Fantasia escrita por Suzana San


Capítulo 2
Capítulo 2 - Não Me Deixe


Notas iniciais do capítulo

Postando antes do esperado! O capítulo estava pronto, só faltava revisar. Espero que gostem!
Só lembrando que Naruto não me pertence, peguei emprestado de Kishimoto Masashi-sensei. *reverência*



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Keiko estreitou os olhos e examinou o manobrista que lhe pedia as chaves do carro. O rapaz pigarreou, incomodado com a demora da análise que a jovem lhe dedicava.

– Olhe aqui – começou ela – o meu carro...

– Nós teremos o maior cuidado com seu veículo, senhora – cortou o manobrista e em seguida sorriu – Não se preocupe.

– Keiko, desencana – Aki disse puxando a amiga pelo braço.

A fila na entrada da boate dobrava o quarteirão, e Keiko imaginou que passaria a noite inteira em pé, esperando para entrar. Mas Aki seguiu na direção oposta e chegou a um beco lateral onde havia uma pequena porta guardada por dois armários engravatados.

– Ingressos? – pediu um deles com sua voz grave.

Aki entregou dois pequenos pedaços de papel ao homem, e ele os observou atentamente.

– Podem entrar – disse depois de se certificar que não eram falsificações e afastou-se, abrindo a porta para que elas entrassem.

O barulho dentro do lugar era ensurdecedor. Keiko sentiu-se nauseada com as luzes multicoloridas que dançavam em seus olhos. Estava desacostumada com ambientes assim. Quanto tempo já fazia desde a última vez em que estivera em uma festa? Sentiu a mão de Aki fechar-se em seu pulso, e logo depois viu-se puxada para um lugar reservado dentro da boate, onde - com uma sensação desagradável - viu dois homens sentados num imenso sofá.

Compreendeu na mesma hora que a amiga havia planejado um encontro para ela, e debateu-se entre ficar ou sair. Respirou fundo e optou por ficar.

"É hora de curtir os meus 23 anos..."

Logo que atravessaram a cortina semitransparente que separava a saleta do resto do lugar, um dos homens se levantou, beijou Aki, e Keiko compreendeu de onde a amiga havia tirado aquelas duas entradas vips.

– Akira, esta é Keiko, a amiga de quem lhe falei.

O homem cumprimentou a ruiva e fez sinal para que o outro se levantasse. O rapaz aparentava ser pouco mais velho do que ela, e Keiko sentiu um nó no estômago quando ele pegou sua mão e a beijou.

Após as apresentações, todos se acomodaram no enorme estofado - Aki fazendo questão de empurrar a amiga para perto do jovem. Akira fez sinal para um garçom, perguntou às moças o que elas bebiam, e no fim, pediu quatro Martinis.

Keiko estava sentindo-se completamente fora de órbita naquele ambiente. Aquela situação embaraçosa e o modo como Akira olhava para o amigo - tentando fazer sinais discretos para que ele puxasse uma conversa com ela - deixavam-na constrangida e sufocada. Olhou de relance para Aki, com vontade de voar no pescoço dela e fazê-la perceber que não estava nem um pouco contente. Mas ela estava fitando insistentemente o jarro de flores sobre a mesa de centro, provavelmente já prevendo que a amiga estava a ponto de trucidá-la.

Procurou acalmar-se e ponderar a situação. Tudo o que Aki tinha lhe falado a respeito de esquecer aquele amor surreal e viver a realidade, voltou à tona em seus pensamentos. Mas será que estaria mesmo preparada e disposta a esquecer sua fantasia? Será que já era hora de curtir bons momentos ao lado de outra pessoa? Mesmo indecisa e hesitante, chegou à conclusão de que era melhor deixar as coisas acontecerem ao sabor do acaso.

O garçom chegou com as bebidas, e ela se esforçou em manter-se atenta às pessoas ao seu redor, sem se perder novamente em pensamentos. Duas taças de martini mais tarde e ela já sabia que o rapaz ao seu lado se chamava Ryo, trabalhava numa multinacional de carros importados e praticava tênis como hobby.

Ryo mostrou-se bastante desinibido depois de tomar coragem com a bebida, mas Keiko tinha dificuldades em manter a atenção voltada para sua conversa. A toda hora, pegava-se questionando a si mesma por que havia aceitado o convite de Aki para sair aquela noite. Também pensava na sua cama quentinha e no episódio novo de Naruto que estava passando na TV.

"Eu faço download na net depois..." – devaneou, e quase demonstrou sua surpresa ao notar que Ryo não estava mais falando de carros e já estava dissertando sobre suas conquistas como tenista amador. Quanto tempo estivera perdida em pensamentos? Ele passou a listar os torneios que havia participado e, mais uma vez, ela não conseguiu se manter atenta ao que ele dizia.

O efeito das doses de Martini estava tornando ainda mais difícil se manter focada ao seu redor. Minutos depois de comer a última azeitona da taça, ela se viu embebida numa visão de um rapaz de cabelos rebeldes, prateados, sentado ao seu lado, falando sobre sua vida de jounin. Ela sorriu encantada e perguntou se ele gostava de todas aquelas aventuras. Mas para sua surpresa – e desapontamento - não foi a voz do jovem mascarado que respondeu:

– Gosto sim... E fico ansioso para que os dias de treino cheguem logo.

Olhou assustada para o lado e viu que Ryo sorria, demonstrando-se contente por ela ter-lhe feito uma pergunta. Keiko desviou rapidamente os olhos dos dele e encarou o chão.

"Eu estava sonhando acordada? Por deus, será que estou bêbada?"

– E você? – começou ele – Não tem nenhum esporte que gosta de praticar?

Ela estava prestes a responder um não quando notou que Aki e seu companheiro não estavam mais na saleta.

– Onde está Aki? – questionou, desviando-se completamente da pergunta.

Ryo mostrou-se meio confuso, meio desapontado, mas respondeu que ela e Akira haviam saído para a pista de dança. Quando Keiko fez menção de se levantar, ele segurou seu pulso e pediu que ficasse.

– Keiko... porque a gente não pede outra bebida?

A ruiva sentou-se novamente e olhou para ele.

– Olha, Ryo, eu ainda vou dirigir de volta pra casa, sabe?

– Eu posso te levar pra casa – ofereceu ele, tentando - sem sucesso - soar inocente.

– Eu acho melhor não, porque... – ela ia falar algo sobre não querer deixar o seu carro num lugar como esse a noite toda, mas desistiu, notando que estava superestimando seu automóvel – É melhor não. – Resumiu. Percebeu uma feição entristecida no rosto dele e completou incerta – Não hoje... – Ryo sorriu, e ela sentiu-se uma completa idiota por dar esperanças a alguém que nem mesmo tinha certeza se queria ver de novo algum dia.

Os dois ficaram em silêncio e Keiko prendeu a atenção no pequeno jarro de flores à sua frente. Conhecia aquelas flores muito bem. Eram flores de lavanda, de um tom lilás e uma beleza delicada que só as flores podiam ter. Não demorou muito para que ela notasse o braço de Ryo deslizando pelo encosto do sofá, e trazendo-a mais para perto de si.

Olhou atônita para o rapaz e, num primeiro impulso, pensou em se afastar e gritar com ele para que não fizesse mais aquilo. Mas novamente a voz de Aki voltou à sua mente, persuadindo-a a ficar e tentar algo novo, a esquecer a figura mascarada que ela tanto estimava, e que, entretanto, não podia lhe trazer felicidade alguma.

"Keiko-chan, ele não passa de uma fantasia..." – dizia ela.

Seu coração palpitava num conflito doloroso, dividido entre as duas facetas de sua atual situação. Sua razão lhe dizia para seguir os conselhos de sua amiga e aproveitar este encontro que ela havia planejado com tanto esmero - às escondidas - para lhe trazer de volta ao mundo real; mas alguma coisa lá no fundo de seus sentimentos lhe dizia para sair dali o mais rápido possível e retornar à sua vida normal, fazendo tudo o que sempre fez e continuando a amar aquele homem que amava, mesmo sabendo que ele não passava de uma ilusão.

"Eu vou ficar" – pensou resoluta – "Eu preciso ser forte ou nunca vou me livrar desta fantasia."

Virou-se para o homem ao seu lado e ele lhe sorriu. Forçou um sorriso em resposta e sentiu a mão dele percorrer o seu pescoço, por debaixo de seus cabelos, diminuindo a distância entre seus rostos. Resistiu por um breve momento, quase fazendo-o desistir - a figura do jovem de cabelos cor de névoa povoando seus pensamentos - mas fez um esforço e conseguiu a tempo, se convencer de que era hora de alimentar seus sentimentos com uma nova paixão.

Sentiu os lábios de Ryo roçarem os seus e notou que estavam frios, talvez por causa da bebida gelada que ele tomava. Fechou os olhos, tentando relaxar e deixar o beijo acontecer. A boca dele era macia, e de repente ela pensou naqueles lábios ocultos por sob a máscara, lábios que ela nunca veria. Seriam eles tão macios quanto?

Ryo acariciou seu pescoço, enquanto ela tentava tirar as imagens do jovem shinobi de sua cabeça. Era difícil não pensar nele quando, inocentemente, havia guardado aquele beijo para o dia em que - mesmo sabendo ser impossível - esperava encontrá-lo e atirar-se em seus fortes braços de ninja.

"Keiko..." – ela ouviu uma voz chamando em sua mente, uma voz conhecida, a voz que ela sabia ser dele.

"Não... agora não. Não me chame assim..." – respondeu inconscientemente, chocada com o fato de estar beijando um homem, enquanto pensava em sua paixão por uma personagem de mangá.

"Keiko..." – a voz dele chamou novamente e, desta vez, trazia toda a melancolia de um fim de relacionamento – "Não me deixe..."

Aquele pedido a fez arrepiar-se, mesmo sabendo ser apenas fruto de sua imaginação. Seus lábios travaram sob os de Ryo e ele pareceu notar, porque interrompeu o beijo e perguntou:

– O que houve? – sua voz era pouco mais alta que um sussurro e soava preocupada.

– Ryo, eu... – ela tentou encontrar palavras para se explicar, mas não conseguiu. Ele acharia que era uma idiota por estar inebriada de tal forma, por um homem que nem sequer existia. Agarrou a alça de sua bolsa e levantou-se – Eu sinto muito, Ryo. Mas... eu não posso – encontrou-se com as mãos trêmulas, insegura e envergonhada.

– Por que? – questionou ele, levantando-se também.

– Eu não posso te dizer... Perdoe-me, por favor – o sentimento de culpa piorava tudo o que estava sentindo – Eu simplesmente não posso... – disse a última frase mais para si mesma do que para qualquer outra pessoa, e em dois tempos ela estava na pista de dança, procurando desesperadamente pela figura de Aki.

–x-x-x-x-

Caminhou com dificuldade por entre a multidão que dançava freneticamente ao som da batida dance. Seus olhos percorreram a massa de rostos à sua frente, tentando divisar as feições de sua amiga, mas algum tempo depois, passou a cogitar - tornando seu pânico ainda maior - que ela talvez tivesse ido embora.

"Não. Ela não faria isso comigo" – pensou, procurando se acalmar, e sentiu uma mão firme apertar levemente o seu ombro. Virou-se e deu de cara com Akira, que segurava uma caneca de cerveja.

– OI! – berrou ele, tentando se fazer ouvir em meio à balbúrdia.

Keiko sorriu, sentindo-se extremamente aliviada, e perguntou por Aki. O homem apontou para algum lugar próximo ao bar, e fez sinal para que ela o seguisse. Ao ver a pessoa que acompanhava Akira, Aki engasgou com o drink, abandonou o banco alto em que estava sentada e encarou Keiko, atônita.

– Kei-chan? Mas... – ela olhou por cima dos ombros da amiga, como que procurando por alguém – Cadê o Ryo?

– Ele ficou lá na saleta...

A outra abriu a boca tentando falar alguma coisa, mas fechou-a logo, sem palavras. Finalmente, depois de alguns minutos de reflexão encarando a jovem ruiva, ela disse:

– Por que, Keiko?

Ela sentiu mais uma vez a estranha sensação de culpa por ter arruinado os planos de sua amiga e por ter deixado Ryo plantado, sozinho na saleta, sem nenhuma explicação.

Sabia que as intenções de Aki eram as melhores e que Ryo provavelmente era um rapaz formidável para que ela tivesse concordado em apresentá-lo como um pretendente. A culpa era dela, e somente dela, se a noite não havia saído como o planejado.

– Eu não consigo, Aki – disse, sentindo-se péssima por soar tão infantil – A lembrança dele ainda é muito forte. Me desculpe por ter estragado tudo...

Keiko não precisou explicar muito. Aki sabia do que e de quem ela estava falando. A morena sorriu carinhosamente e abraçou a amiga ruiva. – Eu nunca vou conseguir ficar brava com você me olhando assim, sua bobinha... – Disse em tom maternal. - Ok, detesto admitir e, de certo modo, concordar com essa sua paixão louca; mas eu te entendo.

Keiko sorriu de volta e falou:

– Eu agradeço todos os seus esforços...

– Nah, deixa isso pra lá, vai. Você sabe que eu só vou sossegar quando você estiver com um gato do seu lado... E nem vem me dizer que tem o Shippo, porque você sabe de qual tipo de gato eu estou falando!

Elas sorriram. Aki nunca iria mudar e Keiko sentia-se grata por ter uma amiga como ela.

– Acho que vou pra casa agora... Você vai ficar bem?

– Não se preocupe comigo, – Aki disse, olhou de esguelha para Akira e piscou para a amiga – Akira disse que me leva pra casa...

– Hmm... ok. – Keiko olhou para o rapaz que bebericava sua cerveja, e a compreensão aflorou em sua mente – Você vai para o IPF amanhã?

– Não. Vou tirar o sábado de folga, e você?

Keiko olhou as horas no relógio. – Eu tenho um relatório pra terminar, mas acho que posso fazer isso em casa. Já está tarde e seria péssimo acordar cedo amanhã... – uma pontada de preocupação se apoderou de seu rosto. – Aki... e o Ryo?

– Deixe o Ryo comigo, – respondeu ela com ar juvenil – ele vai compreender.

– Bem, posso te ver amanhã de tarde?

– Claro! Eu passo no seu apartamento.

Keiko se despediu do casal e seguiu para a saída da boate. Vislumbrou a imensa fila que ainda aguardava do lado de fora e sorriu com ironia. Tantos querendo entrar, enquanto que o que ela mais desejava era sair dali.

Aguardou o manobrista trazer o seu carro e pronunciou umobrigada” ao pegar as chaves da mão do rapaz. Do lado de fora, a noite estava fresca e o céu limpo encontrava-se pontilhado por milhares de estrelas. Colocou a bolsa sobre o banco do passageiro e dirigiu, sem pressa, pelas ruas que a levavam de volta ao seu apartamento.

Sua mente estava mais clara e ela estava menos bêbada. Torceu para não encontrar nenhuma viatura no caminho. Sabia que estava cometendo um crime e que muito provavelmente estava arriscando a sua vida – e de outros – dirigindo depois de uma dose. Mas as ruas estavam desertas naquela parte da cidade e o velocímetro não ultrapassava os 40km/h.

Quando chegou em casa, encontrou Shippo largado no sofá, esticado feito um tapete sobre as almofadas. O apartamento silencioso cheirava a saudade, arrependimento e culpa. Entrou no quarto, descalçou as sandálias de salto agulha, tirou a roupa e atirou-se no colchão, exausta. Até cogitou tomar um banho, mas o sono a dominou antes que ela pudesse perceber.

–x-x-x-x-

O campo parecia um imenso tapete de minúsculas flores azuis. A grama fresca sob seus pés convidava-a a deitar-se, mas manteve-se de pé ao divisar ao longe uma figura esbelta que se aproximava. O jovem estava cada vez mais próximo. Os fios de seus cabelos dançavam suavemente com a brisa.

Ele lhe sorriu por debaixo do tecido que escondia o seu rosto, escondendo algo atrás das costas. Sem desviar os olhos dos dela um segundo sequer, ele revelou o pequeno presente que havia lhe trazido. Ela olhou para baixo, contente, e seu sorriso desapareceu quando viu que ele lhe ofertava um telefone. Para sua exasperação - não bastasse a estranheza do presente - o aparelho parecia estar tocando.

"Um telefone tocando?! Um tele..." – a realidade lhe atingiu como um balde de água fria. Levantou-se atrapalhadamente e correu desabalada para a sala. Agarrou o fone e tirou-o do gancho, dizendo quase sem fôlego:

– Alô.

– Keiko sempai? Aki é Tsuki... – a voz do outro lado da linha pareceu hesitar por um momento e quando voltou a falar, soava preocupada – A senhora está bem?

– Ah... Tsuki... – Ela reprimiu um bocejo. - Sim, estou. Algum problema por aí? – Entortou o pescoço para olhar as horas no aparelho de DVD e constatou que havia dormido demais. Bateu com a palma da mão na testa, murmurando ummerda”. Havia esquecido completamente de avisar à secretária que não trabalharia hoje. Sua presença no IPF aos sábados era facultativa, mas ela sempre avisava se não fosse aparecer por lá.

– Oh, não, nenhum problema. – Disse a secretária. - É só que a senhora não comunicou nada e aquela moça, a Natsume, esteve aqui e disse que ia reportar sua ausência para o Setor Pessoal.

"Natsume..." – Keiko pensou, impelida a ir ao IPF só para arrancar os cabelos daquela víbora.

– Deixe aquela serpente sibilar à vontade, Tsuki. Acho que ela não está ciente de que eu posso folgar aos sábados. É isso que dá ficar se metendo onde não é chamada. O que alguém da contabilidade quer fuçando nos negócios do R.H.?

– É... – respondeu a moça um pouco distante – é bem incomum mas eu sei que ela não vai muito com a sua cara, não é? – Ela fez uma pausa e logo disse: – Sempai?

– Sim? – respondeu, reprimindo outro um bocejo.

– A senhora já soube que a Natsume foi promovida?

A notícia lhe atingiu como uma bofetada na cara.

– O quê?! Como assim, promovida?

– É... – Tsuki parecia estar escolhendo as palavras para dar a notícia. - Me parece que agora ela é uma das chefes do setor financeiro e vai fazer a análise de liberação de verbas junto com mais 4 executivos.

Keiko tentou digerir aquelas palavras. A víbora sanguinolenta agora tinha suas as pesquisas nas mãos. Se cometesse qualquer deslize, por menor que fosse, Natsume certamente daria um jeito de cortar as verbas que financiavam seus experimentos. Ela sequer pensaria nos prejuízos que a empresa teria sem os produtos que Keiko ajudava a desenvolver, estaria cega pelo desejo de se vingar do que Keiko havia feito a ela alguns anos antes...

Já podia imaginar o inferno que isso lhe causaria.

– Muito bem... sorte para ela. – Disse, soando mais seca, fria e falsa do que o desejado. Alisou as têmporas com a ponta dos dedos, sentindo uma pontada de enxaqueca. – Obrigada por me avisar, Tsuki. – Falou, encerrando a conversa. - Nos vemos na segunda.

– Não há de quê, sempai. Até segunda, então.

Desligou o telefone e arrastou-se de volta para o seu quarto, batendo a porta com estrondo ao passar. Shippo, que se aninhava nos lençóis, assustou-se e miou baixinho.

"Aquela serpente do mal, aquela cobra venenosa... Como ela conseguiu?" – perguntou-se, esfregando os olhos. Com um estalo, a lembrança do chefe do Departamento de Relações Exteriores - com quem Natsume esteve conversando no dia anterior - lhe veio à mente. Ele tinha influências, não tinha? Claro que sim, afinal ele ocupava um cargo de alto escalão. Esmurrou a parede – se arrependendo na mesma hora em que sentiu a dor em sua mão - quando chegou a uma conclusão: "Aquela piranha dormiu com ele! Tenho certeza! Deus, como ela é baixa..."

Parou diante do seu mural de fotos mirando-o atentamente. Dentre os muitos rostos de personagens existentes apenas num mundo imaginário, representados em todas aquelas figuras, era o dele que ela contemplava. Voltou-se para a porta do quarto e ficou de frente para o pôster gigante. Tocou a ponta dos dedos na superfície do papel, contornando os traços que desenhavam as feições do jovem mascarado.

"Não me deixe..." – a voz dele ecoou em sua memória.

Ela sabia que a frase ouvida na noite anterior, enquanto Ryo a beijava, não passava de um devaneio, mas tinha parecido ser tão real, que não conseguiu resistir àquele apelo.

– Estou de volta, meu amor... E não vou te deixar.



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Notas finais do capítulo

Histórias da Tia Su Parte 1: "O nome Shippo tem tudo a ver com o mangá Inuyasha. Quando o Shippo apareceu lá em casa, eu estava apaixonada pela saga do hanyou de cabelos prateados, e coloquei o nome daquela raposinha que o acompanhava no meu mais novo bichano. No final, ele se mostrou um gato preguiçoso, manhoso e que não engordava de jeito nenhum, muito diferente do esperto Shippo de Inuyasha. Sinto saudades dele. Mas sei que hoje ele deve estar aprontando muito lá no céu dos gatinhos..."
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Gostaria de reforçar o slogan: "Se beber, não dirija!" A Keiko foi irresponsável de voltar pra casa depois de uma dose de martini. Não sigam seu exemplo!
E adivinhem quem está chegando no próximo capítulo? :P



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