Those Were The Days escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
those were the days


Notas iniciais do capítulo

para a Vicky.



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i

A primeira vez que Riddle fizera algo surpreendente fora quando eles ainda estavam no primeiro ano. Ninguém na Sonserina sabia muito sobre o rapaz magricela e baixinho que Tom Riddle era naquela época – não que ele mudara muito com os anos, pois a estatura abaixo da média e a magreza continuaram lá – e a maioria dos alunos acreditava que ele talvez fosse um mestiço graças ao fato de que o seu nome não soava mágico o suficiente em seus ouvidos, e, para sonserinos, a mera idéia de ter um mestiço andando pelas suas masmorras era assombrosa. Essa era a razão pela qual Riddle – quieto e invisível Riddle – acabou por ser excluído por todos em seu primeiro ano.

Ele era, pelo que a maioria das pessoas viam, invisível. Ninguém o via no salão comunal, ninguém o ouvia durante o jantar, ninguém passava os fins de semana com ele, mas, uma vez dentro da sala de aula, era apenas uma questão de tempo antes de Tom Riddle se fazer ser notado. Não importava se, para que isso acontecesse, ele tivesse que erguer a mão no meio da sala ou responder à uma pergunta com seu inglês que, vez por outra, falhava – ele tinha um sotaque estranho, os sonserinos decidiram, nada que chegasse aos pés do elegante sotaque dos outros, mesmo que sua gramática fosse impecável -, mas, na maioria das vezes, ele acabava sendo notado por sua perícia quando se tratava de feitiços. Todos das outras casas amavam ver os feitiços impecáveis de Tom – menos, talvez, Minnie McGonagall, que fechava a cara e tentava fazer algo melhor do que ele – enquanto os seus colegas de casa apenas o encaravam e sussurravam sobre como o garoto era um maníaco por atenção.

Fora em uma dessas demonstrações de magia que Abraxas Malfoy vira a quantidade de poder que o pequeno Tommy Riddle escondia por debaixo de sua quietude. A aula de Transfiguração havia acabado de terminar e o professor Dumbledore ainda estava conversando com alguns alunos na porta de sua sala quando Darius Nott, um menino do segundo ano cujos pais Abraxas conhecia muito bem, passou pelo grupo de alunos reunido na saída da sala e, de uma maneira nada elegante, esbarrou em Riddle. Um gesto tão simples e sem graça que, para um menino de onze anos, poderia significar uma guerra, ainda mais quando seguido pela risada maldosa que escapara dos lábios de Nott ao ver os livros do mais novo caírem no chão.

O pequeno Tom, Malfoy viu, apenas estreitou seus olhos azuis e, antes que Darius conseguisse se afastar demais, a bolsa do garoto mais velho rasgou, fazendo todo o seu material cair. Ninguém mais viu o pequeno sorriso que apareceu nos lábios de Riddle, todos estavam ocupados demais rindo do pobre Nott que agora tentava recolher os seus pertences que, lentamente, eram manchados pela tinta preta que escorria do seu tinteiro quebrado.

Abraxas nunca falara sobre o incidente novamente, mas esta fora, em sua opinião, a maior vitória de Riddle.

ii

No terceiro ano a maioria dos sonserinos tinham uma regra: não fale com Tom Riddle. Os únicos que ousavam quebrá-la era Alphard Black, que fazia dupla com ele na aula de Poções, e a adorável Dorea Black, que tinha o hábito de ser gentil com todas as criaturas que cruzassem o seu caminho. Tirando esses dois alunos, ninguém mais interagia com Riddle, afinal, ninguém sabia dos seus antecedentes: ele não falava de sua família, ninguém conhecia nenhum Riddle – bruxo ou trouxa – e ninguém tinha como saber se Tom era realmente um mestiço sujo ou apenas um puro-sangue muito quieto e reservado. Mas não era bom arriscar, então, ficar longe era o melhor.

Também no terceiro ano Abraxas pegara Tom Riddle conversando com uma cobra. Se ele dissesse isso à qualquer outra pessoa, eles lhe diriam que tal comportamento era normal. O menino era estranho e solitário, era normal que ele conversasse com animais e objetos inanimados. Sim, ele era solitário, e, sim, ele era estranho, mas, mais estranho que Tom Riddle, era o fato de que a cobra o respondera... Ou pelo menos Malfoy a vira fazer tal coisa. Uma vez que Tom sibilara algo para a serpente, esta lhe respondeu com um barulho semelhante, como se o estivesse cumprimentando. Agora, aquilo era esquisito.

Riddle o viu e Abraxas lembrava de o quão embaraçado e irritado ele ficara. Ele jogara palavras raivosas contra o garoto loiro e falara algo sobre como ele deveria estar com os seus amigos de narizes empinados em Hogsmead ao invés de ficar se metendo nos negócios dos outros.

Malfoy tentara explicar que ele só fora até ele para perguntar se Tom queria alguns Feijõezinhos de Todos os Sabores, pois ele comprara muitas caixas em Hogsmead, mas o loiro nem teve tempo de formular a pergunta antes de ver uma cobra irritada ser jogada na sua direção.

iii

Quinto ano e todos decidiram falar com Tom Riddle. Na realidade, alguém finalmente descobrira algo sobre os seus pais – um casal puro-sangue muito reservado – e aquilo fora o suficiente para fazer com que todos ficassem confortáveis com a sua presença. Agora, um ano após tal descoberta, ele era o garoto de ouro da Sonserina: as meninas se apaixonavam por ele e sua educação enquanto os rapazes o respeitavam e apreciavam o seu poder.

Havia um baile aquele ano – se é que se podia chamar meia dúzia de alunos e professores de um baile – durante o feriado de fim de ano. A maioria das pessoas havia voltado para casa, mas Malfoy ficara quando seus pais lhe disseram que iriam visitar a sua Tia Lucretia na Romênia e ele decidira que Hogwarts seria muito melhor que a casa de sua tia. Riddle também ficara, ele sempre o fazia, assim como alguns outros estudantes como aquele esquisitão Hagrid, a viciada em Quadribol Minerva McGonagall e a pequena Myrtle Mortmore da Corvinal.

Duas coisas aconteceram naquela noite e que ficariam, para sempre, marcadas em sua memória. A primeira fora quando McGonagall insistira em dançar com Riddle. Ela dissera algo sobre ele ser uma criatura rabugenta que precisava se divertir pelo menos no Natal e praticamente o arrastou para o meio do Grande Salão, fazendo-o dançar. Já era estranho o suficiente ver Riddle se sentindo confortável perto de alguém, então imagine o quão esquisito fora vê-lo se sentindo confortável o suficiente para dançar, mas Minerva e sua vontade de ferro foram suficientes para fazê-lo se divertir. Até o fim da noite, Tom Riddle estava corado e havia dançado não apenas com Minerva, mas com Myrtle – uma dança com uma música de um trouxa, alguma coisa Armstrong – quando McGonagall dissera para ele o fazer.

A segunda coisa aconteceu quando eles voltaram para as masmorras da Sonserina. Os dois eram os únicos lá e o silêncio do lugar combinado com a euforia induzida por hidromel que acometera Riddle foram suficientes para fazer com que o menor se jogasse em um dos sofás escuros de couro e começasse a cantar inúmeras músicas das quais Abraxas não conhecia nenhuma. Ele cantara sobre boulevards de sonhos abandonados, sobre coisas que talvez pudessem estar em algum lugar sobre o arco-íris, sobre memórias pelas quais ele era grato e até sobre coisas as quais ele nem sabia do que se tratava, pois, como o próprio dissera, “Eu não entendo russo, apenas ouço as pessoas cantando nessa língua!”

Abraxas apenas ficara encarando o outro, rindo com cara letra estranha que escapava por entre os lábios deste. Fora o feriado mais interessante que ele tivera em anos.

iv

No sétimo ano, Abraxas não sabia que queria parabenizar Tom pelo seu controle sobre magia ou socá-lo pela sua traição. Ele havia sido o único que descobrira que os pais puro-sangue de Tom Riddle não eram nada a não ser um truque que o mestiço – sim, mestiço, o pai de Riddle era um trouxa, um simples trouxa – pregara em Dorea Black.

“Ela tinha a mente aberta,” ele explicara. “Era fácil de entrar e criar uma memória falsa. Eu precisava fazer isso.”

Malfoy notara que havia algo errado quando encontrara Riddle em Londres durante as férias de verão. O garoto – seu mestre, seu lorde – estava vestindo roupas velhas e andava pela Londres trouxa como se a conhecesse como a palma de sua mão. Assim que chegara em Hogwarts, o loiro perguntara qual a razão para ele estar lá, entre os trouxas, vestindo-se como um deles – pior: vestindo-se como um trouxa pobre – e Tom tinha duas opções: ele podia apagar a memória de Abraxas com um simples Obliviate ou contar-lhe a verdade. Talvez a única coisa que impedira Malfoy de pular no pescoço do outro fora o fato de que este lhe contara a verdade, mas não sem fazê-lo jurar-lhe por meio de um Voto Perpétuo que nunca iria dividir tal informação com mais ninguém. Ninguém mais saberia que Tom Riddle era o filho de um trouxa rico e uma bruxa, abandonado em um pobre orfanato trouxa desde o seu nascimento. Era uma história digna de ser escrita por aquele autor trouxa sobre o qual Riddle normalmente falava, aquele que escrevera sobre os fantasmas do Natal.

Mais uma vez, Abraxas fora surpreendido pelo controle extraordinário que Tom tinha sobre a sua magia. Criar uma memória falsa e implantá-la na mente de alguém era extremamente difícil, ainda mais quando feito por alguém de quatorze anos, a idade que Riddle tinha na época que usara Dorea como hospedeira de sua mentira. Mais uma vez, Abraxas fora lembrado da razão pela qual seguia Tom Riddle.

v

“Apenas cuide disso. Esconda-o e, quando chegar a hora, você saberá o que fazer.”

Essas foram as palavras que deixaram a boca de Riddle durante uma noite na qual ele aparecera em sua casa, suado e mais pálido do que o normal, com seus olhos azuis manchados com uma cor vermelho sangue e as suas mãos elegantes tremendo de tal maneira que ele quase não conseguia segurar o diário preto que entregara à Malfoy.

Abraxas não perguntou o que aquele diário era ou qual era a razão pela qual ele deveria mantê-lo seguro, ele apenas fez como fora mandado. Esse era o seu trabalho: obedecer as ordens de Tom. Ele gostava disso e sabia qual era a recompensa por um trabalho bem feito. Ele sabia que Riddle era grato à quem o servia da maneira certa.

Foram apenas anos depois que Malfoy descobrira o horror que um simples diário escondia, mas, novamente, ele não questionou Riddle. Se o outro bruxo acreditava que aquele tipo de magia lhe seria útil, então a única coisa que ele faria seria confiar no julgamento de Tom Riddle e, mais uma vez, se surpreender com a ousadia do outro de chegar a arriscar-se com aquele tipo de magia.

vi

Tom Riddle não conseguia acreditar que Malfoy estava perecendo por causa de uma doença tão idiota quanto Varíola de Dragão. Graças à Merlin aquilo não era contagioso, caso contrário ele nem estaria tão perto do outro.

“Combina com você, Varíola de Dragão,” ele falou, vendo o homem adoentado deixar uma risada fraca escapar por entre os seus lábios. “Você é o único capaz de ser idiota o suficiente para se meter em um ninho de dragões infectados.”

“Você sabe que dragões são uma fraqueza minha.” A voz de Abraxas era baixa e fraca, sendo, vez por outra, interrompida por uma respiração ruidosa, o que fazia Riddle estremecer. Malfoy normalmente era uma pessoa expansiva cuja voz era quase alta demais. Vê-lo naquela situação apenas o lembrava de o quão fracos todos ficavam quando a Morte decidia agarrar-se às suas almas.

“Todos esses animais idiotas são fraquezas suas. Eu vi os pavões no jardim, eles são ridiculamente extravagantes, até mesmo para você.”

“Você não pode falar nada sobre extravagância, Tom.”

“Esse não é o meu nome,” ele sibilou e Abraxas apenas riu.

“Vamos lá, conceda à este homem quase morto este último desejo. Eu não vou chamá-lo de ‘milorde’ ou ‘Voldemort’ no meu leito de morte... Mas, como eu estava dizendo, extravagância, certo? Você gosta de coisas extravagantes também. Esse nome é a prova disso.”

“É melhor que Tom.”

“É estupidamente longo e complicado de se pronunciar. Aposta quanto que, no futuro, as pessoas irão se recusar a falá-lo por ser muito difícil?”

Riddle encarou o outro bruxo, sentindo o seu estômago embrulhar-se ao ver o quão doente Abraxas estava. A pele suada, os olhos fundos, as pontas dos dedos e os lábios azulados... A Morte realmente estava batendo à sua porta.

“Eu estou um desastre, eu sei,” sussurrou o loiro.

“Pelo menos não há feridas, ouvi dizer que elas são horríveis.”

“Você não é o único bom com ilusões, Riddle.” O homem de cabelos escuros estreitou os olhos, de tal maneira que lembrara Malfoy do menino de onze anos que rasgara a bolsa de Darius Nott com um feitiço, antes de deixar os seus dedos tocarem a mão fria do outro homem. Lentamente, como se retirasse um pedaço de tecido, algumas pústulas arroxeadas foram aparecendo na mão e braço de Abraxas, fazendo Tom contorcer o rosto em uma careta de nojo.

“Certo, você já as viu, agora chega. Meu rosto já não está bonito e você realmente não precisa vê-lo coberto com essas coisas nojentas,” disse Malfoy, seu peito subindo e descendo com dificuldade à cada respiração, enquanto Riddle retirava a sua mão e as feridas desapareciam novamente.

“Um feitiço de glamour? Mesmo? Você está gastando a sua energia com um feitiço de glamour?” Tom revirou os olhos.

“Eu tinha um convidado especial, era um gasto necessário.”

Riddle encarou o outro por alguns longos minutos. Era estranho ver alguém da sua idade em tal condição, ainda mais quando a pessoa era Abraxas. E era ainda mais estranho ver alguém tão perto da morte ser capaz de fazer piadas idiotas, aceitando o seu fim com tanta tranqüilidade.

“Eu acho,” sussurrou Malfoy, cutucando a mão de Tom e atraindo a sua atenção novamente. “Que Lord Voldemort tem negócios mais importantes para cuidar do que ficar tomando conta de um doente.”

“Sim. Lembra-se daquele russo que Avery encontrou há anos atrás, Dolohov? Ele finalmente veio à Inglaterra.”

“E você precisa encontrá-lo.”

“Sim.”

“Bom.” O loiro sorriu. “Lembre-se de cantar para ele aquela música russa que você cantou no nosso quinto ano. Ela era bonita, apesar de eu não entender nada do que ela falava.”

“Nem eu.” Um sorriso minúsculo encontrou o seu caminho até os lábios de Riddle, mas logo desapareceu. “Mas você está certo, eu tenho que ir.”

“Sim, sim, você não pode deixar o russo esperando.” Malfoy respirou fundo, antes de erguer os olhos para encarar o outro.

“Cuide-s, Malfoy,” disse Tom, levantando-se da beirada da cama e se afastando.

“Milorde?” O bruxo parou no meio do caminho, virando-se para encarar o seu antigo colega de casa. “Foi uma honra servi-lo.”

“Pensei que o desejo do homem doente fosse não ter que me chamar de ‘milorde’.”

“Esse foi o Cavaleiro de Walpurgis falando.” Outra risada fraca e Riddle sentiu uma enorme vontade de sair daquele quarto o mais rápido possível. “O homem doente quer dizer que foi uma honra tê-lo conhecido, Tom Riddle.”


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Notas finais do capítulo

- Ele cantara sobre boulevards de sonhos abandonados, (Boulevard of Broken Dreams - Ted Weems)
- sobre coisas que talvez pudessem estar em algum lugar sobre o arco-íris, (Over the Rainbow - Judy Garland)
- sobre memórias pelas quais ele era grato (Thanks for the Memory - Bob Hope and Shirley Ross)
- e até sobre coisas as quais ele nem sabia do que se tratava, pois, como o próprio dissera, Eu não entendo russo, apenas ouço as pessoas cantando nessa língua! (seguindo o meu headcanon de que um dos funcionários do orfanato era russo e que o TOm deveria ouví-lo cantarolara algumas coisas nessa língua. A música que eu imaginei foi Polyushko Polye/Полюшко-поле, de 1933).
O título vem da música "Those were the days" da Mary Hopkins, uma "tradução" (com letra mui diferente) da música russa Dorogoi Dlinnoyu/Дорогой длинною, a qual eu estou acostumada a ouvir.
Espero que tenham gostado, reviews são sempre lindos (;



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