso fazer...”, respondeu ele, deixando claro que a resposta verdadeira era “claro, por que não?”.

         Foram para um lugar mais deserto e calmo do colégio. Mônica explicava o problema, enquanto Atena permanecia calada e Guilherme, à base de monossílabos.

“Então, Gui, é isso. Se a gente não achar o significado daquela palavra, e um contra-feitiço, a Atena vai continuar ouvindo pensamentos. E ela já tá passando maus bocados com o pessoal da nossa sala, você sabe porquê... então, você vai ajudar?”

         Guilherme piscou os olhos duas vezes, como se tivesse acabado de acordar. “Vocês não sabem, mas pediram ajuda pra pessoa certa.” As duas garotas olharam, interrogativas, para ele. Nos lábios dele, foi nascendo um sorrisinho orgulhoso. “Vocês, por acaso, sabem qual é o meu nome completo?”

“Deixa eu ver se me lembro... é Guilherme Rodrigues Owen, certo?”, respondeu Mônica.

“É, sim... e isso não te lembra nada em especial?”

         Ela entrou no estado auto-conversativo, procurando nos seus vastos arquivos internos algo que se relacionasse àquele nome. Num estalo, voltou ao mundo real. “Espera, eu sei! É um nome inglês!”, respondeu, finalmente. Atena continuava sem entender. Percebendo isso, Guilherme acrescentou:

“E sabem qual é o nome do meu avô? É Abraham Berlitz Owen”.

“E...?”, indagou Atena, olhando para ele. Não foram necessárias mais explicações, obviamente.

“O seu livro é inglês. Meu avô é inglês. Você não acha que eles podem... se entender?”, pensava Guilherme.

         Atena ficou petrificada quando ouviu aquilo. “É sério? Seu avô é inglês!!!”, exclamou ela. Ele ainda ia completar, mas ela entrou na frente de novo. “Ele também é...”

“E é formado em letras? Nossa, eu... eu não sei o que dizer!” Guilherme não estava acostumado com aquele tipo de situação. Mas não deixou a sua surpresa vir à tona.

         “Não precisa dizer nada”, disse ele. “Você e a Mônica vêm comigo?”


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