Kit Black: Viajantes De Mundos escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 8
O Caminho da Ilusão/Parte III




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–E então, garota, que tal aprendermos alguma coisa enquanto esperamos?
–Está falando sério?
–Mas é claro.
Kit fitou Crós por uns instantes. Ficara pálido de repente. Estranho.
–Você está bem?
Ele abaixou as orelhas. –Mau pressentimento. Mas talvez não seja nada.
Ela não estava convencida, mas também não discutiu. –E então... –começou. –Como é essa história de aprendiz de mago?
–Feiticeiro.
–Tanto faz.
–É, tanto faz. Mas feiticeiro soa mais assustador. E faz com que não encham a sua paciência. –Crós fechou os olhos, provavelmente imaginando que não ajudara muito em seu caso. –Ou talvez não.
–E? Continue.
–O que você quer saber?
–Bem... Pra começar, por que não posso voltar atrás na minha idéia de ser uma aprendiz?
–Essa é fácil. Porque você estaria sob julgo das trevas caso recusa-se.
A garota o olhou, confusa. –Como assim? Eu não tenho nada com as trevas. Eu acho, pelo menos...
–Não, você não tem. É verdade. Mas uma vez que você pede para um feiticeiro ser seu instrutor, automaticamente está se pondo em xeque. É uma coisa perigosa. Você, neste momento, está com todos os olhares mágicos presos em si. Ou fica do meu lado e cumpre o trato que você mesma propôs sem saber, ou fica livre. Mas creio que estar livre não é uma opção pra você. E não estou dizendo isso por que quero que seja minha aprendiz.
–Por quê?
–Como eu disse, toda a magia se converge para você quando se faz um pedido para aprendê-la. Mas não há apenas uma magia. Existe um outro lado. Para tudo existe um outro lado.
–Magia negra.
Ele assentiu com a cabeça. –Um trato com a magia é permanente. Se eu te deixar ir, você será pega pelo lado negro. Por que, logicamente, quem rejeita a luz...
–Abraça as trevas. –Ela completou. –Agora entendo. Então não há outro jeito.
–Queria dizer que não, mas a escolha é sua.
O meio-gato fitou o céu, com esparsas nuvens brancas a romper o azul. –Mas... Se quiser saber de uma coisa... Eu adoraria ter você como aprendiz. Acho que me divertiria mais... E sou da opinião que não se pode desistir sem tentar.
–É... Concordo. O que você ia me ensinar mesmo?
–Acho melhor começarmos do básico. A teoria...
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–Caramba...
Kira deu um tapinha no ombro do irmão: -Pois é. E então, Sabe Tudo, como saímos?
O rapaz deu uma volta completa em torno de si mesmo antes de responder: -Não sei.
–Seu senso de direção é terrível, Ken. Agora estamos perdidos. –Alegou Cloe, olhando em volta.
–Perdidos num lugar estranho cheio de seres terríveis que estão doidos pra nos comer no café da manhã. –Completou Sacha.
–Nós não estamos perdidos...
–Estamos o que, então, procurando uma lanchonete?
Ele se absteve de responder a irmã e voltou a procurar o caminho certo. Estavam em umas das muitas encruzilhadas de trilhas que se abriam no meio da mata. Deviam estar pra lá de perdidos. Aliás, era bem capaz de estarem perto do lugar onde Judas perdeu as cuecas, por que ele já não teria mais nada pra perder...
–Em frente.
–Tem certeza?
–Não, porque estamos perdidos. –Kem respondeu, mal-humorado.
Todos o seguiram, entretanto, pela trilha que seguia em frente, se embrenhando mais e mais entre as grandes árvores. Agora já não se podia ver o céu, e quase nenhuma luz chegava a eles. Sons desagradáveis saiam das sombras, sugerindo algo sinistro escondido em algum lugar por perto.
–Ah, gente?
–O que foi, Sacha?
–Aquela árvore não estava ali a um segundo atrás.
Realmente, aparecera uma grande árvore tampando a passagem. Para contorná-la, teriam que sair da trilha.
–Não estou gostando disso. –Disse Cloe.
–Nem eu. –Kira abriu bem os olhos, tentando ver algo suspeito, mas a semi-escuridão só deixava ver a árvore no meio do caminho.
–Já se passou uma hora?
–Não sei, acho que não.
–Bem, estamos ouvindo gente gritar desde que passamos da areia movediça. –Cloe contou.
–Kira arriscou um palpite: -Talvez tenham sido os vikings. Disseram uma vez que eles não eram conhecidos por seu intelecto.
Ela estava certa. Areia movediça... Cortesia de um feiticeiro meio-gato. Como Crós disse, eles não passaram nem dos primeiros metros.
–Enquanto Hiei e Mitaray não nos encontram, temos que nos virar... É um teste, esqueceram?
–Esqueceu que no nosso grupo temos duas garotas com um conhecimento quase nulo de luta? –Atacou Kira, o que fez Kem pensar melhor e se calar. Parecia que a pedra em sua testa estava fazendo um pouco de efeito, afinal.
Olharam novamente para a árvore. Agora seus galhos se estendiam na direção deles, como garras afiadas e mortais.
–Ela estava assim há alguns segundos?
–Não...
Kem parou de falar e se esquivou a tempo de burlar uma verdadeira “galhada”. Lançou os olhos verdes à frente. Não era mais uma árvore só. Agora era uma parte da floresta que se recusava a deixá-los seguir.
–Presos por vegetais? Ninguém merece! –Resmungou Kira, se desviando também. –Não vou perder para seres sem inteligência fotossintetizantes.
Cloe pediu em pensamento. Suas orelhas e todos os outros atributos lupinos surgiram imediatamente. Estalou o chicote contra o galho mais perto, que tentava agarrá-la. Não que isso tenha ajudado muito. Numa fração de segundos ela já estava completamente enrolada.
Por sua vez, a contra gosto, Sacha seguiu o exemplo da amiga. A única vantagem nisso é que, sendo um pássaro, ela conseguia desviar das investidas muito fácil. Ao pousar num galho, usou os olhos de retinas grandes feito as de um falcão para mirar na árvore que mantinha Cloe em cativeiro. Uma dúzia de flechas saídas com uma velocidade incrível do seu arco cortaram os galhos, e Cloe já podia se mexer novamente.
A garota olhou pasma para Sacha, antes de murmurar um “valeu” e desfiar com as garras um outro ramo que ameaçava prendê-la novamente.
Kem parou um instante para pensar. Subitamente, depois de esquivar-se de um golpe quase fatal, gritou a primeira pessoa que veio na sua cabeça.
–Kira!
–Que que é?
–Ainda tem aquele isqueiro que ganhou do seu ultimo namorado esquisito?
–Ele não era… Tenho.
–Me dê.
Ela desceu velozmente pelos galhos da árvore que ameaçava destruí-la e atirou para o irmão um pequeno cilindro prateado. Kem o agarrou em pleno ar, e puxou de um dos bolsos da calça um vidrinho transparente, com um pó negro e estranho dentro.
–Pólvora??? –Cloe murmurou, perguntando logo depois: -De onde você tirou isso?
–Peguei na grande tenda. Tinha um monte desses potinhos, bem num canto. Quase imperceptíveis.
–Espertinho, você…
O rapaz coçou desconfortavelmente a cabeça, com um sorriso amarelo nos lábios.
–Kit ficaria admirada. –Gritou a garota, abaixando sob uma das árvores, que foi atingida em cheio pelas garras da irmã. –Mas é melhor andar logo com isso, não temos muito tempo.
–Melhor vocês tomarem distancia, porque vai ser uma explosão dos diabos.
Quase que imediatamente, cada uma das três garotas foi para um lado diferente. Kem olhou bem, certificando-se que elas estavam longe o suficiente, e abriu o pote, dispersando o pó no meio das árvores. Tomou distancia, acendeu o isqueiro e o atirou em direção à pólvora, correndo logo em seguida. Um clarão vermelho e laranja surgiu, junto com um estrondoso barulho de explosão. Para quem estava fora, no campo verdejante que ficava fora do Caminho da Ilusão (Kit, Iris e Crós), dava pra ver uma nuvem de fumaça sair de dentro das árvores e se perder no céu. Não pela última vez.
Os quatro se levantaram juntos, sacudindo a poeira das roupas. Os vegetais que a pouco tempo queriam mata-los jaziam sem vida, encobertos por chamas. Logo as chamas também se extinguiriam.
–Temos que continuar. –Argumento Kira.
–É, temos. –O irmão dela concordou, se espreguiçando e apontando para frente. –Parece que achamos novamente nosso caminho.
Uma trilha se estendia a frente deles, parecendo não ter fim.
–Já estava na hora, Senhor GPS.
–Muito engraçado.
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–O que diabos foi isso? –Questionou Kit.
Crós olhou vagamente por cima dos ombros. –Parece que alguém achou os potes com pólvora.
–Pelo menos tem alguém inteligente ali no meio… -Resmungou Iris, enquanto carregava de volta o último dos Vikings. Com uma porrada violenta, fez com que ele parasse de gemer e atirou-o junto aos companheiros. Com desagrado, Kit reparou que era o mesmo que olhara pra ela na tenda.
–Crós, consegue fazer uma magia para mandá-los direto pra o Hospital Central?
A jovem garota lançou um olhar penalizado para os guerreiros caídos. Afinal, ser teleportado por Crós era quase suicídio, e ela descobrira há pouco tempo isso. Ela poderia não admitir, mas ficaria traumatizada pelo resto da vida por causa disso.
–… Depois os mandamos de volta para o lugar de onde vieram… -Iris continuou. A semi-fada fitou o mago de esguelha. –E Crós… Mande-os para o hospital, não pro cemitério.
Ele respondeu com um olhar cético e uma ruga de contrariedade na face. Murmurou algumas palavras ininteligíveis (as quais Kit não sabia se eram xingamentos ou parte do feitiço). Mas ao ver algo como um círculo mágico envolver os feridos e fazer com que desaparecessem, ela teve certeza que era um feitiço.
Crós lançou outro dos seus olhares céticos. –Quer ligar pra ver se chegaram?
–É impossível, nossas linhas de comunicação estão cortadas.
–Que seja…
A mulher de olhos castanhos avermelhados girou nos calcanhares. A sensação de que iria acontecer algo ruim não a abandonava. E Crós também estava desconfortável. Algo estava fora do normal…
Encarou o rolo de fumaça escura que subia do meio do Caminho da Ilusão. Quem havia conseguido achar a pólvora era inteligente, sem dúvida. Muitos provavelmente passaram por ela e nem notaram. Sorriu pra si mesma. Aquela garota trouxera com ela gente interessante…
–Me parece que agora vamos ter de ficar duas vezes mais alertas, minha amiga.
–Quanto mais ao fundo do Caminho eles entrarem, mas difícil será sair sem a ajuda de fora. –A semi-fada argumentou. –Em compensação, quanto mais fundo chegarem, mas prestigio terão e mais perto da vitória estarão.
–Isso se sobreviverem.
–É pra isso que estou aqui.
–Acha mesmo, minha cara, que é somente a vida que eles correm o risco de perder lá dentro?
Iris não respondeu. Sabia muito bem o que ele tinha a dizer. Talvez para reafirmar, ou por que Kit estava lá, Crós continuou: -Eles correm o risco de perderem a razão. De enlouquecerem.
–Sei disso.
–Eu sei que sabe. –E, virando-se para kit, que já empalidecera totalmente: -Não faça essa cara. Já te disse, tenha fé. E além, do mais…
–Além do mais?
–Agora que vai começar a diversão…
Ela não tinha gostado nadinha daquela afirmação.
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Nicolas parou sua motocicleta em frente à Sede Black. Um silêncio agourento pairava no ar, como a calmaria que precede uma tempestade. Ele trilhou pelo caminho que levava a mansão. Chegou à porta, tocou a campainha… Nada. Ninguém o recebera. Nem mesmo Dayana, com seu sorriso elétrico, quase nocivo, e sua hiperatividade natural. Ela sempre estava lá para abrir-lhe a porta.
Ele procurou em seus bolsos e puxou um velho cartão. Um cartão negro, com um dragão vermelho gravado, assim como aquele que estava no comunicador de Iris. Há muito tempo que ele não precisava usá-lo. Ao lado da porta, na parede, uma pequena fenda se mostrava aberta, e foi nela que o Senhor do Palácio de Granito passou o cartão. Quem olhasse de relance não veria nada mais que um buraco na parede, mas assim que ele enfiou o cartão, um barulho sucessivo de trancas se abrindo foi ouvido, e a porta se escancarou, deixando livre o caminho.
Sua primeira atitude foi gritar o nome de todos eles, mas, não obtendo resposta, ideias obscuras começaram a passar pela sua cabeça. Seus passos ecoavam sinistramente pelos corredores vazios, enquanto ele se dirigia inconscientemente para o subsolo. Para a sala de treinamento…
Um desespero foi brotando lentamente em seu peito. Algo estava errado. Muito errado. Quando ele se aproximou da porta da sala de treinamento, sentiu um cheiro. Um cheiro forte e acre, que só poderia ser uma coisa… sangue. Muito sangue.
Ele abriu a porta, e o que viu quase fez seu coração parar. E ao cair de joelhos, com os olhos cegos de lágrimas, viu tudo aquilo que ele acreditava ruir aos seus pés.
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Meio dia. Sol à pino. Mas quem estava dentro do Caminho da Ilusão não podia ver o astro-rei ou sentir seu calor. Não, quem estava lá tinha que lidar com o frio e a escuridão, como se estivessem num abismo profundo e muito longe de conseguirem sair. Kem e as garotas estavam nessa situação. E, aparentemente, estavam mais uma vez perdidos…
–Acho que deveríamos mudar de líder. –Alegou Kira.
Kem não respondeu, apenas suspirou fundo. Ela tinha toda a razão… Pensava em responder quando um som de coisa quebrando o impediu.
–Lá vamos nós de novo… -Cloe resmungou, puxando o chicote. Eles já haviam queimado mais árvores-monstro que poderiam contar.
Mas não era uma árvore dessa vez… Era algo muito pior…
O barulho continuou. Agora se misturava ruídos como chiados. O solo começou a tremer.
–Terremoto? –Cloe disse baixo, dando passos para trás…
–Aqui? –Questionou Sacha.
–Qual o problema, ninguém disse que aqui não tinham placas tectônicas…
–Não fale difícil, Cloe. –Resmungou a ruiva. –Sabe que não sei nada de tecnologia…
–É tectônicas, sua anta. E, seja lá o que esse tremor for, não estou gostando… -Retrucou Kira.
Agora a camada de folhas mortas e terra começava a se levantar, e de seu interior surgiram coisas. Coisas que só poderiam ter saído de um pesadelo. Seres que os observavam com suas órbitas vazias, e que carregavam grandes cimitarras e espadas com suas mãos descarnadas. Eram esqueletos.
Esqueletos vivos.
–Não gostei da cara deles… -Gemeu Sacha.
–Na realidade, “cara” é uma coisa que eles deixaram de ter faz tempo. –Cloe argumentou. –O que me lembra do quanto essa situação é improvável…
–Mas está acontecendo. E eles estão querendo nos matar, então que tal levarmos isso a sério por alguns instantes? –A loira puxou mais uma vez a espada e, numa fração de segundos, partiu um esqueleto ao meio. –Vou fazer com que voltem para o lugar de onde não deveriam ter saído…
–E quem você pensa que é, garota estupida, pra achar que isto é possível?
A voz pegou-os de surpresa. Era de um tom agudo, como um tilintar de ossos... Uma figura se destacou do grupo de esqueletos. Em sua cabeça havia restos de um capacete empenado, como se tivesse vindo da Grécia. Uma armadura semi-destruída cobria sua caixa toráxica, mas o que mais chamava a atenção era uma joia rubra como o sangue, que estava presa em seu pescoço, mas a despeito da armadura destruída e da falta de carne ou tecido, se alojava entre as suas costelas.
Pessoas sensatas calariam a boca imediatamente e correriam até estar tão longe que os esqueletos não poderiam alcança-las. Mas Kira não era uma pessoa sensata. Muito pelo contrário.
–Eu sou Kira Himura. E digo que vou arrancar a sua cabeça e usar seu capacete de espanador de pó.
O ser riu ameaçadoramente. –Tente então, mortal infeliz.
A jovem girou a espada nas mãos e atacou, fazendo uma sucessão de golpes e estocadas à esquerda e direita sem, contudo, conseguir acertá-lo.
–Não é tão fácil quanto parece, não é, menina? –Ele desceu a cimitarra, mas Kira abaixou e golpeou seu pescoço com a espada. A cabeça foi ao chão, rolando, de maneira nauseante.
O irmão soergueu levemente as sobrancelhas. –Mas já?
–Essa foi rápida… -Sacha comentou, se escondendo atrás de Kem, imaginando que o resto de esqueletos ia mata-los por terem matado o líder deles (embora ele já estivesse morto). Não foi isso que aconteceu. O que ocorreu foi que um coro de risos diabólicos levantou-se do pequeno grupo de monstros, chegando a proporções assombrosas.
“Isso não me parece muito bom…” foi o pensamento que passou pela cabeça de Cloe. “Isso não é nada, nada bom”.
–Estão rindo do que, seus idiotas? Acabei de decepar a cabeça do líder de vocês. Vocês serão os próximos.
A zombaria continuou, interminável. Kira já começara a perder o resto de paciência que ainda tinha. Ninguém tirava com a cara dela e ficava impune! Empunhou a espada, se preparando para desfiá-los um por um, quando aconteceu. E aconteceu realmente rápido, porque a deixou sem reação. O esqueleto levantou-se como se nada tivesse acontecido, agarrou o próprio crânio que jazia ao seu lado e encaixou-o em seu pescoço novamente, com um “crack” desagradável.
–Eu sou Gaia, o capitão dos esqueletos vivos. Nós já estamos mortos há muito tempo. Como espera matar quem já está morto, Kira Himura?
A cara de surpresa que estampava o rosto da jovem se dissolveu, deixando em seu lugar um sorriso de escárnio: -Tudo tem seu ponto fraco. Até mesmo vocês, montes de ossos…
–Vou descarna-la pela sua ousadia.
–Vai pro inferno.
–Eu vim de um lugar muito pior. –O monstro alegou, levantando a cimitarra que usava acima do crânio. –Esqueletos… Ataquem!
–Agora nós vamos morrer… -Kem comentou, enquanto desferia um golpe contra um dos seres, partindo-o em dois (o que, no final das contas, não faria diferença alguma, pois ele se regeneraria novamente em segundos).
Estava tudo perdido. Eles não iam sobreviver àquilo. Era impossível, mesmo que a confiança de Kira fosse inabalável, mesmo que a inteligência de Cloe fosse admirável, mesmo que Kem fosse um espadachim exímio, mesmo que Sacha tivesse algum talento além de uma beleza absurda. Eles não conseguiriam. Chamariam Iris? Quem se lembraria disso numa hora daquelas?
E, nesse momento, uma flecha familiar sibilou, deixando sem cabeça mais um esqueleto, bem a tempo de evitar que Sacha perdesse a dela própria.
Antes que pudessem dar pelo fato, uma foice varreu mais metade dos esqueletos transformando-os em pó. Sim, em pó! Uma sombra desceu de uma das árvores, portando um bastão negro, com uma caveira em sua ponta, e apenas usando isso transformou mais alguns seres em poeira. A primeira reação de Kira, que se defendia de um ataque antes do inimigo ser destruído, foi murmurar algo como “Como?”. Virou-se imediatamente. O dono da foice estava ao seu lado, segurando a arma com as duas mãos, fazendo questão de ficar entre ela e o que restara do grupo de esqueletos, reunidos em torno do próprio Gaia. O capitão dos esqueletos vivos rosnou de desagrado, resmungando, entre os dentes. –Caçadores… Vocês. Não esperava que fosse encontra-los aqui.
–Digo o mesmo, Gaia. Vocês estão longe de casa. Deveriam voltar para onde a sua mestra está.
–Foi ela que nos mandou aqui, cachorrinho da Morte. Mas, aparentemente, temos que nos retirar mais cedo do que deveríamos.
–Vai ser melhor para os seus capangas. Metade deles já sumiu, quer perder a outra?
–Sempre restará a mim no final. Sabe bem disso.
–Você sozinho não é nada.
–Sou o suficiente, com um punhado de ossos em mãos.
Mitaray estreitos os olhos, da cor da tempestade, e apontou a foice em direção a ele. –Vá. Agora. Ou farei seu pequeno exército do qual tanto se orgulha virar pó mais uma vez. Aposto que sua mestra não vai gostar nada disso.
–É, esqueleto, volte para o seu deserto. E aproveita para comer algo, você está muito… Magro. –A voz de Hiei chegou de não muito longe. Estava bem ao lado de Kem, ajudando-o a se levantar.
–Um dia, Caçadores… Um dia destruirei sua Cidade, seu maldito mestre e, por último, vocês… Guardem essas palavras. –Gaia jurou, em tom agressivo.
Seus esqueletos que restaram começaram a afundar de volta a terra de onde haviam saído, um por um, até ficar apenas o capitão. Ele riu uma última vez e, enquanto sumia em meio a terra, alegou: -Mas, não importa realmente. Nós destruímos quase todos os outros candidatos a entrar na Equipe. E, além do mais… Acho que não haverá mais uma equipe quando saírem daqui…
Mitaray não gostara daquela afirmação. Entretanto, quando se preparava para impedi-lo, o capitão já havia sumido.
“Não haverá mais uma equipe quando saírem daqui”
A frase ficou ecoando em sua cabeça, incapaz de se desligar de seus neurônios.
–Temos que ir. –Disse por fim.
–Mas e o teste? –Questionou Kira.
–Não haverá mais teste. Não haverá mais nada. Acho que…
–Acha quê?
–Acho que Haradja armou pra nós. E caímos direitinho. Alberich?
–Sim? –O elfo respondeu. Aparecera tão de repente que tirara o folego da maioria do grupinho reunido.
–Quantos sobreviventes?
–No Caminho?
–É.
O elfo fechou os olhos e respirou fundo.
–O que ele está fazendo? –Cochichou Sacha para Hiei.
–Alberich é um elfo. Ele pode se comunicar com as árvores e o meio. Mas nós estamos num lugar não muito agradável, então acho que ele vai demorar mais tempo para conseguir a resposta. Essas árvores são um tanto quanto… antissociais.
O elfo abriu lentamente os olhos. Sua expressão era indecifrável, mas havia um quê de tristeza em seus olhos.
–Somos os únicos. Sem contar aqueles que foram eliminados e resgatados por Iris.
Foi difícil decifrar a expressão que passou pelo rosto de Mitaray, mas com certeza não era a de serenidade usual. Ele crispou os lábios e, de súbito, virou-se para os Slaiers. –Vamos em frente. Espero que a saída esteja próxima.
–Mas você não disse… -Começou Sacha.
–Sei o que eu disse. –O rapaz cortou-a imediatamente e a pegou por um dos braços, puxando-a, sem machuca-la. -Vamos continuar. Venham.
O grupo seguiu-o sem mais reclamações. Kira, que se mantinha ao lado de Mitaray, finalmente resolveu perguntar: -O que eles eram?
–Esqueletos Vivos.
–Isso eu reparei.
Ele estalou os ombros: -Gaia fora um importante general grego a muito tempo atrás. Quando Helena foi raptada por Páris, no que se sucederia a Guerra de Tróia, ele foi chamado para se juntar ao exército que vinha de Esparta, comandado pelo esposo daquela que tinha sido arrebatada.
–Menelau.
–Exato. No entanto, ele foi assassinado antes de se juntar ao exército, perdendo irremediavelmente a honra de participar da maior batalha da história grega. Por não ter tido um devido funeral, já que seu corpo não tinha sido encontrado, ele foi condenado a vagar pela margem do Rio Estige, por cem anos, até poder atravessar para o seu julgamento.
–Eu ouvi falar das lendas gregas, mas nunca imaginei que fossem verdade. –Alegou Cloe.
–Geralmente, as pessoas do Mundo Real preferem acreditar em mentiras e ignorar a realidade. Cada um tem a sua verdade. –Alberich disse, enquanto acertava com uma flecha uma árvore qualquer. Vendo a curiosidade nos rostos dos outros, explicou: -Para não nos perdermos. Esse lugar é confuso até pra mim.
Hiei olhou para o elfo e questionou: -Isso significa que estou ganhando a aposta?
–Ainda estamos vivos e não chamamos a Iris para vir nos ajudar, então NÃO.
O rapaz de cabelos acinzentados continuou sua história, antes que aquilo virasse uma discussão: -Acontece que nesse meio tempo, um feiticeiro negro do nosso mundo estava procurando ossos humanos para uma poção qualquer, e acabou topando com o corpo, já descarnado, de Gaia. Ele pegou o corpo inteiro e voltou para cá, visando usá-lo, mas com a mudança de mundo, a alma dele também foi puxada. Como por aqui não existe Tártaro e ele morreu no Mundo Real, sua alma apareceu como um fantasma, sem ter lugar pra onde ir. Notando isso, o feiticeiro se aproveitou da situação e fez outra poção, prendendo a alma ao corpo esquelético mais uma vez. Junto com essa maldição, Gaia também ganhou um talento: desde que tenha apenas um osso em mãos, ele pode convocar mais esqueletos e almas, e assim formar exércitos sob suas ordens. Por já estarem mortos, não podem ser destruídos.
–Mas você e o Hiei transformaram eles em pó. Literalmente. –Kira retrucou, enquanto andava ao seu lado.
–Isso é outra história. E, mesmo assim, é inútil, porque não podemos matar o próprio Gaia. Ele é protegido pela magia negra de seu “criador”, e enquanto ela não for quebrada, o capitão dos esqueletos vivos não pode ser morto.
–E quanto ao feiticeiro?
–Ele foi vitima da própria criação e não conseguiu tirar proveito dela. Gaia ficou um bom tempo quieto em um lugar da nossa cidade natal, um vulcão extinto, Loha Aspis, até alguém surgir para recrutá-lo. E esse alguém foi Haradja.
–Haradja… A assassina?
–E nossa pior dor de cabeça. –Resmungou Hiei, enquanto girava habilmente seu bastão e o atirava para o ar, pegando-o logo em seguida.
–Pelo que parece, ela passou muito tempo planejando isso tudo. Agora entendo porque as linhas de comunicação estão cortadas.
–Como assim as linhas de comunicação estão cortadas? –Cloe parou, enquanto perguntava.
–Não conseguimos falar com ninguém do Reino inteiro. Estamos todos ilhados.
–Não se pode cortar as linhas de comunicação, são ondas, se propagam pelo ar…
–Foi o que eu disse. –Hiei lançou um olhar de superioridade a Mitaray que, como sempre, o ignorou.
–Isso não importa agora. O que importa é que todos os recrutas estão mortos e precisamos sair daqui logo.
Ao falar, ele notou que as árvores da densa floresta começavam a ter um espaço maior entre si, e já era possível notar um pouco de claridade. Eles foram andando em frente, sempre em frente. E com grande satisfação chegaram ao fim do caminho da Ilusão. Ao colocarem os pés para fora dele, porém, a abertura entre as árvores por onde saíram se fechou imediatamente, deixando ver nada além de uma parede de sombrias árvores.
–Acho que gostaram de você, Alberich… -Hiei murmurou, enquanto apressava-se em se distanciar o máximo possível da orla da floresta.
–Significa que eu ganhei certo?
–Pois é. Mas se eu fosse você daria alguns passos de distância, antes que elas resolvam nos levar pra dentro de novo.
–Bobagem.
–Sei lá, vai quê…
–Não muda de assunto, está me devendo.
–Tá, eu perdi. O que quer que eu faça?
–Não sei ainda. Mas eu vou cobrar.
–Você é um elfo, não pode deixar essa passar?
–Poderia, se você não tivesse duvidado da minha capacidade de localização.
Mitaray revirou os olhos: -Poderia pedir algo pro filhinho dele.
–Ele tem filho? –Um coro de vozes perguntou.
–Tem. Um garotinho, que acabou de nascer. Por esse motivo, ele não vai morar com a gente.
–Com a gente?
–Sim, a Equipe Black vive toda junta na sede. E, como saímos do Caminho, espero humildemente que Iris nos aceite. Mas Alberich é um elfo, acima de tudo, e tem o costume de viver na floresta, como o resto de sua raça. E, como já disse, ele tem um filho, e pretende tomar conta dele. Então, vai ser um agente de fora, que dará a Iris as informações que ela precisar sem, contudo, morar conosco.
–O que de certa forma facilita muito as coisas pra mim.
Eles se viraram e viram Iris, seguida de perto por Crós e Kit.
A segunda fitou cada um por instantes, como se estivesse tentando provar a si mesma que aquilo não era una ilusão de ótica. Um sorriso sutil foi surgindo no canto de sua boca e, num momento seguinte, já estava perto dos outros, os abraçando e congratulando.
Um pouco distantes, Iris e Crós trocaram olhares.
–Eles conseguiram…
–Eu imaginava que o resultado seria esse.
–Sinceramente, eu fiquei um pouco preocupada… Seria difícil ela ter que se adaptar sem os amigos por perto. Mas eles passaram, afinal.
–E quanto a Hiei e Mitaray?
Iris sorriu: -É claro que alcançariam a meta. Sendo quem são…
Ela se aproximou do grupo e falou: -Meus parabéns. Vocês são o primeiro grupo a retornar com sucesso.
–E seremos o único. –Mitaray disse, em tom lúgubre. Vendo que ele estava falando a sério, Iris empalideceu.
–O que houve?
–Haradja armou pra nós. Gaia estava no Caminho da Ilusão. Aqueles que chegaram muito longe foram mortos. Os únicos sobreviventes, além de nós, foi o grupo que você mesma tirou do caminho.
Iris gaguejou algo como “tem certeza”, ao que Alberich respondeu serem as árvores, por mais selvagens que fossem, extremamente confiáveis.
A semifada forçou-se a manter a compostura. Felizmente, alguns haviam sobrevivido. Os mais jovens e menos experientes tinham sido resgatados por ela. Graças aos Deuses, não foram todos… Seria isso a razão para aquele sentimento ruim que ficara em sua cabeça nos últimos dias? Talvez fosse. Ela respirou fundo.
Então por que aquela sensação desagradável de perigo ainda estava bombardeando suas veias?
–Diga-me, Mitaray. Diga-me o que mais está acontecendo.
O rapaz a fitou longamente, antes de responder: -Gaia disse que não há mais uma Equipe Black.
Sob o peso daquela informação, a mulher voltou-se para Crós e pediu: -Leve-nos pra casa.
O feiticeiro não pensou duas vezes e disse as mesmas palavras que fizeram com que os Vikings desaparecessem. Num átimo de segundo eles se encontravam no começo da trilha que levava à Sede Black. A energia liberada pelo teletransporte foi tão forte que fez com que todos caíssem no chão, desequilibrados. Iris se recuperou rapidamente, colocando-se em pé num salto e começando a correr. Com dificuldade os outros foram se levantando. Kit foi a primeira, ao ter um senso de equilíbrio felino. Ela disparou pelo caminho, conseguindo finalmente alcançar a mulher. Uma ruga de preocupação se formara em sua face. O suor escorria de seu corpo. A visão de uma figura familiar sentada na soleira da porta quase a fez cair. Ela parou, ofegante, Kit ao seu lado. Colocando a mão na cabeça dela, ordenou, em voz baixa: -Fique aqui. Por enquanto, fique aqui.
–Mas…
–Sem mas. –A semifada continuou, caminhando lentamente, até o jovem que estava a porta. Seu rosto era uma máscara de tristeza. Parecia despedaçado por dentro, os olhos vermelhos de tanto chorar. O manto negro que usava agora estava na sua maior parte escarlate. As mãos sujas de sangue. Ele estava em um estado de quase inconsciência, mas a respiração de Iris chamou sua atenção ele levantou os olhos marejados para ela. Os dois se encararam.
–Nicolas… O que houve?
–Eu sinto muito. Eu deveria ter chegado antes… -Sua voz não era nada além de um sussurro sem entonação alguma. Mas algo nela era melancólico, sombrio.
–Nick, onde estão os outros? –Ela perguntou, exasperada. Notando o sangue em sua roupa, e vendo que não era dele, a cor fugiu de suas faces.
–Sala de treinamento. –Ele gemeu, num fio de voz. –Não vá lá.
Ela avançou para a porta, esperando passar ao lado dele. O mundo assemelhava-se a um filme mudo, e o tempo passava estranhamente devagar. Sentiu algo tocar em seu braço. Nicolas a segurava, se esforçando para que Iris ficasse ali. –Não vá lá, Iris. Por favor.
Ela não conseguia ouvir, mas lera os lábios de outras pessoas tempo o suficiente para saber o que ele tinha dito. Um aperto tomou conta de seu peito. Ela puxou o braço com força e se dirigiu ao subterrâneo. Não ouvia o eco dos próprios passos ecoando no silêncio. Não ouvia nem o som do coração, batendo ruidosamente em seu peito, pronto para explodir. Antes mesmo de chegar ao seu destino já estava chorando. Ha esse tempo, os outros já haviam se reunido a ela. Mas não poderia notar isso. Eles pararam diante da porta da sala onde a Equipe Black treinara tanto para aperfeiçoar todas as suas habilidades. Entretanto, ao chegar lá, Iris não se atreveu a abrir a porta. Tinha medo do que iria encontrar do outro lado, e tinha todos os motivos do mundo pra isso. Ela nunca teve medo de bater de frente com própria Haradja, o que fizera varias vezes, nem contra seu exército de Esqueletos Vivos ou de Assassinos treinados. Mas só de pensar no que estava atrás daquela porta, era tomado de um pavor intenso. Mitaray colocou uma mão em seu ombro e, com a outra abriu a porta. E, então eles viram: os corpos despedaçados de cinco membros da Equipe Black.
Dayana fora esmagada pelas garras que a haviam levado pra longe dos companheiros. Dave foi cortado tantas vezes pelos lasers que estava irreconhecível. Afinal, todos estavam irreconhecíveis, pois, por mais que tivessem tido mortes rápidas e sutis, os lasers ficaram passando muito tempo por cima dos corpos até acabar toda a sua energia. O resultado era que havia sangue por toda a parte e um monte de membros que, um dia, foram corpos humanos. Pelo menos eles não haviam sofrido tanto, embora isso não fosse um consolo para os que ficaram. Na realidade, eles foram uns dos poucos que não viram seus corpos depois de morrer. E isso era muito bom, porque se vissem agora, enlouqueceriam.
Mas nada disso importava mais. Não era nisso que pensara Iris, ou Mitaray, ou Hiei, ou qualquer um dos outros ao entrarem na sala. Nem no tamanho do golpe que Haradja tinha dado neles, ou que ela se dera bem dessa vez, ou que poderia estar tramando planos piores em seu desolado castelo. A única coisa que passou pela cabeça deles foi dor. Foi que a Equipe Black estava irremediavelmente perdida, sua essência morta, sem ter a oportunidade de se defender. E uma promessa de vingança escapou de cada boca, enquanto Iris caia ao chão, dando um grito amargo e doloroso, vindo do fundo da alma, e que teria ecos até mesmo em Soledad. E lá, em Soledad, havia uma mulher se divertindo com esse pesar. Seus cabelos eram negros como as trevas e longos, seus olhos castanhos escuros, sua pele, clara como a neve. Suas orelhas eram extremamente pontudas e em sua costas saíam asas demoníacas, de um marrom escuro e sem beleza. Ela deu uma gargalhada maléfica e se permitiu sorrir depois de muito tempo. Agora não existia mais ninguém para frustrar seus planos. Iris não podia vencê-la sozinha, Nicolas muito menos. E a tal garota? Uma criança jamais a prenderia. Com todas as profecias que diziam que ela cairia quando essa garota chegasse, ela estava tranquila. Estava feliz. Sua nova aliada era perfeita, a Equipe tinha sido destruída, reduzida a pó (ou melhor, a pedaços, disse para si mesma).
Mas agora era hora de formar mais planos, para tomar todo Diamante. Afinal, ainda restavam os Deuses. Como ela os odiava, principalmente Reidh. Ele era sempre tão irritante, espalhando suas informações, fazendo fracassar todos os seus planos. Hera, com sua língua afiada, Folkes, com seu jeito superior e seu fogo e luz que vinham de vez em quando incomoda-la. E Seres, com suas malditas lágrimas que, quando caíam, chamavam a chuva e os silfos da tempestade. Detestava-os, mas se comprazia com a dor da Sereia, sabendo que a causadora fora ela mesma, que mandou destruir a cidade que a Deusa tanto amava. “Mas um ponto para você, Haradja” pensava.
Queria virar o jogo, e chamou sua mais nova sócia. –Venha, Cassandra. Faça com que as linhas de comunicação voltem a funcionar, quero que todos os cidadãos, em cada buraco desse Reino, saibam que seus heróis pereceram. E, além do mais, temos uma semifada para caçar…
Não, ela sabia que não havia alma viva que pudesse derrotá-la. Mesmo que fosse uma garota trazida de volta por Deuses. Mesmo que ela fosse Kit Black.


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