Elizabeth não podia acreditar no que tinha acontecido. Sua irmã, a menina que crescera junto à milionária, tornando-se uma grande esposa e mãe futuramente, acabara de falecer, junto ao marido.

Mas não podia deixar as tristezas a abalarem, tinha uma missão a cumprir: cuidar da sobrinha, assumir o papel de mãe, que não pudera ser cumprido por Victoria.

Decidida, subiu as escadas e percorreu o imenso corredor, chegando ao quarto onde a pequenina Isabella cochilava tranquilamente, como uma bebê.

- É tão linda... Parece uma bonequinha. Não faço a mínima ideia de como contarei isso a ela. Não posso ficar escondendo, não seria certo. – refletia a tia, fechando silenciosamente a porta do quarto da pequena. Um grande desafio estava por vir e Elizabeth precisava estar pronta para enfrenta-lo.

...

A vida de Eric estava cada vez pior. Seus pais não lhe davam atenção, suas notas na escola eram baixas e o menino tornou-se extremamente antissocial.

Era constantemente humilhado pelo casal que o adotara, que fazia questão de expor que o filho legítimo era superior ao adotivo em todos os quesitos.

No momento em que todos ansiosamente sentavam à mesa, o filho de Elizabeth era obrigado a servir os pratos a todos. David observava a cena, horrorizado, todavia, os pais o castigavam caso discordasse deles.

Eric, apressadamente, buscara o prato da mãe. Ansioso para se juntar à família na refeição, aumentou o ritmo de suas passadas, quase a correr, percorrendo o escorregadio piso com uma rapidez perigosa, desatando a cair em seguida. O prato saltara de suas mãos, se chocando contra o chão, espatifando. Cacos se espalharam para todos os cantos.

Charlotte levantou, furiosa. Não era o primeiro prato luxuoso que Eric havia quebrado. Dirigiu-se ao menino, que se encontrava ainda caído, e segurou fortemente seu braço.

- Sem comida por hoje. Agora suma da minha frente, antes que eu perca a paciência com você. Você, mais do que ninguém, sabe como eu fico depois de furiosa.

Eric, sem escolha, se retirou da cozinha, faminto. Aquele seria mais um dia em que sofreria de fome trancafiado em algum canto pela casa.

...

Margareth fizera sua vida no presídio valer a pena em algo: batalhou arduamente para se formar no gigante curso de enfermagem. Esta era sua principal ocupação após a vingança contra Elizabeth estar concluída. Tornou-se uma grande enfermeira.

- Ela perdeu tudo que ela tinha, que nem eu me senti quando perdi a Megan... Chegou a hora de tocar a vida para a frente. Não posso mais viver dessa maneira.

Aquele longo dia fora imensamente cansativo. A mulher finalmente pôde repousar sobre o colchão, adormecendo de imediato.

Pelo que podia ver, se encontrava bem longe da prisão em que estava por anos. Ao seu redor, jazia um belíssimo e arborizado jardim, uma paisagem em que sonhava poder observar um dia, fora daquele lugar.

Era um dia ensolarado, no entanto, não fazia calor, devido ao forte e saboroso vento. Caminhou até a maior das árvores e se sentou, encostada na mesma.

Esfregou os olhos ao fitar algo brilhante que vinha em sua direção.

- O que será aquilo? Está se tornando cada vez maior. – pensava Margareth, se levantando, seguindo o brilho.

Aos poucos, podia ver que se tratava de uma pessoa. A jovem mulher tinha longos cabelos ruivos ondulados como uma cascata que desciam até a cintura, acompanhados de olhos verdes e uma beleza invejável. Utilizava um longo vestido branco, brilhante como uma pedra preciosa.

Margareth esboçou um sorriso e desatou a chorar, correndo até a irmã mais nova. Segurou seu rosto, emocionada. Tudo o que mais desejava era poder se despedir da irmã de uma maneira digna.

- Megan... Eu sinto muito! Eu não pude evitar o que aconteceu. Eu vou vingá-la... Juro! Enquanto estiver viva, farei a Elizabeth sofrer na minha mão.

Megan, envolta de lágrimas, balançava negativamente a cabeça. Seu olhar suplicava para que a irmã parasse por ali e seguisse sua vida, mas Margareth estava decidida. Ela iria vingar a irmã, era necessário, o que qualquer irmã de verdade deveria fazer.

As duas se abraçaram e permaneceram no silêncio e no calor de um abraço durante muitos minutos. Em seguida, Megan, com uma piscada, desapareceu. Em um instante a jovem se encontrava ali; no outro, tinha sumido.

Margareth despertou do sono, se debulhando em lágrimas. Tinha se levantado, assustada, porém, para não impedir o sono de nenhuma das colegas, tornou a se deitar.

...

Elizabeth, naquela noite, observava o céu estrelado da janela de seu quarto, pensativa. Como poderia explicar toda aquela situação de modo que a pequena não sofresse?

Após horas de reflexão, fitando o céu, finalmente descobriu a maneira perfeita de consolar a pequenina. Caminhou tristemente até o quarto de Isabella, onde a pequena se distraía com uma boneca de pano.

- Meu anjo, podemos conversar? – Elizabeth sentou-se na cama rosa ao lado da pequena, que assentiu.

- Sim.

- Venha comigo...

Ambas se dirigiram à grande sacada do quarto de Elizabeth, que já não tinha a decoração gótica e assombrosa como antes. Elizabeth tinha se preparado para ser uma mãe tranquila e abandonar aquela terrível mulher que já fora uma assassina.

- Os seus pais... Eles vão fazer uma viagem muito longa, por isso me pediram para ficar com você. Eles, não vão voltar.

- Como assim, tia? - Isabella encarou a tia, sem compreender o que fora dito. Elizabeth Apontou o dedo indicador à duas estrelas, as maiores da constelação.

- Eles agora estão com papai do céu... Está vendo aquelas duas brilhantes estrelinhas ali? – Elizabeth torcia para que seu repentino plano desse certo. Era a única maneira de tranquilizar a menina. Seu tom era calmo e solene, capaz de acalmar qualquer criança, no entanto, Elizabeth temia o que poderia acontecer. Felizmente, Isabella assentiu, ainda curiosa.

- Aquelas duas estrelas grandes são eles, sua mamãe e seu papai. Sempre que você as vir no céu, é porque eles estão olhando para você e estão ao seu lado... Sempre que precisar deles, eles estarão ali, para o que der e vier.