Acordei de um rápido cochilo com a minha mãe dando-me um beijo na testa e avisando que estava saindo para trabalhar e que, caso eu julgasse necessário, deveria ligar para ela. Apenas concordei com ela e voltei a dormir. Ou tentei voltar a dormir. Assim que ouvi o barulho da porta da frente se fechando, sinal de que minha mãe já havia saído, não aguentei, tive uma dor horrenda no estômago e corri para o banheiro. Só tive tempo de abrir o vaso sanitário e vomitei. Estava me sentindo mal e enjoada desde que chegara em casa, da minha ''janta'' com meus amigos e meu namorado, acho que o xis que eu comi não me fez bem.

Liguei para Roberta para perguntar se ela também estava se sentindo mal e ela disse que não, que ela estava ótima e me xingou por tê-la acordado. Desliguei a ligação e fui até a cozinha preparar um sal de frutas. Mal terminei de tomar e tive de correr para o banheiro novamente e vomitei de novo. Eu não aguentava mais isso. E justo um dia antes da minha formatura.

Enquanto escovava meus dentes uma luz negra se acendeu na minha mente...comecei a lembrar...e tentei afastar aqueles pensamentos, afinal, mesmo que eu estivesse numa situação dessas não era possível que eu já estivesse com esses sinais, isso demoraria a começar a ocorrer. E eu era crescidinha o suficiente para saber que na vida real isso não seria igual a ''Amanhecer''... Mas eu tinha que ter certeza, mesmo sabendo que isso seria ridículo.

Terminei de escovar meus dentes e fui para o meu quarto, troquei a minha roupa, colocando uma calça de moletom cinza e uma regata azul clara com meu all star branco, prendi meu cabelo num rabo de cavalo sem nem pentear ele, queria ir e voltar para a casa antes de passar mal de novo. Fechei a casa e sai, indo até a farmácia mais próxima. 

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Eu estava sentada no sofá da minha sala, olhando fixamente para a embalagem lacrada do teste de gravidez que eu comprara. Eu sabia que era ridículo aquilo mas...bem...talvez nem tão ridículo assim.

Eu havia ligado para Felipe assim que chegara em casa da farmácia e, por sorte, eu não tinha mais passado mal. Eu esperaria ele chegar para fazer o teste. Até imaginava já a cena: Ele ficará apavorado quando ver o teste, mas dai eu tranquilizarei ele e ele vai falar que estará comigo para o que der e vier e que eu devo ir ao banheiro fazer o teste. Então eu farei, vai dar negativo e nós dois passaremos uma ótima tarde juntos vendo algum filme bobo.

Alguns minutos depois eu ouvi uma batida na porta da frente seguida da voz do meu namorado:

- Sou eu Sophia.

- Pode entrar. - Respondi, sem conseguir me levantar do sofá com medo de passar mal de novo. Ouvi a porta se abrindo e os passos dele se aproximando do sofá.

- O que houve amor? - Perguntou ele, não virei para olhá-lo, continuei fitando o teste que estava em cima da mesa. - Fala alguma coisa Sophia, assim você me assusta. - Continuei em silêncio, eu não sabia o que falar, queria que ele visse o teste e depois eu explicaria, senti quando o olhar dele abandonou a minha face e se dirigiu para o ponto que eu estava fitando.  Ele ficou alguns minutos em silêncio. - O que este teste está fazendo aqui? - Ele perguntou aparentando nervosismo, como eu previra.

- Eu comprei ele e vou fazer ele. - Respondi, tentando manter a calma e me virando para olhá-lo. Os olhos dele estavam arregalados, mas fora isso ele não aprecia demonstrar outra reação.

- E por quê? 

- Acho que até você pode responder isso. - Falei  me lembrando da vez que havíamos deixado de usar preservativo...ele não concluíra o ato dentro de mim...mas mesmo assim...

- Não Sophia, não é possível. Como você chegou a essa conclusão? - Não consegui entender porquê ele estava fazendo tantas perguntas idiotas.

- Porque eu estou com muito enjoo e minha menstruação está dois dias atrasada.

- Não seja ridícula Sophia, dois dias é normal. - Disse-me ele e eu o olhei mais penetrantemente, realmente magoada.

- Ridícula? - Perguntei, me controlando para não chorar. - Eu não estou sendo ridícula Felipe, estou apenas relatando para você o que está acontecendo comigo. Há uma grande probabilidade do teste ser negativo, mas também pode ser positivo.

- Ainda acho que não há nenhuma possibilidade dessa merda dar positivo. - Falou ele, cerrando as mãos em punhos.

- Não sei Felipe, só vou saber depois de fazer essa droga de teste. Agora você pode se acalmar por favor? - Falei me levantando e sentindo uma vertigem, eu estava me irritando já.

- Não tem como eu me acalmar Sophia, eu vim até aqui imaginando que teríamos uma tarde incrível de sexo juntos e ao invés disso você me fala que acha que está grávida. - Falou ele, aumentando a voz. Senti as lágrimas embaçarem minha visão.

- Uma tarde de sexo juntos? Apenas sexo não é? - Perguntei me sentindo um lixo e sentindo uma raiva mortal dele. - Quer saber Felipe, saia daqui agora.

- Não vou sair. - Falou ele, sem aparentar estar arrependido. - Agora só saio depois que você fizer essa porra desse teste.

- Não, você vai sair sim e vai sair agora. Não quero mais você aqui. - Falei e me aproximei dele para empurrá-lo para a rua. Mas antes que eu pudesse segurar o braço dele ele ergueu a mão e deu-me um forte tapa no rosto. Senti minha face formigar e as lágrimas transbordarem dos meu olhos. Ele ficou apenas me olhando, com uma expressão vazia. 

- Sai já daqui. - falei gritando o máximo que eu conseguia, não estava nem ligando para o que os vizinhos iriam pensar. E, pela primeira vez, ele me ouviu e saiu. Não falou nada. Não pediu desculpas nem me acusou de mais nada. Apenas saiu em silêncio, batendo a porta da frente com toda a força que ele tinha.

Mal ouvi o barulho da porta se fechando e corri para o banheiro. Vomitei de novo. E então, quando parei, fui até a sala, peguei o teste e o fiz. E qual não foi minha surpresa ao ver o resultado dar...negativo.

A única coisa que consegui fazer naquele momento  foi me trancar no meu quarto e chorar.