Brandon

O sinal não batia e a ansiosidade de Brandon não se esgotava. A necessidade de ver Lia era maior, apesar dele saber a reação que ela teria. Indiferença. Isso era pior do que rejeição, ela simplesmente não se importava com a existência dele. Era por este motivo que não conseguia se concentrar em nada, muito menos ter paz o suficiente para conseguir dormir. Lia conseguira tomar em poucas semanas um espaço na sua mente maior do que qualquer uma que ele houvesse conhecido anos antes, e ele não conseguia saber o que isso significava.

Lia

Por volta das onze, a nicotina já fazia falta no organismo de Lia.

O vício exercia um poder sobre seu cérebro maior do que sua vontade própria, e ela se viu obrigada a acender um cigarro. Pegou um baseado já enrolado, um isqueiro e levantou-se para ir ao banheiro. A sensação provocada em seu sistema nervoso ao dar a primeira tragada foi de completa serenidade e calma. De repente, todos os seus problemas, todo o seu passado, tudo havia sumido. Era como se nunca tivesse acontecido nada, como se sua vida voltasse a ser como era antes. Ela lembrou de casa, dos flocos de algodão que caiam no inverno, de suas amigas, da vida perfeita que tivera um dia. Mas a verdade estava em sua frente: estes tempos haviam passado e o inferno havia subido para engoli-la viva.

Ao acabar o baseado, voltou para a sala muito mais calma e relaxada, sentou-se em sua carreira e abriu o caderno, para copiar a matéria que estava no quadro. Foi quando a caneta tocou o papel que sua mão congelou. Seu braço congelou, seu coração parou de bater por alguns segundos. A data era de 14 de abril. Sua menstruação estava atrasada.

Ethan

A aula parecia normal, mas a mente de Ethan vagava. Em seus pensamentos estavam Brandon e Lia. Será que seu amigo havia se apaixonado? E o pior, será que ele poderia ter se sentido estranhamente atraído pela menina por quem seu quase irmão havia se apaixonado? Nada era concreto naquele mundo, mas a insegurança era pior do que a realidade, às vezes.

Foi apenas quando a professora chamou sua atenção que conseguiu desviar a atenção para algo realmente concreto: tinha que passar de ano. Os pensamentos haviam passado, mas a câimbra interior permanecia inquieta.

Brandon

Seu encontro com Lia estava mais perto do que nunca. Faltava apenas um dia. A ansiosidade o corroía e a fobia da reação dela era um destino incerto.

5 minutos restantes na aula. O sinal o libertaria da prisão que era a sala de aula e o permitiria encontrar com aquela que desejava. O ponteiro dos minutos parecia ter travado no 11, pois ele tinha certeza que já havia passado mais de um minuto. Pelo menos parecia. O tempo se arrastou, até que, finalmente o ponteiro encontrou o número 12 e o sinal soou. Brandon saiu disparado em direção à porta, com a mochila nas costas. Ele sabia que o último tempo de Lia na quinta-feira era de história, e a professora sempre ficava na sala de vídeo, para onde foi correndo. Ao chegar lá, percebeu que todos os alunos já haviam saído, e ele não podia distinguir se ela ainda estava na sala.

Andando contra a corrente, ele adentrou o espaço e procurou pela menina pela qual procurava. Sem resposta. Ela não estava lá. Dirigiu-se rapidamente para o refeitório e olhou para a mesa onde eles sempre sentavam.

Nenhum sinal de Lia. Seu coração já pipocava dentro do peito com receio de que ela não tivesse vindo à aula quando ele a vê saindo da escola.

–Lia!- ele grita, fazendo-a olhar para trás- Aonde você vai? Ainda tem aula.

–Estou me sentindo meio indisposta hoje e prefiro ir para casa- ela respondeu.

–Ah, sim. Tem certeza que não tem como ficar?- seu coração ficou esmagado.

–Acho que não, Brandon. É melhor eu ir, para poder me sentir disposta na festa amanhã.- ela sorriu.

Esta atitude fez uma pontinha de esperança surgir dentro de Brandon, o que o levou a aceitar a ida de Lia. Ele se ofereceu para ajudá-la, mas ela negou. Novamente a ansiosidade de Brandon só fazia aumentar.