Grand Chase e a Chave do Tempo escrita por Italo Rodrigues, Teud


Capítulo 4
Fria Vingança ou Calorosa Família?


Notas iniciais do capítulo

Tebaldi: Para inaugurar a nova aliança, este capítulo foi feito por nós dois! Aproveite!



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Lass.

Um rapaz focado em sua vingança vagava pela penumbra. Ele não tinha nada em mente, se não matar um certo homem chamado Zidler. Pouco se lembrava de seu passado, mas sabia que precisava se vingar.

Oras, mas quanto ódio. Deixe-me ajudá-lo, Lass, disse uma voz.

— Quem é você!? Já faz dias que você não me deixa em paz! – ele agora se recordara de mais um fato: estava procurando a sua cidade-natal. Não se lembrava onde era nem porquê, mas sabia que por todo o longo caminho aquela voz o perturbara.

O garoto corria por algum tipo de castelo de obsídia. Não dava para ver nada naquele escuro, apenas seus cabelos alvos e os brilhantes olhos azuis.

Já disse-lhe antes, garoto. Sou a escuridão dentro de você. Você deseja vingança, eu posso dar-lhe poder, disse a voz.

— Poder? Não preciso disso, farei minha vingança com minhas próprias mãos! Saia da minha cabeça! – Lass deu um leve tapa na própria testa, uma tentativa falha de se livrar da voz.

Você não pode fugir de mim. Logo dominarei sua mente e seu corpo, fazendo de você meu escravo pessoal. Kukukuku.

Lass correu até o local mais claro do castelo e encontrou uma brecha de luz. Escalou a obsídia até lá e pulou para fora. O vento quase o jogou na praia sul do continente, mas o garoto fincou uma de suas adagas na pedra e conseguiu ficar um tempo imóvel. Uma terrível tempestade dominara o continente, Lass talvez fosse o único sobrevivente... mas não era hora para pensar nisso.

O garoto puxou de suas vestimentas azuis outra adaga para se prender ao castelo. O vento frio e a chuva pesada dificultava Lass a se mover, mas ele parecia não ter intenções de desistir tão facilmente.

Desista Lass, você não pode resistir à escuridão dentro de você mesmo. Lass disse algo, mas o vento levou sua voz embora.

Ele tentava descer o castelo usando suas adagas, mas a tempestade era insistente. Era apenas questão de tempo para que a chuva o derrubasse. Foi apenas um deslize, mas Lass não conseguiu prender na obsídia uma das adagas. O vento acertou-lhe o peito como se fosse o soco de um titã. Lass perdeu suas forças, sentiu seu corpo mole e o frio lhe deu uma sensação terrível de sono... assim desmaiou.

— Ei! Garoto! – gritava uma voz ao seu ouvido.

— Ah... – Lass abriu os olhos, tomando ar e focando a visão no dono da voz.

Era um pescador. Parecia ter cinquenta anos, trabalhador.

— Ah, você está vivo! Graças aos deuses! Desculpa não ter te ajudado ontem, você veio voando do norte... pensei inicialmente que era um monstro, até que percebi que a tempestade que o arrastava... não pude vir te ajudar enquanto a chuva e a ventania não parassem, então pensei que você estaria morto. Estou aliviado.

— Estou morto há muito tempo... vivendo nas sombras, perdido, com medo e ódio. Mas não vou te envolver nisso, então partirei imediatamente. – Lass tentou se levantar, mas não conseguia.

— Não se esforce muito, venha. Vou te levar para dentro.

Lass protestou, mas não tinha forças para discutir nem para se mexer. A tempestade o arrastou do Castelo Sombrio até ali onde estava... aliás, onde ele estava? Lass fez desse pensamento uma pergunta.

— Ainda estamos em Ellia se é isso que você quer saber – respondeu o velho pescador. – Você veio do norte de Ellia até aqui? Estamos no Oeste, em Kastulle.

— Kastulle!? – Lass se surpreendeu. E muito. Uma breve memória lhe retornou: agora Kastulle se resumia a suas ruínas e a uma pequena vila. – Eu vim do norte do continente de Ellia. Não acredito que eu fui arrastado até aqui pela tempestade...

— Eu também não acredito, garoto. Não tem como alguém sobreviver a isso... não uma pessoa comum – o pescador o levava para dentro do casebre de madeira. O local estava praticamente em ruínas, sem comida, sem vida.

— Não sou uma pessoa comum. Sou um mercenário – Lass estava focado em sua vingança, não queria enrolar ali. Mesmo que não se lembrasse muito bem. – Melhor não entrar no meu caminho.

O homem o levou até um quarto. Deixou-o com cuidado na cama e serviu um caloroso chá que estava pronto com antecedência.

— Um mercenário, hã? Você me parece muito velho para estar brincando – a expressão do velho pescador se tornou rígida, dura.

— Não estou. Vivo por minha vingança... – Lass foi interrompido.

— Vingança não é uma coisa boa, garoto. Desista disso. Asseguro por minhas próprias experiências.

— O que você entende? Por acaso já foi um Vingador?

— Não. Mas perdi meu único filho com essa palavra... você me lembra tanto ele. Os mesmo cabelos alvos, os mesmos olhos azuis... qual o seu nome, garoto?

— Chamo-me Lass Isolet. – o garoto pareceu tocado pelo velho. – seu filho... como ele se chamava?

— Ciel Helmont. Carrega meu nome com nenhum poder, um plebeu. Um cavaleiro livre matou sua mãe para roubar o dinheiro dela... a senhora minha esposa tentou revidar, e assim morreu. Ele tomou pela vingança matar esse cavaleiro livre, mas acabou sendo morto pelo mesmo. Guardar rancor teria me matado também, então decidi que vingança é uma coisa ruim... morte só trás ódio. E ódio só trás guerra, Lass.

Lass se sentia triste pelo passado do velho senhor, mas o dele não era muito melhor.

— Obrigado por tudo, er... – Lass não encontrou o nome do senhor que devia mostrar gratidão.

— Vann – disse o velho. – Vann Helmont.

— Isso, senhor Vann – o garoto tomou seu chá quente, inexpressivo.

— Não sou nenhum senhor, garoto. Mas o modo que você fala e suas roupas se contradizem. Fala como um Lorde e se veste como um mendigo.

O vingador vestia alguns trapos azuis. Talvez roupas de pessoas que ele matou, talvez até mesmo o cobertor de alguém. Uma calça azul surrada, uma blusa de classe e um enorme trapo azul, como uma capa que cobria tudo.

— Não sou nenhum senhor. Sou um mercenário livre. Obrigado pela hospitalidade, mas preciso ir – tentou se levantar, no entanto várias dores o fizeram deitar novamente. Seus músculos lhe traíram e agora obedeciam aos ferimentos.

— Se quiser ir, está livre para isso. Mas não tomarei parte em ajudar um mercenário, boa viagem. Se quiser passar a noite aqui, lhe trarei o almoço – o velho saiu do quarto antes que Lass formulasse uma resposta. Ele ficou ali por uma hora, imóvel. A dor não o deixava se mover. O sol subia lentamente, até que Lass decidiu ficar.

— Senhor Helmont! – gritou Lass, inutilmente. – Senhor Helmont! – Tentou uma segunda vez, mas novamente não obteve resposta.

Essa era a última coisa que ele queria que acontecesse. Maldito seja, aquele velho. Lass se forçou a levantar. Conseguiu, mas alguma ferida abriu em sua batata. Ele se arrastou até a porta do cômodo, lentamente, com o chão a ranger a cada passo, mas a dor lhe abafava o som. Por uma fresta na porta, Lass podia ver um homem com um alfange na mão. Ele parecia novo, devia ter cerca de vinte anos. Assim que viu sangue escorrendo da lâmina, Lass ficou em pânico. Poderia aquele homem ter matado Vann?

Lass ficou apavorado e surpreso, embora nunca tivesse sentido tais sensações antes. Se escondeu atrás da porta, esperando a pessoa se retirar. Mesmo assim, uma voz masculina ecoou pela casa:

— Tio Vann, você tá aí? – ele abriu a porta, e deu de cara com Lass.

— Ahhhh!! – gritou Lass com o susto.

— Ahhhhh! – repetiu o intruso. Ele não carregava mais o alfange. Quando Lass o encarou com calma, percebeu que ele era parecido com Vann.

— Quem é você? – perguntou o jovem.

— Sou Lass – respondeu. – Fui resgatado pelo senhor Helmont e agora estou aqui. E quem é você?

— Sou Jason Helmont, sobrinho e protegido do meu tio Vann.

— Então, o que fazia com aquele...

— Ah, aquele alfange? – perguntou Jason, apontando para a arma que estava apoiada em uma parede Eu o uso na caça. Hoje eu cacei um veado para o almoço. E meu tio deve estar caçando ainda.

— Ufa... o sangue era do veado... – sussurrou Lass, aliviado.

— O quê? Pensou que o sangue fosse de quem?

Lass ficou constrangido, então respondeu todo atrapalhado.

— Não, nada, err... mudando de assunto, estou começando a ter fome. E você? Vamos comer?

— Boa ideia. Mas primeiro vamos esperar o tio Vann.

— Sim – concluiu o garoto, num suspiro.

Passada meia hora, Vann retornou ao casebre com alguns esquilos mortos nas mãos. Lass fica, de certa forma, contente por vê-lo. Os três comeram um ensopado de carne com vários legumes que haviam sido comprados por Jason. Após o almoço, Vann pergunta:

— E então garoto? Ficará conosco ou partirá em sua vingança?

Lass ficou em dúvida. Mesmo o velho tendo decepcionado ele, ainda assim era uma chance de ele descansar em um lugar "confortável".

— Ficarei por aqui – respondeu Lass, incerto. – Pelo menos por enquanto.

Ele resolveu experimentar a nova vida ao lado daquela família humilde. Queria ver se era melhor que sua vingança e seu ódio que mal se recordava. Vann lhe deu novas roupas, e Lass lhe deu sua confiança. Depois de uma semana, Lass quase esquecera de seu objetivo. O garoto estava gostando do lugar, se apegando àquela humilde família. Ele ajudava Jason na caça de animais, armava armadilhas para esquilos e coelhos, comprava as verduras e legumes na feira, além de ajudar no serviço de casa. Depois de duas semanas, Vann considerava Lass como um filho, assim como seu sobrinho Jason. Então Jason decidiu confiar em Lass e o convidou após o almoço:

— Quer que eu lhe ensine a usar um alfanje? É melhor de se usar na caça do que essas adagas.

— Eles são pesados – comentou Lass.

— Verdade, mas com tempo você se acostuma. O bom deles é que, pelo seu tamanho e precisão, conseguem cortar a caça com muito mais êxito e segurança do que com suas adagas, que são curtas. Entende aonde quero chegar?

— Sim. Vamos treinar então.

Eles iniciaram um árduo treinamento nas Ruínas de Kastulle, e em apenas uma semana Lass dominou totalmente o alfange. Jason estranhou tanto a velocidade de aprendizado e a habilidade de Lass que acabou perguntando:

— Como aprendeu a manusear o alfange tão rápido?

— Não sei... talento, talvez.

Sim, mas sabe muito mais. Deixa eu te fazer lembrar..., a voz em sua mente voltou a falar, depois de semanas em silêncio. Ela interrompeu Lass, provocando uma dor em sua nuca.

"Não!", respondeu Lass em pensamento. "Me deixe em paz!"

Pobre príncipe desamparado... deixa eu te ajudar! Esquecestes de tua vingança, mas agora eu desperto-te para a verdade.

"Não!"

Kukukukuku...

— Você está bem? – perguntou Jason, colocando a mão sobre a testa de Lass. – Nossa! Está pegando fogo! Vou trazer um pano molhado!

"Quem é você, afinal?", as palavras de Jason já não alcançavam mais o garoto.

Sou as trevas do seu coração... apenas isso... kukukukukukukukukuku...

A dor se intensificava a cada segundo. Jason voltou correndo para casa para pegar o pano e em cinco minutos ele retornou. Mas Lass não teve cinco minutos.

— AHHHHHH!!! – gritou Lass, caindo no chão de joelhos.

Desista, eu já te dominei— a voz de sua cabeça acabou saindo pela sua boca.

— NÃOOOO!!! SAI, SAI, SAI!!!

KUKUKUKUKUKUKUKUKU!!

Quando Jason retornou, Lass estava com uma roupa feita de pele de cachorro e queimando com chamas. Mas não era de um simples cachorro e não eram simples chamas. A pelagem era branca e azul, e as chamas eram azuis. Ele acaba deixando o pano cair no chão e só disse uma palavra, impressionado:

— Cazeaje...

Kukukukukukukukuku... finalmente alguém inteligente... mas demorou tempo demais para descobrir!— sua voz agora mudara, era distorcida como metal raspando em pedra.

— O que fez com Lass?

Lass não existe! Só existe eu, Jun Cazeaje.

— Mentira – contrariou Jason, sacando seu alfange.

O quê? Deseja me enfrentar? Kukukukukukukukukukukuku! Venha, jovem tolo sem ódio.

— AHHHHH! – berrou Jason, partindo para cima de Cazeaje.

Ela desviou do ataque e seguiu para a vila em alta velocidade.

— Espere! – gritou Jason

Então me detenha! Prove seu valor! Entretanto, se não conseguir me deter... kukukukukuku...

E sumiu de vista. Jason correu atrás dela, desesperado. Logo é tomado por um insight, e percebe que deve ir para casa. Mas já era tarde demais. Quando chegou lá, ela estava destruída e queimando com chamas azuis. Lass estava em cima dos escombros do casebre destruído, com a mão direita segurando algo entre as paredes queimadas e derrubadas do lar.

"Não!", gritou Lass, mas agora sua voz era apenas um incômodo na cabeça de Cazeaje. A rainha das trevas puxa Vann Helmont pelo pescoço dali, entre as paredes. Ele estava inconsciente, sangrando pela boca e pelo nariz.

— O-o que fez com ele? – gritou Jason, aterrorizado.

Estou apenas brincando. Kukukukukukukukukukukuku... e, além disso, ele não deixava eu prosseguir com minha vingança.

— O quê? Nós considerávamos ele como um pai!

Só se for você— negou Cazeaje, usando a voz de Lass.

"Não! Eu também passei a amá-lo como se fosse meu pai!", gritou Lass na mente de Cazeaje, inutilmente.

— LASS! Acorde!

"Eu estou aqui, Jason! Não pode me ouvir? Por favor!"

Eu? Só agora eu despertei para a verdade... só agora eu descobri que sou apenas um vingador, nada além disso— respondeu a rainha.

— NÃO! Você é meu irmão.

Cale-se!— ordenou Cazeaje, aproximando-se velozmente e segurando Jason pelo pescoço, com a mão livre.

— Lass... – Jason parecia ter dificuldades para respirar, o que já era esperado de um sufocamento.

Cazeaje o jogou no chão, rachando o solo. Depois disse:

É melhor não deixar o serviço incompleto, não é?

A sangue frio, Cazeaje mata Vann com uma das adagas de Lass, perfurando seu coração. Uma lágrima escorreu o rosto da vítima, que caiu inerte no chão quando Cazeaje a soltou. Jason começou a chorar, pegou seu alfange e correu em direção a Cazeaje com um grito. Ela abriu um largo sorriso e aparou o ataque com uma das adagas. Naquele momento as lâminas emanavam energia das trevas.

"NÃÃÃÃÃÃÃÃO!!!", gritou Lass, irrompendo em ódio. Infelizmente, a raiva alimentava Jun Cazeaje, fazendo assim Lass perder o controle e cair em um sono profundo...

— MORRAAAA!!! – gritou Jason, atacando de várias formas.

Em vão, Jason lutou contra Cazeaje, que apenas se deliciava com o ódio do rapaz. Após alguns minutos, decidiu deixar o garoto de lado. Quando ela virou de costas, ele perguntou:

— Vai embora assim? Sem mais nem menos? – Jason sangrava, arfava como um lobo e tinha um enorme buraco na costela. Ele mal podia se manter em pé. O cheiro de sangue havia dominado seu olfato e o crepitar das chamas dominara seus ouvidos. Ele não sentia dor, mas sabia que estava ferido.

— Cansei de você – a rainha das trevas apenas focou uma enorme massa de chamas em suas mãos e as disparou em Jason, dando um fim àquela batalha. O rapaz saiu do enorme incêndio, ferido e exausto. Sua visão estava trêmula e a mente confusa, tudo o que podia ver era o corpo de Lass manipulado por Cazeaje de costas, marchando para o norte sem nem mesmo olhar para trás. Logo caiu, inconsciente, deixado ali para morrer.

Cazeaje partiu da vila de Kastulle e retornou ao castelo de obsídia. Ao vê-lo, abriu um enorme sorriso e comemorou:

Finalmente esse castelo será só meu. Kukukukukukukukuku...— e sua gargalhada pareceu ecoar por toda Ellia, fazendo o chão do castelo das trevas tremer.


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