O Caso De Dor E Sofrimento escrita por TaediBear


Capítulo 1
O Caso de Dor e Sofrimento


Notas iniciais do capítulo

Olááá! Eu tinha postado essa história em outra conta. Mas resolvi deletá-la e postá-la na minha conta mesmo.
Então, mais uma deathfic da Takoyaki, espero que gostem.
Boa leitura!



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Anne Marie Leroy de Gaulle era uma garota comum para a época em que vivia. Completara nove anos havia poucos dias quando tudo aconteceu. Ela tinha belíssimos cabelos alourados e olhos azuis invejáveis. Os fios curtos batiam na altura de seus ombros e uma franja caía sobre sua testa, deixando-a com um rosto infantil. Usava sempre seus vestidos favoritos enquanto brincava no jardim da mansão com seu irmão gêmeo. Os tecidos eram sempre cor-de-rosa.

Edmund Leroy de Gaulle era o irmão gêmeo de Anne Marie. Diferentemente de sua querida irmã, ele tinha cabelos compridos, apesar de também seres loiros e belíssimos. Seus olhos eram grandes, redondos e de um azul que se assemelhava ao céu límpido. Esbanjava um sorriso cativante.

No entanto, aqueles dois irmãos tinham um destino bastante cruel. Não adiantava o quanto eles fossem felizes, o quanto eles fossem bonitos, o quanto eles fossem amados. Aquele destino não mudaria assim tão facilmente.

Anne Marie corria pelos corredores intermináveis da enorme mansão De Gaulle. Um sorriso enorme estava estampado em seus lábios finos. Ela fugia de uma das criadas responsáveis por cuidar das crianças. A mulher pedia-lhe para parar a todo instante. Anne Marie queria brincar com seu irmão no jardim.

Agilmente, a menina escapou dos braços estendidos da mulher e desceu as escadas em direção ao gramado verde, repleto de arbustos de todas as formas possíveis. Anne Marie gostava de admirá-los enquanto brincava com Edmund.

Seus pés travessos desceram as escadas rápido. Ela queria chegar o quanto antes à árvore onde estava o garoto. As sapatilhas negras que carregava em seus pés pisaram a grama cortada e sujaram-se da terra abaixo. Os passos apressados de Anne Marie logo a levaram até seu querido gêmeo.

Edmund sorriu ao ver a menina ali. Ele gostava da companhia da irmã. O menino estava brincando com uma pequena bolinha dourada. Ele jogava-a para cima, batia palmas e, então, pegava-a de volta. Queria saber quantas palmas conseguia bater antes de a bola cair em suas pequenas mãos.

Anne Marie riu e disse que conseguia bater mais palmas que seu irmão na primeira tentativa. Edmund irritou-se logo.

“Você não consegue!” ele disse. “Eu sou melhor nisso que você”.

Então, sussurrou ao ouvido da garota quantas palmas havia batido. Ela sorriu.

“Muito simples” falou com um ar superior.

Então, jogou a bolinha dourada para cima rapidamente. Bateu várias e várias palmas até pegá-la de volta. O número era igual ao de Edmund. Eles sorriram. Eram gêmeos até nas palmas.

Quando a garota ia novamente jogar a bola, ouviu o som do trotar de cavalos. Os gêmeos olharam para os portões longínquos da mansão. Havia muitos cavalos vindo na direção de sua casa. Os homens montados neles carregavam armas e bandeiras vermelhas.

E eles não eram os cavalos do rei ou de seu pai.

Duas criadas apareceram rapidamente e pegaram Anne Marie e Edmund em seus braços. Elas corriam com todas as suas forças para a mansão. O vestido atrapalhava bastante o movimento das pernas.

O reino estava em guerra. As tropas inimigas já haviam avançado bastante em direção ao castelo do rei. A mansão De Gaulle era bastante próxima. Além disso, o conde De Gaulle era bastante influente na época.

Então, as tropas decidiram atacar a mansão onde vivia a família do conde.

As criadas avançaram para o interior da casa, trancando-se no quarto dos gêmeos. Colocaram alguns móveis em frente à superfície de madeira e puseram os gêmeos dentro do armário.

“Não saiam daí e façam silêncio até que esteja tudo calmo, entenderam?” uma delas sussurrou para eles.

Os dois balançaram a cabeça e, então, ela fechou as portas.

Havia muitas roupas naquele armário, o que fazia com que o espaço em que Anne Marie e Edmund estavam fosse muito pequeno. Os vestidos preferidos de Anne Marie estavam ali, pendurados em seus devidos lugares, com os babados fazendo cócegas na garota. As bermudas mais confortáveis de Edmund também se encontravam ali, sobre a cabeça do garoto. Um cesto de roupas sujas fora colocado havia muito tempo ali. Edmund estava ao lado dele e lembrava-se perfeitamente de quando se escondera ali dentro a fim de que a criada não o achasse. Edmund não gostava de tomar banho.

Ao longe, Anne Marie começou a escutar gritos e pedidos de socorro. No mesmo instante, lágrimas grandes formaram-se em seus olhos azuis. Edmund pôs sua mão pequena sobre a boca de sua irmã. Ele a impedia de soluçar alto e chamar a atenção das pessoas que se aproximavam cada vez mais do quarto.

Houve batidas na porta do cômodo, gritos, sons de luta, de coisas quebrando e de pessoas caindo sobre o chão de madeira. Então, ouviram passos satisfeitos arrastarem-se rapidamente para o lado de fora do quarto.

Nesse momento, até mesmo Edmund derramava lágrimas. Ele que havia jurado à irmã que nunca deixaria uma lágrima correr por seu rosto em sua presença.

No entanto, mesmo querendo ser forte, era impossível segurá-las.

Um líquido vermelho adentrou o armário pela pequena fresta entre o chão e a porta. Ele arrastava-se lentamente pelo piso de madeira, aproximando-se dos gêmeos.

Então, tocou-os. Ainda estava quente.

Edmund levou seus dedos até o líquido e o sentiu. Tinha certeza. Era sangue. O sangue das criadas. Elas estavam mortas – ou, então, sangrando até a morte. Não tinha mais volta.

Os lábios trêmulos do garoto abriram-se para deixar um pouco de ar escapar. Mais lágrimas caíram de seus olhos. Edmund não conseguia respirar direito. Queria gritar, porém aqueles homens ainda estavam na casa.

Ele ainda ouvia os gritos.

Anne Marie estava paralisada de medo, horror. Aquele sangue era daquelas duas mulheres que lhe salvaram. Elas eram sempre boas com a pequena garota. E, de uma hora para outra, estavam mortas.

Mais gritos. Muitas pessoas viviam naquela casa. Muitas pessoas estavam morrendo naquela casa. Enquanto, Anne Marie e Edmund, egoisticamente, escondiam-se e choravam.

Então, repentinamente, os gritos pararam de ecoar. Os gêmeos ouviram passos afastarem-se. Homens riam felizes e comentavam entre si:

“Matamos o conde De Gaulle e sua família. Cumprimos nossa missão, e, agora, só falta a invasão do castelo. Não achei que fosse tão fácil invadir esse lugar”.

Eles riam. Eles estavam felizes. Enquanto Anne Marie e Edmund estavam em pânico.

A partir desse momento, os gêmeos passaram a julgar o mundo e as pessoas que o habitam hediondos, nojentos, horríveis, injustos. E todas aquelas pessoas mereciam estar mortas.

Logo, o silêncio pôs-se sobre o lugar. Um silêncio mortal. As crianças nunca haviam presenciado tal silêncio. Doía em seus ouvidos.

Lentamente, Edmund empurrou as portas com as mãos sujas de sangue. Os corpos ainda estavam lá, caídos, machucados, cortados. Anne Marie engoliu em seco. Edmund segurou a mão de sua irmã com força.

Eles forçaram-se a caminhar pelo resto da mansão, precisavam ver o que havia acontecido.

Devagar, eles se afastaram dos dois corpos das criadas.

Chegaram ao corredor com dificuldade, suas pernas pesavam e seus corações batiam lentamente. Eles tentavam respirar, mas era difícil. Tinham medo de encontrar algo pior naquele cômodo; e foi exatamente o que aconteceu.

Caídos sobre o piso de madeira, estavam todos os outros empregados da casa. Os cozinheiros, os mordomos, as criadas, todos estavam ali jogados, imóveis, mortos. Anne Marie não aguentou e deixou que todas aquelas lágrimas contidas pela paralisia causada pelo medo rastejassem pelas suas bochechas e caíssem pelo seu queixo até o chão; o mesmo acontecia com Edmund.

Os gêmeos caminharam pelo resto do corredor que parecia realmente não ter fim.

Então, eles encontraram a porta que mais queriam ver naquela hora: a porta onde o brasão da família se encontrava. Aqueles dragões tinham suas caudas entrelaçadas e as bocas abertas; eles assustavam Anne Marie.

Bateram na porta.

Nada. Nenhuma resposta.

Era daquilo que eles tinham mais medo.

Lentamente, eles a abriram.

Então, eles os viram.

Atrás daquela porta estavam o conde De Gaulle e sua amada esposa. No entanto, não do jeito que os gêmeos desejavam encontrá-los.

O homem estava caído no chão. Havia uma espada perto de sua mão. Ele devia ter tentando reagir àquele ataque surpresa. Seus olhos ainda estavam abertos, apesar de seu coração não bater. Ainda se podia ver suas íris azuis, mesmo que não brilhassem como antes. O sangue que pertencia ao seu corpo estava derramado sobre o tapete luxuoso que revestia o piso do cômodo.

Bem ao lado dele, estava sua esposa. Victoria Leroy de Gaulle era simplesmente a mulher mais bonita daquele lugar. Seus longos e cacheados cabelos loiros emolduravam seu rosto gracioso e decoravam seus ombros. Seus grandes olhos verdes eram sempre tão gentis, assim como seu sorriso doce. No entanto, tudo aquilo se fora. A vida deixou aquele corpo perfeito e o tornou inútil. Nada poderia mudar aquilo.

Edmund caiu de joelhos no chão sujo de sangue e gritou o mais alto que pôde. Aquilo representava a dor, a agonia, a perda, o vazio que sentia. Anne Marie chorou fortemente, deixando que seus fortes soluços ecoassem pelos corredores e pelos quartos da mansão.

E foi nesse momento daquele dia que eles viram aquele ser macabro.

A luz do Sol não conseguia mais atravessar a janela. De repente, a escuridão venceu uma batalha travada entre ela e a luz, em menos de segundos. Anne Marie segurou a mão de seu gêmeo. Juntos, observaram uma capa preta flutuar em meio ao quarto.

“Meus queridos, vocês estão bem?” Aquela voz ecoou pelo quarto. Calma, mas ao mesmo tempo inquietante. Quem poderia ter uma voz daquele tom? “Não se assustem, meus amores. Não hei de machucá-los. Sou a simples Senhora da Noite, Dama de Cinza, a Indesejável, não importa. Muitos são aqueles que se referem à minha pessoa. Chamem-me do que quiserem”.

“E Morte?” perguntou Anne Marie. “Esse também não é teu nome, senhora?”

“De fato, minha queria Anne Marie. Chamo-me Morte também. Acaso achas que deves chamar-me por esse nome?”

“Sim, afinal é aquele que realmente revela quem és” respondeu.

“Realmente. Não tens medo? Por que não te assustas com minha presença?”

“Por que devo me assustar? Vi coisas piores acontecendo em meu próprio lar. Vi meus pais mortos, meus amigos, os criados, vi todos mortos. O que mais devo temer? A Morte, a senhora? Se me levasse, estaria tudo bem. Afinal estaria novamente com as pessoas que amo. Não achas?”

“Falas como um adulto, criança” a senhora disse. Por baixo do capuz, ela sorria. Rapidamente, virou-se para Edmund, que ainda estava em silêncio, apenas observando-a. “Edmund, por que não falas? Por que ficaste calado todo esse tempo?”

Porém Edmund não respondeu. Apenas observou-a. Sem brilho nos olhos, ele parecia estar morto.

“Meu irmão está em choque, senhora. Deixa-o recuperar-se” pediu Anne Marie.

“Não te preocupes, eu apenas quero propor um contrato a vós. Anne Marie, Edmund – se fores capaz de me responder -, aceitais o que eu proponho-vos? Aceitais um contrato com a Morte?”

“O que havemos de ganhar com isso?” indagou Anne Marie, seriamente.

“Ora, hão de ganhar uma vingança doce e deliciosa. Matarei todos aqueles que aqui estiveram, que aqui mataram, que aqui destruíram uma família e corromperam duas belas crianças”.

“Matá-los?” Anne Marie sorriu e sussurrou algo ao ouvido do irmão. Ele apenas balançou a cabeça. “Morte, o que teremos que fazer para ti ao aceitarmos esse contrato?”

“Trabalharão para mim até o fim dos tempos. Roubarão almas quando forem requisitados, matarão pessoa e as torturarão quando for pedido. Hão de dar-me vidas”.

Anne Marie ajeitou os cabelos e sorriu vitoriosa.

“Aceitamos. Mata-os, e então trabalharemos para a senhora, Morte”.

Então, a Senhora da Noite pegou sua foiça e girou-a. A lâmina atravessou os corpos dos gêmeos, fazendo-os gritar de dor. Os cabelos loiros tornaram-se brancos como a face pálida da lua, a pele clareou e os olhos encheram-se de um tom avermelhado típico do sangue humano.

Foram criados, nesse momento, os chamados gêmeos infernais; a jovem Anne Marie passou a chamar-se Dor, e Edmund, Sofrimento. Os dois sentiram-se poderosos com suas novas “vidas” – se é que se pode chamar assim. Estavam mortos e vivos ao mesmo tempo, sentiam um coração bater no peito, mas não podiam morrer. Eram demônios, ajudantes da Dama de Cinza.

Poucos dias depois, os soldados do reino vizinho foram encontrados mortos, e os gêmeos sentiram-se satisfeitos.

Naquela época, ninguém conhecia a lenda dos irmãos. Sabiam que a mansão De Gaulle havia sido destruída e que todos haviam sido mortos pelos soldados. No entanto, a Morte não deixaria que ficasse assim.

Ela mesma disfarçou-se de humana e relatou a todas as pessoas de vários reinos a história e o modo de chamar aqueles gêmeos. Ela revelou o que eles poderiam fazer a qualquer momento e em qualquer lugar.

Poucas pessoas chamavam os gêmeos naquela época, afinal, com poucas leis, matar era fácil e simples. Sem muita burocracia, não eram necessários demônios para tal ação. Mas agora, no mundo atual? Matar não é simples. As leis impedem. E a ajuda de demônios é solicitada.

Afinal, a lei não abrange os seres das trevas.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Comentários com as opiniões dos leitores são muito bem vindos! (:
Takoyaki ~ Bolinho de Polvo.



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