O Coração Dos Quatro Elementos escrita por MisuhoTita


Capítulo 22
Fragmentos das Memórias de Tommy




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Merat...

À noite caí fria e sombria em Merat, o céu está escuro e sombrio, sem lua, sem estrelas, e repleto de nuvens carregadas, o que significa que irá cair uma forte chuva muito em breve.

E, no meio da escuridão das trevas da noite, Tommy caminha solitário por entre as árvores de uma densa floresta. O Mensageiro da Morte sabe que não pode voltar para o Castelo do reino do Vento, porque, assim que voltar, será novamente castigado pelo Mago das Trevas por ter protegido novamente aquela garota chamada Tita.

Por outro lado, está, definitivamente, determinado a descobrir porque tem este instinto tão forte que faz com que só pense em protegê-la. As duas vezes em que o destino, ou seja lá o que for, o colocou frente a frente com esta jovem foi à mesma coisa, não fora capaz de usar a cabeça, apenas o instinto de que deveria protegê-la custe o que custar.

Aquela Maga que sempre está com Tita, lhe disse que o Mago das Trevas lhe irou algo precioso há muito tempo. Mas... O que será que ela quis dizer com isso? Será que isso tem a ver com o estranho sonho que tivera dias atrás?

Está decidido a procurar por expostas e, por este motivo, caminha com um destino em mente, o reino do fogo, o local de seu nascimento. Seu instinto lhe diz que em sua terra de origem, poderá encontrar as respostas que procura e, é exatamente isso que vai fazer! Ir atrás de respostas e não irá parar enquanto não encontrá-las!

A chuva começa a cair e Tommy continua sua caminhada, sem se importar com os fortes pingos de água que caem sem parar sobre si. Totalmente ensopado, continua sua caminhada, rumo ao reino do Fogo, mas também a procura de respostas.

E, não vai parar enquanto não encontrar as suas respostas leve o tempo que levar!

Caminha por longas horas, seu corpo totalmente encharcado, até finalmente chegar ao reino do fogo. Um sentimento estranho começa a tomar conta de Tommy, pois, não pisa em sua terra natal desde... Desde quando?

Para esta pergunta, ele também não tem uma resposta... E, pela primeira vez em muitos anos, ele sente um imenso vazio em seu ser... Sente, no fundo de sua mente, um vazio profundo, como se faltasse uma parte muito importante de si e, ali, em sua terra natal, é o único local do mundo em que pode recuperá-la...

Começa a andar por um pequeno bosque, sem saber ao certo qual direção deve tomar... Sem saber ao certo para onde deve ir... Agora que chegou a terra em que nasceu, para onde deve ir? E, mais importante, o que deve procurar?

Fecha seus olhos, a fim de tentar encontrar no que resta de seu coração alguma resposta. Sente os pingos da chuva, cada vez mais fortes, tocando sua pele já totalmente molhada. E, tenta ignorar isso, pois o que importa realmente é tentar encontrar uma direção para se seguir... Uma direção que o leve mais perto das respostas que tanto procura...

Por vários minutos, um silêncio profundo, em que os únicos sons a serem ouvidos são o balançar das folhas das árvores... A fria canção do vento soprando... Os pingos de chuva chegando ao chão...

E, no meio deste silêncio, em que somente os sons da natureza podem ser ouvidos, Tommy começa a ouvir a triste melodia de seu coração... Uma canção de dor e sangue, que ele não consegue compreender... Uma profunda tristeza toma conta de seu ser, ao mesmo tempo em que descobre qual direção ele deve seguir.

Abre os olhos e, para sua total surpresa e espanto, já sabe que direção deve tomar e, a passos firmes e decididos, começa a tomar exatamente a direção em que manda o seu frio coração.

Caminha por aproximadamente duas horas e, seus olhos começam a ficar pesados de sono, mas, não quer parar enquanto não chegar a seu destino. Por isso, mesmo com o sono querendo dominá-lo, continua a caminhar.

E é então que chega ao local em que aparentemente é o seu destino, os escombros de uma enorme mansão. Mas, o que o surpreende, e, ao mesmo tempo faz com que seus olhos se arregalem de surpresa, é o fato de saber que já esteve naquele lugar antes...!

A enorme mansão está completamente em ruínas, dela, não resta pedra sobre pedra, somente os escombros para contarem sua história... E, o belo jardim, morto, e, onde outrora as mais belas plantas cresciam, dando vida aquele local, hoje, apenas ervas daninhas encobrem os resquícios de um dos mais belos jardins do reino do fogo.

Ainda tentando vencer o sono que quer dominá-lo, Tommy começa a caminhar bem lentamente por aquela propriedade totalmente destruída, e, no chão, algo chama sua atenção. Uma pequena caixinha de música, talhada em madeira pura, com um desenho de coração em seu centro, de ouro puro. Mesmo com os anos, Tommy percebe aquela pequena caixinha de música intacta, apenas coberta de poeira.

Estranhamente, aquele objeto faz vir a seu coração um sentimento de tristeza, que, ele não sabe explicar...

Se senta no chão, segurando aquele pequeno objeto e, o abre. Um espelho recobre o interior da caixinha, e, uma miniatura de um anjo feminino começa a dançar em volta de um dos espelhos, ao som de uma triste melodia, que soa estranhamente familiar aos ouvidos de Tommy, e, o Mensageiro da Morte tem a mais absoluta das certezas de que já ouviu essa melodia em algum lugar antes, só não consegue se lembrar de onde...

A triste melodia ecoa em sua mente, mexendo tanto com ele que, não é capaz de segurar uma solitária lágrima que cai em sua face, e, ele a limpa imediatamente.

Dominado pelo cansaço e, ao som daquela triste melodia, Tommy finalmente se deixa levar pelo sono, caindo na inconsciência e sendo levado para o mais profundo de seu ser... Um lugar totalmente esquecido e que há muito fora selado por aquele que nos tempos atuais é considerado o homem mais poderoso de Merat...

*****

Andrew e Alexei levaram Hatara, Aisha e Tita para a casa em que vivem e, Andrew logo ofereceu o quarto de Alexya para Tita descansar. Deitou a jovem na cama da filha, apagou as velas e fechou a porta, não demorou muito para a jovem acabar dormindo.

E, após acomodar Tita, Andrew foi se encontrar com o irmão, Aisha e Hatara na sala, para planejarem o que vão fazer com relação à Alexya, porque em nenhum momento, Andrew se esqueceu da pequena filha, que neste exato momento é refém do poderoso e inigualável Mago das Trevas.

− E a Tita? – pergunta Hatara, preocupada com a sua protegida.

− Ela dormiu. – responde Andrew – Não se preocupe, ela está bem, meu irmão chegou bem a tempo de me impedir de fazer qualquer mal a ela. O que me faz lembrar a outra questão, Alexei.

− Não esqueci. – fala o mais novo – E, o que disse, continua valendo, há outro caminho para resgatarmos a Alexya, irmão.

− Pelo que eu entendi da história, o Mago das Trevas sequestrou a Alexya para te obrigar a passar para o lado dele e matar a Tita, certo, Andrew? – pergunta Aisha.

− Exatamente. – responde Andrew – Ele deixou bem claro que, a única maneira de eu ter minha filha de volta, era eliminando a Tita. Só não entendo porque ele quer tanto aquela menina morta.

Ao ouvir as palavras de Andrew, Hatara desvia propositalmente seu olhar, pois, não pode revelar a nenhum deles o que ela sabe. Não ainda... Ainda não chegou o momento de toda a verdade ser revelada... E, enquanto este momento não chega, deve continuar a desempenhar sua missão de proteger Tita e guardar este segredo, mesmo que a primeira parte desta missão, ela não esteja conseguindo cumprir muito bem...

O momento em que Hatara desvia o olhar não passa despercebido por Andrew e, de imediato, o homem percebe que ela esconde algo e que, ela sabe muito mais do que quer revelar.

− Eu posso estar enganado, Hatara, mas, minha intuição me diz que você sabe o motivo do Mago das Trevas querer a Tita morta. – Andrew não consegue deixar de comentar.

− Não está enganado. – responde Hatara – Eu realmente sei. Mas, mesmo que e peçam, eu não posso contar. Este é um segredo que não me pertence, um segredo que eu guardo, mas que não é meu!

− Esse segredo também tem relação com o fato do Tommy ter lutado com todas as forças dele para proteger a Tita? – continua Andrew – Não pense que me passou despercebido à semelhança entre os dois, Hatara. Eles são muito parecidos, especialmente os olhos, que são exatamente iguais. Posso estar errado, mas eu acho os dois são...

− Não está errado. – Hatara não o deixa completar a frase – Mas o Tommy tem que se lembrar disso sozinho. Ele tem que usar o poder que há no coração dele para quebrar o feitiço lançado pelo Mago das Trevas, e recuperar as memórias que lhe foram roubadas.

− E ele será capaz de conseguir isso? – questiona Alexei.

− Eu não sei. – Hatara volta a responder – A única coisa que eu sei, é que só ele tem a chave para recuperar as próprias memórias. Nós não podemos ajudá-lo. Mas de uma coisa eu sei, o Tommy, não vai parar enquanto não descobrir o próprio passado e, falo isso não porque o conheço, e sim porque o pai era um homem obstinado, segundo ouvi falar.

− Mas deixando o assunto do Tommy e da Tita de lado, temos que pensar no que fazer para salvar a Alexya. – a voz de Aisha se faz ouvir.

− Tenho certeza de que, assim que o Mago das Trevas souber que eu não matei a Tita conforme ele me ordenou, irá matar a Alexya como represália. – a voz de Andrew soa demasiado triste.

− Quando eu disse que existe outro caminho, eu não estava brincando, irmão. – Alexei coloca uma de suas mãos no ombro de Andrew em sinal de apoio.

− Que outro caminho seria esse? – Andrew não deixa de perguntar – O Mago das Trevas colocou uma bomba no corpo da minha filha! Pode matá-la a qualquer momento!

− Perdoe-me. – interrompe Hatara – Mas, poderia me contar melhor esta história de bomba no corpo de sua filha?

− É claro. – responde Andrew.

E então, o Mago da Casa da Água calmamente conta a Hatara e a Aisha toda a história sobre o sequestro de Alexya e como fora chantageado pelo Mago das Trevas para se juntar a causa dele e, que se não seguisse as suas ordens, quem pagaria seria sua filha.

As duas magas escutam a história com bastante atenção, nem ao menos piscando enquanto escutam a narrativa de Andrew e, entendendo perfeitamente bem a razão de ele ter tentado assassinar Tita.

Ao final da narrativa, Andrew não consegue conter as lágrimas, e, em um gesto carinhoso, Aisha se aproxima e o abraça, para confortá-lo um pouco, pois sabe que tudo o que ele precisa, neste momento, é de ombro amigo para poder desabar.

Andrew chora até derramar todas as suas lágrimas, ensopando a bata de Aisha, mas ela não se importa, pois seu desejo é ajudar o amigo de longa data e, ela sabe que pode fazer isso.

Quando Andrew consegue parar de chorar, os dois terminam o abraço e, Hatara o encara de forma compreensiva.

− Eu sei de alguém que pode os levar a Alexya. – Alexei fala – É claro que ela não fará isso de forma voluntária, mas, ela nos levará a menina, tenho um plano.

− Se conseguirmos resgatar a criança, a Tita pode remover a bomba no corpo dela. – Hatara sorri esperançosa.

− Como é? – Andrew, obviamente, se surpreende com as palavras de Hatara.

− A Tita te poder suficiente pra extrair a bomba do corpo da sua filha. – Hatara sorri – Por isso o Mago das Trevas a quer morta.

− Alexei, meu irmão, por favor, nos conte seu plano. Acho que estou começando a enxergar uma luz no fim do túnel para a Alexya.

*****

Em uma bela propriedade no Reino do Fogo, um quarto de menina é todo decorado de branco e rosa bebê e, em um berço de ouro, uma recém-nascida dorme. A menina está vestida de branco e, é toda cabeludinha, os cabelos, tão negros como a noite.

Ao lado do berço, uma pequena caixinha de música toca uma melodia suave e triste, que inunda o ambiente com sua melodia.

Pendurado sobre o berço, um garotinho de olhos azuis e cabelos negros olha a bebê dormindo e não deixa de sorrir. A seu lado, uma bela mulher, de pele branca e cabelos longos, lisos e negros, e, olhos do mesmo azul que os do menino.

− Ela está dormindo, mamãe? – pergunta o garotinho.

− Está sim, Tommy. – responde a mulher – Por isso não podemos fazer barulho, para não acordá-la.

− Ela é muito pequenininha.

− Todos os bebês são, Tommy. Você também era pequenininho quando era bebê. E, assim como você, sua irmãzinha vai crescer e se tornar forte.

−Eu amo muito a minha irmãzinha, mamãe. – o garoto sorri.

− Eu sei, Tommy. E, como um bom irmão mais velho, você tem que protegê-la, sempre. Não importa o que aconteça, você sempre protegerá a Tita, Tommy. Você sempre protegerá a sua irmãzinha!

*****

Tommy acorda sobressaltado. A chuva cessara e os raios fortes de sol iluminam um novo dia. Em suas mãos, aquela caixinha de música ainda toca aquela triste melodia, enquanto uma pequena parte de seu passado perdido voltara a sua mente em forma de sonho...

Uma parte que lhe explica claramente porque sempre protegeu aquela garota chamada Tita...! Porque não conseguiu matá-la quando jurara que iria fazê-lo...! Ela é sua irmã...! Tita é sua irmã...!

Ali está o motivo pelo qual a protegeu duas vezes seguidas...! Ela é sua irmã...! Sua irmã...!

Mas, por que não se lembrava dela...? Por que foram separados...? Será que isso tem a ver com o Mago das Trevas...? Certamente...! Porque uma coisa que está clara como cristal, é que o Mago das Trevas quer Tita morta... Mas por que...?

Agora isso não importa...!

Agora, o seu maior e único desejo é encontrar sua irmã...! Precisa vê-la novamente...! Precisa ver aqueles olhos azuis tão idênticos aos seus e tão cheios de bondade e dizer a ela que é seu irmão...! Que se lembrou de uma parte de seu passado e descobriu essa verdade...!

Fecha a caixinha de música que tem em mãos e se levanta. Começa a caminhar, deixando aquele lugar e com uma certeza em mente, de que protegerá sua irmã custe o que custar! E, não importa quem tenha que enfrentar...!

Ao descobrir uma parte de seu passado, descobrira também um novo propósito para sua vida...!

Sabe que tem muito mais escondido em suas lembranças perdidas, mas, isso pouco importa para ele...! No momento em que se lembrou de que tem uma irmã, algo novo tomou seu coração...!

E esse algo novo é totalmente tomado por ela...! Algo bom e puro que somente ela é capaz de preencher! Um desejo de protegê-la sempre, de estar com ela...!

Começa a caminhar, deixando aquele reino e, pedindo a seu coração que novamente o leve até ela... Que ele o leve até a sua irmã...! Que ele o leve até a Tita...!

******

Terra...

Lia está sozinha em uma praia, admirando o sol se pondo, os últimos raios de sol iluminando as águas do mar em uma visão única, que ela nunca tinha visto. Se senta nas areias cristalinas para admirar melhor aquela doce visão que acalma seu coração...!

Desde que fora deixada sozinha, vem tentando refletir não apenas sobre toda a história envolvendo o seu passado, como também sobre o que fazer a partir de agora...

Muitas coisas ainda estão demasiado confusas em sua mente, mas, mesmo assim não pode simplesmente fingir que não sabe a respeito de seu passado... Precisa tomar um rumo... Precisa de uma direção para seguir a partir de agora... Precisa saber o que fazer com sua vida, agora que sabe que é filha do Mago mais poderoso de sua Casa...

Precisa decidir o que fazer...!

Olhar as ondas do mar parece ter um efeito calmante em seu conturbado coração, ao mesmo tempo em que a suave brisa do vento fala com ela, como se dessem as respostas que ela tanto busca...

Queria que Merat fosse como esse belo mundo chamado Terra...!

Queria que seu mundo não fosse tomado pela guerra...!

Queria poder viver em um mundo onde a paz reinasse e todas as pessoas fossem felizes, sem a necessidade de lutarem umas contra as outras...!

Odeia a violência...! Sempre odiou e, acha que lutar é errado...! Que os Magos de seu mundo não deveriam lutar e se matar como eles fazem em busca da pedra suprema...! Se tivesse como, daria um jeito de se ver bem longe dessas batalhas, porque bem no fundo de seu coração começa a sentir que, durante todos esses anos ela apenas fora usada pelo Mago das Trevas, apenas por ser a filha do Mago Guardião da Casa do Vento, como se isso a fizesse tão forte como o “pai” foi...

Querendo tirar todos estes pensamentos de sua cabeça, se levanta, tira seus sapatos e, começa a caminhar até o mar. Sente as ondas se quebrando em seus pés e, um sorriso surge em seus lábios, ao sentir a paz inundando todo o seu ser, apenas com o contato das ondas em seus pés.

Fica ali por alguns segundos e, quando se dá conta, alguém chega e se coloca a seu lado. Totalmente em silêncio, Lia não deixa de notar que ele é um homem. Alto, cerca de um metro e noventa centímetros de altura, pele extremamente branca. Olhos vermelhos e cabelos albinos, que caem lisos até o meio de suas costas. A leve brisa do vento faz com que os cabelos albinos do desconhecido voem levemente.

Seus olhos vermelhos encaram o olhar perdido de Lia e, o albino sorri para ela.


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Notas finais do capítulo

CONTINUA...



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