Bella estava em frangalhos ao subir a escadaria, mas sentia uma satisfação enorme pois a cozinha estava em ordem.

Encontrara um lugar nos armários para tudo: o espremedor de frutas, a máquina de fazer pão e a de preparar cappuccino.

Pelo menos seus presentes de casamento seriam úteis para alguém. Limpara bem a cozinha, desde os armários de madeira até o piso branco e preto.

Edward permanecera no celeiro o tempo todo. Os gêmeos juntaram-se a Billy para assistir ao filme de John Wayne. Luke retornara à cozinha para pegar um saco de batatas fritas, mas somente isso.

Bella trabalhara sozinha e, com rapidez, conseguira terminar o serviço.

Naquele momento seu corpo tinha a musculatura dolorida por causa do  exercício.

Sem mencionar a atividade adicional de ter rolado no feno com Edward no celeiro.

Desde que os gêmeos lhe contaram sobre o abandono da mãe e subsequente morte dela, Bella passou a compreender melhor o comportamento de Edward. Não devia ser fácil para ele criar os filhos sozinho apenas com a ajuda do pai.

Mas já bastava de divagações. O que realmente precisava era de um longo banho de imersão em uma banheira de água quente. Deixou a água correr e já havia tirado as roupas quando percebeu que esquecera a camisola no quarto.

Pegou o robe, abriu a porta do banheiro e olhou em volta para certificar-se de que ninguém estava por perto.

Ainda podia ouvir a algazarra dos gêmeos, Billy e o filme no andar térreo. Seu quarto ficava logo do outro lado do corredor. Movendo-se com rapidez, agarrou a camisola de debaixo do travesseiro e deu uma olhada para ver se Joe, o rato, não estava por perto.

Então retornou ao banheiro, sem saber que já não era mais a única a estar ali. Edward já estava a caminho da escadaria e saiu correndo quando ouviu o grito de Bella, as botas batendo com força contra o piso da escada. Encontrou-a no banheiro, inclinada contra a porta e rindo com histeria.

Sem saber o que acontecia, Edward perguntou preocupado:

— Você está bem? Por que gritou daquele jeito?

Ela apontou, trêmula.

— Há um iguana no assento do vaso sanitário.

Devia ter previsto que uma moça da cidade como ela teria medo de um pequeno lagarto.

— É apenas o Dallas.

— Não sabia que as crianças tinham um iguana de estimação. Ou que fosse um adereço do banheiro.

— Não têm. Dallas é de meu pai.

— E seu pai o treinou para ficar no vaso sanitário?

— Sim — respondeu na defensiva, habituado ao fato de empregadas domésticas não gostarem de Dallas. — Qual o problema?

— Meu pai ficaria com inveja — disse Bella com um olhar distante.

Edward achou que ela estava tendo alucinações, porque falava coisas sem sentido. O que o pai de Bella tinha a ver com um iguana?

— Meu pai trabalhava no departamento de répteis no zoológico do Central Park, em Nova York. Faleceu quando eu tinha dezessete anos; minha mãe também. Um acidente de carro. Mas ele adorava cobras e lagartos. Nós sempre os tínhamos pela casa. Mas nunca um iguana que usasse vasos sanitários. Estou impressionada.

— Então por que gritou? - perguntou curioso.

— Eu não esperava vê-lo aqui. Preparava meu banho e percebi que tinha deixado a camisola no quarto.

O que significava que não usava nada debaixo do robe. O robe era do mesmo material sedoso da camisola e colava-se ao corpo tanto quanto.

Bella tinha curvas nos lugares certos. Edward já sabia que os seios encaixavam-se em suas mãos como se feitos para isso. E que ela tinha o perfume de alguma espécie de flor exótica.

Sentia-se esquisito em encará-la como um lobo faminto. Mas não conseguia distanciar o olhar que estava fixo como um adesivo na curva suntuosa do decote.

Não tinha certeza se ela percebia quanto de sua pele estava exposta, e ele provavelmente devia lhe falar. Em um minuto.

A tentação era forte demais. A cama dela estava apenas do outro lado do corredor e tão perto do quarto de Edward...

— As acomodações da empregada ao lado da cozinha estarão prontas para você se mudar amanhã à noite — disse abruptamente saindo do transe.

— Nunca falou que reforma estava fazendo.

— Os gêmeos sujaram as paredes com catchup, então deitaram no chão como se houvessem levado tiros. Deixaram a última empregada doméstica tão apavorada que ela nem mesmo se incomodou em fazer as malas. Apenas jogou suas coisas no carro, dizendo que não ficaria em um quarto decorado com motivos macabros.

— Sei por que as crianças fazem isto.

— Eu também.

Edward mantinha os olhos fixos em Dallas e não em Bella. Um esforço supremo.

— Para livrar-se da empregada — acrescentou, determinado.

— Assim você passaria mais tempo com elas.

 As palavras o fizeram franzir a testa.

— Então agora você é psicóloga infantil, não é mesmo?

— Prometi aos gêmeos que conversaria com você.

— Meus filhos podem conversar comigo na hora em que quiserem.

— Eles querem conversar com você o tempo todo.

— Isso é verdade — constatou.

— As crianças querem que passe mais tempo com elas, então achei que poderia ser bom que você estabelecesse um "horário dos gêmeos" depois do jantar. - Falou Bella procurando seus olhos.

— O quê? 

Encarou-a. Um grande erro. Os lábios de Bella estavam entreabertos, e os olhos castanhos cintilavam.

Edward apressou-se em focar o olhar novamente em Dallas, que não era nem de longe tão bonito quanto Bella.

— Horário dos gêmeos. Uma hora ou hora e meia em que ficariam apenas você e os gêmeos. Eu poderia passar este tempo com Billy para que ele não se sentisse deixado de lado. Billy poderia me contar mais histórias sobre o oeste e as aventuras de Jebbedyah Cullen.

— Eu já passo bastante tempo com as crianças. - coçou a cabeça, parecendo confuso.

— Você se senta na mesma sala para assistir à televisão, mas não é a mesma coisa. - Bella rebateu.

Edward a encarou, os olhos verdes faiscando irritação. Quem era ela para lhe dizer como criar seus filhos? Não estivera ali quando ambos ficaram doentes ao mesmo tempo e tivera de passar três dias acordado para cuidar deles.

— E você descobriu isto tudo após apenas uns dias em minha casa?

— Eu não tive de descobrir. As crianças me disseram que se não houvesse empregada doméstica você teria de ficar em casa com

Sem palavras, Edward passou os dedos pelos cabelos acobreados. Por que seus filhos disseram àquela garota da cidade coberta de seda que apenas estava na fazenda havia alguns dias algo que não haviam dito a ele?

Havia vezes em que desejava poder ficar em casa com os filhos e esquecer-se de tudo o mais, mas tinha uma fazenda para administrar. Se não trabalhasse, não conseguiria manter um teto sobre sua família.

Como se lendo seus pensamentos, Bella falou:

— Não estou de modo algum tentando dizer que você está fazendo alguma coisa errada em relação aos gêmeos. Deus sabe como não tenho experiência no assunto. O máximo que fiz foi a campanha publicitária para Blackburn Bikes.

— O quê?

— A Blackburn bikes. -falou como se fosse óbvio - A bicicleta tornou-se o item mais importante na lista de presentes de Natal das crianças poucos anos atrás. Se lembra? Eu lhe contei que trabalhava com propaganda em Nova York. Bem, parte de meu trabalho era fazer com que as pessoas parassem e admirassem o produto.

Bella finalmente percebeu o olhar acalorado que Edward lhe  lançava. Também notou que a abertura em seu robe estava maior do que deveria. Arrumou-a bem no instante em que as crianças subiam a escada.

— Nós a ouvimos gritar — Luke falou, uma mecha de cabelos caindo nos olhos. — Vovô não nos deixou subir até agora. O que aconteceu?

— Ela ficou surpresa com a presença de Dallas — respondeu Edward, passando a mão com carinho nos cabelos desalinhados do filho. — Dallas não devia estar solto até Bella mudar-se para o térreo. Fico imaginando como isto aconteceu.

— Somente tolas ficam com medo de iguanas — Luce debochou antes de se surpreender ao ver Bella pegar o iguana como uma profissional.

— Olá, companheiro — disse ela com carinho.

— O pai de Bella trabalhava com répteis em um zoológico — Edward falou aos filhos, que ainda olhavam para Bella aturdidos.

Edward observou que pela primeira vez as crianças a fitaram com aprovação. Estavam claramente impressionados.

Bem como ele próprio. 

Bella não sabia se ele estava impressionado pela revelação feita pelo decote ou pelo modo como lidava com o iguana, mas sabia apenas que gostava de impressioná-lo. Gostava muito.