Sempre Em Meu Pensamento escrita por Rosi Rosa


Capítulo 1
Capítulo único




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Ele se aproximou lentamente da grande porta, o corredor extenso o devorando a cada passo, as lágrimas traiçoeiras lhe impedindo de enxergar.

A cerimônia ainda não havia começado, estaria a sós com ela, precisava desabafar, a alguns passos de chegar até ela, ele parou... fechou os olhos com força impedindo novas lágrimas de caírem, passou as mãos trêmulas sobre o cabelo bagunçado, não havia dormido um segundo sequer, passou a noite chorando e desejando que tudo fosse um terrível pesadelo, agora ali diante dela, viu a realidade cruel esmagando seu coração já despedaçado pela dor.

Foi se aproximando aos poucos, agora seu corpo inteiro estremecia, seu coração não sabia mais se batia ou se parava de bater, seu desejo era que ele parasse antes de vê-la. Maldito coração teimoso que continuava a pulsar!

Suspirou profundamente ao vê-la, um grito de dor preso em sua garganta, as lágrimas correram como um rio de seus olhos azuis, deitada com delicadeza em seu leito de morte, as mãos sobre o peito descansavam displicentemente, ela estava bela, fria e pálida.

Suas mãos tocaram as dela carinhosamente, inclinou-se e lhe deu um beijo terno em seus lábios gelados, as lágrimas escorreram por sua face, molhando o rosto de Sara, sussurrou palavras de amor com os lábios ainda presos aos dela, gelados não transmitiam mais o calor que seu amor necessitava.

Por alguns segundos fitou a aparência de sua amada, estava vestida com uma camisa branca com botões delicados, uma calça jeans básica e meias coloridas quebrando o tom mórbido que a situação exigia, as flores repousavam ao lado, fazendo com que seu corpo ficasse ao centro como um beija-flor em busca de néctar. Porém, um beija-flor morto...

A dor veio rasgando sua alma, as lágrimas queimando seus olhos, o grito preso quis fugir de sua garganta, sua Sara morta, deitada em um caixão frio, os olhos fechados pra sempre, o grito de dor veio pausado, seguido de um gutural ruído, ecoando na igreja escura o sino tocou emudecendo seu grito, as badaladas ritmadas traduzindo sua angústia.

Chorou feito um menino desamparado, Grissom começou a conversar com Sara como se ela a ouvisse ainda, a voz falhando entre soluços, as lágrimas molhando seus lábios.

— Sara, minha doce Sara! Eu nunca estive preparado para este momento, te ver assim tão quieta, serena... morta, me faz morrer também aos poucos, sinto um vazio dentro de mim que domina todo o meu ser, sinto que eu falhei, que não te amei como deveria e como você merecia.

Talvez eu não tenha te tratado

Tão bem quanto deveria

Talvez eu não tenha te amado

Com tanta frequência quanto poderia

Pequenas coisas que eu deveria ter dito e feito

Eu simplesmente nunca me dei ao trabalho

http://youtu.be/u9sRJ-eOHnc

Um sorriso triste brotou de seus lábios, as lembranças brincando em sua mente, acariciou o rosto frio de Sara ternamente.

Começou a lembrar do primeiro beijo, da primeira noite em que se amaram, das mãos dadas sorrateiramente embaixo da mesa do Lab, das trocas de olhares significativas, do ciúme silencioso que tinha, tudo estava passando por sua cabeça naquele momento.

Você sempre esteve em meus pensamentos

Talvez eu não te abracei

Todos aqueles solitários, solitários momentos

E eu acho que nunca te disse

Que sou muito feliz por você ser minha (...)

Sou? Fui...

— Sinto muito meu amor, sinto que seja você, tão jovem a partir, e antes de mim. Sinto que seja eu a ver seus olhos fechados para sempre, a estar condenado a viver sem você nesse mundo solitário e vazio. Mas quero que saiba que você sempre estará em meus pensamentos, que esse amor que eu sinto por você é eterno, e que nada e nem ninguém ocupará seu lugar em minha vida, renuncio aqui diante de seu corpo, outro amor, outro alguém... lhe entrego meu coração para que seja enterrado junto a ti.

O choro veio forte junto com espasmos por todo o corpo, Grissom tremia inteiro, sentiu suas pernas fraquejar, apoiou suas mãos no caixão, no caixão da sua Sara... Deus como doía vê-la tão frágil, tão pálida e sem vida.

Seu corpo inerte, sem respiração, seu peito parado sem as batidas de seu coração, era doloroso demais para Grissom ver sua amada daquele jeito, mas era preciso despedir-se dela, sozinho, antes de todos chegarem...

Olhou triste e já sem forças pra chorar a cruz entalhada de madeira pendurada perto do altar, clamou por Deus para que lhe tirasse essa dor, seria uma heresia se naquele lugar pedisse também pela morte de seu corpo, pois dentro de si já havia morrido naquela tarde em que um tiro calou o coração de Sara.

Diga-me, Diga-me que seu doce amor não morreu

De nada adiantaria esbravejar diante a cruz, nada a traria de volta, de volta pra ele...

Caiu ajoelhado se entregando as lágrimas, seria um pecado naquele momento de dor total desejar sua morte? Seria pecado? Um grito de dor ecoou pela igreja, seguido de um pranto desesperado, sem forças para se levantar continuou ajoelhado, a cabeça apoiada no chão frio.

Sentiu uma mão desajeitada tocar-lhe o ombro, era Greg consternado que veio lhe avisar que todos já estavam chegando para a missa de corpo presente de Sara, levantou com dificuldade, avistou alguns rostos conhecidos, todos pareciam se apiedar dele, realmente o seu estado era deplorável, não soube se estas pessoas o viram em seu momento de dor, pensava estar somente com Sara e em uma conversa intimista com Deus. Com a ajuda de Greg foi sentar-se ao lado de seus companheiros, mas antes tocou cuidadosamente as mãos de Sara e uma lágrima solitária caiu de seus olhos pousando nos lábios dela, fora seu último beijo molhado, seu beijo de adeus não dado...

Sentou cabisbaixo ao lado de Cath, ela segurou sua mão apertadamente lhe dando forças, o padre começou a falar:

— Irmãos, estamos aqui reunidos (...)

No peito de Grissom batia um coração ferido, oco... as pálpebras inchadas, a respiração pausada, sentiu-se pela metade, sem forças nem mesmo para uma prece de adeus... a voz do padre cada vez mais distante, o caixão em sua frente massacrando seu coração, nada poderia calar seu sofrimento, estava sem a sua razão de ser e de viver, estava perdido sem a sua doce Sara, que agora jazia em um caixão duro e frio.

Apagai, pois, minha flama, Deus,

porque ela não me serve

para viver os dias.

~Clarice Lispector~




* Fim


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Notas finais do capítulo

É uma fic triste, mas espero que apesar da carga de tristeza que ela trás vocês possam apreciá-la. Comentem!!!!