''Um sonho..''

–Vovó eu queria entender porque eu venho tendo esses sonhos repetitivos...

O vento soprou fazendo com que os cabelos ruivos de Kayleena caíssem sobre seu rosto, e ela os deixou alí, escondendo suas dúvidas e temores do resto do mundo. A única coisa que se ouvia era o farfalhar das folhas das árvores e os pássaros cantando. Ah como seria bom poder passar todos os dias ali, consigo mesma, sem nada e nem ninguém para lhe dizer o que fazer ou falar. Era o momento perfeito.

O silêncio cessou:

–Hey! Menina, o que está fazendo aqui?! Já fechamos!

– Adeus vovó! - Kayleena correu como um raio, sabia que se fosse pega novamente seus pais a deixariam de castigo e ela não poderia mais sair sozinha. Esticando as pernas o máximo que podia, ela pulava sobre as lápides com toda a agilidade que conseguia tirar de seu corpo..

–Volte aqui! - Gritava o homem que, embora aparentasse ser mais velho, corria com quase toda a agilidade de Kayleena. Tudo parecia estar a seu favor.

Kayleena corria e, sempre que pulava uma lápide, gritava, derrubando vazos e esculturas, até que olhou para cima e viu uma coruja acompanhando-a em sua corrida. Ela tinha olhos enormes, suas penas eram brancas como a lua e haviam manchas marrons por todo o seu pequenino corpo. De repente algo a atingiu, ela caiu em frente a Kayleena, que parou assustada. Ela não estava morta, porém uma de suas asas havia sido ferida e quebrada.

Kayleena havia esquecido que estava sendo perseguida, pegou a coruja e a colocou delicadamente em sua bolsa.

–Ahá! Agora você está encrencada sujeitinha trouxa!

O coração de Kayleena congelou, ela olhou para o homem com seus olhos amendoados. Ela não sabia se tinha entendido direito. ''Ele me chamou de quê? Trouxa? Isso não faz sentido nenhum!''

-Pois bem- Disse cortando o barulho mental de Kayleena - Diga seu nome e seu número de telefone.

– Por favor senhor, não diga nada à meus pais. Não diga que eu estive aqui. - Suplicou.

–Senhorita, me diga seu número antes que eu seja obrigado a chamar a polícia!

–Mas...

–Diga!

Kayleena o olhou nos olhos por um tempo. Ele parecia cansado, possuia olhos azuis e cabelos compridos e loiros, quase brancos. Ele tinha um certo rancor no olhar, ela se perguntava o que poderia ter acontecido com aquele homem.

–Não vai dizer?

–Tome, aqui está meu número. - Desistiu.

– Pois bem, venha comigo.

Ao chegar em casa, ninguém olhava no rosto de ninguém. Kayleena estava com a cara emburrada.

–Kayleena, como ousa nos desobedecer?

–Mamãe, eu não...

–Não quero saber! Já dissemos que não queriamos você naquele cemitério, o que estava fazendo lá?!

–Kayleena, sua mãe e eu tomamos uma decisão, vamos te colocar em um colégio interno, com segurança total. Lá você não poderá fugir.

–Não! Eu não vou! Papai, no cemitério eu tenho todo o silêncio do mundo, lá eu posso ser eu mesma. E tem a...

–E tem o quê? Sua avó?! Você está ficando louca!

–Mamãe!

–Calma Lucie. Kayleena, você sabe muito bem que sua avó está morta.

–Mas papai, eu sei que a vida não acaba aqui, há muito mais além! E... e eu vejo a vovó.

–Chega! Não fale bobagens, sua mãe e eu estamos preocupados com você! Você vai para um colégio interno, quer queira ou não! Agora vá já para o seu quarto!

–Se se preocupassem mesmo comigo acreditariam em mim! - Disse enquanto corria para seu quarto com os olhos cheios de lágrimas. Bateu a porta atrás de si e se jogou na cama. Ao ouvir um barulho vindo de sua bolsa, lembrou que a coruja estava lá.

–Ah meu Deus! Me desculpe! Esqueci que você estava aí. Venha, vamos ver o que podemos fazer.