Then It Isnt Love escrita por Mary Black


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Essa one ficou martelando a minha cabeça até ser escrita. É confusa e muito whatever, mas enfim >.< Hope you like it anyway (:



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Não estava tudo correndo como o planejado.

E, realmente, eu já percebera isso há certo tempo. No começo, nosso acordo parecera conveniente e cômodo. Agora, não passava de mais uma preocupação, mais um assunto que me aborrecia e me tirava o sono, me fazendo mexer inquieto na cama, porque eu não podia rolar como usualmente fazia antes.

Não podia correr o risco de acordar Atena.

Porque, bem, ela era a causa do problema. Talvez não ela. Provavelmente, essa relação problemática e doentia que eu tinha com ela. E, por pior que parecesse ou por mais que eu a abominasse ou quisesse me livrar dela, sabia que não era mais possível. Já tínhamos passado desse ponto há muito tempo atrás. Não era mais possível simplesmente reverter a situação, acabar com essa coisa e voltar ao ponto onde somente nos odiávamos.

Um pouco tarde demais para isso, como eu já disse.

Realmente, fora uma ideia idiota continuar com isso que começamos bêbados numa festa.

Uma pena que eu não consegui perceber a estupidez antes.

Antes da minha cabeça estar girando como um turbilhão, antes de eu não conseguir mais pensar coerentemente, antes de eu perceber que o buraco era muito mais fundo do que eu pensara.

Agora, provavelmente, não era a melhor hora para pensar nisso, também. Mas eu simplesmente não conseguira desviar meus pensamentos desse lugar, desde que parara para analisar tudo. Sim, eu sei que analisar sempre todas as coisas é um dos hábitos de Atena que eu mais odeio, mas eu não pude mais evitar. Não deu mais para simplesmente fechar os olhos e imaginar que não estava lá, ou para ignorar o que parecia um elefante enfiado numa sala pequena demais.

Não faz muito sentido, na verdade. Desde o começo, nunca fez, se eu for completamente sincero.

Eu sei que devia estar feliz e satisfeito com esse acordo, pacto, o que quer que seja isso que nós temos. E, por isso, pode-se entender algo como ser-arrastado-para-o-quarto-dela-todas-as-noites por uma penca de motivos que ela já cansou de explicar pra mim, mas que podem ser resumidos em uma simples frase, com três - aparentemente - simples palavras.

Sexo sem compromisso.

É o jeito mais fidedigno que eu posso explicar o que acontece. Parece, à primeira vista, impossível de acontecer, ridículo, patético, imaginação da mente doentia do deus do mar. Mas não é.

Tudo culpa do vinho de Dionísio.

Naquela primeira noite, realmente pareceu alucinação. Atena, a deusa da sabedoria, supostamente – na minha opinião -  condenada a ficar donzela para sempre (não, eu não sei como alguém pode escolher simplesmente abdicar do sexo para a eternidade), na cama comigo.

E por “na cama”, deve-se subentender que não, nós não estávamos dormindo. Definitivamente não.

Pareceu uma grande ironia do destino, àquela altura, eu perceber que a cintura dela parecia ter sido esculpida sob medida para acomodar minhas mãos, ou que o enlace de dedos na minha nuca nunca parecera mais certo, mais perfeito, ou, principalmente, como nossos corpos pareceram se moldar, quase tornando verdade aquela lenda estúpida que Zeus criara os seres humanos como pares e depois os separara, condenando-os a procurar suas almas gêmeas.

Naquela hora, naqueles preciosos minutos de êxtase praticamente sobrenatural, onde tudo parecia mais colorido e vivo, onde o mundo parecera se resumir àquela cama de lençóis brancos e ao silêncio gutural do lado de fora apenas interrompido pelos gemidos e palavras incoerentes de Atena, tudo parecia fazer sentido. Tudo parecia perfeitamente bem.

Mas é claro que a negação não pode durar para sempre. E é claro que, nesse caso, ela foi adiada até a manhã seguinte, quando minha mente entorpecida pela ressaca não conseguiu fazer muito além de me levar, trôpego e tropeçando, até o primeiro corredor deserto fora do quarto de Atena, com as roupas postas pela metade e a cabeça a mil. A memória não poderia estar mais vívida, mesmo já tendo sete meses e doze dias de existência. Eu ainda me lembro do mármore frio da coluna nas minhas costas enquanto eu escorregava para o chão, ou do tom azul-alaranjado do céu em que o sol ainda não nascera por completo, ou do barulho dos pássaros e outras aves que Hera colocara no Olimpo, ou do cheiro das rosas brancas que estavam no vaso ao meu lado.

Eu lembro que meu primeiro pensamento foi algo entre uma repreensão e um tapinha nas costas, porque, afinal de contas, eu acabara de sair do quarto de Atena, plenamente satisfeito, diga-se de passagem. Logo depois, eu me recordei do voto de castidade que ela fizera, subitamente com medo de que, sei lá, um raio fosse cair do céu e me queimar vivo, até que percebi que, se alguma coisa do gênero tivesse de acontecer, já teria acontecido há algum tempo, e então relaxei. Relaxar, talvez, seja superestimar o que eu fiz, que foi me arrastar até o banheiro e ficar bem mais de uma hora debaixo da água gelada tentando achar um sentido naquilo tudo.

Irrelevante comentar que, quanto mais eu pensava, mais ficava confuso.

E não é como se eu fosse bater à porta do quarto dela e perguntar o que diabos acontecera.

Foi muito fácil evitar encontros com quem quer que fosse até a hora do almoço, onde supostamente devíamos nos reunir todos num grande salão com uma mesa maior ainda e comer fraternalmente como a grande família que éramos. Claro que tudo isso foi ideia de Hera. Até aí nada de mais, até o momento em que eu me sentei no meu lugar habitual e percebi que Atena estava sentada exatamente à minha frente. Ela pareceu notar isso uma fração de segundo antes que eu, porém, e quando eu me dei conta ela estava chamando Deméter e pedindo para trocar de lugar com ela enquanto murmurava algo sobre a luz estar machucando seus olhos. Nesse momento já deu para ter uma ideia da atitude que ela tomaria a partir de então, visto que ela sentara na ponta da mesa oposta à minha, mas do mesmo lado, de modo que, por acidente, nossos olhares não se cruzassem.

Se era para tratar a noite anterior como um acidente, uma consequência fatídica do consumo excessivo de álcool ou uma atitude impulsiva e impensada que nunca teria sido tomada em qualquer outra ocasião, tudo bem.

Eu definitivamente podia fazer isso.

Mas mesmo eu sabia que não seria tão fácil simplesmente esquecer essa noite, como se fosse apenas mais uma insignificância que atravessara meus milênios de existência. Como se fosse apenas mais uma.

Dado o decorrer desse dia, foi com muita surpresa que eu em peguei, seis dias depois, atracado à mesma deusa e beijando-a como se o mundo estivesse prestes a acabar.

Não, eu não sei por que aconteceu. Culpa da testosterona, talvez, ou qualquer outro motivo idiota que possa servir de desculpa.

A partir dessa noite, foi como um pacto silencioso que tivéssemos feito. Proveitoso para as duas partes, sem pensamentos ou análises ou qualquer outra coisa que pudesse complicar tudo envolvida.

Tão fácil como embrulhá-la num pacote ornamentado de mentiras, escondendo de tudo e de todos o que estávamos fazendo. Eu não estava muito preocupado, a essa altura. Não é como se minhas emoções fossem interferir, ou como se eu estivesse preocupado com o estado delas, ou até mesmo com as de Atena. Parecia a coisa mais simples de todo o universo.

E não é como se eu estivesse insatisfeito, não. É só que, depois de algum tempo, era como se faltasse alguma coisa. Alguma coisa que eu não sabia o que era e que eu não sabia definir, mas sabia que faltava.

Eu ainda tentei trazer o assunto à tona, ainda tentei falar com Atena a respeito disso. Ela pareceu entender imediatamente o que eu queria dizer, mas talvez não quisesse exatamente discutir o que quer que fosse, porque ela me silenciou com um beijo urgente e frântico, que imediatamente afastou essa linha de pensamento da minha cabeça.

Quase como se não falar sobre isso significasse que não havia nada errado. Como se ignorar fosse a saída mais inteligente, mais prática, o meio mais fácil de garantir que tudo continuaria dando certo. Aquela psicologia infantil do “se eu não vejo, é porque não está aqui”.

Mas, agora, parecia perfeitamente claro para mim o que era. Parecia idiota não ter percebido antes, ou talvez eu só tivesse negado ou fingido que não vira. Provavelmente a segunda opção.

Também havia a possibilidade de eu ter repetido tantas vezes para mim mesmo, como um mantra, que eu era incapaz de me apaixonar ou ter sentimentos mais profundos por qualquer pessoa e aí, por consequência, tivesse começado a acreditar piamente nesse fato.

Eu não tinha, afinal de contas, experiência suficiente com o amor para saber do que se tratava. Talvez ela soubesse do que se tratava. Talvez e, provavelmente, ela percebera muito antes de mim. Talvez tudo fosse dar errado se parássemos para pensar nas consequências.

Mas uma pequena parte de mim, lá no fundo, queria que ela pensasse nisso, na possibilidade. Queria que ela analisasse e, mais importante, queria que ela percebesse que eu estava certo, que tudo aquilo era muito, muito mais do que somente sexo. Que nada é simplesmente preto no branco, que há muitos e muitos tons de cinza no meio. Tons que nós, silenciosa e solenemente, decidimos ignorar.

Talvez o problema fosse comigo. Talvez eu fosse muito covarde para admitir meus pensamentos em voz alta e correr o risco de perder o pouco de Atena que eu tinha.

Não era uma simples questão de tudo ou nada. O espaço no meio, que era exatamente onde eu me encontrava, parecia confortável no começo, até eu parar para pensar mais um pouco.

Provavelmente, em algum ponto no meio do meu monólogo, eu deixei de fazer sentido. Mas quem se importa? Todos os poetas românticos dizem que o amor não foi feito pra fazer sentido. Supondo-se que realmente seja amor isso que existe entre nós.

Sou parcialmente interrompido por uma mudança na cadência da respiração dela. Eu espero que ela abra os olhos turvos de sono, mas isso não acontece. Em vez disso, ela simplesmente se aconchega um pouco mais no meu peito, como se procurasse se aproximar mais e acabar com um espaço entre nossos corpos que, bem da verdade, já não existe. Ela parece murmurar algumas palavras desconexas, que de algum modo fazem todo o sentido para mim. E, no meio das palavras soltas, eu acho que escuto um “eu te amo”. Claro que eu não sei se ela está falando isso na vida real ou no sonho, mas o efeito em mim é o mesmo.

E é olhando para a expressão relaxada e calma no rosto dela que eu percebo que não é tão simples assim. Não pode ser tão simples.

Como se sentisse minha agitação interior, Atena começa a se mexer, do jeito único que ela faz quando está prestes a acordar. Sim, eu acabo de admitir que fiquei, sim, assistindo a ela dormir, e eu sei que isso soa maníaco e talvez meio pervertido, mas é como se houvesse um campo magnético ao redor dela que me impede de olhar para qualquer outra coisa que seja. O que, em mais de uma ocasião, quase resultou em situações potencialmente embaraçosas para a minha parte.

- Poseidon? – ela chama, a voz não mais que um murmúrio. Uma simples indagação, que parece não ter nada de mais, mas eu a conheço o suficiente para saber que o cérebro dela já está funcionando a mil e que, por trás dessa pergunta, há muitas outras que podem ser subentendidas.

- Eu estava só... pensando, Atena. Não é nada de importante. Pode voltar a dormir. – como que para enfatizar minha afirmação, minha mão involuntariamente começa a afagar os cachos loiros.

- Você não está pensando ainda sobre o que discutimos antes, está?

Engraçado como, só de olhar para a minha expressão, ela já conseguiu descobrir praticamente tudo. Talvez eu realmente devesse pressioná-la a conversar, a pôr os pingos nos I’s até que tudo volte a fazer sentido para mim.

Como eu não respondesse, ela sentou, mexendo impacientemente com os dedos, como fazia quando estava nervosa – Nós podemos falar sobre isso se você quiser, Poseidon. Eu... eu provavelmente fui um pouco rude mais cedo, mas é que... eu supus que não fosse uma coisa assim tão importante. Mas eu estava errada, é claro, porque você já devia estar no décimo sono mas ainda não dormiu, e deve ter ficado remoendo tudo na sua cabeça e... – ela olhou para mim, a expressão sinceramente preocupada, os olhos cabisbaixos e quase um bico nos lábios – Me desculpe, Poseidon.

E foi naquele momento, naquela exata fração de segundo, que o Tártaro se partiu ao meio.

Foi exatamente ali que eu tive a certeza do que era tudo aquilo. Do que eu sentia, do que ela sentia mas não queria dizer, porque estava com medo de estragar tudo. Finalmente, eu comecei a pensar nas tais consequências que ela falara mais cedo; talvez não dando o foco que ela esperara, mas dando ênfase à parte mais importante, à parte em que ela provavelmente não pensara. A parte em que eu estragava tudo.

Minhas resoluções, que pareceram tão fáceis alguns segundos atrás, agora já são impossíveis. Eu não posso mais simplesmente contar a ela as minhas suposições. Nesse caso, o tudo ou nada é um risco que eu não posso correr. Atena não é a maior fã de sentimentos. Talvez tenha até certo medo deles. E, dizendo a ela que eu acho que a amo, a probabilidade que ela acabe com o pouco que já temos é grande demais. E, por mais ridículo que soe, eu não quero que isso acabe.

É claro que também há a possibilidade que surja uma coisa boa dessa bagunça toda. Nesse meio tempo, em que minha opinião muda e muda outra vez, ela recomeça a se mexer, inquieta, já preocupada com o meu silêncio, e, olhando para ela, parece que vale a pena tentar. Que vale a pena arriscar. Atena vale a pena, e eu sei disso. Atena, como vem acontecendo mais vezes, começa a mudar minhas preposições. Então, o que é que me segura? Por que eu simplesmente não digo tudo o que penso em dizer?

E, finalmente, a resposta vem. Ela vem, enquanto Atena começa a ficar ainda mais inquieta, quase quicando na cama, segurando minha mão como se sua vida dependesse disso. Apertando-a como se para impedir que nós dois caíssemos de um precipício. Nesse momento, em que meus olhos encontram os dela e toda a gentileza e compreensão contida naquelas orbes tempestuosas, a resposta vem, límpida, clara como água.

Eu não estou pronto.

E as palavras murmuradas no que parece uma eternidade atrás, agra, já não mais acalentam, e sim assustam. O “eu te amo” pesa como um universo nas minhas costas, e eu simplesmente não consigo.

Eu não estou pronto.

Quando ela começa a parecer mais ativa, eu dou um jeito de me soltar da mão que me segura, me prende, como se do nada aquela posição passasse a ser sufocante. Eu preciso sair dali, e rápido.

Enquanto eu saio do quarto, Atena começa a desvanecer. Com ela, parecem ficar presas as memórias, os prospectos de uma felicidade que poderia acontecer. Eu ainda consigo arrumar um fiapo de coragem para olhá-la nos olhos, encarar aquelas orbes cinzentas e, nesse momento, confusas, pelo que eu espero que seja a última vez. Não acho que eu vá conseguir aguentar, no futuro, encará-la de novo, sem me lembrar imediatamente desse momento, em que eu saí sem dizer mais nenhuma palavra, deliberadamente acabando com a melhor coisa que já me acontecera desde sempre.

Mas eu não estou pronto para esse tipo de coisa.


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Notas finais do capítulo

Comentários são felizes e críticas construtivas são extremamente apreciadas ^^



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