Pavane Pour une Infante Défunte
Petit Ange

O estrondo de um trovão quebrou o silêncio tétrico do ambiente.

Um cheiro nauseante de esgoto e excrementos de ratos invadia suas narinas, aumentando ainda mais seu desgosto.

Eu amo o vermelho.

O profundo, perfeito, imutável vermelho.

E se há um vermelho favorito, eu diria que é o do sangue.

Sim, eu amo o sangue.

Como um Deus da Morte, já vi muitos humanos sangrando... Mas acredito que jamais irei me cansar disso.

Afinal, eu amo o sangue.

Suas mãos, acostumadas, ergueram-se e desamarraram com vagar o pano que cobria a voz fraca da prostituta.

Amarrada à cadeira, a ruiva apenas o viu tirar-lhe aquilo que a impedia de gritar, mas tão logo ele o fez, logo pediu, gentilmente, que ela se calasse, com o indicador sobre os lábios, o som agudo e repetitivo que se faz ao soprar por detrás da língua.

Eu amo quando posso abrir estes corpos.

Simplesmente amo quando o sangue começa a brotar.

Vermelho, levemente salgado... Aquele aroma único...

Amo o sangue enchendo o ambiente, aquele som de quando ele choca-se nas paredes, formando desenhos tão singulares.

Acredito que não haja vermelho mais perfeito que o sangue.

Por isso, quando o vejo em cabelos, roupas ou até mesmo batom...

Não consigo me controlar!

A mulher o viu, em pânico, mergulhar um delicado pincel num estojo de maquiagem feminino.

E então... O vermelho.

Ele passou, saboreando cada segundo daquele seu ato, batom nos lábios trêmulos daquela prostituta.

Estou fazendo um favor, afinal.

Desde que comecei a brincar de Jack, estou dando à essas vadias o que fazerem com seus sangues vermelhos tão lindos...

Estou dando a única chance de seus corpos verterem este precioso líquido e darem vazão a uma única paisagem preenchida de vermelho-sangue.

Não há maior visão que esta.

Como um Shinigami, acredito que o ápice de minha existência está em poder ver o sangue fugir, por si só.

Até que ele leve a vida consigo.

Mas ela tremeu e estragou tudo, aquela vadiazinha, só por causa de um raio.

Quase deixando um impropério escapar, o assassino voltou-se para seus instrumentos: lâminas e mais lâminas, tesouras, bisturis... Uma coleção de dar inveja a qualquer legista.

Um novo trovão caiu, trazendo consigo um novo estourar, uma nova camada de chuva nas ruas sujas da cidade.

Esculpir os humanos profundamente, e espalhar o sangue...

Existiria, acima e abaixo da Terra, um prazer maior que esse?

Oh, pelos deuses, como eu amo o sangue.

Esse seu cheiro... Essa sua cor única... Nem forte e nem empalidecida. É a cor da vida que se esvai.

O vermelho perfeito do sangue.

Isso sim me atrai.

Isso sim me faz ter prazer em ser um Shinigami.

“Madame...”

“Sim, Greil Sutcliffe?”

Greil não pôde evitar um sorriso. Um enorme, sádico e prazeroso sorriso. Como se sentisse, em algum lugar de seu coração, que aquela era a noite que ele esperava.

“Fomos descobertos...”

Madame Red suspirou pesadamente, e olhou para a porta.

Da escuridão de onde estava, ela conseguiu divisar, perfeitamente, a silhueta do maldito mordomo Sebastian.

E, junto com ele... De seu pequeno Ciel...

“De fato, fomos descobertos...” – ela sussurrou.

Isso sim me faz querer continuar com essa mulher...

Todo esse sangue vermelho que ela faz verter.

Fim.