Sempre Com Você escrita por oinani


Capítulo 8
William




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De todas as vezes que me encontrei com Sirama, ela estava sempre de partida. Andava incessantemente de um lado para o outro, colocando objectos estranhos na pequena mala. Perguntei-me se lhe devia falar dos sucessivos desmaios.

–Estás com receio de me contar alguma coisa?- ela agora lia-me os pensamentos? Que invasão de privacidade. – Fala-me dos teus desmaios, Susan.

Estaquei. Estava completamente petrificada. Tentei falar da maneira mais confiante possível, mas a minha voz saiu-me trémula.

–Eu desmaiei algumas vezes. Acho que três. Penso que não haja razões para alarme. – ela estava a fitar-me de modo a dizer-me para prosseguir.- da primeira vez foi de fraqueza, das outras foi por causa do cansaço. - tentara ser o mais convincente possível.

–Desmaiaste antes de vir para cá. Não foi?

Não respondi. Devia estar de boca aberta. Apenas assenti. Não me valia a pena mentir-lhe.

–Hum. – procurei nos seus olhos algo que denunciasse o que se passava nos seus pensamentos, mas a sua expressão era indecifrável.

–É melhor voltares para casa. A tua mãe vai ficar preocupada. Aconselho-te a ler a carta apenas quando estiveres sozinha.

Despedi-me de Sirama. Ao sair reparei que já devia ser hora de jantar, o tempo tinha passado a voar. Não sabia que desculpa iria dar aos meus irmãos e a Len.

Entrei em casa e Len falou logo:

–Susan! Onde é que estavas? Eu estava muito preocupada contigo!

–Desculpe mãe. Estava com Claire.

–Mas quando eu cheguei liguei a Miriam e ela disse que as três te tinham deixado à porta de casa.

–Depois disso eu fui ter com Claire.

A minha mãe não discutiu mais. Logo após o jantar Len veio ter comigo.

–Su, comprei-te aquilo que me pediste.

–O quê?

–O arco e flecha. Para praticares.

–Obrigada Len. – estava bastante feliz. Era uma pena que já estivesse tão escuro, gostava mesmo de praticar.

Fui seguidamente para o meu aposento. Havia algo que eu queria fazer mais do que tudo. Retirei cuidadosamente a carta da minha sacola e coloquei-a na minha secretária. Sentei-me e comecei a ler:


“Querida Susan,

Não imaginas como isto tem sido um tormento desde que partiste. É impossível colocar em palavras o quanto sinto a tua falta. Sem notícias tuas à vários meses, comecei a entrar em desespero. Então encontrei Sirama. Ela é quem tem o poder de nos conceder esperança. Esperança de que um dia nos possamos voltar a ver.

Quando soube que tu também me procuravas foi dos momentos mais felizes da minha vida. Não era só eu que passava noites em branco a pensar em ti. Não era só eu que sentia a tua falta. Todos os sentimentos eram mútuos.

Desde o dia que te conheci soube que nunca te ia conseguir esquecer. Nunca pensei que iríamos ter tão pouco tempo juntos. Nunca pensei que seríamos separados.

O que mais queria era estar aí contigo, ou que estivesses aqui a meu lado. Dei-te o colar porque queria que pensasses em mim, mesmo que fosse só por uns momentos.

Estarei contigo até ao fim,

Caspian”

A leitura da carta tinha terminado e eu estava a chorar. Chorava de angústia, de tristeza, de desespero e de felicidade. Tinha tantas saudades dele que me doía a alma. Passado algum tempo, acabei por secar as lágrimas e guardar a carta num local seguro. Dentro de uma gaveta trancada. Não queria que alguém achasse a carta por acidente.

Estava a estudar quando bateram à porta do meu quarto.

–Entra

Era Lucy. Sentou-se na minha poltrona e fitou-me. Sem desviar o olhar dos meus livros disse-lhe:

–O que queres Lu? Fala de uma vez.

–Tu mentiste à mãe.

–Não menti.

–Admite Susan.

–Não tenho nada a admitir. Agora sai do meu quarto que estou a tentar concentrar-me.

Durante um pouco ninguém falou, mas ela voltou a insistir:

–Eu sei reconhecer quando estás a mentir. Não fazia sentido teres ido com Claire … Porquê é que foste ter com ela?

–Agora tenho de justificar-te tudo o que faço? Vai para o teu quarto Lucy.

–Então continuas a manter a fachada.

Para Lucy sair tinha de a magoar. Não gostava nada de o fazer mas tinha de ser. Se lhe contasse o que eu andava a fazer ultimamente, ela iria tentar impedir-me. E contaria a Edmund. E a Peter…

Falei com um tom muito desagradável:

–Lucy, não tens mais ninguém para chatear? Deixa-me em paz. Que intrometida. – sabia que a tinha atingido pois ela estava a demorar um longo tempo a reagir. E a acompanhar isso estavam os seus olhos esbugalhados e a sua cara de espanto. Ela não estava à espera daquilo que tinha dito.

–Mas…

Interrompi-a logo:

–Mas nada. Sai do meu quarto. Não me chateies. – cada palavra que eu dizia magoava-me. Detestava ser assim. Ela estava mesmo ressentida comigo pois levantou-se abruptamente e saiu sem dizer uma palavra.
Antes de ela sair consegui ver que estava com os olhos marejados em lágrimas. Queria muito ir confortá-la e pedir-lhe mil desculpas mas não a podia envolver nos meus próprios problemas. Tinha de fazer aquilo sozinha.

Entretanto tinha terminado os meus deveres. Estava enfadada, mas não podia ir ter com Lucy devido ao que lhe tinha dito à pouco, por isso fui para o quarto de Edmund ver o que ele andava a fazer. Desloquei-me para o interior do quarto e verifiquei que ele estava a estudar. Uma coisa não muito normal em Edmund. Atravessei o quarto e sentei-me na cama dele. Era engraçado como os nossos quartos eram distintos. O de Ed era diferente. Todo em tons de madeira com uma pequena cama encostada à parede. Fui eu a primeira a falar.

–A estudar? Ora aí está uma coisa de que eu não estava à espera - trocei.

–Tu não tens mesmo mais nada para fazer, pois não?

–Não, nem por isso.

–Bem me parecia. Raramente te vejo por aqui.

–E isso é uma coisa boa ou má?

–Tenho mesmo de responder?- ele não acrescentou mais nada, mas olhou para mim com um sorriso brincalhão. Atirei-lhe uma almofada, no entanto, antes de esta o atingir, ele protegeu-se com os braços. Começamos os dois a rirmo-nos. Despedi-me de Edmund e saí do seu quarto.

Percorri as escadas e dirigi-me à sala. Cruzei-me com Peter, pois enquanto eu estava a entrar, ele estava a sair da sala. A cara dele estava sem expressão e ele não me dirigiu uma palavra. O olhar dele estava assustadoramente sombrio. Devia ter acontecido algo que eu desconhecia, mas naquele momento eu não queria ver-me envolvida em problemas além daqueles que eu já própria possuía.

Conversei algum tempo com Len mas acabei por voltar ao meu quarto. Deitei-me e passados poucos minutos, o sono acabou por levar a melhor.

Vi-o ao longe e estava a aproximar-se lentamente de mim. Quando estava mesmo ao meu lado, via os seus cabelos loiros ondulantes e o seu enorme sorriso. Era William. Não percebia nada do que estava a acontecer. Eu também estava ali, a olhar para ele toda sorridente. Ele inclinou-se e encostou os seus lábios nos meus. Entrei em pânico, porque é que ele me beijara? O que é que estava a acontecer? Porque é que eu não o afastara?

O pior de tudo é que eu gostara daquele beijo. Estava tudo a ser muito estranho pois tanto via a “cena” da minha perspetiva (como se eu pudesse controlar as minhas ações, embora não o pudesse fazer), e no momento seguinte já via aquela situação da perspetiva de um visitante. Comecei a reconhecer o sítio onde nos encontrávamos. Era a nossa escola e estávamos no piso de Peter e de William. Mas aquele local encontrava-se vazio. Estava completamente deserto. William pegou-me na mão e conduziu-me pelo corredor. Quando finalmente paramos ele pegou-me nas mãos, fixou o olhar dele no meu e murmurou:

–Eu disse-te que nunca iria desistir de ti Susan. Nunca.

Sem qualquer tipo de intervenção minha, pus-lhe a mão na face.

–William, fui tão cega. Será que algum dia me irás conseguir perdoar? Eu sempre te amei. Desculpa por te ter feito esperar.

Este diálogo estava a colocar-me desesperada. Eu não podia controlar as minhas ações. Tudo aquilo estava errado. Mas ele, sem mais uma palavra, voltou a pousar os lábios dele nos meus.

Acordei sobressaltada.

O que é que aquilo significara? Seria uma visão do futuro?

Estava a tremer como varas verdes. Tentei acalmar-me acendendo a luz e refletindo. O que acontecera tinha-me deixado bastante surpresa. Eu apreciara aquele sonho. Por momentos esquecera Caspian. Sentia-me tão mal, tão culpada. Ergui-me da cama e comecei a andar de um lado para o outro. Confusão já não era a palavra indicada para descrever o estado em que a minha mente se encontrava. Estava com as mãos na cara quando entrou alguém de repente.

–Susan?! O que se passou?

–Lucy!.- tentei parecer o mais normal possível.- Que me queres?

–Foste muito barullhenta a acordar. Ouvi-te e vim ver o que se passava. Cheguei e estavas neste estado. O que se passou?

–Nada Lu.-disfarcei- foi só um pesadelo, não precisas de te preocupar.

Ela olhou para mim com um ar muito pouco convencido.

–Não me parece que tenha sido um simples pesadelo. Conta-me mais sobre ele.

Ela não se devia estar a interessar pelos meus problemas. Será que ela já se tinha esquecido da maneira como eu a tratara após o jantar? De qualquer forma eu teria de a afastar da minha vida pessoal e dos meus dramas. E iria recorrer às mesmas armas que usara da última vez.

–Pensei que já te tinha dito para me deixares em paz.- tentei ser o mais ríspida possível.

A maneira como Lucy reagiu surpreendeu-me. A face dela transformou-se num túmulo. Ficou sem expressão e abandonou-me sem proferir nenhuma palavra.

Depois da sua saída tentei não pensar mais naquele sonho tão controverso, mas sem sucesso. Passaram umas boas horas até eu voltar a adormecer.



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Notas finais do capítulo

então leitores, o que acharam? :D



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