Volterra, La Città Dei Vampiri escrita por lassdamsel INATIVO


Capítulo 1
Volterra, la Città dei Vampiri


Notas iniciais do capítulo

Essa fic é em resposta ao desafio Spamano de minha amiga Doce Amarga, Jessy, espero que goste! ^^ As demais leitoras, espero que gostem também! lol



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Volterra, Itália. Século XII



A cidade de Volterra reluzira pela quinta vez aquela noite, graças à luz dos relâmpagos. Uma forte tempestade assolava a região italiana, porém não causava nenhum estrago numeroso, no máximo algumas roupas no varal, que não foram retiradas pela dona da casa, voavam pela cidade.

Todas as pessoas estavam dentro de suas residências, ninguém seria louco de sair com aquele temporal. Um trovão ressoou fortemente e, em uma bela e grande construção, uma mulher tremeu.

A moça com belos cabelos castanhos estava vestindo um robe, preparada para ir dormir. Olhou pela janela, desaprovando tal temporal com o olhar enquanto pousava a escova de cabelo na penteadeira que possuía um imenso espelho, a pedido da mesma.

– Ainda acordada? – uma voz masculina ressonou da cama.

Luna olhou para o homem e sorriu.

– Já estou indo dormir Antonio, só estava pensando.

Ela caminhou na direção da cama, despindo o robe e ficando apenas com sua longa camisola branca, trajes típicos daquela época. Aninhou-se no peito do homem, que logo envolveu sua cintura com um dos braços. Outro relâmpago brilhou no céu, porém ela não percebeu, já estava adormecida.



Na manhã seguinte a tempestade havia se tornado uma leve garoa, porém as pesadas nuvens quase negras ainda estavam por cima da cidade, indicando que logo choveria ainda mais.

Antonio terminara os assuntos com o rei da Itália na tarde anterior, portanto, no momento, não tinha nada a fazer. O duque passeava pelos frios corredores de seu castelo, moradia que dividia com sua esposa, olhando para os grandes quadros dos corredores e se lembrando de seu passado.

Antonio era filho de um renomado conde e de uma bela condessa espanhóis. Como era de praxe, a Itália e a Espanha, ainda não unificadas, fizeram um acordo, e prometeram seus herdeiros em casamento. O herdeiro do conde se casou com a herdeira do duque italiano, Luna. A consagração do matrimônio ocorrera quando a mulher completara 13 anos, nessa época, Antonio possuía 15 anos. Em troca da união de seus filhos, seus pais anexaram diversos territórios e uniram seus exércitos, com a aprovação do rei, que na época não possuía herdeiros para fazer o acordo.

Porém, por ironia do destino, ele não gostava de sua esposa. Para ele, Luna era apenas uma garota de 18 anos, mimada e rebelde, que achava que seu casamento com Antonio era brincadeira e não negócios. Antonio chegou a seus aposentos impecavelmente arrumados, como tudo naquele castelo. Luna fazia seus criados manterem tudo completamente organizado e limpo, e isso fazia o espanhol sorrir. Ele caminhou até a janela do quarto e olhou para a pequena cidade. Porém, ao fazer isso, algo não parecia nem um pouco certo.

No centro de Volterra havia um enorme movimento. Os comerciantes e até as mulheres, crianças e idosos formavam um alvoroço. Algo com certeza estava muito errado.

Sem pensar duas vezes ele se direcionou para seu cavalo branco, o pegou e foi até a bagunça.

– Minha filha! Algo aconteceu a ela! Por favor, me ajudem! – uma mulher chorava inconsoladamente. De cima de seu cavalo, Antonio conseguia enxergar tudo, porém ficou fora do tumulto, apenas rodeando em volta.

Mais gritos e exclamações de surpresa.

– É um fantasma!

– Fantasma? Fantasmas não fazem isso! Foi um demônio, com certeza!

– Demônios, aqui? Mas o que nós fizemos de errado?

– Querida, eles não precisam de motivos para aparecer!

– O que houve com a moça!?

Dois homens apareceram saindo de dentro da casa, um carregava o corpo da jovem e o outro levava lençóis completamente ensanguentados.

A imagem horrorizou Antonio e o fez tremer até o fundo de sua alma.

A jovem que era carregada estava completamente murcha. Os olhos arregalados denunciavam que ela havia levado um susto muito grande e um de seus braços pendia em um ângulo muito estranho, denunciando estar quebrado. O corpo estava seco, como se houvesse sido retirado tudo o que havia dentro, e os ossos saltavam-lhe sobre a pele. Os cabelos, compridos, negros e lisos, estavam completamente embaraçados e sangue o sujava, juntamente com sua camisola longa e branca.

– Isso com certeza foi obra do demônio! – gritavam uns.

– Bom, mas essa moça nunca foi muito santa! – diziam outros.

O espanhol não quis saber de mais nada, apenas voltou para sua casa, cavalgando e enojado.



– Querido? O que houve?

A voz de sua esposa ressonou em seus ouvidos, porém ele não a respondeu. Já havia anoitecido novamente, e mais chuva caía pela cidade, como na noite anterior. Ele estava sentado em sua cama, olhando pela janela, de costas para Luna.

– Algo o abala desde que retornou para casa – ela tentou iniciar outra conversa.

Ele continuou ignorando-a. A imagem o havia abalado emocionalmente e no momento ele só precisava ir dormir. Será que Luna não poderia entender?

– Antonio!

O espanhol fechou os olhos, tentando não demonstrar seu estresse. Após cinco anos de casamento aquela mulher não conseguia entender quando ele queria ficar sozinho.

– Antonio, é por causa da moça que morreu noite passada?

Ao ouvi-la dizer isso, a imagem apareceu fixa em sua mente, o deixando enojado. O corpo seco e coberto de sangue, como os lençóis... Os olhos arregalados...

– Diga-me algo! – ela gritou para ele.

Silencio! – ele se levantou e gritou com fúria.

Luna calou-se. O homem não havia falando em italiano, como costumava se comunicar. Ele havia falando em espanhol. Ah... Como ele devia estar com raiva. Antonio não costumava ficar nervoso, porém quanto ficava Luna não falava nada. Porém, essa noite, ela não soube o que lhe fez respondê-lo.

– Por que está gritando comigo!? Eu só fiz uma pergunta!

– NO PUEDES ESTAR EN SILENCIO? NO QUIERO HABLAR COM NADIE!

A mulher sentiu os olhos marejarem ao ouvir o tom de voz que ele havia falado com ela. Antonio nunca, em hipótese alguma, havia levantado a voz para ela daquela forma para ela.

Estoy harto de ti! – e dizendo isso abriu a porta do quarto com violência e caminhou com fúria pelos corredores.

Luna correu até a porta e gritou a plenos pulmões:

Idiota! No parlare com me più!

Óptimo!

A duquesa fechou a porta estrondosamente e encostou as costas na madeira. Por que ele havia levantado a voz com ela daquela forma? Talvez ele quisesse ficar sozinho, após ver aquela imagem horrenda. Ela soubera por seu pai que seu marido estivera presente na cidade e vira o corpo, que ela não fora autorizada a ver. Será que estava tão feio assim a ponto de Antonio ficar traumatizado? Repensando, talvez ele realmente quisesse um momento sozinho. Escorregou até sentar-se no chão frio, sentindo as lágrimas escorrendo por seu rosto. Não era uma boa esposa, nunca estava com ele nos momentos em que ele precisara de apoio e quando ele necessitava de paz, ela era inconveniente. Sentia-se culpada.

Enxugando as lágrimas, parte delas era de susto pela reação do marido, Luna se caminhou até a janela deixando-a aberta. Chovia lá fora, porém era uma noite abafada, e com a janela aberta, o vento poderia entrar e refrescar o ambiente. Amanhã falaria com Antonio.

Deitou-se.


Antonio direcionou-se até um dos quartos de hóspedes e bruscamente atirou-se em uma cama vazia. Um trovão forte estourou e o fez pensar em como reagira. Ele estava estressado, com certeza, porém mesmo que Luna fosse uma chata, ela não merecera aquilo. Sentiu um pouco de arrependimento. Amanhã pediria desculpas para a moça, que na certa iria querer que ambos fizessem amor como parte do perdão. Mas ele não ligou muito para essa parte.

O espanhol sentiu a cabeça pesar e logo adormeceu.



Sentiu mãos frias passarem pelas laterais de seu corpo. Quem seria? Tentou abrir os olhos, mas não era possível. Estaria sonhando? Um das mãos pousou sobre o seu peito enquanto outra acariciava seu rosto, o peso de outro corpo sobre o seu. A única coisa que ele pode fazer foi levar uma de suas mãos em direção ao corpo acima do seu.

Sua mão tocou a cintura do desconhecido, e Antonio percebeu que era um homem. Por um momento sentiu-se estranho por seu corpo não ser preenchido com repulsa, mas esses pensamentos saíram de sua mente assim que sentiu as mãos geladas passando por debaixo de sua blusa.

O desconhecido levou seu rosto em direção ao pescoço do espanhol e tocou o local com seu nariz, expirando fortemente e causando um arrepio em Antonio. Logo, uma trilha de saliva era deixada no local.

O espanhol ficou ainda mais surpreso pela falta de nojo que estava sentindo, mas no momento a única coisa que importava era a identidade do desconhecido. Pelo fato de ele não conseguir se mexer, Antonio julgava ser fruto de sua imaginação. Se fosse um sonho seria realmente um alívio.

Mas que coisa! Claro que era! Por que diabos um criado daquele castelo estaria fazendo isso? Sonho seria a única explicação.

Seus pensamentos foram logo cortados quando a língua que antes explorava a base de seu pescoço foi trocada por dentes que forçavam a pele. Uma pontada de dor o tomou e ele novamente tentou se mexer, dessa vez sentindo que conseguiria, porém as mãos que passavam por debaixo de sua blusa a um segundo atrás começaram a segurá-lo fortemente, o peso do desconhecido foi lançado contra o seu e ele sentiu todos os contornos do outro corpo enquanto a pontada de dor piorava.

Os dentes rasgaram sua pele e ele tentou gritar de dor, mas novamente não conseguiu fazer o que queria, pois seu corpo não respondia. A língua passava pela ferida e os lábios gelados acariciavam aquela parte de seu corpo.

Ele queria acordar... Ele tinha que acordar...

Um grito agudo de horror cortou o ar. Antonio levantou rapidamente, ainda zonzo pelo sonho que ocorrera. Mas que coisa estr-

Com um gemido de dor ele levou a mão até o pescoço e cerrou os olhos fortemente. Sentia muita dor. Algo quente escorria de seu pescoço e ele retirou sua mão de lá, olhou com espanto para o que ele viu.

Sua mão estava encoberta de sangue. Antonio levantou rapidamente e andou a direção do espelho de seu quarto. A base de seu pescoço estava com uma aparência inchada e mordida. Outro grito agudo cortou o ar seguido de pedidos de socorro e o espanhol percebeu que o grito não fizera parte de seu sonho.

Ainda com o pescoço exibindo muito sangue, ele correu para onde viera o grito não se preparando para encontrar um alvoroço em frente ao quarto que não dividira com sua esposa noite passada.

Uma das criadas chorava compulsivamente, enquanto a outra a consolava. O pai de Luna estava presente, e pelo fato de que ele nunca saía de seu escritório, Antonio deveria perceber que aquilo era coisa seria.

– O que está acontecendo? – o espanhol tentou se integrar a conversa.

– Senhor Carriedo – disse a criada que não estava chorando, porém demonstrava uma expressão de horror – Por favor senhor, não entre nesse quarto!

– Mas por que não?

– Antonio – seu sogro dissera, o olhando duramente – Obedeça. Não entre - Ninguém parecia ter percebido a horrorosa ferida que ele exibia.

O pai de Luna entrou no quarto sendo seguido por mais um homem, um dos serviçais do castelo.

O espanhol não entendia mais nada... O que era aquilo? Será que-

Ele sentiu a cena do dia anterior repetir-se em sua mente. Dois homens entraram... Sangue... Feridas... Morta.

Essas lembranças foram como um baque horrível para ele, aquilo havia sido feio para um homem que nunca havia visto a morte se apresentar daquela forma.

Logo seus temores viraram realidade quando ele percebeu que a cena realmente se repetia. O pai dela saia do quarto carregando um corpo, corpo que ele reconheceu como sendo o de sua esposa.

– L-Luna? – Antonio horrorizou-se – O-o que aconteceu com ela?

O antigo duque apenas o olhou com os olhos cheios de pesar e desceu as escadarias do palacete.

– O que houve? – Antonio repetiu a pergunta. A criada que estava em boas condições, não muito boas, mas ele pouco se lixava para isso, logo o encarou e respondeu sua pergunta com pranto na voz.

– A s-senhora Luna foi... Atacada esta noite.

– Atacada? – espantou-se – Pelo que?

– Não sabemos, mas julgamos ser o mesmo monstro que atacou a moça no dia anterior...

Antonio sentiu-se mal. Tudo bem, ele não gostava de Luna, mas isso não significava que ele a queria morta. Logo, ele ouviu um suspiro de horror e a criada que antes sentava no chão apoiando-se nos ombros da outra agora estava em sua frente.

– Senhor Antonio... – ela começou – O que houve com seu pescoço? Venha comigo, iremos cuidar dessa ferida. – no momento em que ela disse isso, ele se lembrou de que estava ferido e a outra criada também percebeu.

Todos estavam muito abalados pela morte de Luna.

Mas quem seria capaz de tal crueldade? A garota nunca fizera mal a ninguém.

E o pior de tudo era que ela fora dormir magoada com ele...


– Pronto – a criada disse –A ferida está limpa.

Havia se passado alguns minutos desde que sua ex–esposa fora encontrada. Seu sogro levara o corpo para ser cremado, segundo o mordomo. Seria cremada em frente ao mar. A garota sempre gostara do mar.

Antonio retornou para seu quarto, o que antes dividia com sua esposa, e analisou melhor o local. Já havia sido limpo. Os lençóis foram trocados, o lugar fora perfumado, as cortinas trocadas e os objetos dela foram retirados da penteadeira. As roupas haviam sido levadas fazia pouco tempo, para serem cremadas junto com o corpo.

Ele se sentou em sua cama e respirou fundo. Mesmo que tudo aquilo que estivesse acontecendo fosse terrível, fora muito repentino. Ele ainda achava que aquilo era mentira, e que ele iria acordar... Acordar daquele pesadelo.

Pesadelo...

A palavra o fez voltar ao sonho que tivera na noite anterior. A ferida que lhe fora causada no pescoço... Estranho que ninguém havia lhe perguntado sobre isso. Bom, mas se fosse assim, isso até seria bom. Desta forma não pensariam que ele tentara matar a própria esposa.

Batidas na porta indicaram a presença de alguém.

– Entre.

A silhueta de um homem adentrou a porta. O antigo duque. Seu sogro.

– Pensei que havia ido-

– Eu fui – ele respondeu – Está tudo preparado. – ele fungou – A cremação ocorrerá à noite, para fazermos jus ao seu nome. Luna.

O homem aparentava ter uns quarenta anos. Ele renunciara do cargo de duque por ter extrema confiança em sua filha e em Antonio, portanto cria que eles saberiam comandar Volterra e auxiliar o rei.

– Antonio.

Sí?

– Você sabe se a mesma criatura que a... Matou... Foi a mesma que te atacou causando essa ferida?

– Muito provavelmente. Porém eu não me lembro de nada...

– Entendo – ele ficou quieto por um segundo e logo retomou a falar – por que não estava com ela no quarto ontem à noite?

– Tivemos uma... Discussão. Fui dormir em outro quarto.

Capisco.

O silêncio reinou.

– Então... – o velho começou novamente – Você irá à cremação desta noite?

No – o espanhol respondeu acidamente.

Seu sogro caminhou na direção da porta, preparando-se para se retirar, no entanto, antes, disse algo que surpreendeu o espanhol.

– Sei que não gostava de Luna, mas pelo menos finja isso. Ver que minha filha não era amada me magoa profundamente.

E saiu.



O corpo já havia sido cremado. Todos os criados da casa saíram para ver o ritual, mas Antonio permanecera em casa. Ainda em seu quarto.

Poderiam lhe chamar de sem coração, mas o que lhe preocupava no momento era sua própria vida. A alma de Luna já estava a salvo no paraíso, porém era a vida dele que o preocupava. Quem fizera aquilo noite passada voltaria e faria novamente?

As sensações que lhe foram causadas, sendo sonho ou não, o perturbavam. Seja como for, um homem havia entrado em seu quarto noite passada e feito sabe-se lá o que com seu pescoço. Seria um demônio? Ele não sabia dizer. Mas essa noite ele descobriria. Foi até a penteadeira e abriu uma das gavetas, pegando sua corrente com um crucifixo na ponta e colocando-o no pescoço. Aquele negócio seria destruído. Iria se vingar pelo que aquilo andava fazendo no reino inteiro, com certeza a moça do dia anterior não fora a primeira a ser morta.

Ele despiu-se, arrancou o curativo que não era mais necessário após o estancamento do sangue e deitou na cama, agora não havia mais esposa chata para manda-lo dormir com roupas... Como ele odiava dormir vestido!

Antonio fechou os olhos e esperou a chegada do desconhecido.


O vento que entrou pela janela aberta foi forte e barulhento o suficiente para acordar Antonio. Aquela noite não chovia, mas fazia frio. O espanhol abriu os olhos lentamente, enxergando tudo embaçado. Porém rapidamente fechou os olhos. Havia algo errado e ele sabia.

A presença de seja lá quem for ficava mais próxima. Ele não ouvia passos ou respiração, mas sabia que aquilo estava se aproximando de sua cama. Ele pensou em fazer diversas coisas, porém optou por ficar em silêncio e quieto. Seja o que quer que fosse seria repelido pelo crucifixo.

Porém aquilo não pareceu nada certo, pois logo ele sentiu novamente o peso de alguém deitando sobre o seu corpo coberto pelos lençóis e mãos geladas acariciando sua face. O homem puxou-lhe levemente os cabelos fazendo a cabeça de Antonio virar e expor seu pescoço. O espanhol sentia o medo lhe atravessar como uma faca, o que era aquilo?

Mas seria agora. Ele teria que enfrentar aquele demônio ou então ele atacaria outras pessoas do reino.

Esperou que a criatura se ajeitasse em cima de seu corpo, colocando uma das mãos em sua cintura e, como em seu sonho, lambendo seu pescoço.

Seria agora.

Rapidamente, Antonio colocou as mãos no quadril do desconhecido e girou seus corpos, parando por cima dele. O demônio não pareceu se assustar com a reação abrupta, mas mesmo assim o espanhol segurou os dois braços da criatura, segurando-os fortemente acima de sua cabeça e logo ficou com as pernas no espaço entre as do outro, assim impedindo que ele se aproveitasse da situação e usasse um golpe baixo contra Antonio.

A luz da lua que entrava pela janela aberta iluminou os corpos de ambos e Antonio surpreendeu-se duplamente.

Primeiro por que aquilo não era um demônio. Parecia ser um homem normal, talvez um pouco mais novo do que ele.

E segundo, ele era incrivelmente lindo. Não havia comparação, nem mesmo os homens ou mulheres mais lindos da Itália (unificada ou não) e do Reino da Espanha juntos se comparavam aquele homem à sua frente. Os cabelos eram castanho-escuros e os olhos era cor de caramelo. Ele se vestia em trapos. A blusa de botões era amarelada e a calça era preta, por cima ele usava um sobretudo de uma cor escura e nos pés sapatos surrados.

– ¿Quién és?- foram as únicas palavras que saíram dos lábios de Antonio.

O homem apenas o olhou com uma expressão de raiva, uma expressão esnobe sendo transmitida na bela face.

– Eu perguntei quem é você! Responda!

O demônio o olhou nos olhos, depois olhou para seu crucifixo e novamente nos olhos.

Antonio percebeu o que ele queria dizer com o olhar. Ainda segurando os braços dele com uma das mãos, ele arrancou o crucifixo do pescoço e o jogou na penteadeira ao lado da cama.

– Acho que agora você pode falar.

A criatura sorriu.

– Achei que não iria perceber, bastardo – a voz era doce e ecoou baixa na quietude do quarto.

– Perceber o que? Sua imunda presença em meu quarto, demônio?

– Também – deu uma risadinha – Mas, creio que você cometeu um equivoco.

– O que quer dizer com isso? – Antonio repreendeu com raiva.

– Não sou um demônio... – e ao dizer isso se soltou do aperto de Antonio e empurrou o outro contra os lençóis da cama, postando-se por cima dele e segurando os braços acima da cabeça, como o espanhol fizera com ele há pouco tempo – Sou um vampiro.

– Vampiro? – Antonio assustou-se – O que acha que está fazendo! Você é só um louco qualquer!

Ele deu uma risada má.

– Um louco senhor Antonio?

– ¿Cómo sabes mi nombre?

– Acho que nem mesmo um louco faria isso...

– Isso o q-

Logo sentiu os dentes do outro em seu pescoço, apertando a pele até fazê-la sangrar. Ele lambeu a base do pescoço onde escorria sangue e logo depois levantou o rosto ao alcance da vista de Antonio.

O espanhol o olhou aterrorizado. Aquela criatura, por mais bela e pura que parecesse, havia acabado de beber seu sangue.

– Nunca ouviu ninguém dizer das lendas que ocorrem aqui em Volterra, bastardo?

– Não é só porque moro em Volterra que conheço tudo o que tem por aqui.

– Pelo seu sotaque... Você é da Spagna, não é?

–...

– Bom, então, acho que não conhece as lendas mais antigas que ocorrem por aqui.

Antonio apenas o olhou em silêncio, os olhos verdes não demonstravam, mas ele estava com medo. Por que havia tirado o crucifixo?

– Volterra é la città dei vampiri.

O silencio reinou, até que o espanhol tomou coragem o suficiente para perguntar.

– Foi você?

– Eu o que? – ele abaixou-se novamente em direção ao pescoço de Antonio, lambendo o sangue que escorria da ferida recém-feita sobre a antiga ainda não cicatrizada.

– Foi você que atacou as mulheres por aqui? – tentou não transmitir a dor pela voz.

– Oh... Sim... O sangue delas não era muito bom, sabe? Quando matei sua esposinha ela tentou gritar por seu nome... “Antonio! Oh, Antonio, me ajude!”... Ela era uma vadia, sabia bastardo? Ela já te traiu como filho do mercador do reino. – lambeu novamente a ferida, e Antonio sentiu um arrepio percorrer lhe a espinha.

– Parece saber muito sobre minha vida – Antonio deu uma risada cínica.- Até mais do que eu mesmo.

– Andei te observando por um tempo, pensando se tomava ou não seu sangue – o vampiro apertou os braços do espanhol com uma das mãos e com a outra acariciou a ferida, sujando os dedos com sangue e logo o lambendo depois. Antonio fez uma expressão de nojo, mas prosseguiu com a pergunta.

– O que te fez zerá-las e me deixar vivo?

Ele riu macabramente e o olhou com os olhos claros brilhando em malícia.

Por que você é delicioso!

Antonio arregalou os olhos verdes.

– Sabe – a criatura continuou – O conde Drácula tem suas esposas... Todas mulheres. Mas olhando para você, acho que te levarei comigo. Se for para ter seu sangue e seu... Belo corpo – olhou para corpo do espanhol, que nesse momento, lembrou que estava despido.

– Não me olhe assim – repreendeu-o, mas sentiu algo estranho ao ouvir o outro falar sobre seu corpo. O espanhol sempre fora vaidoso e caliente, mas no momento sentia-se encurralado.

– Não te olhar como, Antonio bastardo?

– Você sabe como.

O vampiro desceu o rosto em direção ao pescoço de Antonio e sugou-lhe o sangue com força, Antonio sentiu-se sendo drenado, porém não conseguia gritar. Se gritasse, sentia que o maníaco o mataria na hora.

– ¿Q-Quién eres?

O outro levantou a cabeça e olhou o espanhol nos olhos, logo soltou os braços do espanhol e levantou-se rapidamente da cama. Antonio tentou levantar-se para se defender, porém estava um pouco tonto pela falta de sangue.

– Durma bem esta noite, bastardo – ele disse maliciosamente enquanto limpava os lábios sujos de sangue – Amanhã eu volto pra te fazer uma visitinha.

Subiu no beiral da janela.

- E a propósito... Chamo-me Lovino.

E dizendo isso, pulou da janela. Antonio apenas passou a mão no pescoço, exausto. Ele não havia perdido muito sangue, apenas o suficiente para lhe causar dor de cabeça. O espanhol esticou a mão e pegou o crucifixo que estava em cima da antiga penteadeira de sua ex-esposa, amarrando-o novamente no pescoço.

- Lovino, hein?

Sorriu e logo sentiu o sono levar-lhe.



Era o fim da tarde do dia seguinte e Antonio resolvera que, por ter faltado na cremação de Luna, deveria ao menos ir prestar alguma homenagem à moça (chata) que vivera ao seu lado por cinco anos. Levou algumas flores de Daisy, as preferidas dela e também as mais conhecidas da Itália.

Porventura, não fora exatamente por esse motivo que ele resolvera dar uma fugida do castelo. Ele precisava pensar. Sozinho. Ele passara a manhã ocupado exercendo sua função de duque, agora viúvo e levando broncas da criada mais velha do castelo. ‘Já disse para tomar mais cuidado! Sua sorte é que o demônio não o matou! Tome, ande com esse colar de alho! Espanta maus espíritos!’

Antonio sorrira ao lembrar que ainda usava o artefato estranho no pescoço. Margareth não o deixara sair até vê-lo com o bendito colar de alho e a corrente com o crucifixo. ‘Esses jovens de hoje em dia! Tão inocentes!’

Pousou as flores no topo do penhasco que tinha vista para a praia e fez um pequeno momento de silêncio para homenagear a jovem. Logo após, sentou-se em uma grande pedra e olhou o sol se por. Ali, sozinho, Lovino não o encontraria. Ou pelo menos era o que ele achava. O espanhol precisava pensar sobre o que estava acontecendo exatamente... Tinha que absorver os fatos de que o garoto realmente era um vampiro...

‘Ele sugou meu sangue’

Passou a mão na ferida coberta com o curativo feito por Margareth e repensou. Se Lovino quisesse matá-lo já teria feito isso. O ‘garoto’ era mais forte do que ele, e isso fora demonstrado na noite anterior. Mas por que não o fizera? Será que queria transformá-lo em uma esposa como havia dito?

– Nem brincando – ele sorriu da própria infantilidade.

O vento soprou quente em sua nuca. Quente até demais. Sentiu um arrepio subir.

– Nem brincando o que, bastardo?

Aquele tom de voz...

Antonio deu um pulo para frente, caindo no chão ao tropeçar. O espanhol virou o corpo com tudo e olhou com espanto para o ser atrás dele.

Lovino estava com uma expressão incrivelmente inocente. Os olhos avelã cintilavam à luz da lua que começava a aparecer e ele nem parecia àquela criatura assombrosa que Antonio presenciara na noite anterior.

– Bastardo...!

– O quê? – Antonio permaneceu pasmo pelo susto que levara e encarou o italiano com uma expressão surpresa.

– Você está – ele fez uma careta e fungou duas vezes – fedendo. E muito! O que você andou fazendo hein?

Antonio piscou duas vezes e então se tocou.

– Ah, deve ser isso - Apontou para o colar de alho em seu pescoço.

– Ugh! – Lovino tampou o nariz com a mão, como se sentisse o pior cheiro do mundo – Che cosa bastardo! Tire isso daqui!

– Isso aqui? – olhou com inocência para o italiano enquanto continuava apontando para o colar.

– Não, sua bunda espanhola gorda! Claro que é essa droga de colar maldito! – afastou-se de Antonio.

– Por que vou tirar? – desafiou, agora entendendo a força daquele objeto – Isso te mantém longe de mim não é? Não quero você me mordendo de novo, já está doendo o suficiente. E não sou gordo – pontuou a frase sorrindo convencido.

Lovino foi para trás enquanto Antonio se levantava o olhando desafiante. O italiano cobria o nariz com ambas as mãos e parecia estar em sofrimento extremo, porém para o espanhol, aquilo significava paz. Iria fazer algo que afastasse aquele vampiro de uma vez por todas.

A lua reluzia as expressões sofridas de Lovino, que perdia as forças a cada passo que dava para longe de Antonio, pois a cada passo seu, o espanhol dava dois.

– B-bastardo maldito! – O italiano cambaleou e bateu as costas na arvore – O-o quê pensa que... Bastardo! Fermarsi!

–O que te faz pensar que irei parar Lovi?

– Te matarei se não parar nesse exato momento! E não me chame assim! Não te dei essa liberdade!

Antonio riu maliciosamente, postando-se bem a frente do italiano e dizendo com os olhos verdes brilhando:

– Não me parece em bom estado para me matar, mi amor. – e se aproximou perigosamente da orelha do outro – Y te llamo como yo quiero, Lovinito.

– P-Pára... – o italiano começou a sentir-se zonzo. Droga. Nunca um humano havia conseguido chegar tão longe. Ele havia dado muito mole para aquele reles mortal, julgando que a expressão inocente em sua face não o faria cometer tal ato, principalmente contra um vampiro.

O espanhol encostou o corpo suficientemente próximo ao do italiano, fazendo-o estremecer.

–O que é i-isso? Bastardo, o que mais você tem aí? Minha cabeça dói – Lovino perguntou com ênfase suficiente para Antonio perceber que ele não se referia ao colar de alho, que Margareth seja louvada.

– Isso o que? – ele colocou a mão dentro de sua roupa e puxou a corrente com o crucifixo – Isso?

O italiano soltou um suspiro sofrido e, após olhar profundamente nos olhos do espanhol, desfaleceu em seus braços. Antonio olhou o jovem em seus braços por alguns instantes em choque. Sua intenção nunca fora matar Lovino, ele só queria assustá-lo! Havia chegado longe demais.

– Não! Lovino! – Antonio chamou – Você é fofinho demais pra morrer! Lovinito!

O espanhol olhou em volta, buscando algo para apoiar Lovino. Não encontrando nada, levantou o corpo e apoiou seu braço na cintura do outro, passando um dos braços do italiano por seu ombro. Tudo bem, o garoto não aparentava, mas pesava bastante.

Desceu pela colina, na direção contrária a de seu castelo. Margareth ficaria preocupada ao ver que ele chegara tão tarde, porém ele cometera um assassinato... Ou quase isso... Bom, de qualquer forma aquilo estava deixando-lhe assustado.

A colina terminava em uma área plana, onde começavam algumas arvores o início de um bosque. Antonio pousou Lovino em cima de algumas folhas verdes que se empilhavam abaixo de um salgueiro e encarou o rosto inerte do italiano.

A pele clara parecia tão macia ao receber o brilho do luar... Tão... Lindo.

– Ei... Lovi! Diga-me que você está vivo!

Nada.

O corpo continuava sem respirar (ou Lovino nunca respirara e ele nem percebera?) e, ao pousar o ouvido no peito do garoto, nada de coração. Será que vampiros não tinham pulso? Bom, sabe-se lá!

– Lovino! - chamou-o novamente – Lovi! – falhou – Lovinito!

Começou a entrar em estado de pânico. Nunca havia matado ninguém e agora? Onde enterraria o corpo? Ou melhor, será que as pessoas não o considerariam um herói por ter matado o demônio?

Mas e se não acreditassem que ele era o demônio que andava matando as pessoas? O garoto era tão bonito que...

– Bastardo...

– Lovi!

Lovino abriu os olhos lentamente e encarou Antonio nos olhos com ódio.

– Tire essa droga de coisa fedorenta daqui ou lhe partirei em dois, maldição! E já disse para parar de me chamar assim, nunca lhe dei essa intimidade!

– Oh, Lovi! Você está vivo! Por um instante achei que tinha te matado ou coisa parecida e...

Lovino pareceu juntar todas as suas forças para levantar o braço e puxar ambos os colares do pescoço de Antonio, gastando todas as suas energias ao arremessá-los longe.

Com um suspiro de alívio, Lovino cobriu os olhos com o outro braço, ainda deitado, suando frio.

– Lovino.

– O que, idiota? – ofegou.

– Por que aconteceu isso com você?

Ele o olhou indignado.

– Nunca ouviu falar que vampiros são fracos contra alhos e crucifixos, bastardo?

– Sim, mas... Aquele dia eu estava com o crucifixo e você não pareceu se afetar.

– Quem disse que não me afetei? Dor de cabeça existe sabia?

Antonio o olhou demoradamente e pensou no perigo que estava correndo no momento.

Estava ao lado de um vampiro. Um auto-proclamado vampiro. Ele já havia bebido seu sangue, o atacado, o ameaçado de morte, matado duas mulheres e uma delas era sua esposa.

Mas por que Antonio ainda estava vivo?

Lovino sentou-se e olhou para o espanhol ao seu lado, um sorriso cheio de malicia cresceu em seus lábios e ele pronunciou as palavras que fariam qualquer um tremer na base...

– Fuja Antonio. Te matarei como vingança pelo que acabou de me fazer... Acho que... Darei-te alguns minutos de frente...

Mas ao contrário do que deveria ter feito, Antonio continuou parado.

– Não escutou bastardo?

Antonio permaneceu encarando o italiano e lentamente pronunciou.

– Você já me ameaçou outras vezes, o que faria dessa vez diferente?

Aquilo pegou Lovino de surpresa. Sim, havia ameaçado o outro a sua frente outra vez, mas não havia cumprido.

Por quê?

– E o que te faz pensar que dessa vez não será diferente? Hein, hein?

As palavras confundiram até o dono delas. Antonio o olhou sem entender.

– Então, se vai me matar, mate-me agora. Não há nada melhor do que me livrar de minhas ocupações como duque.

Lovino o olhou espantado e levantou-se depressa.

–B-bastardo! Por que quer morrer?

Antonio levantou-se lentamente.

– Sabe Lovi, sua vida é bem mais interessante que a minha. Andar por aí, pra onde quiser, fazendo o que quiser. Eu tenho que fazer o que o rei quer, enquanto não posso sair de Volterra – suspirou – Sinto falta da minha casa sabia?

– Idiota! E por que está me contando isso? Por acaso acha que terei pena, é?

– Não – Espanha levantou o olhar e fixou-o na lua, que brilhava bela no céu – É só um tipo de coisa que nunca pude discutir com minha esposa.

Lovino fez um barulho de indignação.

– E que história é essa? ‘Tá me chamando de esposa substituta agora, é bastardo?

– O que é isso Lovi? Não! Você não é nem meu amigo sabe? É que eu só precisava desabafar com alguém...

Lovino o olhou de uma forma neutra. O espanhol parecia triste, será que ele gostava tanto assim de sua esposa? O desabafo do homem o fizera repensar suas ações. Mas... Espera aí! Que droga de vampiro sanguinário repensava suas ações? Mataria Antonio agora! Não se importava com a vida daquele homem... Apenas com seu gosto delicioso...

Certo?

Antonio pareceu acordar de um transe e olhou para Lovino, sorrindo.

– Desculpe Lovi! Adorei conversar com você, mas tenho que ir. O pessoal vai ficar preocupado! Adiòs!

O bastardo idiota e incompetente correu em direção à sua casa, querendo chegar lá rápido, pois já era tarde da noite.

Lovino revirou os olhos e suspirou de forma indignada, tudo bem que aquele espanhol já devia ter idade o suficiente para correr por aí na hora que quisesse, mas será que ele não tinha percebido que suas feições delicadas e inocentes atraíam coisas... ruims?

Lovino seguiu o outro lentamente. Claro que não queria protegê-lo. Imagina. Queria apenas garantir que ninguém mexeria com sua comida, afinal Antonio era um alimento delicioso demais para ser deixado sozinho por aí.


A lua estava imponente no céu sem nuvens, e um Antonio despreocupado andava pelas ruas de Volterra. Passava desligadamente por becos e vielas, observando a cidade. Ah, quando ele chegasse em casa levaria uma bronca daquelas de Margareth! Estava até se preparando para o fala-fala da mulher, principalmente se o visse sem os colares ‘super protetores’, que no final nem deram certo pois Lovino o teria matado se quisesse.

Antonio avistou o castelo, que ainda estava longe até demais, e suspirou. Não deveria ter demorado tanto. Estava cansado. Apressou um pouco o passo, porém não percebeu quando uma sombra atirou algo nele.

O espanhol sentiu a perna exibir um ardor forte, e a dor era intensa. Ao olhar, conseguiu identificar uma faca. A faca reluzia à luz da noite, e havia feito uma ferida profunda em seu membro esquerdo. Mas quem...?

Olhou em volta e então pode perceber, dois grandalhões seguidos por uma mulher esbelta e com longos cabelos apareceram das sombras de um dos becos.

– Ora, ora. Encontramos alguém – a moça disse – Gilli – ela chamou um dos homens – Verifique se ele tem jóias ou algo valioso.

O homem a sua esquerda aproximou-se de um Antonio dolorido e puxou-o com violencia, segurando-o por trás. O outro passou as mãos pelas roupas do espanhol, na certa procurando por algum dinheiro ou pedras preciosas.

– Nada – ele disse, após verificá-lo.

– Que pobre... – a mulher pareceu frustrada, e se aproximou de Antonio – Mas... Acho que posso me divertir um pouco.

Ela secou o corpo do espanhol com o olhar.

– S-soltem-me! – ele finalmente se pronunciou – Não tenho dinheiro... Muito menos jóias... Larguem-me!

– E o que te faz pensar que te libertaremos? – ela se postou a frente dele, passando uma das mãos pelos ombros do homem.

Ele permaneceu em silêncio.

Ela desceu a mão pelo corpo de Antonio, enquanto o olhava nos olhos, até que encostou na faca presa na perna do outro. Encostou no cabo com firmeza e puxou-a lentamente, fazendo o espanhol sentir o pedaço de metal se mexendo em sua carne. Reprimiu fortemente um grito de dor. O que menos queria era que alguém fosse socorrê-lo e acabasse se machucando.

- Vamos ver o que tem aqui... – a mulher subiu as mãos até o peitode Antonio e rasgou-lhe as roupas da parte superior enquanto o grandalhão ainda o segurava por trás. A moça ordenou que Antonio fosse arrastado até o beco onde antes eles se escondiam.

- Acho que – ela começou – para um homem, não há nada melhor do que uma mulher fazendo isso... certo?

O espanhol a olhou com nojo estampado nos olhos.

- Ah, querido... A culpa é sua por não ter jóias... Da próxima vez que resolver passear por aí de noite, carregue algumas, assim quem sabe eu resolva matá-lo de uma vez.

O frio abateu-lhe o peito nu e a mulher se aproximou de seu rosto, roçando seus lábios nos dele.

– Ele é um homem tão lindo, não é, rapazes?

– Eu sei.

A mulher assustou-se. A voz não fora de ninguém que estava ali com ela no momento. Os grandalhões que a seguiam também pareceram assustados.

– Quem disse isso? – ela se afastou de Antonio e olhou para cima das construções que envolviam o beco, ainda com a faca na mão. Os homens que a acompanhavam seguraram o espanhol com mais firmeza, machucando-o.

Um silêncio foi seguido após a fala dela, apenas o barulho do vento foi ouvido. Após alguns segundos de espera, respiração foi sentida em sem pescoço e antes que ela pudese se virar, ouvira ao pé de sua orelha:

– Irá se arrepender feio de ter encostado no bastardo. Sou a única pessoa que pode comê-lo – um sorriso foi ouvido em sua voz com o duplo sentido no final da frase.

Logo, a faca que estava em sua mão foi puxada, e ela sentiu seu corpo ser virado e empurrado contra a parede. Dentes afiados penetraram seu pescoço e uma mão fria reprimiu um grito de dor. Sentiu o ardor penetrar-lhe e logo, o homem misterioso puxou-lhe o pedaço da carne que mordia, arrebentando seu pescoço. A mulher caiu morta.

–L-Lovi! – Antonio pronunciou chocado.

Lovino avançou contra os grandalhões, que apesar do tamanho, um fora derrubado com um forte murro, ficando com o pescoço quebrado e o outro, que segurava Antonio, recebera uma facada no braço. Ao largar o espanhol, o ‘agente’ da estranha mulher retirou a faca do braço e avançou contra o italiano. Porém se arrependeu. Lovino não estava mais a sua frente.

Parou e olhou para os lados e para trás, não vendo ninguem a não ser o espanhol largado no chão, com a perna ferida. Sem entender, fez menção de olhar para cima, mas sem tempo. Lovino ppulou ferozmente em seu pescoço, girando-o a 360º e logo jogando o corpo inerte no chão.

Antonio olhou para a cena em choque. Certo que Lovino nunca parecera um santo, mas ele realmente havia matado três pessoas dessa forma? Tudo bem... Essas pessoas iam matá-lo... Mas, ainda assim eram pessoas e-

– Está bem, bastardo?

Aquelas palavras ecoaram enquanto o rosto inocente de Lovino refletia em sua mente. Mesmo envolto do sangue dos outros, ele ainda parecia tão angelical... Tão... lindo. Por mais incrível que parecesse, Antonio não sentia medo. Ele se sentia protegido.

– Ei! Bastardo! Estou falando com você!

– Hn?

– Essa ferida está doendo muito?

Antonio olhou para a ferida na perna, sentindo a dor voltar com força. Havia se esquecido do machucado, tamanho fora o choque.

– Ah! – o espanhol segurou a perna com as duas mãos – S.

Lovino levou as mãos até o buraco na calça, de onde escorria o sangue, e rasgou um pedaço do tecido. Logo após, levou as presas afiadas até o machucado profundo e mordeu-o levemente, sem sugar-lhe o sangue, na realidade.

– P-presas? Não me lembrava delas da última v-vez...

O italiano endireitou-se enquanto ainda segurava a perna de Antonio. A ferida parou de doer.

– É que eu só as uso quando quero matar – pontuou a frase com um sorriso maldoso.

Foram necessários exatos dez segundos para que Antonio entendesse o significado da frase. Ele gritou.

Lovino cobriu a boca do outro com uma das mãos.

Che cosa bastardo! Fique quieto! Quer que alguém nos encontre?

– Quer que eu fique quieto? – disse após se livrar da mão que cobria sua boca - Você acabou de dizer que vai me matar! – o olhou dramático – Já consigo sentir a luz me deixando!

– Largue de ser idiota. As presas contêm um veneno que deixa a superfície onde é injetado dormente. Mas esse veneno só é letal quando a vítima tem seu sangue sugado, dessa forma o veneno penetra mais rápido, com a troca dos fluídos sangue e saliva – explicou claramente.

Antonio pareceu se acalmar.

– Então é por isso que você nunca me mordeu com presas.

– Exato bastardo.

– Oh! Obrigado por se importar comigo Lovinito! – abraçou o italiano puxando-o fortemente para si.

– Eu já disse para não me chamar assim bastardo! E me solte agora ou eu mudo de ideia e te mato aqui mesmo!

– Ah, Lovi – Antonio pareceu chateado – Você é sempre tão grosso comigo.

Bastardo idiota, por que não gritou por ajuda?

Antonio negou com a cabeça.

– Não podia. Ela estava armada. Se alguém viesse me ajudar e acabasse se machucando, a culpa seria toda minha.

– Você é bonzinho demais idiota – disse, escondendo a surpresa.

Antonio ficou quieto por alguns segundos e logo respondeu.

Gracias, Lovi.

– Venha bastardo – Lovino se levantou e esticou a mão – Vou te levar até sua casa.

Antonio pegou na mão do italiano, levantando.

– Ei Lovinito!

– O que é idiota?

– Me leva no colo?

– O quê? Que diabos é isso? Cazzate, creare vergogna in faccia, bastardo!

– Mas mi amor, eu estou machucado.

– Dane-se! Pois agora você vai sozinho... Che cosa – afastou-se com a face ardendo de vergonha.

– E se eu for atacado de novo?

Mas o italiano já havia pulado em cima de um telhado e sumido de vista. Antonio suspirou e seguiu seu rumo até seu castelo. Todos deviam estar preocupados.



Acima do telhado de uma das maiores casas, Lovino acompanhava o bastardo que estava indo para seu castelo com o olhar. Como aquele espanhol era idiota!

O italiano caminhava, saltando por entre os telhados, sem fazer nenhum barulho, e seguiu Antonio até que este chegasse na porta de sua casa e fosse recebido por uma Margareth furiosa. Gritos de dor foram ouvidos enquanto ele levava uma surra da mulher mais velha por ter chegado tarde e ferido. Isso não deveria, mas fez Lovino dar uma gargalhada.

Antonio era realmente infantil e inocente, a ponto de ainda apanhar por fazer coisas erradas. Isso fez o italiano suspirar profundamente e preparar-se para ir embora.

Faz três séculos que vivo, e nunca encontrei nenhum humano que fizesse eu me sentir assim. Sempre matei todos sem piedade... Então por que o protejo dessa forma?

Lovino puniu-se mentalmente ao perceber o flash de esclarecimento em sua cabeça. Seus olhos e arregalaram e ele lançou um olhar assustado para o lar de Antonio. Não... Impossível.

Isso não estava acontecendo. Isso não pode estar acontecendo!



Já havia se passado uma semana depois do incidente que acontecera com Antonio e Lovino. O corpo da mulher e dos homens fora encontrado e abalara a pequena cidade mais do que ela já estava. As pessoas agora mantinham crucifixos nas portas das casas, por medo do tal demônio.

Porém, ao contrário de todos, havia uma pessoa que ansiava a visita daquela criatura das trevas.

Sete dias haviam se passado desde o incidente, e desde então, Antonio não vira mais Lovino. Suas feridas já haviam sarado embora a da perna ainda ostentasse uma aparência avermelhada e era mantida enrolada em um pano.

Mesmo com medo, todos do reino estavam aliviados pela falta de ataques, menos o duque. Antonio suspirou pela milésima vez aquela noite e voltou-se para o imenso espelho de eu quarto. Aquele espelho fora exigência de Luna e o espanhol estava pensando seriamente em retirá-lo dali.

Aquela noite não possuía lua. O vento era frio e entrou pela janela em um suspiro gelado, fazendo Antonio tremer e fechar os olhos, como se assim pudesse trazer o calor de volta. Sentiu os arrepios de frio percorrerem sua espinha e subirem por suas costas como dedos gelados.

O sopro congelante do vento soprou em seu pescoço. Algo estava errado.

O espanhol abriu os olhos rapidamente e fitou seu reflexo assustado no espelho. Seu reflexo sozinho, com os olhos verdes arregalados. Logo sentiu mãos pousarem-se em seus ombros.

– É frustrante não poder ver seu próprio reflexo, sabia disso?

Antonio virou-se assustado. Atrás dele, não estava ninguém mais ninguém menos que Lovino.

– L-Lovi...

– Bastardo, sentiu minha falta?

Antonio abraçou Lovino com força.

– Lovi... Por onde andou?

– Por aí... E me solte, não gosto de abraços.

Antonio ignorou-o.

– Por aí, onde? Não suma deste jeito, sem dizer adeus.

– Mas eu voltei bastardo.

Antonio se separou apenas um pouco, ainda mantendo suas faces próximas, o que fez Lovino constranger-se e olhar para o lado, porém sem se afastar. Não que ele gostasse do abraço. Claro que não. Somente idiotas abraçam bastardos.

– Ei, mi amor.

Lovino o olhou.

– Está com fome? – o italiano continuou e silêncio.

Antonio sorriu cheio de dentes e olhou, consentido, para o outro.

– Já faz uma semana que você não ataca ninguém não é? Tome, pode pegar...

Estendendo um braço em direção ao rosto de Lovino, Antonio forçou o pulso na boca do outro, que prontamente se afastou.

– Lovi... O que...?

– Antonio...

O italiano o olhou, como que se quisesse dizer algo difícil. Antonio permaneceu em silêncio. Havia pouco tempo que conhecia Lovino, mas conhecia a timidez do jovem.

– E-eu...

O italiano suspirava nervosamente. Até qu, ao arregalar os olhos subitamente, pegou ambos os pulsos de Antonio e puxou o espanhol contra si.

– Eu quero que você fique comigo, Tonio.

Antonio levou um pouco de tempo para entender o que Lovino queria dizer com aquilo, olhou assustado para o italiano quando captou.

– Como assim, Lovi...?

– Não vou repetir idiota - soltou-se do outro subitamente, mas ainda se mantendo próximo.

– Lovi...

Mas algum tempo foi dado enquanto o espanhol escolhia a alternativa que lhe agradasse. Lovino rezava para que fosse a que ele queria... Se Antonio negasse... O que ele iria fazer? O que? Levaria o espanhol a força, o transformaria e dessa forma ele teria que ser seu! Querendo ou não. Se não fosse por bem seria por mal... Ninguém nega nad-

– Tudo bem, Lovi. Eu aceito ir com você.

Se o coração do italiano batesse, ele teria falhado essa.

– O-o que?

– Eu aceito Lovi – os olhos verdes exibiram um brilho lindo naquele momento.

Ele havia aceitado... Será que ele sabia o valor daquela pergunta? Antonio realmente entendera o que Lovino quisera dizer com aquilo? O espanhol aceitaria tudo o que Lovino queria? Se transformaria e viveria com ele até o fim do mundo?

Sentiu o toque da pele quente e viva de Antonio sobre seu rosto gelado, fechou os olhos.

– Bastardo...

Eres hermoso Lovi... Muy hermoso...

– Idiota...

Ambos calaram-se ao sentir os lábios se tocando levemente. Arrepios sucessivos percorreram a coluna de Antonio, coisa que nunca ocorrera quando ele beijara Luna, ao passo que para Lovino, aquilo não se comparava nem mesmo ao delicioso sangue do espanhol.

Lovino enrolara os braços em volta do pescoço de Antonio, que puxara o italiano para um abraço por meio da cintura. Para ambos, aquele beijo era muito mais do que um simples ‘viverei com você’. Aquilo significava o mundo para eles.

Aquilo era o bendito amor a primeira vista se manifestando ferozmente após mortes e sangue. Aquele ato significava o mundo para ambos.

Lovino só percebeu o quão longe estava indo quando suas costas tocaram o colchão. Porém ele não ligou, e nem se separou de seu amante. Se fosse para ser com Antonio, então que fosse. O beijo só ficava cada vez mais e mais apaixonado.



– O duque está morto! Morto!

– Foi encontrado sangue na cama dele.

– Pobre destino. Primeiro a duquesa, depois o duque. Quem os substituíra, sendo que eles não possuíam um herdeiro?

– Mas olhe bem, os ataques pararam. Será que o duque não era o demônio.

– Verdade, depois que ele se foi, ninguém mais foi atacado.

– O jovem duque Antonio era um monstro!

– Foi ele!




Madri, Espanha. Século XXI

– Lembra-se de quanto caos causamos bastardo?

– Como posso esquecer Lovi? Aquele ano na Itália as pessoas ficaram tão apavoradas que até hoje correm rumores de ‘vampiros’ em Volterra. Lembra-se da última vez que fomos lá?

– Claro idiota.

Lovino olhou para o horizonte. A praia bela, porém com uma brisa gelada de inverno atraía os olhares do casal.

–... Afinal, como eu esqueceria do início de nossa história?

Antonio sorriu alegremente e inclinou-se para beijar a testa de Lovino.

– Te amo Lovinito...

Troppo, Tonio bastardo.

Antonio teria sentido seu coração acelerar, se ainda fosse humano. Tudo o que fez foi selar seus lábios com os de seu amante em mais um beijo.





Fim.























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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? Odiaram? Reviews? (recomendações podem ser deixadas também, rsrsrs')
Bom gente, acho que perceberam que a fic se passa na Idade Média, e eu sei que lá a Itáia ainda não era Itália, e e Espanha também não era Espanha. EU SEI, de verdade. Porém resolvi manter os nomes como Itália e Espanha, pois elas eram vários grupos (não unificados), e eu não estava com paciencia de fazer isso. O fundo histórico (no caso dessa fic) seria o de menos.
E o catolicismo, surgiu alguns anos depois de Cristo, talvez no maximo uns 4 séculos depois... Portanto, no século em que a história se passa, cruzes já existiam! ^^
E resolvi me aproveitar do fundo vampirico de Volterra, quando dizem que a cidade é a cidade dos vampiros...
Espero que tenham gostado!